O Continuar do Mal

A Primeira República Francesa foi proclamada no dia 21 de setembro de 1792, através da Convenção Nacional, como processo da Revolução Francesa. Ela se organiza entre grandes grupos burgueses, tendo como uma das figuras de destaque, Robespierre. Ela marcou o fim da monarquia constitucional e o início do republicanismo como modelo político, que no próximo século passaria a vigorar em grande parte das nações. Durante sua existência, a Primeira República sofreu com intensas disputas pelo poder, que afetou em muito a vida dos franceses. 

Além da queda da hegemonia monárquica e da Convenção Nacional, o período pode ser compreendido também através do Terror, da criação do Diretório e do Consulado. Em 1799, Napoleão Bonaparte lidera o golpe conhecido como 18 de Brumário, que posteriormente acaba transformando a República no Primeiro Império Francês, no ano de 1804.”

Copiado de Verbete da Wikipédia

O Continuar do Mal *

Imagino, apenas imagino, ao citar como sendo o começo do mal, devido ao fato de ter a revolução ocorrido para sanar uma situação muito própria do período feudal, apesar de terem sido os impérios uma forma necessária temporal para unir desunidos espalhados pelos países europeus até então e, em especial, na França.

Quando ouvimos nos bancos escolares ainda crianças sobre a histórica Revolução Francesa, passamos rapidamente a admirar tais feitos e realizações, sendo que no Colégio Pedro II onde cursei o Ginasial, aprender a letra e a melodia do hino revolucionário francês nos levava ao êxtase.

Contudo, confesso que mesmo àquela época eu ficava intrigado com o fenômeno Robespierre, as guilhotinas que ceifavam cabeças de contrários à rodo e não só, como hoje se sabe, de reis, rainhas e suas gerações, e até mesmo, crianças.

As leis do Comitê e as políticas levaram a revolução para níveis sem precedentes, que introduziu o calendário revolucionário civil em 1793, fechou igrejas em torno de Paris como parte de um movimento de descristianização, julgou e executou Maria Antonieta, e instituiu a Lei dos suspeitos, entre outras. Sob a liderança de Robespierre, os membros das várias facções e grupos revolucionários foram executados, incluindo os Hébertistas e os Dantonistas, muitos dos quais eram amigos de Robespierre.”

Copiado de Verbete da Wikipédia

O que se viu a partir de Napoleão foi um Estado/Nação extremamente aguerrida, um exército diferenciado e valoroso que, rapidamente, passou a agredir seus vizinhos e dominá-los pela força bruta dos terríveis canhões franceses. Napoleão surgiu para o mundo como o General/Imperador capaz de estender o braço francês até bem próximo a Moscou, só não completando tal feito em razão do desprezo ao rigor do inverno russo e da resiliência dos seus opositores.

Pode-se enganar a alguns por muito tempo, contudo, nem a todos para sempre.

A História contada e requentada sempre foi e será perigosa para os pouco atentos. Existe aqueles que estão a solto e intocados, a margem da crítica paga, por interesses nem sempre verdadeiramente democráticos.

Enfim, “há perigo na esquina” como já foi dito por um bom compositor.

Kristallnachts da Vida

Meus 2 gramas de contribuição **

Diante de um mundo embasbacado pelo conhecimento “enciclopédico” preconizado por Voltaire, e cujo conceito tomamos partido nas citações acima, diante de um mundo que poucos anos depois estava sob o impacto do ultra terror, os expurgos e milhares de mortes, que anos depois viria a dar base “moral” (Sic!) para expurgos de Stalin, Mao, Pol Pot entre tantos outros, nos perguntamos quando é que começaremos a achar absurda a morte pela morte, as prisões sem julgamento, as suspensões “temporárias” do estado de direito, nas palavras de ministros do STF, ou seja, uma Noite dos Cristais à brasileira, tida em 8 de Janeiro de 2023. Essa Kristallnacht que até hoje justifica tanta barbaridade contra velhos, mulheres e jovens de vida pacata, cujo único defeito foi acreditar que viriam em socorro do país, num momento de agudização de uma ditadura tentada e não conseguida, há uns poucos anos, pela “falta de aparelhamento adequado das cortes”, como disse candidamente determinada eminência parda da esquerda.

Ou seja, existe justificativa para determinadas atrocidades (“uma boa bala, uma boa cova”, como disse um notório professor universitário, ao se referir ao “burguês”)? Não, não existe. Defender-se é uma coisa que legitima a violência. Defender-se não é assassinato. O mandamento, em Êxodo 20, em seu hebraico original não é “Não matarás”, mas, mais especificamente, “Não assassinarás”. Assassinar é a tal “boa bala”, “boa cova”.

Tanto aqui como em qualquer lugar do mundo, o devido processo legal e a igualdade perante a Lei são pressupostos de civilização. Ano passado, e ao longo deste ano, temos assistido a morte do processo civilizatório no Brasil. Que isso não prospere! Deus nos livre!

P.S. – entre a confecção deste texto e o dia de sua publicação vimos o atentado à bala contra Donald Trump num comício nos EUA. Embasbacado, fiquei (**) a meditar sobre qual seria a reação da mídia sobre o assunto. Um próximo artigo dará minha contribuição ao debate.

Parceria Arriscada:

*   Roberto Montechiari ** Wesley Montechiari

Guerrilha

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A primeira menção do termo Guerrilla (Pequena Guerra) aconteceu quando os espanhóis, por volta de 1808, começaram a atacar o exército invasor de Napoleão, durante as chamadas “Guerras Napoleônicas”, enquanto nosso então soberano, Dom João VI, andava comendo coxinhas de frango nas ruas do Rio de Janeiro, acompanhado da mal-educada Carlota Joaquina, outro tipo de guerrilheira espanhola, exportada para a corte portuguesa de então.

Guerrilha passou a ser um termo militar usado para definir pequenos grupos de ataque, ou na definição abaixo:

Trata-se de levar um adversário, por muito mais forte que seja, a admitir condições frequentemente muito duras, não empregando contra ele senão meios extremamente limitados

Beaufré, André, in Introdução à Estratégia

Guerrilha contra Nós

Ontem (28/12/2021) escrevi um meio desabafo a que denominei “Rolo Compressor”, ao qual estaríamos sendo submetidos. Uma minoria, com poderes quase que ditatoriais, e que nós, uma maioria conservadora e de vida pacata, não conseguíamos suplantar.

Hoje me ocorreu que não é bem um rolo compressor, mas uma guerrilha, talvez. A observação cautelosa da história dos últimos 150, 200 anos, dá conta de que há uma guerrilha em ação, na qual, de fato, um adversário muito mais forte acaba sendo dominado pela via de ações com meios extremamente limitados, mas efetivos.

Terrorismo

Neste sentido, terrorismo acaba sendo uma espécie de guerra de guerrilhas, pelo uso de força sub-reptícia contra combatentes, e não combatentes, ou seja, contra populações desarmadas, por meios extremamente violentos, cujo objetivo é deixar o adversário de boca aberta, sem reação, baratinado com a capacidade para o mal, empregado contra ele.

