Commodities e Crescimento Mundial Pós-Pandemia

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Me caiu às mãos um artigo da Bloomberg, EUA, que traça linhas muito interessantes sobre o que afetará, de fato, a economia mundial pós-pandemia (se Deus quiser!). Começa dizendo que se a gente pensar somente nos efeitos do estímulo financeiro do FED (Banco Central Norte-Americano), ou na indústria da construção civil chinesa (em palpos de aranha) ou na montanha russa política, dos preços de petróleo da OPEP, precisamos incluir nesta lista o Bolsa Brasil. Sim… o programa de auxílio do governo federal brasileiro, de R$ 400 mensais.

Confesso que tive que ler e reler para entender a ligação entre o Bolsa Brasil e o comportamento das commodities, a Bloomberg começa se perguntando sobre os efeitos que a ruptura da “camisa-de-força” do teto de gastos terá sobre a economia brasileira; faz alusão ao liberal (Chicago Boy) ministro Paulo Guedes e como o compromisso com a austeridade fiscal ficou estilhaçado, após passar mais da metade de seu mandato debaixo da Espada de Damocles da Covid-19 e seus efeitos devastadores. O Real desvalorizado é atribuído à política desleixada, digamos, com o orçamento nacional.

Com trocadilhos engraçadinhos (“Bean There”), a revista realça então a importância capital do Brasil no mercado internacional de Commodities, a começar pela mais óbvia, a Soja:

USDA via Bloomberg

Um trocadilho mais tarde (“Turning Chicken”) e estamos diante de outras duas commodities fundamentais, essas secundárias (soja e milho entram antes nessa folia), carne e frango, e como a queda de poder aquisitivo da população brasileira, aliada à alta dos preços da arroba do boi, acabaram causando uma virada em direção ao frango:

USDA via Bloomberg

O artigo continua a discorrer sobre commodities menos sensacionais no momento, como minério de ferro (o artigo chama a Vale de “estatal”, numa defasagem de informação de alguns anos já) e o café.

O artigo termina fazendo uma observação bem interessante:

Essa é uma aposta ousada. A turbulência fiscal no Brasil e a queda [no valor] da moeda já estão agitando e elevando os mercados de soja, carne bovina e frango. Não se surpreenda se isso repetir o truque do café.

Bloomberg – in https://www.bloomberg.com/opinion/articles/2021-11-28/brazil-s-anti-poverty-program-will-rock-commodity-markets

Bom, a partir daqui, minhas considerações:

Relevância do Brasil no mercado de Commodities

Em 2010 estive num evento da ACG – Association for Corporate Growth, em Chicago nos EUA. Eu era um dos panelistas dentro de um evento que contou com a presença ilustre do então embaixador do Brasil nos EUA, João Almiro, que discorreu sobre o “Advento das Commodities”, e por que o mundo deveria deixar de considerar o Brasil um país de “produtos primários”. O tamanho da população mundial, e sua necessidade cada vez maior de produtos de várias naturezas, aliado à tecnologia embarcada, enorme, no Agro brasileiro, fazia do Brasil um player importante no mercado mundial, pela via que o mundo havia quase abandonado entre os anos 50 e 60.

Ali, em meio à “onda verde amarela” que Lula tão bem surfou, de bons ventos nos preços das commodities e no então recém descoberto petróleo do pré-sal, o Brasil era a vedete do momento.

Mas não se iluda o respeitável público. O tal governo tratou de criar tantas situações absurdas, inclusive a eleição de Dilma Rousseff, logo depois, que rapidamente o castelo e a empáfia do governo brasileiro de então desmoronaram. Eu ali, chamei Dilma de ex-guerrilheira e, sem saber, predisse que o Brasil não consolidaria sua posição de crescimento constante, por conta justamente da postura política do país. Quase apanhei dos brasileiros ali, que até me chamaram de “fascista” num avant-première do uso do epíteto hoje tão conhecido. Nem liguei, como não ligo até hoje em nadar contra a corrente, se estou seguro do que estou falando (não é sempre que isso ocorre, mas apostar contra a inteligência e o bom senso da esquerda é sempre seguro).

O fato é que após isso, vimos o país desmoronar diante da corrupção e da queda dos preços internacionais de soja, milho, etc. Mas NÃO, e nunca, na representatividade do Agro brasileiro para o mundo. Aprendi ali a respeitar o que tinha sido doutrinado a desprezar – o campo e sua potência. Hoje sabemos que o Brasil não é só Agro-Tech-Pop-Tudo. Agro é força política, que o Brasil sempre teve uma espécie de vergonhazinha de de usar.

Aposta na Alta de Commodities

Ensina Warren Buffet que se você entende e confia nos fundamentos de uma empresa, invista nela e esqueça que a grana existe. Os resultados vão aparecer. A longo prazo, mas vão.

Pois essa é a aposta mais certeira do mundo, exceto se grupos de interesse conseguirem reverter a tendência de crescimento da população nos próximos 30, 40 anos, quando deverá atingir seu máximo, e se manter lá por mais uns, digamos, 100 anos. Exceto se o mundo se tornar predominantemente assexuado, abusar de contraceptivos e aborto, ou se tornar um lugar no qual a população conclua que não vale a pena colocar filho no mundo, commodities tenderão a crescer em termos de preço. Incluo aqui o famigerado petróleo – nem mencionado pela revista.

É de se crer que se cada cidadão do mundo tiver um bocado decente de comida na boca, pelo menos 3 vezes por dia, a população pode parar de crescer agora que o consumo de commodities agrícolas continuará a crescer muito (não fiz conta, não posso afirmar quanto) nos próximos 40 a 50 anos.

Então por que a Demonização?

Se o campo é necessário, se a população cresce, se tem ainda um montão de gente passando fome no mundo, sem casa, sem água, luz, etc, por que países como a França, Alemanha, entre outros, teimam em demonizar nosso Agronegócio? Por que falam como sendo a pior coisa do mundo, quando sabemos que usamos relativamente pouca terra para produzir, e que somos, no final das contas, muito mais eficientes, tanto por questões locais, climáticas, quando de avanço técnico, para colocar um prato de comida na mesa de mais de 1,2 bilhão de pessoas no mundo todos os dias?

A resposta como sempre é econômica, mas no nosso caso, como parece que sabemos, travestida de preocupação ecológica. Acho que o público brasileiro está cansado de saber que tanto a visão do Brasil como “devastador de florestas” como de “carbono positivo” são grandemente manipuladas e exageradas, em detrimento dos próprios mal-feitos de países, principalmente a França, neste pormenor (pormaior?).

E os Preços?

Com o Real desvalorizado, e com os preços das commodities nas alturas, o Agro brasileiro vai ganhando em relevância em relação a outras atividades, na composição do PIB. O Centro Oeste vai se tornando um “Center West” (Illinois, Ohio, Iowa, etc) em termos de riqueza e produtividade. Populações inteiras antes atraídas pelas luzes das cidades e pelo ar do mar, agora não querem mais saber de sair de suas cidades cada vez mais confortáveis e seguras.

Agricultores antes quase que obrigados a vender suas safras ao primeiro que aparecesse, ou correr o risco de perde-la por não ter onde guardar, agora possuem silos e mais silos de armazenamento, e podem escolher quando, e se vender, e a que preço. Isso por si só demonstra a força do agricultor brasileiro e sua influência no preço global das commodities. Não se trata de matar o mercado com preços altos – isso, na minha opinião, fazem muito bem os EUA e a UE. Se trata, isto sim, de produzir cada vez mais barato, melhor, e com margens mais adequadas. Por isso o Brasil, na minha opinião, nunca terá uma moeda supervalorizada (aliás, a última vez que isso aconteceu foi justamente no início do fim da prosperidade que o populismo nos brindou). Sempre precisaremos ter, no limite, uma moeda “competitiva”. Torço por um mercado de câmbio realista, o que hoje não acontece (acho nosso Real muito desvalorizado).

