Islândia e Banânia

Se o único assunto do mundo hoje é COVID, vamos de COVID… infelizmente…

Islândia e o Laboratório

A Islândia é uma ilha gelada e isolada perto do Círculo Polar Ártico. Tem 364 mil habitantes e está recém saindo do inverno (embora primavera e outono lá sejam invernos rigorosíssimos, mesmo para os padrões Curitibanos, e o verão, um “inverno paulistano” na melhor das hipóteses…). A Islândia decidiu testar toda sua população. Hoje vimos na Gazeta do Povo os resultados dos testes (https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/islandia-testes-coronavirus-populacao/). Nos testes já aplicados, mais ou menos 5% da população, tiveram 1132 casos e 2 mortes. Extrapolando seriam 653 mil casos no Brasil e 1.153 mortes. Uma taxa de contaminação maior e um número de mortes que “tende” a ser parecido com o que se espera aqui. Bom, isso depende da estatística e da “ciência” aplicada.

A Islândia pode dar ao mundo um modelo “em escala” da força e perfil da pandemia, de formas a ajudar outros governos a tomar decisões. O que me “choca”, porém, é que a Islândia não fez lockdown (mesmo estando em condições mais propícias ao virus do que, por exemplo, o Brasil); a Islândia não fechou fábricas nem comércio, exceto os que, pela natureza, promovem o contato físico (baladas, bares, academias de ginástica, etc). Sequer fechou todas as escolas. Imaginem isso aqui.

A Islândia não deve ter um “cabo-de guerra” político tão forte como no Brasil. Aqui, traveste-se de jornalismo uma agenda oculta mal disfarçada de “volta ao passado” (em termos de receitas advindas do governo, pelo menos). Na política, perdedores (por incapacidade gerencial, pedaladas, mensalões ou petrolões) tentam impor sua vontade à maioria de eleitores, a um presidente que (até o momento) não cometeu crime de responsabilidade. Se cometer, que seja chutado do Planalto em grande estilo.

Ciência! (?)

O conceito de “científico” aplicado no Brasil depende da boca de que “otoridade” a informação sai e de que objetivos secundários (ou primários, em alguns casos) quer obter o vivente-falante. Tem cientista (bom, credenciado, renomado) falando de tudo. Ao dizer que o presidente “rechaça a ciência”, o falante quer se referir à ciência que ele desposa, e que de certa forma dá suporte às suas convicções. O presidente, por suas vezes, também usa a sua “ciência” para dar suporte ao que acha, e que deixa claro (aliás, se há uma coisa que não se pode reclamar do cara é que ele não seja transparente).

Pois bem, escolha sua ciência. Tome sua posição. O fato é que, para qualquer lado que se queira seguir, que se coloque a proa desse enorme transatlântico chamado Brasil pra algum lado e que não se mude de curso; qualquer curso; e que não se queira que a popa vá pro sul e a proa pro norte ao mesmo tempo, pois isso despedaça o navio.

Em tempos bicudos, a Grécia costumava chamar um “ditador” para cuidar da coisa até que a emergência passasse e a democracia pudesse retornar. Pois bem, aqui, o estado de calamidade deveria dar ao presidente a possibilidade de, certo ou errado, colocar a proa do navio pra um lado só. Não pode. O STF, cumprindo sua missão incansável de criar o caos jurídico, resolveu que a popa do navio pode ir pra um lado e a popa pro outro. Quebrou a espinha dorsal da embarcação. Corremos o risco de afundar todos, e não irmos nem pro norte nem pro sul.

Não se trata aqui de gostar do presidente, bozo, mito, ou o que quer que alguém possa estar inclinado a pensar dele. Trata-se de unidade de comando, coisa que num país dividido como o nosso, soa como militarismo. Ora por favor! Sejamos sensatos numa coisa pelo menos: NINGUÉM sabe ao certo, 100%, pule de dez, barbadinha, na bucha mesmo, o que dará mais certo ou mais errado. Então que se deixe o barco ser comandado. Só isso.

Quanto à equipe ministerial, a mesma imprensa que cobre o presidente de cacetada é prenhe de elogios ao ministro da saúde, da segurança e justiça, da economia… É como se tivesse havido um Darwinianismo nos últimos 15 meses e “apareceu” de uma “poça de aminoácido” a equipe ministerial presente. Ora, menos, né? O cara não tem nada a ver com esse ministério? “Ah, mas o Bozo fica com ciúmes do Mandetta”… Deve ficar sim… é natural. O cara não sai do carro de som da campanha. “Ah, mas o Bozo está indo contra a OMS…”. Ora por favor! Como se a OMS soubesse para onde quer ir! A OMS, no meio dessa crise toda, está tentando, como todo mundo, entender o assunto, protelar os efeitos o máximo para poder tomar medidas “menos ruins”.

O presidente da OMS, ontem, disse coisas que a imprensa disse que ele não disse. O presidente também disse coisas que eu particularmente acho que o presidente da OMS não disse. O fato inescapável, mesmo, é o seguinte – o cara disse claramente que os países são diferentes, e que precisam buscar soluções diferentes e que protejam seus cidadãos mais vulneráveis. O cara disse ainda que cabe aos países, entendendo suas características, tomar decisões mais sábias no sentido de criar o mínimo de desabastecimento, fome ou caos possível. Em síntese, como bom político (cientista o sujeito não é), ele mudou (sim!) de discurso, tirando a responsabilidade básica de cima de si e colocando em cada governante.

Na Islândia, isso funciona. Aqui, com governadores pregando uma coisa e o governo federal outra, a chance maior é partirmos o casco da embarcação e acabarmos todos no fundo do oceano…

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