O 11 de Setembro, de fato, foi um grande sucesso “militar”, guerrilheiro, se considerarmos o efeito e o custo absurdo em vigilância e segurança. Com o custo a todos nós imposto por essa ação única e ousada, poderíamos ter transformado todo o oriente médio, Irã e Afeganistão, em países de primeiríssimo mundo, com ruas calçadas de prata e calçadas de marfim.

A Guerrilha entre Nós

A guerrilha tradicional, de forma geral, e o terrorismo em particular, têm um defeito de origem: seu potencial de aplicação continuada. Não dá para empregar ataque atrás de ataque impunemente. Depois do 11 de setembro houve o Metrô de Madrid e mais outros episódios de maior ou menor impacto, mas o grande terremoto e comoção gerados pelas Torres Gêmeas não seria repetido com igual eficácia.

Há, porém, a guerrilha no estilo Rolo Compressor, que continua firme e forte, e que nos mantém a todos reféns de várias correntes de pensamento, desde a esquerda internacional, que preconiza a “Pátria Grande” latino-americana, até a dominação cultural de organizações como ONU, OMC e grandes corporações. Esse tipo de guerrilha pode ser usada continuamente, e tem sido usada assim, contra tudo e contra todos os que se opõem ao seus objetivos.

No caso do terror internacional, o objetivo declarado, a Jihad, é uma iniciativa de uns tantos covardes radicalizados, que são incapazes de conquistar corações e mentes pela apologia e discussão ampla, irrestrita, de ideias e ideais. São covardes porque não possuindo meios de convencimento, jogam bombas; inexistindo razão para dar-lhes amparo, recorrem aos aviões pilotados por radicais. Quanto ao terrorismo, sabemos o que ele quer, e de forma mais ou menos precisa, quem são.

No caso da guerrilha intelectual marxista, o “inimigo” é difuso, mas mais capacitado a conquistar incautos pela pregação de suas doutrinas, ainda que igualmente incapazes de debater de forma ampla, aberta, irrestrita, e sem berrar ou recorrer a mentiras. Vemos uma erosão da vida ocidental que ocorre entre os 16 e os 30 e poucos anos, pela adesão a um modo de vida descompromissado com a realidade do emprego e dos boletos para pagar. Após os 30 e poucos, o sujeito começa a acordar para o fato de que não há solidez em qualquer argumento que dê a um estado-deus a primazia sobre a vida de populações inteiras.

De Paulo Francis a Thomas Sowell, de José Guilherme Merchior a Carlos Lacerda, exemplos abundam de gente que, por pensar, simplesmente, deixaram os “tenets” de esquerda, e acabaram virando grandes anti-esquerdistas. Este fato, aliás, da visceralidade com que antigos esquerdistas se voltam contra postulados de esquerda, diz muito sobre o que viram, e como acabaram por entender o que antes acreditavam, e do que se livraram.

Perguntado, Paulo Francis não hesitou em dizer a razão pela qual tinha se desiludido e deixado a esquerda: “Eu cresci“. Amadurecimento gera uma espécie de conservadorismo que nada mais é do que deixar de lado as coisas de menino, nos dizeres do Apóstolo Paulo:

Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.

1a. Epístola de Paulo aos Coríntios 13:11 

Há um muro no final da vida de cada um de nós. Quando somos jovens, o muro está tão longe, aparentemente, que não o vemos, e portanto, não nos importamos. A vida, claramente, é infinita. É a beleza da experimentação, da descoberta, das realizações e da ousadia. Não é ruim em si, mas não sei se deve ser estimulado – hormônios já fazem isso bastante bem. Na medida em que envelhecemos, acabamos vendo o muro cada dia mais próximo, e nos damos conta de que mais cedo ou mais tarde vamos dar de cara nele. E começamos a pensar na “Vida após o Muro”. Nos tornamos mais reflexivos e mais cautelosos. Isso também não é ruim em si, mas também não precisa ser estimulado, pois que a falta de hormônios, ou sua substituição por outros, já cumpre o papel.

Mas a guerrilha segue e existe, e certamente não é liderada por menores (em idade cronológica). Se não o é, então quem a lidera? São gente mais próxima do tal Muro do que seus liderados. Deveriam, portanto, ter deixado a sabedoria e seus hormônios, ou a falta deles, falar em seus corações. Deveriam ter-se dado à reflexão e parado de encher o saco de todas as novas gerações.

Então quem são esses guerrilheiros, a dita “Esquerda”? Como cristão, tendo a acreditar que, sabedores ou não, seguem uma cartilha ditava pelo capeta, o capiroto, o coisa-ruim, de destruição de todos os valores implantados com sangue, suor, erros e lágrimas, ao longo de 20 séculos de cristianismo, com auxílio luxuoso do judaísmo (chamar de auxílio é reducionismo, claro). Boa parte sim, cônscios de que são “não-inocentes úteis” nas mãos do inimigo, mas boa parte tão somente não tendo amadurecido a ponto de enxergar que os ideais, à primeira vista tão nobres, de repartição de renda, igualdade, e planejamento central, não funcionam, e nunca funcionarão.

Graças a Deus, como dizia Paulo Francis,

A melhor propaganda anti-comunista é deixar um comunista falar.

Paulo Francis

Deixe-o falar, não o impeça. Ouça até ele parar com a ladainha pré-ordenada, e daí comece a fazer perguntas simples sobre alguns aspectos e peça detalhes sobre como tal e tal coisa funcionarão. O sujeito acabará te convencendo, sem querer, de como o que ele defende não tem base na realidade e como nunca funcionou, e nunca funcionará.

Mas isso não impedirá o rolo compressor de seguir compactando e amassando nossa existência, nem a guerrilha lutando pelas mentes e corações dos nossos jovens.

Estratégia

A estratégia de qualquer guerrilha se resume em poucas ações: escolha de um local em forma de gargalo, surpresa, velocidade, violência e retirada rápida. Foi assim com os espanhóis cortando as linhas de suprimento dos exércitos de Napoleão, e que enfraqueceu estômagos e pernas dos soldados, permitindo o então Visconde de Wellington derrotá-los dentro de Portugal. Foi assim no 11 de setembro, quando uns 10 caras deixaram de joelhos a nação mais poderosa da terra.

É assim hoje, e o local em forma de gargalo são as nossas escolas e universidades, é a nossa mídia, é a nossa cultura. Nas instituições de ensino, guerrilheiros bem treinados atacam de forma pontual os “exércitos” de toda a nação, um pelotão/turma por vez; na mídia, meio dúzia de guerrilheiros bem falantes, dispostos a defender um ideal, atacam de uma posição de vantagem tática (uma câmera e um microfone) milhões de incautos ao mesmo tempo; na cultura, umas poucas centenas de guerrilheiros talentosos e charmosos atacam toda uma população com frases de efeito, palavras bonitas douradas por fora com desejos elevados. E está feita a mágica da guerrilha intelectual moderna. Poucos dominam o cenário mundial, enquanto muitíssimos assistem impotentes, ou tão ocupados em pagar as contas que não têm como fazer nada.

