1964 – O Filme que a Cinemark censurou

Posted by Brasil Paralelo on Monday, March 25, 2019

Pela reação da Cinemark, achei que o tal filme do Brasil Paralelo ia ser uma louvação ao Contragolpe de 1964 bem típica dos mais reaças entre os reaças… Fui ver (não iria no cinema de qualquer forma) porque estava de graça no Site. Trata-se de um documentário com um acabamento razoável. Creio que propagandeia mais “descobertas” do leste Europeu do que realmente mostra. Apenas historiadores da Rep. Checa são mostrados, nada de Rússia (o que acho natural devido à postura ainda um tanto fechada desse país), mas bastante contundentes em suas declarações, e aparentemente conhecedores dos fatos, que pareceram examinados com cuidado.

Os fatos são tratados com boa clareza, embora os aspectos de tortura pelos militares seja pouco mostrado, e personagens nefastos como Brilhante Ulstra sequer são diretamente mencionados. Mas independentemente disso, os entrevistados são bastante equilibrados – de direita, mas equilibrados.

Aqui, cabe uma distinção importante – a diferenciação que precisa ser feita entre “direitista” e “militarista” precisa ser deixada clara, pois que a metanarrativa encampada pelos partidos de esquerda depois da redemocratização fez o favor de borrar a linha divisória existente. Figuras como Lacerda, Ulysses Guimarães, JK, entre outros, nada tinham de esquerdistas, mas sim (uma vez percebido o rumo que a coisa tomou depois de 1967) anti-militaristas.

Nasci exatamente 6 meses depois do Contragolpe. Não me atrevo a dizer que me lembro de nada anterior a 1970, quando já tinha algumas lembranças, principalmente da Copa do México, e outras, escolares, de 1971 em diante, quando cantávamos hino, tinha SOE e OSPB na escola. Fora disso, foram anos tranquilos e de muitas mudanças boas. Me lembro que estrada asfaltada era um luxo, e ir da minha cidade, Cordeiro, até a praia mais próxima, em Macaé (no Rio de Janeiro) era uma aventura cheia de buracos, “costelinhas” no barro e muita… muita poeira. Marchei em todos os desfiles, entre 1971 e 1978, toquei tarol com o “M… PQP… Toma limonada…” (quem é da época lembra da onomatopeia que fazíamos com as bandas de escola…). Em síntese, quando entrei na faculdade, sendo do interior, não via nenhuma razão, além da própria vontade de votar para presidente, governador etc, para protestar. O conceito de “esquerda” se perdia num mar de ideias estranhas, vindas do outro lado do mundo, de gente que nossos professores de história não mencionavam em detalhes (lembro de uma querida professora que focava muito no fato de que a diferença entre o uniforme de um soldado e de um general no exército chinês era ‘um bolso’ – como se no Brasil as fardas fossem tão absurdamente diferentes…). Os 100 milhões de chineses mortos no grande salto para frente do camarada Mao não foi nunca estudado. Os 60 milhões de mortos em Gulags, Holomodors, etc, tampouco. Vivíamos num lugar que crescia, que via Itaipus, Usinas de Angra, novas rodovias (governar é, afinal, abrir estradas…) e outras coisas que nossos pais juravam que nunca tinham visto antes, maravilhados com o fato de que tínhamos agora telefone direto e não precisávamos esperar 12 horas por uma ligação para o Rio de Janeiro… Numa síntese um tanto desengonçada, vivíamos bem, muito melhor do que qualquer geração anterior.

A narrativa do filme chega a 1965, e faz uma afirmação que muda o cenário que até então era de alinhamento e aprovação total com os acontecimentos: A linha dura dos milicos manteve Castello Branco no poder até 1967, quando então, concordam todos, houve o real golpe, dentro de forças armadas divididas. Saem os “Sorbonnes” (nunca tinha ouvido este termo associado a Castello Branco) e entra em cena um Zé Ruela de grandes proporções, o verdadeiro primeiro ditador, Costa e Silva. A narrativa pode ser aí descrita como equilibrada no sentido de entender aspectos positivos e negativos do período:

  • Positivos:
    • O Governo melhorou em muito a infraestrutura básica do país;
    • O Governo propiciou a ampliação da fronteira agrícola, ocupou o cerrado e prestigiou a indústria de base, garantindo energia elétrica para tudo isso;
    • O Governo fez uma belíssima reforma tributária, moderna e equitativa, que gerou crescimento e manteve o orçamento relativamente equilibrado por anos;
    • Não houve o nível de repressão vendido à população, que se retrata ;
    • Havia liberdade de entrar e sair do país, comprar e vender moeda estrangeira, abrir e fechar empresas, e a tributação e a burocracia não eram fatores impeditivos;
    • Crescimento médio de 11% a.a. comprovam o acerto no campo econômico por muito tempo;
    • Saíram do poder voluntariamente, depois do desgaste de anos de domínio político. Quiseram sai. Ninguém os obrigou. Estavam doidos pra voltar para a caserna, para onde deveriam ter voltado em 1965
    • Por último, mataram “relativamente pouco” (claro que qualquer morte é horrorosa) em relação às ditaduras das cercanias, ou mesmo aquelas que a esquerda defendia.
  • Negativos:
    • Endividaram o país com moeda forte barata, e juros baratíssimos;
    • Estatizaram (uma política muito mais identificada com a esquerda) o que puderam e transformaram o país num cabide de empregos estatais;
    • Criaram os “biônicos”, posições políticas, até então eleitas, e que passaram a ser indicadas pelo Congresso (leia-se, os próprios militares – aliás, aqui é interessante ver que o aumento neste tipo de atitude se deu na proporção em que a oposição democrática foi se consolidando e ganhando espaço);
    • O pior de tudo – não souberam lidar com o Choque do Petróleo de 1973 e depois o segundo, em 1976 – o aumento dos preços dos combustíveis teve impacto direto no aumento da inflação e dos juros nos EUA, que chegaram a “incríveis” (em US$) 10% ao ano no fim do governo Carter. Continuaram numa política desenvolvimentista e expansionista, com cuidado cada vez menor com o orçamento – a velha fórmula para a tragédia repetida por Sarney e mais recentemente, Dilma.

O povo, o povão mesmo, não ligava muito para quem governava e no que cria. Tinha uma vida crescentemente melhor (embora com bases bem mais baixas que a Europa e EUA), melhor que Coréia, e se aproximando de Argentina e Chile (à época). Roubo e assassinato eram coisas relativamente raras, e mudanças na legislação só começaram a ocorrer após a redemocratização.

O documentário termina mostrando como os “heróis” da esquerda da época, José Dirceu, Genoíno, Lula, Dilma, e mais recentemente apanhados, FHC Aloysio Nunes, José Serra e outros, terminaram seus dias nos tempos atuais. Presos, processados, em desgraça, com a biografia manchada de dejetos da corrupção, pela tentativa de se manterem a qualquer custo no poder, confirmando que, ao fim e ao cabo, só queriam mesmo um outro tipo de autoritarismo.

Em síntese, equilibrado o filme… nenhuma razão para o bafafá…

2 comentários em “1964 – O Filme que a Cinemark censurou”

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