“Não havendo sábia direção, o povo cai, mas, na multidão de conselheiros, há segurança. ” (Provérbios 11:14)
Como já tenho participado há vários anos, em Janeiro de 2019 me reuni com um grupo de empresários de alto coturno para uma palestra da então economista chefe da XP Investimentos, Zeina Latiff. Ao final da palestra, os participantes falaram cerca de 2 minutos cada sobre suas perspectivas para 2019. O ambiente era de desconfiança, permeado, aqui e ali, com doses de otimismo. A média das opiniões apontava para um ano “morno” mas positivo. Dito e feito. Individualmente todos erramos em nossas opiniões, mas a média “bateu” como uma profecia, tiro preciso entre os olhos da presa.
Agora, em Fevereiro de 2020, de novo nos reunimos, desta feita com outro palestrante, Ronaldo Patah, do UBS. O teor e formato foram os mesmos. A palestra foi muito interessante e direto ao ponto, e ao final, a mesma dinâmica – cada participante contando um pouco de suas expectativas para o ano, em seu segmento. Os segmentos variaram de Construção Civil de casas populares a Alta Tecnologia, passando por área agrícola, entre vários. Estavam ali representados quase todos os segmentos da economia.
Se a experiência dos anos anteriores serve, principalmente o “bullseye” de 2019, vou repassar as reflexões para 2020 para que possamos voltar a este texto no início de 2021 e ver se a “profecia” da multidão de conselheiros funcionou.
- Há um otimismo “médio” marcante no ar
- A noção de que “o pior já passou” é grande, e no fundo, mesmo crescendo a taxas (previstas) que variaram entre 2% e 2,8% para os mais otimistas, dá uma sensação de alívio grande, estilo a piada do “Bode na Sala”
- Há uma aposta grande de que as chances de termos de 3 a 7 anos de racionalidade econômica, a despeito das remadas contrárias de setores da oposição ao atual governo, é marcante e, se o passado é indicador, apontam para um ano de 2,5% de crescimento, com viés de alta, ou no mínimo de manutenção, para 2021
- Há um otimismo no ar quanto à manutenção da Selic nos patamares atuais, de 4,25%, com uma aposta do UBS de que possa cair até 4%, para depois subir até 6% (considerada taxa de equilíbrio entre inflação e juros reais relativamente capazes de manter a inflação sob controle)
- Também há otimismo no ar devido ao crescente fluxo de capitais estrangeiros, que já se nota retornando com certa força
- Há uma noção clara de que o presidente não é peça fundamental na precificação da economia, visto que há nele um mínimo de pragmatismo econômico, e uma equipe ministerial composta de figuras excelentes, nas pastas que realmente importam (economia, infraestrutura, agricultura, etc). Também há a noção de que a estabilidade política está bem definida, sem chance de grandes aventuras como as do período Lula II -Dilma I e II.
- O conjunto dos presentes entende que apesar de haver pontos fracos (como a falta de estrutura e relativo “engorro” no ministério da agricultura, na liberação de novos projetos), ações coerentes e pró-mercado estão sendo tomadas
- O motivador observado parece realmente ser o de provocar mudanças estruturais fortes e permanentes, inclusive as “impostas” pelo interesse nacional de entrar na OCDE.
Aswath Damodaran, o às da avaliação de empresas da New York University, em uma palestra em Curitiba disse, há alguns anos que “individualmente, ação por ação, há bastante erros de análise, entre o valor previsto e aquele que acaba por se realizar; tomando o conjunto dos papéis da Bolsa, é impressionante como o nível de acerto é quase de 100%” (as palavras são minhas, o teor é do Prof. Damodaran). A multidão de conselheiros, portanto, pode ser formada de pessoas ou de um grupo de dados. Interessante…
Fica a aposta. A minha é de um dólar mais fraco em fins de 2020, na faixa de R$ 4,00, juros iguais aos atuais, ou seja, 4,25%, inflação dentro da meta atual, 3,5%, e crescimento por volta de 2,5%. Como não sou “multidão” (e nem tão qualificado como conselheiro), só posso pedir a Deus para estar certo, e que em 2021 o país volte a crescer acima de 3%.