Concluo por dizer que com liberdade no campo, liberdade cambial, e com ajuda de Deus (São Pedro, se você é católico), o Brasil só terá a ganhar com commodities, agora, como foi no passado, e será sempre.

Algumas discussões, só no Brasil…

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Todos já nos demos conta de que nossa classe política vive num mundo à parte, e que nos governar, fazer o que é preciso para que o país vá para frente, é o penúltimo de seus objetivos (o último sendo falar a verdade).

Algumas discussões são tão doidas que parecem só ter lugar de ser neste país. Aqui há um divórcio total entre quem nos governa e nós, e entre a razão e as “razões”. Listo algumas delas abaixo para que nós, juntos nos demos conta do grau de loucura que nos atinge:

Voto Auditável

Há uma discussão que se pretende séria, sobre se temos ou não o direito de ter votos que possam ser recontados. Recentemente o grupo Hipócritas fez um sketch com uma suposta eleição para síndico em que o o filho do atual síndico cria um programinha que conta os votos, mas não permite que ninguém verifique nada. Seria de dar risada se não fosse tão trágico. Estamos discutindo ISSO. Nossos políticos e (pior) nosso STF está levantando argumentos a FAVOR de não termos voto auditável. Afinal “sempre foi assim e dá certo”. Ora, COMO saber se deu certo mesmo? Não podemos saber. E por isso seria um aprimoramento básico, que existe até (vejam vocês) na Venezuela, como já mencionei em outro artigo.

Fim do Foro Privilegiado

Somos talvez o único país do mundo em que qualquer Zé Ruela eleito se acha no direito de ser julgado por um tribunal especial. Estamos à mercê de um Zé – Renan Calheiros, réu em diversos processos (dependendo de quem conta, entre 7 e 30), que está dando cartas numa CPI absurda, junto com outro réu em diversos processos, o Zé de Aziz.

Chamo de Zé não por demérito aos grandes Zés desse país – Zé Vasconcellos, Zé da Velha, Zé Maurício (o padre), entre outros… Mas aos Zés verdadeiros, as nulidades como Zé de Abreu, e sua enorme boca, ou os tantos Zés que habitam nosso parlamento, incólumes.

O Foro privilegiado é um TEMA de discussão aqui! Esse é o espanto!

Privilégios do Funcionalismo Público

Sou filho de funcionários públicos e irmão de dois deles também. Não estou aqui a culpar funcionários públicos por nossas mazelas todas e sei perfeitamente reconhecer que há excelentes profissionais no serviço público.

Trata-se, porém, de sabermos que temos pendurados nos nossos ombros MILHARES de funcionários, que, bons ou ruins, NÃO PODEM estar lá, porque o peso deles mata nosso orçamento, mata nossa capacidade de investimento, mata, enfim, nossa liberdade de crescimento.

Férias de 60 dias

Aqui, o engraçado não é o fato de que alguns tem 60 dias de férias, quando todo mundo tem 30 (mais do que na maior parte dos países civilizados). O que dá vontade de chutar o balde é que tem defensor dos tais privilégios acham que a PRODUTIVIDADE dos juízes e promotores VAI CAIR se os caras trabalharem igual a todo mundo. Ou seja, os caras ficam 17% do tempo em casa (fora sábados, domingos e feriados) e 8.33% de tempo a mais de trabalho vai… atrapalhar… a produtividade… é ou não é coisa de país louco?

Sistema Partidário e Representativo

Aqui estou falando dos tantos dispositivos criados ao longo dos anos e que torna nosso sistema de escolha burro e caótico, favorecendo meia dúzia de líderes de partidos e não à sociedade.

Não elegi alguns deputados – nem NINGUÉM elegeu, mas um Tiririca da vida “puxou” votos para dez nulidades que ninguém conhece nem confia, mas que estão próximos ao poder partidário.

Não votamos em alguém próximo de nós ou representativos da região em que estamos. Votamos num deputado lá do interior, e sem qualquer vínculo com meu local. Desde sempre o sistema inglês (e em parte americano) faz com que as disputas locais sejam acirradas, com gente conhecedora dos contendores. Esse tipo de voto distrital direto, na veia, faz com que deputados displicentes com seu eleitorado percam suas cadeiras, como foi vítima até o grande Winston Churchill, no pós guerra.

Deputado próximo tem que prestar contas, e precisa conviver e conhecer o eleitorado, e não sumir e aparecer a cada eleição. Aqui, isso ainda é motivo de discussão, para espanto do mundo todo.

Finalizando…

Até 1994 vivíamos achando que inflação de 3, 4 dígitos era algo com que teríamos que conviver o resto dos nossos dias. O Plano Real pôs fim relativo àquela loucura econômica e pôs freio nos orçamentos do governo, dando realismo econômico ao país.

Até 2019 vivíamos com juros tão absurdos que devemos mais a eles do que ao próprio desenfreado déficit, a razão de termos hoje quase 100% do PIB em dívida para as próximas gerações.

O Banco Central brasileiro, desde 2019, parece ter se tocado de que é possível conviver com juros quase (ou abaixo) na linha da inflação, ou seja, juros reais próximos de zero. O mundo inteiro faz isso, porque diferentemente de 25, 30 anos atrás, existe hoje um excesso de capital no mundo. Isso levou diversos bancos centrais a tomar proveito e colocar “pedágios” para guardar dinheiro da população, sob forma de juros negativos. Só nós permanecíamos em berço esplêndido.

Qual é a lição possível? Qualquer coisa que não presta, que não serve, e é mantida artificialmente, ou ainda que é ou se torna um mal à sociedade, tende a ser extirpada da vida pública, cedo ou tarde. Ocorreu isso diversas vezes no mundo todo, seja pela via da tecnologia ou do esgotamento da paciência pública com o “espinho na carne”. Somente sociedades ditatoriais conseguem manter por décadas atitudes que são frontalmente ruins ao povo ou que, no fim das contas, são coisas más ou, desnecessárias.

Nosso parlamento se tornou desnecessário, como está, pois que somente pensa em si e advoga contra o bom senso. Nosso STF, na atual composição, se tornou nocivo ao povo e afronta a Constituição diariamente. Nosso sistema de votação elege quem não elegemos, e não nos deixa saber se de fato elegemos alguém.

A síntese disso é que qualquer um, esquerda ou direita, funcionário público ou não, em sendo minimamente bem intencionado e honesto consigo mesmo, sabe há um monte de coisas que deveríamos nos livrar, sem prejuízo à democracia, ou mesmo em favor dela. Quebremos o pau sobre a forma como é melhor tornar a sociedade melhor e mais feliz, mas deixemos de lado os absurdos com os quais temos que conviver diariamente.

Consenso, na Ciência Moderna

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Dois episódios e algumas tempestades atingiram o mundo acadêmico recentemente e me fazem refletir sobre o significado de pesquisa científica mais uma vez. Eu não sou cientista. Sou auditor. Talvez por conta da profissão, exista um certo medo do que a gente vê e examine pela primeira vez. Sempre me lembro das lições da Arthur Andersen, empresa-escola que primeiro me ensinou (ou tentou) algo sobre essa matéria. O termo usado era “Ceticismo Saudável”, para indicar como deveríamos abordar cada assunto sob análise. Não significa a “hiper dúvida” que costuma nos atacar, principalmente em meio a essa guerra de informações, tornada aguda pela Pandemia de Covid 19.

