
O recente choque de tarifas imposto por Donald Trump já é objeto de duas reflexões minhas. Não costumo escrever sobre dois temas seguidos um do outro, com raras exceções. A razão é simples: pode ser o fator desencadeador de uma “Nova Idade do Gelo” para as trocas comerciais mundiais.
Trump não é burro, e até este evento, eu coadunava com a maioria de suas estratégias, inclusive a liderada por Elon Musk, à frente do DOGE. Não há como um país conviver com o nível de desperdício que os poderosos EUA conviviam há anos. Francamente, até o corrupto Brasil possui controle de dispêndios mais forte, com o sistema de empenho e aprovações de pagamento bem estabelecidos. Musk e equipe observaram absurdos que precisavam ser corrigidos, e, parece que pouco a pouco, estão fazendo isso. Qualquer coisa nos EUA é “Bilhão”, e qualquer bilhãozinho ajuda.
Por que, então, Trump mergulharia o mundo numa nova era de Mercantilismo, típica do Século XVI? Para emoldurar isso, faço um resumo breve sobre as etapas do mercantilismo mundial, até o surgimento do moderno sistema capitalista:
Contexto do Mercantilismo (Século XVI ao XVIII)
No Século XVI o mercantilismo surge na Europa como uma política econômica em que os governos focavam quase exclusivamente na acumulação de riqueza através do comércio e da exportação, com o objetivo de aumentar seu poder. Era um tempo de protecionismo, monopólios comerciais e controle estatal sobre a economia.
O conceito se baseava em que acumular reservas era “o poder”. De certa forma isso fez bastante sentido à época. Mas o que impulsionou uma transição para o Capitalismo?
1 – A Revolução Comercial (século XVI e XVII), com a expansão marítima e colonial: Países europeus estabeleceram colônias e rotas comerciais, aumentando o fluxo de bens e metais preciosos. Isso expandiu a quantidade de
2 – A Revolução Científica e Agrícola (século XVII e XVIII): O grande divisor de águas no mundo sempre estará ligado a invenções e descobertas que acabam promovendo avanços nas técnicas de produção e mudanças nas práticas econômicas. A emergência da ciência, desde o Séc. XVII até hoje sempre é a explicação para mudanças (para melhor, normalmente). Em paralelo, inovações importantes na agricultura aumentaram a produtividade de comida, Como efeito colateral, isso desempregou mão de obra no campo (uma tragédia, como interpretado à época), ocasionando deslocamento da mão-de-obra rural para as cidades, o que acelerou a urbanização, mas também a precarização ainda maior da vida nas cidades.
3 – Revolução Industrial (século XVIII ao XIX): Como na história uma coisa “empurra a outra”, o excesso de mão de obra (ou “Exército de mão de obra de reserva“, no conceito Marx em O Capital) entre as décadas de 1760 a 1840ajudou a transformar a produção, de artesanal em manufatureira. O desenvolvimento de máquinas, como a máquina a vapor, permitiu a produção em massa e o surgimento de novas indústrias. Foi um “escândalo”. Marx, porém, com seu hábito de ver copos sempre meio vazios, interpretou a coisa pelo lado mais sombrio: o “proletário explorado”, etc e tal. Ninguém se deu conta de que uma camisa de algodão caiu de preço em quase 95%, e a qualidade aumentou 400% (chutes baseados em peças históricas de vestimenta e preços obtidos pela bendita IA). O que antes era privilégio de ricos, passou a ser bem ao alcance de qualquer “zé ruela”, como eu e você.
4 – Emergência do Capitalismo (Século XVIII): Desde a revolução industrial em diante, a adoção crescente de práticas capitalistas, com base no livre mercado, propriedade privada, e busca de lucro só fizeram aumentar a quantidade de bens à disposição da população.
Mais diretamente, as nações passaram a focar em “conhecimento” como fonte de poder e reservas internacionais, e não mais em dominar rotas comerciais e brigar incessantemente com seus vizinhos por elas.
