De volta ao Mercantilismo?

O recente choque de tarifas imposto por Donald Trump já é objeto de duas reflexões minhas. Não costumo escrever sobre dois temas seguidos um do outro, com raras exceções. A razão é simples: pode ser o fator desencadeador de uma “Nova Idade do Gelo” para as trocas comerciais mundiais.

Trump não é burro, e até este evento, eu coadunava com a maioria de suas estratégias, inclusive a liderada por Elon Musk, à frente do DOGE. Não há como um país conviver com o nível de desperdício que os poderosos EUA conviviam há anos. Francamente, até o corrupto Brasil possui controle de dispêndios mais forte, com o sistema de empenho e aprovações de pagamento bem estabelecidos. Musk e equipe observaram absurdos que precisavam ser corrigidos, e, parece que pouco a pouco, estão fazendo isso. Qualquer coisa nos EUA é “Bilhão”, e qualquer bilhãozinho ajuda.

Por que, então, Trump mergulharia o mundo numa nova era de Mercantilismo, típica do Século XVI? Para emoldurar isso, faço um resumo breve sobre as etapas do mercantilismo mundial, até o surgimento do moderno sistema capitalista:

Contexto do Mercantilismo (Século XVI ao XVIII)

No Século XVI o mercantilismo surge na Europa como uma política econômica em que os governos focavam quase exclusivamente na acumulação de riqueza através do comércio e da exportação, com o objetivo de aumentar seu poder. Era um tempo de protecionismo, monopólios comerciais e controle estatal sobre a economia.

O conceito se baseava em que acumular reservas era “o poder”. De certa forma isso fez bastante sentido à época. Mas o que impulsionou uma transição para o Capitalismo?

1 – A Revolução Comercial (século XVI e XVII), com a expansão marítima e colonial: Países europeus estabeleceram colônias e rotas comerciais, aumentando o fluxo de bens e metais preciosos. Isso expandiu a quantidade de

2 – A Revolução Científica e Agrícola (século XVII e XVIII): O grande divisor de águas no mundo sempre estará ligado a invenções e descobertas que acabam promovendo avanços nas técnicas de produção e mudanças nas práticas econômicas. A emergência da ciência, desde o Séc. XVII até hoje sempre é a explicação para mudanças (para melhor, normalmente). Em paralelo, inovações importantes na agricultura aumentaram a produtividade de comida, Como efeito colateral, isso desempregou mão de obra no campo (uma tragédia, como interpretado à época), ocasionando deslocamento da mão-de-obra rural para as cidades, o que acelerou a urbanização, mas também a precarização ainda maior da vida nas cidades.

3 – Revolução Industrial (século XVIII ao XIX): Como na história uma coisa “empurra a outra”, o excesso de mão de obra (ou “Exército de mão de obra de reserva“, no conceito Marx em O Capital) entre as décadas de 1760 a 1840ajudou a transformar a produção, de artesanal em manufatureira. O desenvolvimento de máquinas, como a máquina a vapor, permitiu a produção em massa e o surgimento de novas indústrias. Foi um “escândalo”. Marx, porém, com seu hábito de ver copos sempre meio vazios, interpretou a coisa pelo lado mais sombrio: o “proletário explorado”, etc e tal. Ninguém se deu conta de que uma camisa de algodão caiu de preço em quase 95%, e a qualidade aumentou 400% (chutes baseados em peças históricas de vestimenta e preços obtidos pela bendita IA). O que antes era privilégio de ricos, passou a ser bem ao alcance de qualquer “zé ruela”, como eu e você.

4 – Emergência do Capitalismo (Século XVIII): Desde a revolução industrial em diante, a adoção crescente de práticas capitalistas, com base no livre mercado, propriedade privada, e busca de lucro só fizeram aumentar a quantidade de bens à disposição da população.

Mais diretamente, as nações passaram a focar em “conhecimento” como fonte de poder e reservas internacionais, e não mais em dominar rotas comerciais e brigar incessantemente com seus vizinhos por elas.