Esse ceticismo parece que só tem tido um lado, recentemente. Esse lado é sempre o de quem chega primeiro e “rotula” algo, levando à mídia sua definição e rótulo dado. Como sempre, quem rotula tem uma intenção, nem sempre confessável – a de atingir um objetivo cuidadosamente descrito no tal Caderninho Preto, a que costumo me referir, e que sempre está dentro do bolsinho do colete do “rotulador”.

Origem Chinesa do SARS-COV-19

Fomos massacrados durante todo o ano de 2020 com o Rótulo muito bem plantado na imprensa, de que a Covid não tinha tido origem na China, em Wuhan, mais precisamente nos arredores do Laboratório de Estudos de Coronavirus de Wuhan.

Quem ousasse discordar era terraplanista, fascista, bolsomínion, etc. Aqui, e no exterior, a grande mídia e as mega redes sociais nos escravizaram a uma visão de que duvidar disso era equivalente a duvidar que o céu é azul.

Um grupo chamado DRASTIC teve um trabalhão enorme para nos abrir os olhos para algo óbvio – há chances, claro, de que o tal virus tenha tido, sim, origem na China, em Wuhan, no tal laboratório. Se de propósito ou “fugido”, não se pode dizer, mas com os resultados vistos.

A quem interessava que a China tivesse seu nome eliminado da lista de suspeitos da tal Covid? A China, obviamente, e qualquer um que tivesse interesse em que a China não fosse objeto de questionamentos incômodos.

O resultado é que passamos 2020 inteiro buscando origem de um virus que, com fortes possibilidades, surgiu no tal laboratório.

Ciência foi usada para prevenir a capacidade de todo um planeta de pensar cientificamente sobre algo.

Tratamentos Precoces

O termo “Tratamento Precoce” foi rotulado e logo estigmatizado lá atrás, em Abril de 2020. Qualquer tentativa de informar ao público, ou minimamente gerar a especulação sobre a necessidade de pesquisa de tratamentos de produtos “off-label” (não dentro da especificação técnica de uma droga, mas seu uso alternativo, para outro fim, dentro de prescrição médica).

Desta forma, ficamos sem saber, por meio de consenso científico, se Hidroxicloroquina, Ivermectina, Budesonid, Azitromicina, etc, funcionavam ou não. Metade dos médicos diz que funciona, metade diz que não. Um amigo brande uma opinião de um clínico geral muito bom, que é contra, outro esfrega sua receita de Ivermectina prescrita por outro médico igualmente reconhecido, na minha cara.

Eu, perplexo, tentando dar o benefício da dúvida a quem acha bom, quase apanho de todos os lados. Sou negacionista, terraplanista, fascista, e obviamente, bolsomínion.

Os tratamentos precoces vão funcionar? Não sei, nem ninguém saberá a menos que levemos as pesquisas de todas as possibilidades de tratamento a cabo, façamos os “peer reviews” necessários e deixemos então que os resultados aflorem. Da mesma forma, creio que nem todas as vacinas funcionarão (pelo menos não por de igual forma), e algumas terão de ser descartadas, para o futuro. Mas isso será definido por observação, coleta de dados e experimentação, além de testes clínicos controlados, claro.

Liberdade de Cátedra

A Constituição do Brasil, que se mete onde não devia, é enorme e confusa, define a liberdade de cátedra como abaixo:

O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, …

CF Art. 206.

O Termo e a aplicação é muito mais antiga, e quer justamente evitar que opiniões e crenças impeçam o desenvolvimento científico, que é, em sua base, iconoclasta.

Nossas universidades, contudo, despejam ódio justamente ao que deveriam proteger com mais carinho, nos dias de hoje – a liberdade de investigação, mesmo (e preferencialmente) ideias, fórmulas, teses e escritos que são considerados “consagrados” pelo “consenso científico”. Ora, é da quebra desse consenso que surgem as ideias que mudam o mundo.

A perda de liberdade de cátedra nas nossas universidades, substituída por doutrinação ideológica (unilateral), faz escorrer do ensino superior aos níveis mais abaixo, até a pré-escola, pensamentos que não se coadunam com a liberdade de pensamento.

Ontem ainda vi uma matéria sobre questões que o tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, propôs a seus alunos de matemática. A coisa vai mais ou menos assim – “um dado governo, antidemocrático, fascista, de direita…” e daí passa a usar uma determinada situação para pedir ao aluno que faça determinada conta e chegue a uma conclusão que corrobore (na visão de quem propôs a questão) um resultado.

Em outro lugar, a descrição de capitalismo é a de “uma sistema econômico que traz miséria, desemprego e guerras”, sem dar qualquer informação nem dos porquês, nem a possibilidade de argumentação em contrário. Não mais se explicam as teorias econômicas e se dá a possibilidade de pensar.

O mesmo se passa na tal ideologia de gêneros, e temas ainda mais espinhosos, como aborto, adoção de crianças por casais homossexuais, entre outros.

Não se pode falar nada de Bíblia, nem como pano de fundo histórico, de época, mas pode-se tecer loas a Bagavadh Gita, Alcorão, Vedas, e quaisquer outros escritos sagrados de qualquer outra religião.

Para onde Vamos?

Onde irá desaguar toda esta onda de sufocamento da liberdade acadêmica, da liberdade científica, do ceticismo saudável? Onde pretende a sociedade atual chegar com o impedimento à busca da verdade, mesmo que incômoda?

Quem se atreverá, em 10, 20 anos, a propor a nova teoria da relatividade, a nova teoria das cordas, a nova teoria da evolução? Quem terá a pachorra de propor algo que quebre com um conhecimento arraigado e dado como “científico”, no futuro?

Quem fará ciência? Tecnologia sabemos que estamos (ainda) permitidos de avançar. Mesmo assim, por enquanto.

Quem se propõe a desafiar o “consenso científico” apresentando, ou aventado que seja, a possibilidade de que o aquecimento global seja fruto de algo que não a intervenção humana? Alguém se atreve a ir para a frente de um conclave acadêmico qualquer para dizer que “é possível que pessoas de pele da cor tal sejam diferentes porque produzem mais/menos a substância tal, e que afeta o fígado/rins/pulmão da forma tal?”.

Enfim, que colocará o seu currículo na reta, e terá a coragem de enfrentar o status quo científico. Afinal, como escreveu em um e-mail o Dr. Peter Daszak, parafraseando Winstons Churcill sobre as leis, “as salsichas e os consensos científicos, melhor não saber como são feitos“.

O Idiota em mim, e em você

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Se sentir um completo idiota é uma coisa que deve, na minha opinião, ocorrer com cada um de nós pelo menos uma vez por dia, senão mais. Não que eu queira, ou que algum de nós queira ser um idiota, ter cometido uma idiotice ou faça algo com consequências graves, ou não, de sua inépcia, insensatez ou idiotice mesmo. Tenho o dever de me sentir idiota, para que não seja sem saber.

Mas o fato é que reconhecer que fez algo idiota já é algo bom. Pelo menos a gente está ligada no que faz, acha que poderia ter feito melhor, ou reconhece quando algo não está à altura do que é preciso ser feito. É uma sensação horrível, de incompetência, mas ao mesmo tempo libertadora, pensando bem, por pelo menos eu saber que entendo o que fiz errado.

