Da definição clássica de Aristóteles, segundo quem “a política é a ciência que tem por objetivo a felicidade humana e divide-se em ética (que se preocupa com a felicidade individual do homem na Cidade-Estado, ou pólis), e na política propriamente dita (que se preocupa com a felicidade coletiva)”, passando pela definição como “arte do possível”, como disse Ulysses Guimarães, até uma mais ácida, de Nietzsche, segundo quem “um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos.”, vamos nadando de braçada num lodaçal sem fim, Brasil e mundo afora.
A Política foi basicamente criminalizada nos últimos anos, por razões que quase todos conhecemos e quase todos entendemos bem: o assalto ao estado, a colocação de seus interesses particulares antes, muito antes, dos interesses da nação, o aparelhamento da máquina pública para que, em mãos “alheias” emperre e pare, a despeito dos efeitos nocivos sobre a população. E criminalizada está, e continuará, até que tenhamos um mínimo de vergonha na cara, por parte de nossos representantes, para que pelos menos diante de câmeras fiquem vermelhos com posições que deveriam se avergonhar profundamente, como a necessidade de “reduzir” a Reforma da Previdência” para evitar que o governante atual se reeleja, ou ainda o vale-tudo, para que seja solto um determinado presidiário bastante popular e cuja biografia é uma soma de Al Capone, Mata Hari e Hugo Chavez.
Quem não viu ainda, veja a terceira temporada de “Designated Survivor” (Sobrevivente Designado) na Netflix, sobre um presidente “por acaso” dos EUA, um amador em política, guindando ao poder pelo simples fato de ter sido o único na linha de sucessão que escapara com vida de um atentado monstruoso no Congresso americano, que matou toda a administração. A trama é interessante, com os óbvios exageros com fins de apimentar seu andamento, mas acaba, neste terceiro ano, desaguando em temas que para nós são bastante reais e que vivenciamos faz pouco – uso da internet como forma primordial de campanha presidencial, o surgimento de um candidato à presidência “independente” o que não ocorre nos EUA desde o século retrasado (no Brasil não é possível, mas vivemos um caso parecido em que o atual presidente usou um partideco qualquer, o PSL, para se eleger, contra a vontade de todos e contra tudo).
A temporada discorre sobre temas importantes, à esquerda e à direita, demonizando mais o partido republicano do que o democrata, mas de fato com teses de campanha muito mais parecidas com este. Aborto, segregação e ódio racial, questão de transgêneros, imigração ilegal, ameaças nucleares, infraestrutura, entre outros assuntos, são tratados com uma certa parcialidade para as teses “progressistas”, colocando conservadores como “bichos-papões”. Mas há uma clara ligação com o estilo do atual governo em fazer política e se dizer isento, não querendo usar a política para fins de agarrar-se ao poder, sem medir esforços para isso, legais ou não.
Uma conclusão importante deve ser tirada disso tudo – a política partidária é um mal e um mal cada vez menos necessário, devido aos meios de comunicação. A tecnologia da informação retirará da política boa parte de sua importância. Tudo o que não é importante acaba por destruir-se a si mesmo, por obsolescência. A política, a continuar como está, com interesses partidários acima dos do país, e personalização absoluta de figuras, à esquerda e à direita, como lídimos representantes da Verdade, nos colocará como cidadãos cada vez mais contra ela. O grande problema é que a alternativa à política não parece boa, caso uma ruptura venha a acontecer, antes de tais tecnologias de representatividade supram o processo de escolher candidatos, e que políticos efetivamente independentes, sem partido, se tornem uma possibilidade legal no Brasil.
O problema é mundial, e encontra eco mais forte em democracias com muitos cidadãos, como Brasil, EUA, México, entre outras. Turquia é um exemplo de como isso pode acabar – nas mãos de um tiranete eleito pelo povo, e mantido lá por manobras regimentais. África do Sul é vítima de seu passado recente, e dificilmente elegerá com sabedoria (incluo Mandela como parte do problema, a despeito de sua “santidade” aos olhos do mundo). Argentina, num processo semelhante ao nosso, encontra prestes a entregar de volta o poder a quem acabou com o país. Os Europeus destroem a política de outra forma – com mais política, e cada cidadão sendo submetido a DOIS governos, como se um só não fosse chateação suficiente.
Voltando a Aristóteles, como mudou o conceito de política – de motor da felicidade humana à condição de algoz de populações inteiras, passando por objetivo de ódio generalizado, o perigo ronda o mundo por culpa de um punhado de profissionais da enganação. Como Churchill dizia, “noventa por cento dos políticos dão aos 10% restantes uma péssima reputação”… Ria, chore, mas posicione-se!