Adam Smith, em 1776 publica “A Riqueza das Nações”. Não sei se Smith foi o “idealizador” de algo ou simplesmente um observador atento do mundo econômico, que acabou por dar sentido intelectual ao que via acontecer diante de seus olhos. Ele argumenta a favor do livre mercado e da mão invisível como reguladores da economia. Milhões de “trocas voluntárias” formam preços; o consumidor tem a palavra final sobre quem será o vencedor ou o perdedor na economia mundial. Isso, claro, desde que haja livre comércio. Aqui, a palavra chave desta reflexão.

5 – Plenitude do Capitalismo Moderno (Século XIX ao XX) – Chegamos enfim ao “maldito” (bendito) capitalismo (selvagem) moderno. No Século XIX o capitalismo industrial e financeiro se expande muito rapidamente. Os líderes desse bando foram mais diretamente os países que saíram na frente na criação de tecnologias e processos: Grã-Bretanha, França, Alemanha, e Estados Unidos.

E agora, José (Mané)?

Poderíamos dizer, agora, singelamente, uma frase que se tornou célebre nesses tristes trópicos: “Perdeu, Mané”… Perdemos? Creio que pelo menos num primeiro momento, sim. China mais que todo o mundo, mas todo mundo perdeu até o momento.

Pode-se alegar que a situação dos EUA, com déficits em balanço de pagamentos continuados e crescentes, é insustentável. Não há como negar. Meu artigo de ontem já dá conta dessa situação, quando incluímos na conta serviços, royalties, etc. Foi uma escolha dos EUA no passado, de ser não somente a polícia, mas o “cliente cativo” do mundo.

Enquanto escrevo, a Gazeta do Povo dá conta de que a Europa já diz que está preparada para negociações “substanciais” sobre tarifas (https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/ue-diz-aos-eua-que-esta-pronta-para-negociacoes-substanciais-sobre-tarifas/). É mais um capítulo na novela que vai se desenrolar nos próximos meses, ou mesmo anos, e que, se não sabemos como vai acabar, pelo menos sabemos que o mundo comercial, globalizado, já não será mais o mesmo.

O que esquecemos, ou fingimos que não vemos

Esquecemos, ou fingimos que não vemos, os movimentos constantes da China em direção a um mundo muito mais “Sino-orientado”. Desde a política de “rota da seda”, até os maciços investimentos na África e na América Latina, a China mostra que quer andar em terras em que os EUA são tradicionalmente reticentes em pisar, sendo o Brasil um caso emblemático.

Taiwan é alvo declarado da da China. Ora, um país confessa que vai atacar outro, não pode esperar que, indefinidamente, o ocidente deixe por isso mesmo. A China ameaça daqui, pressiona de lá, e vai obtendo o que quer, até que alguém entende que a corda esticou demais. Rússia, por outro lado, e de igual forma não apenas ameaçou, mas invadiu um país vizinho, sem provocação militar. Alegue-se o que quiser, e mesmo assim não há justificativa, num mundo minimamente são, para tal atitude.

Parece que, diante de todo o histrionismo de Trump, o mundo se esqueceu que vivemos tempos notadamente mais complicados do que há algum tempo. O Irã, um país lindo, liderado por malucos, é dor de cabeça há anos, mas até a pouco estava no seu canto, fazendo seu terrorismo de hábito, futucando Israel e enchendo o saco do mundo aqui e ali. Agora, de mãos dadas com China e Rússia, fomentando guerra na Palestina, e contando com o “auxílio luxuoso” de Lula da Silva e sua gangue, já não parece mais um anão no meio de gigantes. Ainda mais quando se encontra próximo, ao que parece, do seleto grupo de potências nucleares.

A espera pelos resultados das TrumpTariffs pode não ser longa. Os resultados sobre os países do tal Evil Axe, não sabemos.

De novo, só por Deus!


Conclusão
A transição do mercantilismo para o capitalismo moderno foi impulsionada por revoluções económicas e tecnológicas que desafiaram as instituições tradicionais. Durante o século XIX, o capitalismo já se firmava como o sistema econômico dominante, moldando o mundo moderno que conhecemos hoje.

