Quando o Humor não ajuda

Desde a Roma antiga, do poeta Juvenal, em suas Sátiras, trazia à consciência pública a decadência da sociedade Romana através do humor, sabemos que este, o Humor, tem o condão de ser mais letal do que as balas e canhões, mais corrosivo do que os ácidos mais fortes e pode tornar algo aparentemente normal na mais brega das coisas bregas. Tenha ou não razão.

Durante a ditadura militar humoristas de grande estirpe, como Jô Soares e Chico Anísio faziam de suas sátiras uma forma de manter na memória do povo como o regime militar, a despeito de seus feitos, era “brega” (Dona Dulce Figueiredo e seu cabelão, o Gordo Delfim e seus trejeitos…), tóxico e letal. Nos serviu muito para aliviar o peso de falta do voto amplo geral e irrestrito (não senti peso de mais nada além disso) e nos acordar para a necessidade de maior balanceamento entre as instituições da República. Muito bom.

Hoje de manhã, porém, tomei a decisão que já havia começado a tomar no início do ano. Não vou dar mais audiência a José Simão, Carla Bigatto e o Barão, na BandNews de manhã cedo. A razão é simples. Eles optaram por usar o humor (cá entre nós, depois da morte do Boechat, que era 70% da graça do quadro) de forma abertamente política, o que em si não seria ruim, mas, primordialmente, de forma errada, moral e legalmente. As palhaçadas sem graça desaguaram, hoje de manhã, em dizer que o Min. Sérgio Moro, então juiz da 13a. Vara Federal de Curitiba, não teria cometido “deslize”, mas “crime” ao teclar o que aparentemente reconhece que teclou (ele faz um aparte importante pois não tem condição de avaliar se não enxertaram algo no meio, e isso é possível, claro). Que crime foi esse, segundo o julgador Simão? Algum “crime” que o incomoda, e pelo qual insiste em usar seu humor, pé-de-chinelo, depois da morte do Ricardo Boechat, para desqualificar sem dó nem piedade a lava jato, e, lateralmente, ajudando a criar o clima que o PT e oi Centrão veem como necessário para tentar tirar da cadeia seus ladrões preferidos, incluído aí o ladrão-mor, Lula da Silva.

A repetitividade dos temas, as piadas requentadas, de 1, 2 anos atrás, os quadros cansativos, sem o Boechat e suas tiradas geniais, já me haviam feito ouvir somente as reprises, pois nelas a Band aparentemente seleciona o que de melhor houve, deixando a porcariada política de lado. Agora, nem isso acho que tenho interesse em ouvir. Se tornou brega, se tornou tóxico, se tornou letal.

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