Adoro atribuir ao Apóstolo Paulo uma frase que ele nunca disse (pelo menos que eu saiba) mas que tem toda a cara dele:

Bem aventurado aquele que sabe aquilo que ignora

Apócrifo

Como é bom olhar algo e ter certeza absoluta de não saber nada, zero, a respeito. Eu estou em busca de expandir o limite da minha ignorância (ou melhor dito, daquilo que conheço), a fim de ignorar cada vez menos. Mas é muito difícil.

Nelson Rodrigues dizia com muita propriedade que

Os idiotas vão tomar conta do mundonão pela capacidademas pela quantidadeEles são muitos.

Nelson Rodrigues

Somos mesmo muitos…

Mas a razão de eu falar de tanta “idiotice” é menos filosófica e mais prática. Existem várias “bolhas”, como se diz por aí. Fala-se muito em “fazer algo repercutir fora da bolha”, e coisas parecidas. Eu costumava não me achar encerrado em em nenhuma delas. Mas francamente, já não sei não. E falo da bolha política, mas também da bolha dos costumes, do politicamente correto/incorreto e todas as outras, que os tempos de Mídias Sociais parece que reforçaram. Eu começo a achar que eu talvez esteja olhando o mundo com óculos errados. Afinal, amigos meus, grandes amigos, deram de ralhar comigo, à vera, por conta de certas posições minhas. Não são necessariamente posições políticas, mas são posições que tem um profundo impacto no que eu penso ser o meu modo de viver ideal.

Já escrevi várias vezes que me identifico como um conservador, cristão e que tento ser racional. Por isso, assuntos como a liberdade de cátedra, a inviolabilidade do direito de opinião, e o caráter absolutamente iconoclasta da ciência tendem a ter muito eco no que eu penso e faço. Assuntos que eu julgava que não mereceriam mais do que um olhar superficial, como por exemplo, a realização ou não de um campeonato de futebol de 30 dias, com sei lá, 16 seleções, sem público, todo mundo testado pra Covid, estão gerando tanto problema que eu chego a me encolher diante de opiniões de amigos que eu julgo inteligentes e sábios.

Outra feita, é uma tal CPI da Covid, que eu não entendo como é que alguém em sã consciência pode dar a mínima credibilidade, ganha tanto espaço e é considerada tão fundamental pra sociedade, neste momento de pânico e suspense: como uma comissão que é presidida e relatada por dois sujeitos desqualificados, moral e legalmente, pode ser levada adiante sob holofotes do Brasil e do mundo, sem qualquer questionamento.

Devo estar priorizando somente um lado da opinião, e isso não gosto de fazer. Deve haver, então, algo errado, e é COMIGO. Afinal, gente que considero muito melhor do que eu enxerga razoabilidade nisso tudo. Desde discutir por conta da tal Copa como assistir uma CPI como se fosse um seriado da NetFlix.

Desde o início desse processo de pandemia eu tenho pensado em muitas coisas que em outros tempos não teriam qualquer repercussão, como o uso ou não desse ou daquele comprimido disso ou daquilo, do tempo que o comércio deve ficar aberto ou fechado, do tanto de transporte coletivo que temos que ter, do atraso de dias, ou meses (dependendo da fonte) para obtenção de vacinas… Tudo o que tenho visto parece formar parte de uma curva de aprendizado sobre algo que nenhum de nós têm a menor experiência, e cujos erros certamente foram cometidos. São patentes, mas não são mais do que isso mesmo – erros, inadequações, idiotices. É o Galípoli, do mesmo Churchill que nos salvou da ameaça nazi-fascista, anos depois. É a tragédia de uma situação que ninguém poderia dizer-se preparado para enfrentar.

Meus amigos, que realmente (não é ironia) são melhores e mais sábios do que eu fazem coro com boa parte da população que bate sem parar no governo (vou fazer aqui a ressalva de sempre – votei e votaria de novo em Bolsonaro em 2018, mas não voto nele se houver alternativa conservadora minimamente capaz de vencer uma eleição).

Um dos meus esportes preferidos é dividir problemas em partes e tentar raciocinar sobre cada uma das partes. Coisa de gente limitada – como eu tenho dificuldade com variáveis múltiplas, busco isolar cada uma e resolvê-las separadamente, e tentar assim chegar a uma conclusão sobre o todo. É isso que tenho tentado fazer ao longo da vida, com algum nível de sucesso.

Mas estou apavorado comigo mesmo. Não sei se estou numa bolha tão, mas tão fechada, que não consigo enxergar algumas coisas que outros veem por óbvio. Eu realmente não consigo “fechar questão” sobre alguns assuntos que uns têm por certo. Eu não consigo achar defeito grave numa economia que conseguiu cair, com Covid e tudo, menos do que entre 2013 e 2014, sem nada, exceto o fato de termos tido um péssimo governo.

Além de tudo isso, tenho uma visão de que no final das contas, o mercado consegue, com seus milhares de interações diárias, de milhares de cabeças pensantes, indicar o que realmente está acontecendo, quando as câmeras e microfones são desligados e os políticos voltam pros seus sepulcros caiados.

Enfim, terminando, outra citação de Nelson Rodrigues, que pretendo manter na mente, justamente por tudo o que já escrevi acima:

Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem.

Nelson Rodrigues

A percepção que interessa

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Bovespa

No auge da crise do subprime, nos EUA, a bolsa brasileira oscilava entre índices Bovespa de 42 mil a 50 mil pontos. No início do primeiro governo Dilma, a Bovespa chegou a 70 e poucos mil pontos; já auge da crise “da Dilma”, em 2013 a 2015, o mesmo Bovespa mostrava uns 40 mil pontos, tendo chegado a meros 38 mil pontos, se a memória não falha. Na transição par ao governo Temer, o golpista, o ilegítimo, o Bovespa chegou a 97 mil pontos. Hoje, no auge da “crise da Covid”, da “crise Bolsonaro”, o mesmíssimo Bovespa demonstra 124 mil pontos.

O que é este Índice? Para quem não tem familiaridade, a Bovespa/B3, é a maior Bolsa da América Latina, e como tal, contém ativos financeiros (ações) das maiores empresas do país, algumas entre as maiores do mundo, como Vale, Petrobrás, WEG, Cemig, Telefónica, entre tantas outras.

É, portanto, a média ponderada da valorização (ou desvalorização) desses ativos, negociados livremente entre milhares de pessoas físicas e jurídicas, diariamente, de forma clara, transparente e sem interferências externas (há controvérsias, em alguns casos, mas as tentativas de manipular o mercado são normalmente coibidas pelo xerife do mercado, a Comissão de Valores Mobiliários, ou CVM).

Trata-se então, de uma representação numérica da vida econômica do país, em grande medida. Claro que não é um índice que mede confiança, nem performance econômica, mas certamente, num prazo mais longo, representa o grau de certeza ou incerteza dos agentes econômicos sobre nosso país.

O gráfico é publicado diariamente, e portanto ninguém pode dizer que não tem acesso, ou que as informações foram manipuladas:

Então vamos partir dos seguintes pressupostos:

  • Milhares de pessoas transacionam em Bolsas de Valores todo santo dia
  • Todas essas pessoas o fazem de boa fé, e de forma livre
  • As empresas nas quais investimos diariamente são empresas que estão inseridas no contexto nacional – para bem ou para o mal – dentro das regras tributárias, trabalhistas, de juros, de crescimento do PIB, etc
  • As empresas estão inseridas também num contexto internacional, sujeitas a chuvas e trovoadas como todo mundo.

