A Sociedade é hipossuficiente?

Adorava o William Waack. De verdade, achava e ainda acho o cara um baita jornalista. Não é um pensador, na minha opinião, mas consegue sintetizar bem algumas ideias que coleta, como bom jornalista. Ele sai da Globo de forma esquisita, culpa da emissora, por uma idiotice plantada, o que nos enche a todos de ira. Ele vai parar na futura CNN Brasil. Bom, levando em conta o que a CNN é no resto do mundo, aqui não deve ter linha editorial muito diferente, e deve acabar se tornando mais um veículo disseminador de ideias “progressistas”, embora talvez o WW não o seja.

Aí vem o artigo que colei um pedaço (imagem acima, do Estadão de hoje). E eu fico sem saber o que WW pensa, de fato. Vamos ao que ele escreveu e como me sinto com relação a isto:

  • A sociedade foi considerada “hipossuficiente” num movimento que começou com Lula, lá atrás, nos anos 80, e que a Lava Jato acaba por reforçar. O que é “hipossuficiência”? Em juridiquês, hipossuficiente é a parte mais fraca. Ou seja, a Lava Jato se sente (e Lula se sentia, ou nos fez crer assim) que a sociedade precisava de “ajuda” para não ser esmagada pelos poderosos;
  • Os atores centrais da Lava jato se sentiam como “participantes de uma luta política em seu sentido mais amplo” – o entendimento aqui foi expresso, como expresso pelo autor, por “combinação de vários elementos”, entre os quais cita “conversas hackeadas”, “livros de memórias (se referindo ao Janot, mais possivelmente), num amálgama de “sensações” que levam WW a entender que há elemento político (o conceito de “sentido mais amplo” é inexplicável em si, creio).
  • A derrocada do PT era o elemento central da operação, como “personificação da corrupção” – em síntese, essa palavra soa como um reforço à tese de loucos, como Dilma e Gleisi Hoffmann, que desde sempre venderam a ideia da “vendetta” pessoal contra o PT, como se os membros da Lava Jato quisessem tira-los do poder para colocar “outrem”, talvez mais alinhados com seu pensamento.

Ora, que diremos pois a essas coisas? Eu acho que só me resta repetir o Apóstolo Paulo – “Se Deus é por nós, quem será contra nós” (povo hipossuficiente). Pois que a imprensa, pouco a pouco, vira-se contra um fenômeno que no final das contas teve o desagradável condão de piorar sua situação econômica, que já era ruim – Jair Bolsonaro. Foi a eleição dele, propiciada pelo fenômeno da Laja Jato, sim, mas por um sentimento muito mais arraigado e anterior (desde o Mensalão, entendo) de hipossuficiência, sim, diante de pessoas que colocamos lá pelo voto, nos traíram e nos roubaram. Ora, como não nos sentirmos hipossuficientes em relação a um poder que:

  • Não tem recall?
  • Se elege com base em regras que beneficia não os mais votados, mas os dirigentes ou puxadores de voto?
  • Possui fundos quase ilimitados para obter a eleição que deseja?
  • Não presta contas a quem quer que seja?
  • Acode-se no STF quando acuado?
  • Tem na imprensa uma muleta fantástica, visto que o “inimigo do meu inimigo é meu amigo”?

Em síntese, minha sensação é a de que, hoje, somos não somente hipossuficientes com relação aos poderosos, mas contra a própria imprensa, que fez de nós um inimigo a mais.