Por fim, não nos esqueçamos de um fator que um ser humano bem formado não costuma lançar mão: a mentira, o engano, a meia-verdade, a violência. Se você é guerrilheiro, não pode ter pudor de atacar a dona do mercadinho, a senhorinha que vende flores no térreo da Torre, ou o pai de família que saiu pra trabalhar e pegou um voo fatídico. Você tem que encarar essas mortes como “danos colaterais”, para um bem maior, e seguir em frente. Minta, engane, falseie estatísticas, escolha com carinho seus entrevistados para falar o que você quer, coloque pílulas de mentira em livros didáticos. Reescreva a história para contar o que você quer; enfim, lance mão de qualquer argumento, mas principalmente, não deixe o outro falar. Sufoque-o com um palavrório sem fim. Tenha um bom fôlego de modo que não deixe o outro argumentar. E se o outro conseguir te pedir detalhes do que você pensa, insista que o tempo acabou e que você precisa chamar os comerciais, ou que a aula está no fim.

Nossa Guerrilha

Temos uma guerrilha para chamar de nossa? Sim, e ela tem milhares de anos: a família. É nela que diariamente os guerrilheiros-pais metem na cabeça dos filhos, dia após dia, coisas “subversivas” como falar a verdade, usar a lógica, não gastar mais do que ganha, respeitar os mais velhos, e por aí vai.

Temos outra tática boa – igrejas. Nelas são completados os ensinos de virtude e frutos do espírito – amor, paz, benignidade, bondade, mansidão, domínio próprio, e coisas contra as quais não havia lei – hoje estão criando.

Uma outra tática, o envelhecimento natural, parece estar ocorrendo sempre, e sobre ela não temos nada a melhorar ou mudar, exceto polir a existência de forma a tornar os anos adicionais de cada cidadão nos mais produtivos de sua vida, e não achar que a vida acabou porque a aposentadoria chegou.

O muro continua lá, o além-muro existe e pode ser uma bênção. Enquanto não batermos no muro, poderemos ajudar outros a pelo menos enxergá-lo. Será nossa maior guerrilha. Sempre.

Vala Comum

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Uma vala comum foi encontrada durante as obras de expansão do aeroporto de Odessa, na Ucrânia. Oito mil pessoas pelo menos foram enterradas lá. Os trabalhos continuam, e podem ser mais do que essa quantidade, por si já absurda. Não se trata do Holomodor, a grande fome, provocada por Stálin, e que resultou na morte de milhões de ucranianos. Foi um abate sistemático de pessoas pela polícia secreta da então União Soviética.

“Uma boa bala, uma boa cova”, falou Miguel Iasi, deputado federal pelo PC do B há algum tempo, parafraseando Bertold Bretch:

“Nós sabemos que você é nosso inimigo, mas considerando que você, como afirma, é uma boa pessoa, nós estamos dispostos a oferecer o seguinte: um bom paredão, onde vamos colocá-lo na frente de uma boa espingarda, com uma boa bala e vamos oferecer, depois de uma boa pá, uma boa cova. Com a direita e o conservadorismo, nenhum diálogo, luta”

Bertold Brecht, poema “Perguntas a um homem bom

De novo, lá vamos nós, observando nossos arqueólogos da modernidade escavando, uma hora aqui, outra acolá, 10 mil ossadas, 3 mil ossadas… Ao todo já foram mais de 100 milhões de ossadas encontradas nos subsolos da utopia comunista.

Também há ossadas, claro, em outros regimes não comunistas, mas igualmente de força, como as 30 mil do regime militar argentino, 10 mil do chileno, e por aí vai, inclusive nossas quase 500, em 21 anos de nossa “ditablanda” (como dizem os hermanos latinos).

Tudo contra ossadas, se elas não estão perfeitamente identificadas em cemitérios e não tiveram sua morte comprovada e, se possível, de causas naturais. Tudo contra valas comuns de qualquer origem, sejam elas brasileiras, chinesas, russas ou do Khmer Vermelho.

O problema aqui é estarmos todos nós, brasileiros, flertando com mais um campo de ossos, ali na esquina, gerado por mais uma ditadura, seja de esquerda, de direita ou do judiciário. Neste meio tempo, o Sete de Setembro passa a ser, para alguns, motivo de medo, e não de júbilo.

Um Holomodor brasileiro, perpetrado há anos, nos deixa com uma sensação coletiva de que nada do que fomos ou somos valeu ou vale a pena. Tudo nesses 521 anos foi ruim, tudo patético, tudo substituível por algo “melhor”, segundo alguns, mesmo que para isso algumas novas valas comuns tenham que ser abertas.

O primeiro rascunho da história

https://www.foxnews.com/media/bari-weiss-quits-new-york-times-bullying

Hoje cedo no FB li com interesse a notícia veiculada ontem de que a colunista do New York Times pediu demissão e saiu “atirando” contra a política de “sanitização” de “nova ortodoxia” existente dentro do poderoso veículo de comunicação.

Pra quem não conhece, Bari Weiss escrevia sobre política no NYT desde 2017. É bastante respeitada e que cuja carreira como colunista, além do NYT, começou no também respeitadíssimo The Wall Street Journal. Judia, diz ter tendências de “centro-esquerda”, tendo expressado essas tendências em várias oportunidades, por escrito.

Chama atenção, portanto, o fato de que ela tenha escrito algumas das acusações mais graves feitas recentemente contra um grande órgão de imprensa nos EUA. Eis algumas de suas opiniões, expressas em entrevistas, quando de sua saída:

  • Sobre a eleição de Trump em 2016 – “lições que deveriam ter seguido a eleição, lições sobre a importância de entender outros americanos, a necessidade de resistir ao tribalismo e a centralidade da livre troca de idéias para uma sociedade democrática – não foram aprendidas“;
  • O novo consenso – “um novo consenso surgiu na imprensa: … que a verdade não é um processo de descoberta coletiva, mas uma ortodoxia já conhecida por alguns poucos esclarecidos cujo trabalho é informar todos os outros.
  • Escreve-se o que as Mídias Sociais “mandam” – “À medida que a ética e os costumes dessa plataforma [aqui, se referindo ao Twitter] se tornaram os do jornal, o próprio NYT tornou-se cada vez mais uma espécie de espaço de shows. As histórias são escolhidas e contadas de maneira a satisfazer esse público mais restrito, em vez de permitir que um público curioso leia sobre o mundo e depois tire suas próprias conclusões.“;
  • Uma guerra civil na redação – “Uma guerra civil está fermentando dentro da redação” – dito após o NYT ter publicado um op-ed (artigo de opinião) do senador republicano pelo Arkansas, Tom Cotton, pelo qual o próprio NYT “pediu desculpas” após ter sido publicado.
  • “Nova Ortodoxia” e Autocensura – “Por que é que eu vou editar algo desafiador para os nossos leitores ou escrever algo ousado, apenas para ver aquilo passar por um processo “entorpecedor” que vai tornar o que escrevi ideologicamente “kosher” (ou seja, “sanitizado”), quando podemos garantir nossa segurança no trabalho (e dos caracteres que publicamos) publicando nosso zilhonésimo artigo argumentando que Donald Trump é o único perigo para o país e o mundo? E assim a autocensura se tornou a norma“;
  • O Pavor da Repercussão Digital – “Todo mundo vive com pavor das “tempestades digitais”. O veneno on-line é aceito, desde que seja direcionado aos alvos adequados”

