Variadas formas de dar uma Notícia

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,dia-de-panico-exceto-em-brasilia,70003226370

Outro dia um colega de profissão disse uma pérola – “podemos interpretar isto assim, ou diametralmente oposto para isso, com fundamentos para ambas as coisas”… Eu tenho que discordar, se é que eu, tendo por profissão contabilidade e auditoria. Não posso admitir nada remotamente parecido com isso. Mas o fato é que, do ponto de vista da argumentação é isso que temos visto dia sim, outro também na mídia.

A mais recente face desse mal, que podemos chamar de Síndrome de Imprecisão, está fazendo residência permanente onde menos devia – a imprensa. Claro, é possível ter opinião e ser jornalista, mas não “o jornalista” do fato específico. O Editorialista, o dono do veículo, até pode ser, mas o cara que foi enviado para ser objetivo, repórter, não deveria ter viés de nenhuma natureza. Mas tem tido. Desde 1988 temos visto o fenômeno, para um lado, para outro lado do espectro político, e (talvez menos perceptível mas igualmente danoso) para o lado dos interesses do próprio veículo de comunicação.

O editorial do link acima é um desses casos. Ora, o que é que o Estadão poderia querer do Ministro Guedes? Que entrasse na “pilha” do mercado e viesse a público dizer que “é isso mesmo, o mundo tá mesmo acabando… salve-se quem puder”? O que é o ministro geraria com isso? Mais caos e confusão num dia particularmente cheio de especulador tentando extrair o máximo da situação, sem se importar com a verdade, sob qualquer ângulo.

Eu tenho alguma dificuldade em entender por que a imprensa não criticou quando Lula, no auge da crise (essa verdadeira) de 2008 foi pra TV dizer “… aí eu falei pro Bush… ô Bush, vê se segura essa onda aí, porque no Brasil vai acontecer só uma marolinha”… De fato, comendo o capital acumulado nas vacas gordas, sem crise de subprime ou qualquer outra coisa parecida, avançamos como se não houvesse amanhã, vimos o governo de então “fazer o diabo” para se manter lá no pináculo, e nos levou a uma crise muitas vezes pior do que a própria crise de 2008, em 2014 em diante… À exceção dos “suspeitos de hábito” (como em Casablanca), não houve quem pudesse ter uma voz dissonante forte o suficiente pra mandar Lula calar a boca – “por que no te callas!”.

Ontem o mundo acabou… hoje o mundo está ressurgindo, com a bolsa subindo forte. Claro. O mundo, quando acabar de vez, será tomado de tal surpresa que nem jornal vai dar tempo de editar – “como o relâmpago que sai do oriente e se mostra no ocidente”. Mas ontem, pelo menos, só acabou pra quem acredita em bobagem.

Aliás, falo isso porque já fui vítima do mesmo mal. Às vésperas das eleições de 2001, que acabaram por eleger o ora condenado Lula, com o dólar indo a R$ 4,00, insisti com antigo presidente da empresa que eu então era CEO, para comprar dólar… Que imbecilidade. Acontece, e acontece sempre no meio do “Hipi-hurra”… quando a capacidade de se manter sereno vai pela janela.

Ontem o mundo não acabou. Creio que vai acabar um dia, e como cristão torço para que seja logo. Mas enquanto não acabar, é melhor analisar os fatos com imparcialidade, e contar com uma imprensa que possa minimamente fazê-lo.

Foi dia de pânico, exceto em Brasília? Deveríamos agradecer por isso. Afinal, bom senso e cabeça fria não estão sendo muito comuns, nem no governo, muito menos no STF, Congresso, imprensa, e por aí (não) vai…

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