Estou há quase uma semana na minha terra natal, Cordeiro. A razão dessa visita extemporânea é a saúde dos pais, principalmente do pai, com 84 anos, diabético, e que gosta se de aventurar nuns docinhos e goiabadas, com os resultados previsíveis.
A mãe, não tão idosa, com 77, mas com Parkinson, também inspira um monte de cuidados. Fica limitada nos movimentos, e, jovial como sempre foi, isso lhe dói e deixa irritada.
Meu filho mais velho comigo, com seus 23 anos, me faz sentir, na maior parte do tempo, pelo menos tão idoso quanto meus pais. Uma tristeza profunda em me ver já tendo algumas limitações, uma antevisão do que serei em 10, 20 ou mais anos, se Deus me permitir vive-los… Meu filho é meu espelho, de como devem se sentir meus pais ao me ver – três gerações que viveram e vivem diferentemente, com objetivos que eram, e são, cada vez mais diferentes.
Uma coisa me fascina nisso tudo – a relação dessas três gerações com Seu Deus é muito semelhante, a despeito de todas as diferenças entre si. A Cruz de Cristo parece ser um grande equalizador – um grande sinal de “mais” a nos apontar tanto a finitude com a “vaidade e aflição de espírito” de conquistas, prêmios, títulos, diplomas, posses.
Viemos a Cordeiro para ajudar, definir questões mundanas como propriedades e heranças, para dar apoio, conviver, tomar pé de uma situação que, à distância é difícil de entender. Sairemos daqui no próximo domingo bem cedo com muita nostalgia e um peso crescente no coração. A nostalgia de uma cidade que não existe mais, de pessoas que cada vez menos nos reconhecem na rua, que se impressionam com os cabelos brancos e a pança que ostentamos, como a diferença no caminhar e até no sotaque já um tanto misturado, de Curitiba e e Cordeiro… O peso vem da saudade que fica, da certeza de que um dia ninguém se lembrará de ninguém mais, os pais terão ido e nós estaremos na mesma direção.
Mas uma certeza – assim como não foi possível apagar a nossa alegria em momentos de dor intensa vividos, não será possível apagar nossa certeza sobre a esperança da vida eterna, do reencontro com os nossos, e com nosso Criador.
Fica a lição de que aflição mesmo, tristeza irremediável mesmo, desespero “mesmo” é exclusividade de quem não enxerga o Céu já desde esse lado da Eternidade.
Boa reflexão
Lindo texto, Wesley. Talvez por ser a narrativa centrada neste espaço e envolver personagens há muito conhecidas e com quem convivi bem de perto. A velhice é um destino anunciado a quem supera a juventude e a meia idade,
Sinto-a , mas tento não vê-la. Fique feliz, meu filho, por ter seus pais envelhecidos no tempo e vencedores na vida. Pessoas que se esmeraram em seus propósitos de formar os filhos e bem informar um grande número de outros que o magistério lhes concedeu. Ame-os e permita-lhes sentir esse amor. Ê o que nos ficá como legado, o amor de nossos filhos. Beijos. Madalena Tavares
No teu caso, especificamente, foi uma caminhada bastante próxima. Esse conhecimento de causa, de perto, faz com que o comentário seja ainda mais relevante! Obrigado!
O que me conforta que um dia seremos jovens lá no céu, lá não averam dor nem tristeza só alegria.
Que triste e lindo ao mesmo tempo…a vida é mesmo assim..ao piscar dos olhos passa o tempo..e nós envelhecemos..e de repente nós que éramos jovens, vamos nos tornando os velhos aos olhos dos jovens…saúde e lucidez na nossa vida terrena, é que sempre desejo para mim e os meus…abração..