Chama atenção uma frase dela “Sempre fui ensinada que os jornalistas eram encarregados de escrever o primeiro rascunho da história ” … “Agora, a própria história é mais uma coisa efêmera moldada para atender às necessidades de uma narrativa predeterminada“… ou seja, que o jornalista deveria deixar para a posteridade, se exercido com honestidade, a base para depuração, estudo e análise dos fatos, sem viés de nenhuma natureza, para que a história seja escrita no futuro sem o vício antigo de ser “a história dos vitoriosos”.

Sempre fui ensinada que os jornalistas eram encarregados de escrever o primeiro rascunho da história ” .

Barri Weiss

Ela diz ter sido chamada de “nazista” (ele é judia, sionista) e racista, por colegas de redação. “Meu trabalho e meu caráter são abertamente desprezados na rádio-corredor de toda a empresa, onde os editores regularmente opinam e influenciam”. Ainda, “Aparecer pra trabalhar, e se identificar como centrista em um jornal americano não deve exigir coragem“.

A síntese, e sua aplicação no Brasil varonil é simples – a mídia americana está dominada pelo medo de quem vocifera mais nas mídias sociais, como Twitter, FB, etc. Entretanto, esse “medo” só tem efeito se for para os “alvos adequados” (no caso dos EUA, o presidente e qualquer conservador). Qualquer repercussão, por maior que seja, por parte da ala conservadora do país, não tem qualquer repercussão na mídia, e parece que “não existiu”.

Como aqui, ainda há um determinado consenso de que se não saiu no JN, ou no Fantástico, “não aconteceu”. Isso já não é mais verdade, e cada vez menos o é, mas continua a ser assim considerado pela própria mídia “mainstream”. Lula e Dilma (um deles, pelo menos) dizia só ter medo de algo se aparecesse no Jornal Nacional. Ou seja, uma ditadura de informação que é olhada por olhos míopes de nossa classe governante como sendo “o Ó do borogodó”, mesmo que isso não seja mais verdade.

Bari Weiss disse que quando a mídia abriu os olhos, Trump já havia vencido a eleição, que eles consideravam “ganha” (tinha capa impressa falando “Madame Presidente” para Hillary). Os jornais falam e repercutem um grupo de pressão, e não estão dando ouvidos à sociedade como um todo.

Aqui não é diferente. A imprensa também dava como certa a vitória de Haddad, até dias antes da eleição. Não enxergaram o cara da esquina, o seu Zé do Bar da Esquina, a Dona Maria, que vai na Igreja da Assembléia de Deus 4 vezes por semana e assiste o programa do Ratinho.

E assim vamos vendo o “primeiro rascunho da história” ser escrito diante de nossos olhos, sem um mínimo de equilíbrio, e com uma dose a menos de verdade.

Novo Capitalismo

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Photo by Koushik Chowdavarapu on Unsplash

Toda essa tristeza e sequelas causadas pela COVID-19 passarão. O mundo andará para frente, e eu aposto num efeito “Dia da Vitória” (2a. guerra mundial), quando o povo foi tomado de uma energia e de uma alegria que contagiaram o humor geral do mercado e permitiu um boom que durou muito tempo e enriqueceu o mundo, uns países mais, outros menos.

Tenho tentado conciliar na minha cabeça a beleza do funcionamento de uma economia de mercado com as necessidades de preservação do planeta. Tendo a achar chatos os ecologistas, ou eco-chatos, e tendo a achar mais “legal” os economistas liberais, da escola de Chicago. Estou certo? Nem tanto.

Uma coisa é verdade, e precisamos partir desse pressuposto para ler este artigo como eu o imagino: só existe geração de riqueza e aumento de prosperidade no capitalismo de mercado. Qualquer outra consideração falha, pois não apresenta nenhuma prova material de resultados. Pode discordar à vontade, mas apresente um único caso em que uma economia de orientação comunista/socialista ou ainda um “capitalismo de estado” tenha funcionado a longo prazo. Nem me venha dizer que a China é um caso, pois que a China é um sucesso somente na medida em que abraça postulados desse capitalismo de mercado (para o exterior, apesar da repressão interna).

Isto posto, passei a observar, tanto quanto possível, os efeitos calculados por cientistas, sobre a redução da poluição sobre o mundo e alguns resultados assustam – positivamente. Desde a limpeza da água de algumas baías normalmente sujas, até a redução bárbara da poluição do ar em cidades terrivelmente poluídas, como Cidade do México e Xangai. O efeito colateral (positivo) é notável e há alguns aspectos que precisamos aprender, a fim de manter o resultado positivo da tragédia, sem abrir mão tanto da liberdade democrática quanto de um bom nível de vida.

O que é dispensável

Descobrimos que há coisas perfeitamente dispensáveis e que não influenciam em nada nossa qualidade de vida:

  • Idas e vindas – descobrimos que há tanta coisa que pode ser feita de forma mais racional sem nos movermos de casa, que certamente há um grande aprendizado aqui. Quando penso que a última vez que abasteci meu carro fazem 40 dias, posso apenas inferir que posso pelo menos tentar não esbanjar tanto em hidrocarbonetos, sem perder qualidade de trabalho e movimentação. Claro, aumentarei meu consumo de petróleo depois disso tudo, mas não penso em voltar ao padrão pré-COVID;
  • A comida caseira – sei que pode (e haverá) impacto na indústria do food service no mundo todo, mas o fato é que muitos de nós, principalmente em países como os EUA, em que o consumo de comida industrializada é enorme, experimentamos uma olhada para dentro da cozinha que povos como os italianos, gregos, portugueses e espanhóis sempre privilegiaram – uma bela comida caseira, com ingredientes bons, que a gente bote a mão na massa pra fazer ou ajudar (no meu caso, atrapalhar filhos e esposa). Creio que embora minha conta de supermercado tenha aumentado, o prazer da mesa – e, pasmem, sem aumento de peso – aumentou muito;
  • Viagens a Trabalho – quantas vezes tirei o traseiro da cadeira e fui de Curitiba para Rio ou São Paulo, para ter uma miserável de uma reunião presencial com algum cliente ou figurão, apenas porque tinha sido convocado, ou senti que precisava? Descobrimos que é possível fazer reuniões online com alegria até, ou semi-presenciais são possíveis e podem ser produtivas, e um estar presente e outro não, implica em
  • Roupas e Balagandãs – Existe uma obsessão humada com a indumentária que é milenar. Desde o famoso “quem te disse que estavas nu?” de Deus aos homens, no Gênesis, que o ser humano está tentando fazer com que o resultado de um erro se transforme em algo digno de nota, no tapete vermelho de Hollywood, de preferência… Outro dia me dei conta de que passei 40 dias só de bermuda e calça de moleton, e nem um mísero jeans usei neste período. Fiz meus calls, falei com meus clientes, e como todo mundo estava nivelado por “baixo”, se é que pode se chamar de baixo estar à vontade, feliz da vida, no conforto do lar, todo mundo estava conforme com esse estado de coisas. Mais do que isso, vesti basicamente as mesmas roupas diversas vezes, observando claramente a desnecessidade de um monte de coisas.

