Se tem dois jornalistas que conhecemos de anos, décadas, esses são Alexandre Garcia e J. R. Guzzo. São “macacos velhos”, gente que já dirigiu as mais importantes redações do país, gente que foi figura de proa em decisões sobre o que publicar e o que não publicar, gente conhecedora profunda dos bastidores do poder, gente “de Brasília”, águias de outros carnavais, enfim, verdadeiros vencedores em suas carreiras.
Recentemente vemos essas duas águias, junto com meia dúzia de jovens jornalistas e colunistas, como Rodrigo Constantino, entre outros, se insurgindo contra (quase) todo o restante dos profissionais de imprensa, ficando firmes do lado de um governo popular-impopular: popular junto ao povo, impopular junto à academia, aos jornalistas, aos intelectuais. Por que?
É de pensar mesmo. Por que estariam, como são exemplos as matérias da Gazeta do Povo https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/video-conclama-povo-apoiar-bolsonaro-dia-15/ e https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/jr-guzzo/povo-ruas-protesto-contra-parlamentares-culpa/ , “tão” do lado de Bolsonaro? Bom, em primeiro lugar, não parecem estar “do lado” de Bolsonaro. São, sim, conhecedores profundos da dinâmica do poder, tanto em Brasília, quanto nas redações. São profissionais hoje muito mais independentes tanto financeira quanto intelectualmente, e podem se inscrever no círculo dos realmente “livre-pensadores”, que decidem fazer suas ideias conhecidas, tomando bom proveito de sua enorme popularidade.
Foram, e são, os profissionais cujas colunas e entradas “…de Brasília, Alexandre Garcia…” temos lido, visto e ouvido ao longo de décadas, seja criticando governos militares, Sarney, Collor, FHC, Dilma, Temer, Bolsonaro e tutti quanti. Aprendemos a respeitar a curadoria feita por eles e expressa em suas ideias e palavras.
Pois bem, por que, então, fazem uma aparente defesa da posição de Bolsonaro, motivo da briga da semana, das manifestações cuja gestação começou com o áudio capturado sem querer, do Ministro Heleno, dando um “f8da-se” maiúsculo a parlamentares a quem acusa de querer pressionar indevidamente o executivo? A razão mais óbvia é a mais correta, provavelmente: porque realmente, conhecendo o congresso, e conhecendo as figuras que dominam o legislativo, sabem que Heleno tem razão. Realmente há uma permanente tentativa de chantagem ao governo. Não engoliram, nem engolirão tão facilmente, a falta de negociação pelas posições chave em ministério, e a colocação de figuras melhores, administrativa e tecnicamente, nos lugares antes reservados aos “flanelinhas” dos cargos, nomeados por Suas Excelências.
Minha crença é a de que, creia-se ou não na totalidade do que está fazendo Bolsonaro (e eu descreio em mais da metade), há a arraigada sensação de que o Brasil está sendo manipulado a pensar que estamos diante de uma ruptura da ordem democrática, e, vejam só, por conta justamente de… um ato democrático… uma manifestação.
Jornais e TVs, de um modo geral, abriram guerra a Bolsonaro quando esse endureceu o jogo com relação a verbas de publicidade, condenando à morte um setor que já andava muito mal das pernas. O Governo Federal, e os governos estaduais, são as únicas tábuas de salvação num mar econômico revolto, balançado pelas ondas da Web. Sem a conivência financeira do governo, estão fadados a falir mais rápido do que se anteviu. Ora, por que, como em situações anteriores, não apelaram para a bajulação pura e simples? Por que resolvem bater de frente? Usando um pouco de lógica argumentativa, entendo que a decisão só pode advir do fato de que entenderam não ser possível conquistar algo com a bajulação, e, portanto, só restou o confronto. O restante da (ainda grande) influência junto aos formadores de opinião os coloca numa posição de tentar fazer o governo se curvar, ou sair. Para isso, todas as Veras Magalhães, todas as Miriams Leitão, todos os Gerson Camarottis, são colocados à serviço desse propósito. E como não são nenhum Guzzo, nenhum Alexandre, não tem alternativa a não ser assumir o papel de torturador…
E o congresso, que desde o primeiro dia desse governo vem sido atropelado por decisões tomadas sem “consulta” (sic!), sabe que o caminho é mesmo o do “parlamentarismo branco”, regime rejeitado nas urnas do plebiscito de 1993. Sabemos, todos, de que matéria são feitas suas excelências. As exceções estão cada vez mais claras, para fazer contraste com os “donos” do congresso. Parlamentares como Marcel van Hattem, Oriovisto Guimarães, para ficar apenas em duas estrelas de primeira grandeza, são como manchas brancas em um lençol cinza escuro.
Pra concluir, eu fico com o conhecimento de décadas, acumulado por esses dois caras fantásticos, à alternativa de me curvar a uma suposta ameaça à democracia, cuja bandeira é desfraldada pelas Veras, Miriams, Maias e Alcolumbres da vida nacional.