A escolha do que repercutir

Do The Economist, para o Estadão

Lemos nos grandes jornais brasileiros opiniões de “grandes jornalistas” do mundo, como Gilles Lapouge e as posições do The Economist, no Estadão. Essas opiniões nos alimentam com o que achamos serem as “visões predominantes” ou jornalísticas, de ícones da imprensa mundial, sejam pessoas físicas ou jurídicas, e como sendo a repercussão interna de posições muito bem solidificadas externamente.

Isso faz o leitor médio, como eu, presa de uma visão que, na prática, é escolhida nas redações nacionais, as quais fazem coro com uma visão empresarial que segue uma linha estratégica que os coloque na melhor situação possível frente ao mercado (em geral, ou o “mercado consumidor” daquele “produto editorial” específico). É uma posição de fragilidade que eu e você vivemos todos os dias.

O fim do mundo pode ser o resultado de uma visão alarmista de alguém com uma agenda oculta no bolso do colete, ou uma bobagem qualquer nos ser vendida como uma heresia, brasileira ou mundial. Assim temos visto figuras histriônicas, como Trump e Bolsonaro, serem execrados na mídia mundial sem dó nem piedade, independentemente de suas ações concretas.

Claro que os ogros em questão fazem muito para ajudar a criar o caldo ideal para as ideias a serem vendidas. Tanto Trump, de lá, como Bolsonaro, de cá, são (em menor ou maior grau) boquirrotos que não medem consequencias ao falar. Trump com um tantinho a mais de verniz que o nosso presidente, mas nem tanto.

A eles hoje se somam Boris Johnson, com muito mais verniz, cultura e desenvoltura, mas com o mesmo “vício de origem” odiado pela imprensa ocidental atual: não coadunar com a visão da agenda progressista internacional, principalmente aquela exarada da esquerda mundial, recentemente vencedora no embate político interna corporis do Partido Democrata americano (que nunca havia sido “esquerda” em suas décadas e décadas de história). Boris, o descabelado, faz coro com um sujeito que exalta ditaduras e chama a mulher dos outros de feia, e com o Ogro Alaranjado que cria caso com a China…

Como se esses ogros não estivessem, de fato, combatendo uma corrente de pensamento de fato má para a humanidade. Conservador nos costumes e liberal na economia que sou, obviamente não poderia me largar do meu apreço a Friedrick Hayek, Ayn Rand e Meg Tatcher por conta de uma avassaladora pressão sobre a minha cabeça, na forma de artigos “bem informados” que leio todos os dias, quando dá tempo. Mas os ogros estão, de fato – e a despeito dos seus inúmeros defeitos e más formações – combatendo um bom combate, na minha visão pessoal, contra a desintegração de um mundo frágil e que precisa desesperadamente alimentar, vestir e educar mais de 7 bilhões de pessoas.

Ou é isso, ou voltemos a Malthus e esperemos a mortandade chegar, como chegou com a Peste Negra na Europa medieval, e de fato, acabou criando espaço para a liberdade e o crescimento do “zé povinho”, que se libertou de amarras milenares que o prendiam à terra e passou a comerciar, viver em cidades e não ser vassalo de suserano algum. Mas quem de nós é capaz de, podendo, evitar a nova Peste Negra?

Essa nova Peste Malthusiana pode assumir formatos os mais diversos, desde a opção por modelos de agricultura orgânica, mas (ainda) não eficientes o suficiente, ou a liberação de drogas, ou a troca da liberdade individual pelo controle do Estado, ou ainda a desintegração da família como a conhecendo, ou alguma das dezenas de formas de massacre que temos visto (ações contra a vacinação, campanhas pró-aborto, etc). Ou o que é ainda pior – tudo isso junto e misturado, somado a um descontrole total sobre a imigração, que poderá acabar com os estados não-falidos do mundo.

Malthus vencerá? Ou seremos capazes de, com inteligência e desprendimento pessoal, fazermos as escolhas difíceis sobre aquelas populares? Como não enfrentar a China agora? Como não conter o avanço cultural, travestido de econômico, de um país cujo respeito a patentes e à concorrências não são nem “pra inglês ver” (como se pode ver agora com Hong Kong, no massacre perpetrado contra sua população em desrespeito ao acordo com a Grã Bretanha, de “um país, dois sistemas”)?

Enfim, tudo, ou quase tudo, nos empurra em direção a decisões e visões que no fundo são absolutamente distintas daquilo que realmente pensamos para nossas vidas cotidianas e nosso estilo de vida, em última análise.

É hora de refletir sobre evitar respostas fáceis para problemas difíceis.

Claro, que os ogros no poder poderiam ajudar, e não apenas fazer coisas boas, mas dizer coisas não apenas honestas, mas igualmente boas, amáveis e construtivas…

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