Vai por aí adiante… pode complementar a lista…

Sei que muitos desses conceitos já estão contidos em movimentos como “live in a suitcase” ou “vida simples”, entre outros. Mas não é esse o objetivo desse alfarrábio. A pergunta aqui, fundamental, é: é possível manter um altíssimo padrão de vida, liberando o sistema produtivo para coisas muito mais importantes, como por exemplo:

  • Redução do Tamanho do Estado – Este é um fundamento de um capitalismo de mercado saudável. O Brasil nunca (minha opinião) teve um sistema de capitalismo liberar, de mercado, legítimo. Por capitalismo de mercado leia-se a competição livre, a propriedade privada, respeito a contratos, entre outras coisas. Temos gente demais pendurada em quem paga tributo. Criamos uma necessidade patética de um “estado pai”, justamente porque o cidadão brasileiro sempre se acha numa posição de servidor do estado, e não o contrário. Reduzindo o tamanho do estado, sobrará mais dinheiro para o ponto abaixo…
  • Infraestrutura – obras como água, saneamento, luz, internet, escolas, hospitais, etc, demandam um capital que de certa forma acaba indo parar em atividades, digamos, menos fundamentais. O tributo sobre o consumo vai acabar caindo, o que não é em si ruim, pois que o estado será reduzido, primeiro e vai acabar sobrando dinheiro para o que realmente se espera dele – saúde, educação, segurança, saneamento, infraestrutura…
  • Cuidado com o Meio Ambiente – Muitos naturalmente estão se ressentindo de ficarem ser olhar a natureza, e quando saem têm uma percepção de claridade e beleza que nos escapa quando estamos “acostumados” a algo. Morei no Humaitá, no Rio, durante anos, e durante anos peguei meu carro e desci a Rua Real Grandeza em direção à Urca, pra pegar o aterro. A vista maravilhosa do Pão de Açúcar e da Enseada de Botafogo passava batida algumas vezes. Eu passei a me cutuca pra NÃO deixar o espetáculo ficar costumeiro. A capacidade de se embasbacar com as Obras de Deus serão o movimento maior em direção a nao mais aceitar que um infeliz jogue o seu esgoto industrial na praia ou na baía… É possível se indignar a ponto de ir à rua para garantir saneamento e águas limpas. Uma vida menos exposta e menos agitada poderá nos guiar a um maior cuidado com o meio ambiente, sem a neura de que precisamos comer capim ou andar a pé para isso…
  • Vida Pessoal e Familiar – Casa grande ou casa pequena, estamos sendo obrigados a conviver conosco mesmos e com a família, e SEM os amigos por perto. Voltamos a ser uns “Daniel Boone” perdidos no Kentucky do Séc XVIII, cercado só pela família e meia dúzia de amigos (se tanto). Isso nos faz voltar a TER QUE falar com eles, e ouvi-los. Tem sido, para mim, uma experiência inovadora (creiam-me), principalmente com jovens moços em casa, que normalmente já fazem retiro nos seus quartos, dia após dia.
  • Respeito ao Outro – Brasileiro é invasivo por natureza. Óbvio que isso é uma generalização, mas como toda a generalização, ela se baseia numa percepção razoavelmente fundamentada. A necessidade de dar espaço ao outro, de não invadir, de respeitar o espaço corporal, de ser mais higiênico tornou-se muito mais evidente. Quando vim do Rio para Curitiba me falaram muito que o curitibano é frio, etc. Em relação ao carioca, claro, mas no final das contas eu não apenas me adaptei mas me apaixonei pela liberdade e respeito que os curitibanos dão uns aos outros. O respeito à individualidade é alto, e por isso, talvez, a COVID aqui tenha tido menor impacto que em outros locais.

Eu poderia ir adiante enchendo o saco (o que já fiz muito hoje) mas o fato é que deve haver, TEM que haver um capitalismo que não tire em nada nossa qualidade de vida e que permita vivermos num planeta mais sustentável. Ter 7.5 Bi de pessoas, 8 Bi, na mesma terra, esperando que sempre achemos uma solução tecnológica pra continuarmos sobrevivendo não me parece uma alternativa viável.

Islândia e Banânia

Se o único assunto do mundo hoje é COVID, vamos de COVID… infelizmente…

Islândia e o Laboratório

A Islândia é uma ilha gelada e isolada perto do Círculo Polar Ártico. Tem 364 mil habitantes e está recém saindo do inverno (embora primavera e outono lá sejam invernos rigorosíssimos, mesmo para os padrões Curitibanos, e o verão, um “inverno paulistano” na melhor das hipóteses…). A Islândia decidiu testar toda sua população. Hoje vimos na Gazeta do Povo os resultados dos testes (https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/islandia-testes-coronavirus-populacao/). Nos testes já aplicados, mais ou menos 5% da população, tiveram 1132 casos e 2 mortes. Extrapolando seriam 653 mil casos no Brasil e 1.153 mortes. Uma taxa de contaminação maior e um número de mortes que “tende” a ser parecido com o que se espera aqui. Bom, isso depende da estatística e da “ciência” aplicada.

A Islândia pode dar ao mundo um modelo “em escala” da força e perfil da pandemia, de formas a ajudar outros governos a tomar decisões. O que me “choca”, porém, é que a Islândia não fez lockdown (mesmo estando em condições mais propícias ao virus do que, por exemplo, o Brasil); a Islândia não fechou fábricas nem comércio, exceto os que, pela natureza, promovem o contato físico (baladas, bares, academias de ginástica, etc). Sequer fechou todas as escolas. Imaginem isso aqui.

A Islândia não deve ter um “cabo-de guerra” político tão forte como no Brasil. Aqui, traveste-se de jornalismo uma agenda oculta mal disfarçada de “volta ao passado” (em termos de receitas advindas do governo, pelo menos). Na política, perdedores (por incapacidade gerencial, pedaladas, mensalões ou petrolões) tentam impor sua vontade à maioria de eleitores, a um presidente que (até o momento) não cometeu crime de responsabilidade. Se cometer, que seja chutado do Planalto em grande estilo.