Adam Smith, em 1776 publica “A Riqueza das Nações”. Não sei se Smith foi o “idealizador” de algo ou simplesmente um observador atento do mundo econômico, que acabou por dar sentido intelectual ao que via acontecer diante de seus olhos. Ele argumenta a favor do livre mercado e da mão invisível como reguladores da economia. Milhões de “trocas voluntárias” formam preços; o consumidor tem a palavra final sobre quem será o vencedor ou o perdedor na economia mundial. Isso, claro, desde que haja livre comércio. Aqui, a palavra chave desta reflexão.
5 – Plenitude do Capitalismo Moderno (Século XIX ao XX) – Chegamos enfim ao “maldito” (bendito) capitalismo (selvagem) moderno. No Século XIX o capitalismo industrial e financeiro se expande muito rapidamente. Os líderes desse bando foram mais diretamente os países que saíram na frente na criação de tecnologias e processos: Grã-Bretanha, França, Alemanha, e Estados Unidos.
E agora, José (Mané)?
Poderíamos dizer, agora, singelamente, uma frase que se tornou célebre nesses tristes trópicos: “Perdeu, Mané”… Perdemos? Creio que pelo menos num primeiro momento, sim. China mais que todo o mundo, mas todo mundo perdeu até o momento.
Pode-se alegar que a situação dos EUA, com déficits em balanço de pagamentos continuados e crescentes, é insustentável. Não há como negar. Meu artigo de ontem já dá conta dessa situação, quando incluímos na conta serviços, royalties, etc. Foi uma escolha dos EUA no passado, de ser não somente a polícia, mas o “cliente cativo” do mundo.
Enquanto escrevo, a Gazeta do Povo dá conta de que a Europa já diz que está preparada para negociações “substanciais” sobre tarifas (https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/ue-diz-aos-eua-que-esta-pronta-para-negociacoes-substanciais-sobre-tarifas/). É mais um capítulo na novela que vai se desenrolar nos próximos meses, ou mesmo anos, e que, se não sabemos como vai acabar, pelo menos sabemos que o mundo comercial, globalizado, já não será mais o mesmo.
O que esquecemos, ou fingimos que não vemos
Esquecemos, ou fingimos que não vemos, os movimentos constantes da China em direção a um mundo muito mais “Sino-orientado”. Desde a política de “rota da seda”, até os maciços investimentos na África e na América Latina, a China mostra que quer andar em terras em que os EUA são tradicionalmente reticentes em pisar, sendo o Brasil um caso emblemático.
Taiwan é alvo declarado da da China. Ora, um país confessa que vai atacar outro, não pode esperar que, indefinidamente, o ocidente deixe por isso mesmo. A China ameaça daqui, pressiona de lá, e vai obtendo o que quer, até que alguém entende que a corda esticou demais. Rússia, por outro lado, e de igual forma não apenas ameaçou, mas invadiu um país vizinho, sem provocação militar. Alegue-se o que quiser, e mesmo assim não há justificativa, num mundo minimamente são, para tal atitude.
Parece que, diante de todo o histrionismo de Trump, o mundo se esqueceu que vivemos tempos notadamente mais complicados do que há algum tempo. O Irã, um país lindo, liderado por malucos, é dor de cabeça há anos, mas até a pouco estava no seu canto, fazendo seu terrorismo de hábito, futucando Israel e enchendo o saco do mundo aqui e ali. Agora, de mãos dadas com China e Rússia, fomentando guerra na Palestina, e contando com o “auxílio luxuoso” de Lula da Silva e sua gangue, já não parece mais um anão no meio de gigantes. Ainda mais quando se encontra próximo, ao que parece, do seleto grupo de potências nucleares.
A espera pelos resultados das TrumpTariffs pode não ser longa. Os resultados sobre os países do tal Evil Axe, não sabemos.
De novo, só por Deus!
Conclusão
A transição do mercantilismo para o capitalismo moderno foi impulsionada por revoluções económicas e tecnológicas que desafiaram as instituições tradicionais. Durante o século XIX, o capitalismo já se firmava como o sistema econômico dominante, moldando o mundo moderno que conhecemos hoje.