Político não escolhe essa ‘profissão’ à toa. Ninguém chega a um cargo eletivo sem ter na personalidade um misto de animador de auditório e advogado; de artista de novela e orador. É uma profissão para poucos, no mundo, e no Brasil, para menos ainda, pois invariavelmente uma dose de cara de pau e disposição para o ‘vale-tudo’ é necessária. Tivemos grandes oradores em nossa história, desde Ruy Barbosa até FHC, passando por gente muito craque nesse mister, como o ex-presidente, reconhecidamente um dos melhores comunicadores que tivemos, em que pesem nossas opiniões sobre ele e seu caráter, ou falta dele.
Por que é assim? Por que uma pessoa estaria permanentemente em busca de ser notícia, de ter algo para falar, uma opinião ‘certeira’, uma frase de efeito… Ora, desde os tempos da Ágora grega, é preciso conquistar para o seu lado uma grande quantidade de pessoas disposta a depositar confiança em alguém através do voto. As formas de buscar essa popularidade que garante votos muda e evolui com o tempo. Subir num caixote de feira com uma corneta na mão já foi suficiente. Depois vieram os palanques com carros de som. Depois, a mídia televisiva. Agora, como nos ensinou a eleição passada, é a mídia digital que “manda”, associada com outras formas.
O que não muda é o desejo insaciável dos políticos por um holofote. É de pasmar… a expressão “papagaio de pirata” foi cunhada em homenagem a quem não resiste à tentação de aparecer na frente das câmeras, mesmo a custa de passar um ridículo ou outro.
A situação atual é o resultado dessa holofotefilia… De um lado, a esquerda se junta a governadores para fazer o oposto do que o governo federal faz. Qualquer oposto. Não importa. Se Bolsonaro pregasse lockdown horizontal, eles iriam na direção contrária. Se Bolsonaro achasse um absurdo administrar Hidroxicloroquina, eles achariam o máximo e defenderiam com ardor juvenil.
Mandetta, bom técnico e (parece) melhor político, pode não ter tido a intenção inicial, mas certamente está escudado numa posição de “força” e está super à vontade em frente aos holofotes diários, que o colocarão certamente como figura nacional, e com isso, destinado a vôos políticos mais altos. É a grande chance, há que se agarrar a ela. “Nada pessoal”, presidente, ele pode ter dito… e vida que segue. Até acabar a pandemia e o cara se tornar menos indispensável, talkey?
Pois bem, de outro lado Bolsonaro não parece a dividir o “reino” dele com ninguém, não acha prudente deixar o subordinado raposa-política aparecer. Ficou brabo, deve ter dado murro na mesa… Afinal, Guedes e Moro são outra coisa. Tudo, menos políticos. Creio que só depois de se convencer que Moro não tinha mesmo qualquer ambição política, mas, claro, quer um cargo no STF, foi que o presidente se tocou e parou de encher o saco dele.
Bolsonaro precisa pensar: a melhor forma de se utilizar dessa situação é fazer justamente o contrário: dar corda e levar parte dos louros. Afinal, a despeito das cretinices da imprensa, dizendo que Bolsonaro é “menor que seu governo”, isso obviamente é uma idiotice – Bolsonaro é do tamanho do governo que criou. Nem mais, nem menos. Cortou aqui e acolá qualquer político engajado em seu governo que quis colocar a popularidade acima da função, como foi o caso de Bebbiano, entre outros. Outros, demitiu por despeito ou intriga mesmo. Mas daí a dizer que o governo é ruim… vão algumas léguas.
A Holofotefilia não vai acabar nunca. É da natureza do animal da política. O que é importante é deixar claro que há uma linha traçada no chão pelo presidente – ou o cargo ou a popularidade. Os dois, ele não admite. O governo é dele, para bem ou mal, e os incomodados terão que se mudar. Não antes de criar muito caso e ao sair, se tornarem detratores do mandatário. Coisas da vida brasileira…