Ciência! (?)

O conceito de “científico” aplicado no Brasil depende da boca de que “otoridade” a informação sai e de que objetivos secundários (ou primários, em alguns casos) quer obter o vivente-falante. Tem cientista (bom, credenciado, renomado) falando de tudo. Ao dizer que o presidente “rechaça a ciência”, o falante quer se referir à ciência que ele desposa, e que de certa forma dá suporte às suas convicções. O presidente, por suas vezes, também usa a sua “ciência” para dar suporte ao que acha, e que deixa claro (aliás, se há uma coisa que não se pode reclamar do cara é que ele não seja transparente).

Pois bem, escolha sua ciência. Tome sua posição. O fato é que, para qualquer lado que se queira seguir, que se coloque a proa desse enorme transatlântico chamado Brasil pra algum lado e que não se mude de curso; qualquer curso; e que não se queira que a popa vá pro sul e a proa pro norte ao mesmo tempo, pois isso despedaça o navio.

Em tempos bicudos, a Grécia costumava chamar um “ditador” para cuidar da coisa até que a emergência passasse e a democracia pudesse retornar. Pois bem, aqui, o estado de calamidade deveria dar ao presidente a possibilidade de, certo ou errado, colocar a proa do navio pra um lado só. Não pode. O STF, cumprindo sua missão incansável de criar o caos jurídico, resolveu que a popa do navio pode ir pra um lado e a popa pro outro. Quebrou a espinha dorsal da embarcação. Corremos o risco de afundar todos, e não irmos nem pro norte nem pro sul.

Não se trata aqui de gostar do presidente, bozo, mito, ou o que quer que alguém possa estar inclinado a pensar dele. Trata-se de unidade de comando, coisa que num país dividido como o nosso, soa como militarismo. Ora por favor! Sejamos sensatos numa coisa pelo menos: NINGUÉM sabe ao certo, 100%, pule de dez, barbadinha, na bucha mesmo, o que dará mais certo ou mais errado. Então que se deixe o barco ser comandado. Só isso.

Quanto à equipe ministerial, a mesma imprensa que cobre o presidente de cacetada é prenhe de elogios ao ministro da saúde, da segurança e justiça, da economia… É como se tivesse havido um Darwinianismo nos últimos 15 meses e “apareceu” de uma “poça de aminoácido” a equipe ministerial presente. Ora, menos, né? O cara não tem nada a ver com esse ministério? “Ah, mas o Bozo fica com ciúmes do Mandetta”… Deve ficar sim… é natural. O cara não sai do carro de som da campanha. “Ah, mas o Bozo está indo contra a OMS…”. Ora por favor! Como se a OMS soubesse para onde quer ir! A OMS, no meio dessa crise toda, está tentando, como todo mundo, entender o assunto, protelar os efeitos o máximo para poder tomar medidas “menos ruins”.

O presidente da OMS, ontem, disse coisas que a imprensa disse que ele não disse. O presidente também disse coisas que eu particularmente acho que o presidente da OMS não disse. O fato inescapável, mesmo, é o seguinte – o cara disse claramente que os países são diferentes, e que precisam buscar soluções diferentes e que protejam seus cidadãos mais vulneráveis. O cara disse ainda que cabe aos países, entendendo suas características, tomar decisões mais sábias no sentido de criar o mínimo de desabastecimento, fome ou caos possível. Em síntese, como bom político (cientista o sujeito não é), ele mudou (sim!) de discurso, tirando a responsabilidade básica de cima de si e colocando em cada governante.

Na Islândia, isso funciona. Aqui, com governadores pregando uma coisa e o governo federal outra, a chance maior é partirmos o casco da embarcação e acabarmos todos no fundo do oceano…

Olhando de Lado

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Esses dias de COVID-19 servem para muitas coisas. Afinal, estar em casa, trabalhando na frente do computador 10, 12 horas seguidas, próximo da família, longe dos colegas de trabalho, me deu tempo de notar umas coisas que me passariam despercebidas.

Fomos ensinados ao longo de toda a vida a olhar as pessoas nos olhos. Não “fitar” longamente, pois isso pode deixar o outro desconfortável, mas mover os olhos entre testa e boca, num movimento contínuo de familiaridade; sorrir ou menear a cabeça, tudo isso deixa o outro mais à vontade e transmite uma linguagem corporal de atenção e convalidação do outro.

Pois bem, hoje, na era dos dois, três monitores, olhar nos olhos, esses olhos virtuais, meio espectrais que nos enxergam do outro lado de uma linha de dados de alta velocidade, ou nem tanto, se tornou um exercício mais para o pescoço do que para os olhos. Estou lutando para aprender a manter um mínimo de etiqueta nessas reuniões virtuais que tenho tido às pencas.

Olho o outro nos olhos, ele vê meu pescoço; ele olha meus olhos, eu vejo a traseira do seu computador, cheia de fios, clipes, post-its e até um esquecido cotonete usado. Não está sendo fácil entender o outro pela linguagem “não falada” do dia a dia. Ou olho os olhos, ou olho a orelha. Falar nisso, tem gente com orelha feia, sabia? A minha por exemplo, pude ver que não é grande coisa. Tem até uns pelos nela que preciso arrancar. Ainda bem que tenho tempo…

Há um caráter nisso tudo que vai acabar por mudar nossa forma de olhar o outro. Sim? Não? Eu temo voltar para o escritório e começar a olhar os brincos, as orelhas, a gola, o alto da cabeça de pessoas. E será interessante perceber que o outro não vai ligar muito. Afinal, depois de tanto tempo olhando erraticamente, é possível que ele esteja acostumado a fazer o mesmo.

No meu caso, em particular, acho que vai acontecer algo muito diferente: vou olhar fixamente para a pessoa… já que antes eu é que estava sempre de lado, ouvindo a pessoa falar, retendo metade, enquanto olho o “Zap”, enquanto vejo um e-mail. E o outro lá… olhando minha orelha…

No fundo pode ser um aspecto bom desse confinamento!

Variadas formas de dar uma Notícia

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,dia-de-panico-exceto-em-brasilia,70003226370

Outro dia um colega de profissão disse uma pérola – “podemos interpretar isto assim, ou diametralmente oposto para isso, com fundamentos para ambas as coisas”… Eu tenho que discordar, se é que eu, tendo por profissão contabilidade e auditoria. Não posso admitir nada remotamente parecido com isso. Mas o fato é que, do ponto de vista da argumentação é isso que temos visto dia sim, outro também na mídia.

A mais recente face desse mal, que podemos chamar de Síndrome de Imprecisão, está fazendo residência permanente onde menos devia – a imprensa. Claro, é possível ter opinião e ser jornalista, mas não “o jornalista” do fato específico. O Editorialista, o dono do veículo, até pode ser, mas o cara que foi enviado para ser objetivo, repórter, não deveria ter viés de nenhuma natureza. Mas tem tido. Desde 1988 temos visto o fenômeno, para um lado, para outro lado do espectro político, e (talvez menos perceptível mas igualmente danoso) para o lado dos interesses do próprio veículo de comunicação.