Se tudo acima é verdade, então como é que em plena CPI da Covid, com todos os holofotes virados contra o executivo, com o STF agindo como executivo, o legislativo também tentando, por que a Bolsa sobe? O que essa miríade de gente pensa da vida, pra apostar as fichas em produção, lucro e perspectivas de valorização desses papéis?

A realidade

Existe um fator que precisa ser dito, a bem da verdade, e que ajudou em muito a decolagem da Bolsa – a queda dos juros. Com juros reais negativos, o brasileiro parece que “descobriu” o mercado de renda variável. Mas por que exatamente? O medo não seria razão suficiente para um refúgio seguro na poupança?

Que razão leva milhões de pessoas físicas, brasileiros de carne e osso, assalariados, a “aventurar-se” em Bolsas, sabendo que um dia se ganha, outro se perde?

A resposta parece estar no distanciamento cada vez maior entre o Brasil real e o Brasil Brasília, o Brasil Imprensa, o Brasil mídias sociais. O fato é que é difícil atribuir (eu não atribuo) essa subida das Bolsas ao governo Bolsonaro. Aliás, creio que se o chefe do executivo tivesse ficado calado 70% do tempo em que passou falando em microfones, talvez o Bovespa já estivesse em 150 mil pontos.

O fato, porém, é que o governo real, do país real, montado pelo dito ogro, está fazendo um bom trabalho, que começou com a difícil e necessária reforma da previdência, e agora parece continuar, aos trancos e barrancos, com a mais necessária ainda reforma administrativa.

Esta última, se feita adequadamente, pode ser a chave para a redução do tamanho “elefantal” (como diria o ex-ministro Magri) do estado, abrindo caminho para uma reforma tributária digna do nome – o que não é possível hoje, com o orçamento engessado e os déficits públicos crescentes.

E daí?

E daí que ações importantes, aqui e ali, como a facilitação da entrada de novos “players” no segmento bancário, com a ampliação do crédito e criação de toda uma nova classe de bancos, financeiras e FIDCs, somadas ao PIX, só citando um exemplo de medida disruptiva e que nos coloca na vanguarda mundial das transações bancárias (em transparência e velocidade), além do Agro, que já representa 40% do PIB e é um fator de equilíbrio e pujança, podemos dizer que, “tirante” as borbulhas da mídia, o Brasil que presta, o que paga as contas e coloca comida na mesa, está bem melhor do que se diz.

Listando pra facilitar as conclusões:

  • O Brasil vai melhor do que pintado pela mídia
  • O ogro é ruim, pessoalmente, mas fez um excelente trabalho em montar uma equipe dar liberdade suficiente para que esta fizesse um trabalho bom – levando em conta a crise atual, muito bom mesmo
  • A política pode até nos envolver, em campos opostos ou não, mas no final das contas, a soma de milhões de pequenas percepções sobre esta ou aquela empresa e sobre a economia em geral é que falam a verdade
  • A agricultura tem menos voz do que deveria, num país cada vez mais dependente dela
  • O Congresso e o STF deveriam se ater às suas funções, e só isso.
  • O mundo vai acabar sim, quando Jesus voltar (eu creio) mas até lá, o Brasil continuará, a despeito de ogros, cachaceiros e corruptos de todos os matizes.

Estados Disfuncionais

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A Wikipedia tem um verbete enorme sobre o assunto dos “Estados Disfuncionais”. Chamo de Disfuncionais porque a tradução exata do inglês é “Estados Falidos” ou “Estados Falhos”, que não faz jus ao que realmente se chama de “Failed States”. Se tiver curiosidade, veja emhttps://en.wikipedia.org/wiki/Failed_state#:~:text=Examples%3A%20Syria%2C%20Somalia%2C%20Myanmar,the%20expense%20of%20other%20groups).

A definição, que é o conceito que interessa aqui, é a seguinte, numa tradução livre, minha, da versão em inglês do verbete:

Um estado falido é um corpo político que se desintegrou a tal ponto que as condições e responsabilidades básicas de um governo soberano não funcionam mais adequadamente … Um Estado também pode fracassar, se seu governo perder sua legitimidade, mesmo que esteja desempenhando suas funções de maneira adequada. Para um Estado estável, é necessário que o governo goze de eficácia e legitimidade. Da mesma forma, quando uma nação se enfraquece, e seu padrão de vida diminui, ela traz sobre si a possibilidade de um colapso governamental total. O “Fundo para a Paz” (ONU) caracteriza um estado falido como tendo as seguintes características:

O texto segue caracterizando o que faz um Estado um corpo Disfuncional:

  • Perda de controle de seu território ou do monopólio do uso legítimo da força física
  • Erosão da autoridade legítima para tomar decisões coletivas
  • Incapacidade de fornecer serviços públicos
  • Incapacidade de interagir com outros estados como membro pleno da comunidade internacional

Alguns países são classificados como em grupos de risco, variável, em relação ao seu grau de aproximação do ponto de ruptura, ou declínio do Estado até se transformar em Disfuncional. Figuras, ó Brasil, florão da América, em posição desconfortável, em péssima companhia, como segue a classificação atual

  • Países com aumento de conflitos de grupos comunitários (étnicos ou religiosos) – Síria, Somália, Mianmar, Chade, Iraque, Iêmen, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Libéria, Iugoslávia, Líbano, Afeganistão, Sudão, Sudão do Sul.
  • Predação estatal (corrupção ou desvio de recursos às custas de outros grupos) – Nicarágua, Venezuela, Brasil, Filipinas, Croácia, Sudão, Sudão do Sul, Nigéria, Eritreia, Zimbábue, África do Sul, Coreia do Norte, Arábia Saudita, Rússia, Catar, Líbano.
  • Rebelião regional ou guerrilha – Líbia, Síria, Iraque, Afeganistão, Iêmen, Congo, Colômbia, Vietnã.
  • Colapso democrático (levando à guerra civil ou golpe de estado) -Libéria, Madagascar, Nepal.
  • Crise de sucessão ou reforma em estados autoritários – Indonésia (sob Suharto), Irã (sob o Xá Rheza Pahlevi), União Soviética (sob Gorbachev).

A lista deve ter já alguns anos, provavelmente se remetendo à época de governos de esquerda, no Brasil, ou antes da total derrocada do Estado nacional Venezuelano, sob Nicolás Maduro. Estar na incômoda posição de equivalente a uma Venezuela, Coreia do Norte ou Nicarágua certamente NÃO é legal. A lista é certamente pré-pandemia de Covid-19.

Importante é que percebamos o QUE nos leva a essa situação. Onde estamos hoje e que circunstâncias leva um país moderno, em termos de gestão (tecnologia aplicada), formação sócio-econômica (PIB per capita) e até mesmo educação (básica) a figurar como um Estado Falido ou Disfuncional?

Perda de controle de seu território ou do monopólio do uso legítimo da força física

O Brasil, não é de hoje, perdeu sua autoridade sobre parte dos seus territórios. O livro “O Império e os novos Bárbaros” (de Jean-Christofe Ruffin, de 1989) mostra com destaque como o Brasil perdeu parte de seus territórios para as milícias e grupos de crime organizado. O livro é excelente. Pena que a edição que tenho contenha um prefácio (bem plagiado, creio) de Collor de Mello…

Além da perda de controle de favelas e áreas semi-conflagradas no país, o Brasil possui outras áreas, significativas, de seu território que de fato não controla. As reservas indígenas, não por sua característica de proteção às etnias, mas pelo domínio exercido sobre elas por ONGs e nações estrangeiras, são território de novos bárbaros. As terras de garimpo no Norte são outro exemplo, facilmente verificado toda vez que vemos um carregamento de toneladas de ouro ser descoberto, contrabandeado, por algum cartelzinho ou facçãozinha, lá na França.