Quando um dos filhos do “Bolzo” falou outro dia que “em regimes de força as mudanças são mais rápidas” e que deveríamos levar isso em conta e continuar apoiando o governo, ouviu-se uma chadeira incrível, derivada, creio, da imensa capacidade da imprensa em induzir o leitor a pensar o que ela quer: entendi, desde o início, que a despeito da crueza da frase, o rationale está perfeito – se queremos democracia e queremos viver numa sociedade de pleno direito, temos que encarar o fato de que os Gilmares, os Maias, os Alcolumbres, os Toffolis, e de outro lado, os Estadões, as Folhas, as Globos e demais atores nesta peça farcesca estarão conosco por algum tempo ainda, e que será realmente difícil obtermos o que um “déspota esclarecido” obteria muito mais rapidamente. A concordância com o Filho Zero-qualquer-coisa para aqui: comparar Pinochet a alguém “esclarecido” está um pouco além do meu conservadorismo…

Há luta política “em sentido mais amplo” por parte da Lava Jato? Alguns dos atores, neste caso, são conhecidos meus (não posso chamá-los “amigos” embora os possa chamar de irmãos) e vi o movimento Mude começar pelas mãos de gente cujo estofo moral e qualidades pessoais estão além do escrutínio de político ou jornalista. Conheço, de fato, quem se levantou contra o “pudê” dos Calheiros, Lulas e Cunhas. A questão é o que, de fato, existe de “luta política” nisso tudo. Nada. A luta aqui só é política no sentido em que é acessória ao poder, não o quer, mas não aceita viver na hipossuficiência que Waack diz que não sofremos. É um grito, de fato. Um que nunca tinha havido em 500 anos de história, e talvez, se sufocado este, demoremos mais 500 para ver outro.

Ora bolas, claro que Janot é um ator político – senão não teria vindo com essa palhaçada de dizer que ia matar o Gilmar, atiçando as lombrigas de milhões de brasileiros que certamente preferiam vê-lo morto – não me incluo entre eles. Ora, claro que a grande imprensa age como atriz política, mas muito mais econômica, tentando se salvar financeiramente até que consiga adotar um modelo que a salve da bancarrota inescapável, a que a tecnologia a condenou.

Por fim, o PT era a personificação da corrupção? Sim, mas não somente o PT. Hoje vemos que há muito mais amplitude neste movimento, que possivelmente inclui meus antes amados FHC e Serra, gente a quem aplaudi pela coragem de lutar contra o ciclo da inflação, e criar o tripé macroeconômico de metas de inflação, controle de gastos e realismo cambial, que propiciou a Lula as condições de fazer o caminhão de sandice econômica que fez, impunemente.

Mais do que o PT em si, MDB, DEM, PTB e outros foram igualmente atingidos pela Lava Jato, e somente aí começaram a reagir. Me pergunto se realmente, tanto Waack como os MDBistas, PTBistas, etc, criam, de fato, que a Lava jato tivesse um viés “anti-PT” muito claro, e que “parariam” no PT. A confiança que diziam ter na Lava Jato, frente às Câmeras e microfones, era muito grande. Cunha, por exemplo, levou a questão do impeachment até o fim, em minha opinião, entendendo que algum tipo de “relief” lhe seria dado, por ser “irmão em Cristo” (ui!) de alguns procuradores, ou por qualquer outra consideração lateral, que não a certeza de que a LJ estaria atrás dele, doa a quem doesse.

Textão é textão. Desculpem, textão é para quem reflete e lê. Sou contra a cultura da curta capacidade de atenção, embora curta um Meme… Acho que a reflexão deve ser feita, e ofereço minhas conclusões:

  • Imprensa e Povo não andam de mãos dadas, já faz tempo…
  • O Povo é Hipossuficiente, sempre foi e sempre será
  • A Lava Jato não é nem foi operação política, mas os PGRs sim, sempre o foram
  • A troca dos políticos não acabou nas últimas eleições; teremos mais uns 30% de renovação daqui há 3 anos e pouco, e talvez aí uma massa crítica para encostar a turma atual na parede de uma boa cela na Papuda
  • O STF não pode ser “deposto” sem um regime de exceção, e isso eu acho muito ruim. Mas o STF será jogado contra a parede mais e mais, até que peçam o bastão e, à lá Joaquim Barbosa (mas por outras razões) se mandem pra Portugal, viver do que “conquistaram”
  • Demora mais tempo do que necessário, e requer muito mais fôlego do que temos tido como povo, ao longo da história, mas é possível se livrar tanto de políticos como de imprensa marrons.

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