O primeiro efetivo imperador Romano, Otaviano (cujo nome ele mesmo trocou para Augusto, em 27 a.C.) instituiu a famosa guarda Pretoriana, em sua forma imperial. Era um corpo de legionários específicos para sua guarda pessoal, escolhido a dedo dentre os melhores das Legiões. Qualquer legionário, depois de demonstrar capacidade de batalha, valor e lealdade, poderia se candidatar a uma posição na famosa Guarda. Essa recebia melhores salários do que os legionários normais e com o tempo acumularam um poder enorme, a ponto de, inclusive, depor (não raras vezes por meio de assassinato) e elevar imperadores. Esse poder passou a ser usado, então, em detrimento do povo de Roma e, inclusive, em detrimento dos próprios imperadores, alguns mantidos como virtuais reféns de suas hostes dentro do próprio palácio imperial.
A lição do processo de “Pretorização” de um grupo de indivíduos dotados de algum tipo de poder deveria incluir sempre uma vista d’olhos na história da Guarda Pretoriana. Pouco a pouco acumulando poder por meio de “embargos auriculares” junto ao próprio semi-deus sobre o trono, ou através de um crescente acúmulo de poder bélico, essa hoste se tornou mais poderosa do que o próprio Senado Romano, e por vezes do próprio imperador.
De outro lado, temos a figura do Senado Romano, cujos desmandos e desrespeito às posições dos cidadãos da República geraram um antagonismo que acabou por permitir em em 44 a.C. Julio Cesar, um carreirista e demagogo brilhante, tirasse todo o seu poder, tornando-se o Primus Inter Pares, ou “Primeiro Cidadão”, iniciando um império (O nome “Rei” tinha uma rejeição muito grande no tempo da República, e mesmo depois. O último rei de Roma, Numa, havia sido deposto 6 séculos antes).
A lição sobre o processo de afastamento do “legislativo” dos interesses de um povo também deveria ser objeto de atenção, por invariavelmente desaguar em uma ditadura de alguma espécie.
Hoje temos um caldo de cultura que custa a ser interpretado pela mídia, e principalmente pelos políticos. Temos um Congresso muito fora de sintonia com os anseios do povo (a ponto do presidente da Câmara de Deputados ter a audácia de falar para quem quisesse ouvir que o Congresso não existia para sancionar o que povo quer). Nossa Roma é Brasília, cujos moradores em sua maioria estão em dessintonia com o resto do “império”, e na maior parte membros dessa Guarda Pretoriana que ora pretende se manter no seleto rol dos diferentes, dos mais aquinhoados, da elite. Seu poder não advém mais da força bélica, mas da força de regras e leis criadas especificamente para mante-los com seus privilégios.
Mas não é só um Senado surdo e uma Guarda Pretoriana encastelada que criam uma ditadura. Tem que haver também um povo maluco de raiva e um exército que se oponha aos Pretorianos. fora de Roma (Brasília), o povo já está maluco de raiva das benesses dos capitalinos. Já está louco de vontade de abater a socos e pontapés os Patrícios do Senado, por conta de suas leis surdas à sociedade. Cada vez mais os tributos são impostos às “províncias” e usados quase que exclusivamente para manter o panis et circensis dos cidadãos de primeira classe. Isso irrita. Isso é matéria prima para uma bomba atômica.
Um recado claro, contra a corrupção e a favor de um estado menor e mais ágil, com menos cidadãos “superiores” em relação à “plebe”. Esse recado não foi ouvido pelos nossos Patrícios (bom, alguns sim, ainda minoria ou dessintonizados entre si para criar tração e resultados). Nossos Pretorianos se armam para um embate contra o bom senso econômico e, em última análise, contra seus próprios concidadãos menos favorecidos. Todos se acham melhores, diferentes, mais merecedores. E lá se vai o erário, a res publica…
O perigo é assistirmos emergir desse caos articulado e fomentado internamente em “Roma” um novo ditador, ou grupo de ditadores. As consequências todos conhecem. Nosso último embate com uma situação igual a essa nos custos 20 anos de governos não eleitos, o que não é desejável em lugar algum, seja na Roma deles, ou na nossa.
Como a estupidez é maior do que a visão de país, e o “pragmatismo” político supera por larga vantagem o patriotismo, temo ver dias ruins pela frente, em que culparemos erradamente o “Consul” (o presidente eleito) pelos desmandos de Pretorianos e Senadores.
Quem não aprende com a história, realmente vai repeti-la.