Já sobre o uso legítimo da força, o STF, com sua decisão de bloquear a atividade policial em favelas, criou pelo menos 2 anos de “trégua” aos “donos” dos morros, reforçando os Estados-dentro-do-Estado (ou a barbárie), sobre os quais não temos nenhum controle como sociedade.

Erosão da autoridade legítima para tomar decisões coletivas

A tomada de decisões coletivas é feita por consenso, numa sociedade funcional. Este consenso se chama Eleição, e suas ramificações chegam aos três poderes pela via do voto – a)do executivo, de forma direta e majoritária, dando ao eleito, em qualquer nível, direito de estabelecer sua política e diretrizes, vencedoras nas urnas; b)do legislativo, também de forma direta e proporcional, a fim de que os eleitos possam não somente fiscalizar o executivo como propor e votar o consenso das decisões, que, se cremos na qualidade do sistema de representação, implica necessariamente numa decisão coletiva; c)no judiciário, por vias indiretas, e não tão de consenso, porque alguns níveis do judiciário são escolhidos ao arbítrio do governante (STF, STJ). Mesmo assim, a maioria do judiciário pode-ser dizer ter sido escolhido por consenso, já que um concurso público foi a forma votada e aprovada por legisladores, para a formação do judiciário.

Onde esta faculdade está erodida no país? Quando o executivo perde sua capacidade de implantar as políticas vencedoras nas eleições, por interferência direta de outros poderes, por exemplo. Quando a câmara não pode tomar decisões saudáveis e independentes, por haver outro poder comprando ou dominando o processo, seja por pressão financeira seja por pressão derivada dos muitos rabos presos.

Incapacidade de fornecer serviços públicos

Seja nos ambientes controlados pela nova barbárie, seja em regiões tão remotas como os fundões da Amazônia legal, o fato é que o Estado brasileiro tem falhado em prover o mínimo, que faz de uma nação um país “de todos” e para todos.

Mas até aí vamos, sem tanta crítica, pois que houve inegável avanço, seja em alfabetização seja em moradia e renda mínima, principalmente entre os anos de 1960 e 1980. Os anos Lulla também mostraram, por vias controversas e com intenções inconfessas, que o boom das commodities do início dos anos 2000 foi suficiente para gerar tanto excedente que mesmo a pior pilotagem possível nos levou a um porto razoável. Os anos Dillma nos levaram ao caos gerado pela incapacidade de enxergar que o boom havia acabado, e os gastos públicos (e a dívida pública) tinha mais que duplicado, com os resultados inevitáveis que vimos.

Hoje, sabemos que só parcerias público-privadas ou a iniciativa privada, isoladamente, podem resolver problemas como saneamento e infraestrutura de transporte e energia, já que o Estado, sitiado e sobrecarregado por corporações, não faz grana nem pra pagar os cidadãos de primeira classe que lá residem.

Incapacidade de interagir com outros estados como membro pleno da comunidade internacional

Aqui também não temos muito do que nos orgulhar. O Anão Diplomático continua vivo e incólume, desde os tempos de Collor, passando por todos os governantes posteriores, sem exceção. Não vamos extrair da lista de “nanicos” os recentes governos Temer ou mesmo Bolsonaro. Aliás, este último protagonizou um nanismo que foi na contramão de tudo o que se tinha por pilar da diplomacia, desde Rio Branco – tomar partido, se aliar a governos de ocasião no exterior, em vez de se manter neutro e independente de rixas e eleições que não nos competem.

Resumão

Por pelo menos três das quatro razões acima, somos um Estado Disfuncional. Mas nada, absolutamente, se compara ao show de horrores protagonizado pela nossa Suprema corte.

Enquanto isso, os bárbaros (do PCC e Comando Vermelho aos partidos albergados sob togas do STF até os movimentos sem-isso e sem-aquilo, que criam áreas não alcançadas pelo Estado, passando pelas ONGs de interesses obscuros) tomam cada vez mais nacos importantes do nosso território, seja urbano seja rural.

Somos corretamente tachados de estado de “Predação Estatal”. Claro que há mais ilustres “cumpanhêru” que não estão listados ali, como a notória Argentina, que abriu mão de sua liberdade e reconvocou a esqueda de lá pra voltar ao poder e terminar de quebrar a nação irmã.

Somos predados pelo tal “mecanismo”, que, segundo li em algum lado, quer manter o estado sempre vivo, mas no limite da consciência, para que continue a ser sugado.

Deus tem mesmo que sarar nossa terra, como diz a Bíblia, pois que as chagas aumentam.

Riscos de Empreender num país louco

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Se não bastasse todo o apuro e dificuldades por que passa o empreendedor brasileiro, nesses ano e meio de Covid, a Justiça do Trabalho, a jabuticaba jurídica mundial, a maior destruidora de empregos do país, vem agora com uma linda pérola, para tornar a vida de quem dá emprego ainda mais complicada:

Um juiz do trabalho de Três Corações, MG (veja em https://portal.trt3.jus.br/internet/conheca-o-trt/comunicacao/noticias-juridicas/justica-do-trabalho-reconhece-morte-por-covid-19-como-acidente-de-trabalho-indenizacao-sera-de-r-200-mil) acaba de decretar que contaminação por Covid agora é responsabilidade do empregador.

Segundo Sua Excelência, “a adoção da teoria da responsabilização objetiva, no caso, é inteiramente pertinente, pois advém do dever de assumir o risco por eventuais infortúnios sofridos pelo empregado ao submetê-lo ao trabalho durante a pandemia do coronavírus.”…

Mais ainda – “Na visão do juiz, o motorista ficou suscetível à contaminação nas instalações sanitárias, muitas vezes precárias, existentes nos pontos de parada, nos pátios de carregamento dos colaboradores e clientes e, ainda, na sede ou filiais da empresa.

Na dúvida, puna-se a empresa pelos resultados da pandemia… o precedente pode acabar de quebrar desde a pastelaria da esquina até a Petrobrás, e dar ampla razão à turma do “Fique em Casa”, aqueles de colchão cheio de grana, geladeira abastecida e salário garantido no final do mês. Viu? Se tivesse fechado tudo e ficado em casa não teria sido contaminado… simples assim né?

Empresário neste país caminha a passos largos para ser uma raça em extinção, o que é, obviamente, o objetivo não confessado do socialismo a nós impingido pelos “de sempre” – tudo no estado, nada e ninguém fora dele (na verdade, fascismo é socialismo, pois a frase, ou parte dela, é de Mussolini).

O juiz entendeu que cabe à empresa “provar que deu todas as condições para que não houvesse contaminação”, e como não há – em caso algum – a possibilidade de alguém provar “negativamente” algo (desde a inexistência de Deus até a inexistência de culpa), manda o magistrado que a empresa se vire e pague R$ 200 mil para à viúva e à filha. Se a moda pega, todo mundo vai culpar empresas pelas mortes e mandar as empresas “provarem que não são culpadas”.

Inviabilizar um país, plantar discórdia e miséria, é o objetivo das facções importantes do país. Depois de inviabilizada a nação (os “Failed States” como dizem nos EUA), completa-se a revolução pela tomada do poder por uma minoria com armas e violência. Mas é fundamental plantar a miséria via confusão, caos. Para isso contribui uma multidão de inocentes úteis, gente que crê que está fazendo “o bem”, como militantes de todos os matizes, dentro e fora das cortes fazem dia a dia.