O editorial do link acima é um desses casos. Ora, o que é que o Estadão poderia querer do Ministro Guedes? Que entrasse na “pilha” do mercado e viesse a público dizer que “é isso mesmo, o mundo tá mesmo acabando… salve-se quem puder”? O que é o ministro geraria com isso? Mais caos e confusão num dia particularmente cheio de especulador tentando extrair o máximo da situação, sem se importar com a verdade, sob qualquer ângulo.

Eu tenho alguma dificuldade em entender por que a imprensa não criticou quando Lula, no auge da crise (essa verdadeira) de 2008 foi pra TV dizer “… aí eu falei pro Bush… ô Bush, vê se segura essa onda aí, porque no Brasil vai acontecer só uma marolinha”… De fato, comendo o capital acumulado nas vacas gordas, sem crise de subprime ou qualquer outra coisa parecida, avançamos como se não houvesse amanhã, vimos o governo de então “fazer o diabo” para se manter lá no pináculo, e nos levou a uma crise muitas vezes pior do que a própria crise de 2008, em 2014 em diante… À exceção dos “suspeitos de hábito” (como em Casablanca), não houve quem pudesse ter uma voz dissonante forte o suficiente pra mandar Lula calar a boca – “por que no te callas!”.

Ontem o mundo acabou… hoje o mundo está ressurgindo, com a bolsa subindo forte. Claro. O mundo, quando acabar de vez, será tomado de tal surpresa que nem jornal vai dar tempo de editar – “como o relâmpago que sai do oriente e se mostra no ocidente”. Mas ontem, pelo menos, só acabou pra quem acredita em bobagem.

Aliás, falo isso porque já fui vítima do mesmo mal. Às vésperas das eleições de 2001, que acabaram por eleger o ora condenado Lula, com o dólar indo a R$ 4,00, insisti com antigo presidente da empresa que eu então era CEO, para comprar dólar… Que imbecilidade. Acontece, e acontece sempre no meio do “Hipi-hurra”… quando a capacidade de se manter sereno vai pela janela.

Ontem o mundo não acabou. Creio que vai acabar um dia, e como cristão torço para que seja logo. Mas enquanto não acabar, é melhor analisar os fatos com imparcialidade, e contar com uma imprensa que possa minimamente fazê-lo.

Foi dia de pânico, exceto em Brasília? Deveríamos agradecer por isso. Afinal, bom senso e cabeça fria não estão sendo muito comuns, nem no governo, muito menos no STF, Congresso, imprensa, e por aí (não) vai…

A impossibilidade de obter uma informação econômica fidedigna

Photo by CDC on Unsplash

Um do canal Rural Business e me inspirou a escrever sobre o fato de que, sinceramente, não sei mais dizer, dentro do noticiário econômico, quem fala a verdade e quem apenas quer atingir um objetivo específico. Já não é mais possível saber com imparcialidade o que esperar da economia. Não é possível saber sequer se coisas do passado tem uma determinada interpretação ou seu oposto.

O vídeo trata da suposta manipulação que está havendo em torno do coronavírus, em como isso está sendo usado para gerar um pânico na população e baixar o preço de commodities, o que é de interesse especial da China, que deseja baixar sua inflação, que começa a sair do controle.

Falando em impossibilidade de saber a verdade, o caso do coronavírus é mesmo emblemático. Cada um dá sua visão, mas, mais do que qualquer outra coisa, tenta influenciar o máximo de pessoas possível para agirem de acordo com seus interesses específicos. A agenda oculta no bolso do colete está cada vez mais ativa, e já não se fica mais com a cara vermelha, ao expressar opiniões “abalizadas”, “de expert” em frente a câmeras que contrariam o bom senso ou a observação prudente.

A falta de curadoria na imprensa aprofunda sua crise e nos joga num lodaçal de opiniões carregadas de “significado”. Não sei se se dão conta, mas a quantidade de “experts” que vêm ao vivo dar sua opinião é cada dia maior. Âncora nenhum, de jornal nenhum, praticamente, fala algo que foi analisado pela redação e crivado pelo editor responsável. Tudo é jogado nas costas desses experts, que falam com sotaque carregado, do lado a que defendem, ou dos interesses das empresas para as quais trabalham.

É mais fácil se esconder por trás de um “expert” do que de fato submeter o fato ao escrutínio de alguém que cheque a validade do argumento e conclua algo. A tal curadoria… Pois bem, além de estarem escondidas atrás desses “especialistas”, as redações têm feito pior – têm buscado os “especialistas” que lhes interessa, e dado a esses a tarefa de papagaiar o que desejam atingir como objetivo tático. Uma guerra da informação está em curso, e os “especialistas” são agora a arma favorita no arsenal de fake news a que somos submetidos diariamente.

Acabei de cancelar minha assinatura do Estadão, de tantos anos. Não dá mais. Francamente, o Estadão fazia um bom contraponto com a Folha de SP (mais conhecida como Pravda, ou Gramma). Já não faz mais. Por que? A política do atual bufão residente no Planalto está ajudando os jornais a irem para o brejo de forma mais acelerada. Não que não não estivessem indo pro buraco de qualquer forma. Apenas apressou-se o passo da queda. Cancelei o Estadão porque não consigo mais acreditar nele. Os editoriais passaram a ter um tom tendencioso e de inconformismo.

Não vou manifestar em rua nenhuma no dia 15, mas apoio veementemente o direito de quem quiser ir, e mais, acho que realmente estamos diante de um golpe que envolve dois palhaços travestidos de presidentes de casas congressuais, e pelo menos uns 8 palhaços adicionais aboletados como deuses no Olimpo da mais alta corte da nação. E dá-lhe fisiologismo… e dá-lhe acobertamento de bandido!

O tal bufão do Planalto é realmente um cara que fala demais, desmedidamente e, como diz o “classudo” FHC, falta-lhe postura presidencial, mas cá entre nós, depois de ver aberta a caixa preta das gestões de FHC, prefiro o bufão (eu achava FHC um bom governante, por conta do Plano Real, mas concluo que ele apenas fez o mínimo e nos deixou com caixa pra 2 dias de operação no Tesouro, na sua saída).

O tal bufão do Planalto esperneia e insurge-se contra Lula e Dilma, e com “santa” razão. Essa dupla realmente é do barulho – e barulho sem semântica. Um, animador de platéia, quer nos fazer crer que não roubou nem um centavo (ora, por favor!), a outra, sequer consegue articular duas frases com sentido claro. De novo, prefiro o bufão. Não que ele seja meu sonho de consumo, para a posição de presidente, mas porque, a despeito de todos (os seus MUITOS) defeitos, os quais reconheço, tem uma virtude raríssima – justamente por não ter tanto verniz, nem ser animador de auditório, fala algo que dá pra perceber que realmente “quis dizer”.