“Another brick in the Wall”, diria Roger Waters… e vamos que vamos nessa terra cada vez mais de ninguém.

Diversidade

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Diversidade é uma dessas palavras que ganharam novo significado, nos tempos que vivemos. Ganhou um significado que talvez nem todo mundo goste, e que preciso – confesso – entender bem, para não cometer erros de julgamento.

Um cântico que tínhamos em nossas igrejas (evangélicas, e algumas católicas) antigamente se chamava “Unidade e Diversidade”, e se baseava num texto de Atos dos Apóstolos e diz assim:

Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum.

Atos 4:32

O texto fazia menção à diversidade das pessoas que creram em Jesus Cristo, a nova fé do primeiro século, de sua condição diversa (pobres, ricos, livres, escravos) e sua unidade através de “um coração e uma alma”, a ponto de ninguém considerar algo como sendo seu mesmo (voluntariamente).

Era uma diversidade um tanto diferente da que temos aqui: por serem diversos, uniam-se voluntariamente, debaixo de uma fé e um coração, sem necessidade de imposição ou campanhas “explicativas”. O CEO e o peão do chão de fábrica, usando uma comparação moderna, conviviam e tinham as coisas em comum, de forma que ninguém passava necessidade. Voluntariamente, as pessoas davam o melhor de si, uns aos outros, e dessa forma, silenciosamente, essa estranha fé foi mais forte do que um império milenar, fazendo com que o apelo marcial, que mantinha coeso o imenso território de Roma, ruísse pelas mesmas razões da fé em que estavam fundados: o caráter espontâneo, voluntário, de suas atitudes, e o desprezo pelo ataque, pela ofensa, pela violência não defensiva e não provocada.

Ocorre que, aparentemente, voluntariedade, liberdade e discurso se misturam, hoje, numa confusão que torna difícil o que é mais importante – “um coração e uma alma”.

Lendo o texto do artigo acima, depreende-se o objetivo real e explícito de dar exposição a segmentos entre segmentos da sociedade, principalmente a inclusão de pessoas dessa ou daquela origem, cor, raça ou orientação sexual, a fim de dar diversidade aos Conselhos de Administração das empresas.

A entrevistada é uma excelente profissional, membro de diversos conselhos de administração de grandes empresas mundo afora. Portanto, está ali por capacidade e não porque é mulher, ou negra, ou homossexual, ou qualquer outra especificidade, válida ou não. Muito bom.

Minha dúvida vem no sentido contrário: o quanto de fato sabemos sobre a diversidade e quanto dessa diversidade está povoando as administrações públicas e privadas mundo afora, apenas pelo “conceito” de diversidade, em si, e não por efetivamente agregar algo, no que importa – capacidade de realizar o que é necessário.

O “sentido contrário” a que me refiro aqui diz respeito ao fato de que para mim pouquíssimo importa se uma pessoa é branca, negra, homem ou mulher, hétero ou homo, cristão ou não-cristão, no que tange à sua qualidade para orientar a tomada de decisões (ou tomá-las) na esfera dos grandes conselhos de administração mundo afora. Sempre vou privilegiar a capacidade intrínseca, em estado bruto, da pessoa que senta comigo em um Conselho ou que comigo compartilha decisões.

Nossa empresa é uma empresa fundada em valores cristãos, e como tal não pode discriminar por qualquer razão – pode, sim, e deve, deixar claro o que pensa em termos da fé que fundamenta nossos princípios de negócios, e a igualdade, verdadeira, dentro da diversidade do ser humano, sem, contudo infringir os princípios da Palavra de Deus em nossas decisões.

O tipo de confusão semântica gerada pela hiperssimplificação de termos às vezes difusos, ou difíceis de definir – como diversidade – nos leva a situações às vezes cômicas (como as discussões sobre a diversidade na matemática) ou trágicas (como a incapacidade de trabalho conjunto e proativo para debelar uma pandemia). A realidade tem importado menos do que os desejos, sensações ou estados de espírito.

Viva a diversidade, com consciência e responsabilidade!

P.S. – E viva o melhor que temos na nossa sociedade, a Mulher, em seu dia!

Big Techs são Market Makers?

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No passado, todos sabemos, a Dona Mariquinha e Dona Maricota eram responsáveis pelo “Correio Popular” de qualquer cidade do interior. Na antiguidade os romanos tinham a Acta Diurna, uma espécie de Jornal, mais voltado para as legiões romanas, e que era afixado em um mural.

As ruas e muros das cidades antigas também serviam de “noticiário”, de “páginas amarelas” e de propaganda política na antiguidade, como as bem preservadas ruínas de Pompéia e Herculano, soterradas pelo Vesúvio, deixaram gravadas para sempre.

A popularização dos jornais vieram com a imprensa, por volta de 1500, e já durante as revoluções americana e francesa, foram empregados de forma eficiente como propaganda nacionalista, como o Saturday Evening Post, de Benjamin Franklyn, na América do Norte pré-independência, e o L`Ami du Peuple, de Jean-Paul Marat, na França revolucionária de de 1789.

Jornais, depois rádio, depois TV, tudo num turbilhão, que nos transformou em consumidores ávidos por notícias, se tornaram nossos meios para que formássemos opinião, por mais de 400 anos. Nos acostumamos a veículos de uma mão só: “de lá pra cá”, com a eventualidade de uma carta à redação, ou em casos mais graves, direito de resposta.

Com a internet, uma população cada vez de saco cheio com a forma com a notícia era dada, se viu atraída massivamente para as “redes sociais”, que se viram, de repente, donas de um canal de comunicação instantâneo e único. A circulação dos grandes jornais foi dizimada, e muito papel economizado, para delírio dos ecologistas. Passamos a ler, e ser, o jornal. Passamos a participar na formação da notícia. Muitos passaram a comentaristas e jornalistas amadores (como eu, aqui do meu escritório, escrevendo sobre um assunto qualquer, que me chama a atenção, para um público que pode ir de meia dúzia de pessoas até milhões).

O motivo desse escrito, no entanto, não é falar sobre as mídias sociais como meios de comunicação, mas em como esses meios de comunicação podem ser usados para afetar diversas áreas do nosso cotidiano, inclusive o que me atrai a atenção nesse momento – a economia.

O poder desses meios de comunicação e infraestrutura tecnológica ficou evidente diante do “corte raso” feito nos EUA sobre Donald Trump, no início deste ano, tendo por justificativa a alegação de que o ex-presidente teria promovido o “levante” que resultou na invasão do Capitólio, sede do Congresso americano, e causado inclusive mortes. Não entrando no mérito, em si, observa-se a efetividade, o corte seco, rápido e inapelável dado pelo Twitter, Facebook e outros mega-outlets de mídia, além do provedor de acesso Amazon. Tão rápido e fulminante foi o golpe, que uma rede social “de direita”, o Parler, até hoje não voltou para o ar. Ou seja, o poder inapelável desses órgãos teve a força inédita de acabar com um órgão de mídia social – e, por que não? – de imprensa.

O Twitter e o Facebook comentaram, em caráter oficial, que podem aumentar ou diminuir a visibilidade de um determinado post, inclusive suprimi-lo. Como conservador e liberal em economia, entendo que as empresas fazem o que quiserem com o conteúdo postado em suas mídias. Portanto, não vou aqui advogar que o governo, qualquer governo, deva intervir na liberdade da empresa em ditar suas regras. Afinal, estamos nessas mídias porque queremos.

A questão se prende a algo mais prosaico, e talvez não tão fácil de entender até onde chega e que impactos tem: com este nível de poder nas mãos, um quase monopólio desses novos “meios de comunicação”, em que até os veículos tradicionais podem ser objeto de censura, o que, ou quem, impede que empresas como Facebook, Twitter, entre outras, tenham a possibilidade de influenciar decisivamente, por exemplo, o mercado de capitais? Quem duvida que algum(ns) funcionário(s) do Facebook ou Twitter, com o grau correto de “estímulo” ou “pressão”, possam acabar influindo nas políticas econômicas dos países, simplesmente pela forma como manipulam (eles deixam isso claro, da forma como falam em aumentar ou reduzir a exposição de um determinado assunto) o que aparece e o que não aparece em sua/minha Timeline?

Eis a questão: Essas empresas são privadas e fazem o que querem, se estamos num estado democrático de direito. Nada a opor. Mas como é que saberemos onde é que chegou a hora em que as mídias sejam tão poderosos canais, quase monopolistas, e com pensamento muito parecido (“progressista” nos costumes e relativamente à esquerda, na ideologia), tenham cruzado uma linha em que eles mesmos acabarão por impor uma censura inapelável, ou mesmo a quebra do princípio de liberdade de imprensa?

Que imprensa? Pode-se perguntar? Estamos todos sujeitos, na nossa quase totalidade, a “umas poucas mídias”: se mídias sociais, quase todos em FB e TW; se apelamos para buscadores, Google; se precisamos de armazenamento em nuvem e acesso para usuários, AWS ou Google?

Como auditor, com registro na CVM, ouvi a vida inteira um mantra: “ou todo mundo, ou ninguém” (ou a informação está à disposição de todos ou não deve ser liberada). De que forma podemos afirmar que isso continuará a acontecer, e em que medida, doravante?

No passado a Mother Bell foi rachada nas Baby Bells justamente pelo estado Americano ter desconfiado que estava muito poderosa, e esses poder acabava rivalizando com o estado. Igualmente, a Standard Oil foi rachada em 34 “filhotes”, em 1911, por decisão da Suprema Corte Americana, dando origem a Exxon, Mobil, Atlantic, Amoco, Chevron, entre outras.

Os governos e seus judiciários perderam o direito de liderar processos de descartelização? Alguém tem alguma dúvida de que a Voz Grossa de um Twitter ou FaceBook é capaz de criar tanta confusão a ponto de impedir que qualquer corte julgue contra elas?

Estamos, ou estaremos em breve, diante de um caminho sem volta, e que colocará não somente a opinião, mas o direito de obter informação “limpa” sobre ações e mercado de capitais, nas mãos do acaso, ou de meia dúzia – ou menos – de “players”. Olho nos novos Donos do Mundo!

Os extremos do Ministério Público

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Dificilmente alguém vai discordar, em sã consciência, da importância última do Ministério Público. Pra quem não sabe, o MP é um órgão de estado, separado da política (ou deveria) e a quem cabe iniciar ações em nome dos cidadãos. É um órgão da Constituição de 1988, que quis dar voz e vez ao cidadão, em seus pleitos. Não sou jurista, e não vou falar nada juridicamente, mas dar minha opinião sobre o que interessa: os efeitos mesmo, na bucha, da atuação do MP. Positivos e negativos.

Assim, um Procurador de um MP qualquer, estadual ou federal, pode e deve examinar assuntos e iniciar ações, inclusive – e principalmente – contra o governo em suas esferas, protegendo o cidadão contra o governo e suas conhecidas avançadas contra as liberdades individuais e patrimoniais da população.

Mas temos dois ministérios públicos, ao que parece. Se de um lado existem os caras da Lava Jato, que com uma tenacidade incrível conseguiram desbaratar uma quadrilha encastelada no poder por anos, e trazer à luz coisas horrorosas, crimes cometidos por empresas “queridinhas” do poder, por outro lado existe um MP um pouco mais obscuro em suas atividades.

O membro do MP tem o direito de agir “em nome do povo”. Se espera (eu espero, pelo menos) que um membro do MP trabalhe dentro da melhor técnica possível, pensando no espírito das leis, e no que fará bem à sociedade como um todo, como decorrência de seu trabalho. Ocorre que há de tudo no MP, e pode-se afirmar que boa parte dos membros dos MPs, tanto estaduais como federais, tomaram consciência que detêm um “poder próprio”, e não a ser exercido para bem da população.

Os exemplos abundam. Um membro do MP pode, por exemplo, “cismar” com uma empresa, e dar em cima dela até achar algo que não case com suas preferências sociais, políticas ou de qualquer natureza, e criar um caso que pode custar milhões ao dito contribuinte, e ao próprio governo, no final das contas. A área trabalhista, onde o MP é bem atuante, decidiu contestar os efeitos da última modificação da CLT, interpretando a lei no sentido de suas convicções. Assim, temos membros do MP levando empresas a tribunais, criando uma enorme incerteza jurídica no país.

Talvez o caso mais flagrante sejam os membros do MP que se dedicam a aspectos ambientais. Há, me parece, um ativismo no MP sobre questões ambientais que ultrapassa a letra da lei e cria um grau de incerteza absurdo para empresas nas áreas de agricultura, pecuária e, principalmente, mineração e extrativismo. Do nada, mesmo com tudo bem regularizado, papelada em ordem, surge na porta um oficial de justiça a mando do MP intimando a isso, mandando aquilo, propondo TACs (Tratados de Ajustamento de Conduta) que tornam a vida de quem explora essas atividades uma insanidade.

No norte do país, a região amazônica se mantém como a região mais atrasada do país. Claro que a existência de condições naturais complexas e a necessidade de preservar o rico patrimônio biológico e ecológico do país são fatores que contribuem para isso. Mas nada explica a piração que atinge tantos no MP, auxiliado pelos zilhares de ONGs da região, na defesa da região contra projetos que, tocados como previstos, trariam imenso progresso com impacto ambiental quase nulo – e remediável.

Parece que temos dois MPs em um só. Um MP parece ser composto de gente técnica, que quer buscar o equilíbrio entre o estado e o cidadão, que busca o bem comum (definição atual mais aceita de “justiça”). Tem outro MP cuja função é tão somente criar caso, aparecer em TVs e jornais, atacar um ou outro personagem político (não se desconsidere aqui o viés de cada representante do MP nessa seara). À esquerda e à direita, alguns se movimentam com o intuito de criar as condições para sua alçada ao estrelato político. Quanto mais ruidoso o processo, parece que melhor.

Como o acesso ao MP é o mais democrático possível – é só estudar feito um condenado e passar numa prova dificílima, não há como dizer que eles estão lá por qualquer força que não o mérito individual. Quanto a isso eu creio restarem poucas dúvidas. São, portanto, uma elite técnica e intelectual. Isso, por si só, não garante que por isso seu trabalho seja sempre do nível que se esperaria de alguém tão preparado e inteligente.

Concluo dizendo que o MP é uma bênção para o país, como um todo, e que foi um dos (poucos) acertos da Constituição de 1988, na minha modesta opinião.

Não posso deixar de dizer que alguns membros do MP causam ao país danos incríveis, que eles mesmos não pesam ao começar suas cruzadas, aqui e acolá. Entendo que a primeira arguição que um membro do MP se deveria fazer ao começar uma dessas cruzadas é “isso presta ao país”? “isso ajuda mais do que atrapalha”. Pensando assim, creio que teriam mais apoio popular.