Quando ele diz que “você não merece ser estuprada”, com relação à deputada, ele realmente cria (e ainda deve crer) que ela não mereça (mulher alguma merece); quando ele diz que o sistema de pontos das CNHs é punitivo e ridículo, ele realmente acha isso. Quando ele diz que nasceu de novo e que Deus lhe deu um novo começo depois da facada, ele realmente parece crer que foi Deus que fez o milagre.

O mesmo se dá com o General Heleno, auxiliar mor do bufão. Quando ele disse que “F..-se” e que “esse pessoal faz chantagem conosco”, ainda mais porque colhida sem seu conhecimento, traduz, de fato, o que Helenão pensa. E isso deveria ser bem examinado por nós todos: ele REALMENTE enxerga um processo de chantagem contra o executivo. Alguém duvida que ele esteja certo? Eu não. Mas em que medida ele está certo? Sob que aspectos? Ora, tornar o executivo refém do congresso, sem um mínimo de espaço de manobra orçamentário, quer governar no lugar do presidente. Isso não é brincadeira. Quando o legislativo se dá vantagem em cima de vantagem, na cara do povo brasileiro, sofrido, como plano de saúde pra filhos até 33 anos de idade, troca de carros oficiais, milhões em verbas para mordomias mil, etc, eu me pergunto se estamos diante de algo que se pode chamar de chantagem ou se na verdade é pura e simples extorsão mediante sequestro (de verbas).

Voltando ao assunto, a imprensa, com exceções, não tem mais a menor capacidade de informar o grande público. Está perdendo a relevância e continuará perdendo. Eu estou aqui fazendo uma espécie de grito de alerta, de um cidadão cansado: imprensa, abre teu olho, porque você está encurtando sua vida útil, em vez de tentar ser mais relevante, mais verdadeira, mesmo que isso implique em você dar crédito a alguém que no fundo tenta te tirar receita.

A verdade não pode ficar refém da agenda da imprensa!

Duas velhas águias

www.gazetadopovo.com.br

Se tem dois jornalistas que conhecemos de anos, décadas, esses são Alexandre Garcia e J. R. Guzzo. São “macacos velhos”, gente que já dirigiu as mais importantes redações do país, gente que foi figura de proa em decisões sobre o que publicar e o que não publicar, gente conhecedora profunda dos bastidores do poder, gente “de Brasília”, águias de outros carnavais, enfim, verdadeiros vencedores em suas carreiras.

Recentemente vemos essas duas águias, junto com meia dúzia de jovens jornalistas e colunistas, como Rodrigo Constantino, entre outros, se insurgindo contra (quase) todo o restante dos profissionais de imprensa, ficando firmes do lado de um governo popular-impopular: popular junto ao povo, impopular junto à academia, aos jornalistas, aos intelectuais. Por que?

É de pensar mesmo. Por que estariam, como são exemplos as matérias da Gazeta do Povo https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/video-conclama-povo-apoiar-bolsonaro-dia-15/ e https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/jr-guzzo/povo-ruas-protesto-contra-parlamentares-culpa/ , “tão” do lado de Bolsonaro? Bom, em primeiro lugar, não parecem estar “do lado” de Bolsonaro. São, sim, conhecedores profundos da dinâmica do poder, tanto em Brasília, quanto nas redações. São profissionais hoje muito mais independentes tanto financeira quanto intelectualmente, e podem se inscrever no círculo dos realmente “livre-pensadores”, que decidem fazer suas ideias conhecidas, tomando bom proveito de sua enorme popularidade.

Foram, e são, os profissionais cujas colunas e entradas “…de Brasília, Alexandre Garcia…” temos lido, visto e ouvido ao longo de décadas, seja criticando governos militares, Sarney, Collor, FHC, Dilma, Temer, Bolsonaro e tutti quanti. Aprendemos a respeitar a curadoria feita por eles e expressa em suas ideias e palavras.

Pois bem, por que, então, fazem uma aparente defesa da posição de Bolsonaro, motivo da briga da semana, das manifestações cuja gestação começou com o áudio capturado sem querer, do Ministro Heleno, dando um “f8da-se” maiúsculo a parlamentares a quem acusa de querer pressionar indevidamente o executivo? A razão mais óbvia é a mais correta, provavelmente: porque realmente, conhecendo o congresso, e conhecendo as figuras que dominam o legislativo, sabem que Heleno tem razão. Realmente há uma permanente tentativa de chantagem ao governo. Não engoliram, nem engolirão tão facilmente, a falta de negociação pelas posições chave em ministério, e a colocação de figuras melhores, administrativa e tecnicamente, nos lugares antes reservados aos “flanelinhas” dos cargos, nomeados por Suas Excelências.

Minha crença é a de que, creia-se ou não na totalidade do que está fazendo Bolsonaro (e eu descreio em mais da metade), há a arraigada sensação de que o Brasil está sendo manipulado a pensar que estamos diante de uma ruptura da ordem democrática, e, vejam só, por conta justamente de… um ato democrático… uma manifestação.

Jornais e TVs, de um modo geral, abriram guerra a Bolsonaro quando esse endureceu o jogo com relação a verbas de publicidade, condenando à morte um setor que já andava muito mal das pernas. O Governo Federal, e os governos estaduais, são as únicas tábuas de salvação num mar econômico revolto, balançado pelas ondas da Web. Sem a conivência financeira do governo, estão fadados a falir mais rápido do que se anteviu. Ora, por que, como em situações anteriores, não apelaram para a bajulação pura e simples? Por que resolvem bater de frente? Usando um pouco de lógica argumentativa, entendo que a decisão só pode advir do fato de que entenderam não ser possível conquistar algo com a bajulação, e, portanto, só restou o confronto. O restante da (ainda grande) influência junto aos formadores de opinião os coloca numa posição de tentar fazer o governo se curvar, ou sair. Para isso, todas as Veras Magalhães, todas as Miriams Leitão, todos os Gerson Camarottis, são colocados à serviço desse propósito. E como não são nenhum Guzzo, nenhum Alexandre, não tem alternativa a não ser assumir o papel de torturador…

E o congresso, que desde o primeiro dia desse governo vem sido atropelado por decisões tomadas sem “consulta” (sic!), sabe que o caminho é mesmo o do “parlamentarismo branco”, regime rejeitado nas urnas do plebiscito de 1993. Sabemos, todos, de que matéria são feitas suas excelências. As exceções estão cada vez mais claras, para fazer contraste com os “donos” do congresso. Parlamentares como Marcel van Hattem, Oriovisto Guimarães, para ficar apenas em duas estrelas de primeira grandeza, são como manchas brancas em um lençol cinza escuro.

Pra concluir, eu fico com o conhecimento de décadas, acumulado por esses dois caras fantásticos, à alternativa de me curvar a uma suposta ameaça à democracia, cuja bandeira é desfraldada pelas Veras, Miriams, Maias e Alcolumbres da vida nacional.