A Guerra Comercial de 2025

Estou ouvindo e lendo de tudo. Desde que os EUA estão fazendo certo, até que a China está forte até tudo ao contrário disso. Estou lendo barbaridades, que, normalmente, são jogadas travestidas de opinião independente… a famosa agenda oculta no bolso do colete.

EUA fortes

Líderes do mundo livre, capitalistas e com grande IDH, os EUA são uma espécie de “polícia” do mundo, reconheça-se ou não, e gastam mais com suas segurança do que quase todos os outros países do mundo juntos. Só na OTAN são responsáveis por até 30% do orçamento. Na ONU, as forças de paz consomem 22% de grana americana, sobre o orçamento total da entidade.

(Fonte One AI, sobre dados da OTAN de 2024)

Esses dados dão a medida em que um país que representa 4% da população mundial acaba arcando com algo entre 20% e 25% de tudo o que o mundo gasta em defesa e missões de paz. Isso sem contar o aspecto de vidas, que não se sabe medir.

Meu saudoso pai dizia que “quem dá o pão, dá o ensino”. Ora, chamar os EUA de imperialistas é fácil. Difícil é fazer o que eles fazem. E aqui não vai nenhuma consideração sobre a qualidade desse imperialismo. Cubanos diriam “terrível”, países desenvolvidos diriam “necessário”. Eu diria “importante”.

Tudo isso se traduz para dentro da Guerra Comercial, iniciada agora por Trump. Para começo de conversa, quero deixar bem claro que como amante da Escola Econômica Austríaca, DETESTO qualquer tipo de protecionismo, e acho que Trump está absolutamente ERRADO nessa iniciativa.

Mas posso cá comigo entender por que… J.D Vance disse bem, numa entrevista recente à Heritage Foundation, que não é correto os EUA “bancarem” o faturamento do chinês médio, pagando com dívida que o próprio governo desse chinês médio compra e estoca. Verdade? Sim. Os EUA, com isso, comprometem todo o futuro das gerações vindouras com um déficit que se torna cada dia mais difícil de pagar, ou de manter em uma relação saudável com o PIB.

Exceto que J.D. esquece de dizer uma coisinha: não é de “trade balance” (balança comercial) que se trata o futuro do déficit de um país, mas de toda a corrente de comércio E serviços. E aí está a coisa: como maior emissor de patentes do mundo, cobra a maior parte dos royalties e serviços “intangíveis”, o que em muito ajuda a equilibrar o endividamento de lá.

(Fonte One AI Pro. Dados podem mudar segundo a fonte pesquisada)

No final das contas, os EUA tiveram uma boa melhora entre 2022 e 2023, no que tange a Balanço geral de pagamentos. Mas o fato mais relevante pode ser visto na exposição que o conta correntes sobre o déficit público americano é relevante. Em 2023, metade do déficit público (em valor, nào estoque) pode ser representado por saldo negativo de conta corrente com o restante do mundo.

Dá para entender a visão (no meu ver, “em túnel”) de Trump sobre a importância de reduzir o déficit comercial. Pode, e quase certamente vai, ser um tiro no pé.

Tiro no Pé?

Não sei se Trump considera que seus movimentos de agora, vistos como pré-Armagedom por meio mundo, serão levados à ferro e fogo até o fim. Ele precisa mandar uma mensagem ao mundo:

“Não vamos aceitar menos do que reciprocidade de tarifas, com país algum”

(Um suposto Donald Trump, da minha imaginação)

Se vai às últimas consequências, não sabemos.

Minha sensação é que, após esse freio de arrumação (como diríamos nós cariocas), Trump começará a refazer o sistema, considerando as especificidades e necessidades dos EUA. Não é possível criar uma taxação maiúscula, de (sei lá) 34% sobre Madagascar, que basicamente só exporta baunilha (a melhor do mundo) sem pensar bem e voltar atrás ali na frente. Seria maldade pura e simples.

Em alguns casos, as ditas reciprocidades já embutem algumas pílulas de açúcar, como a exceção de chips de computador de Taiwan. Agora, em abril de 2025, os Estados Unidos impuseram uma tarifa de 32% sobre produtos importados de Taiwan. Mas isso expressamente exclui semicondutores (vide reuters.com). Os EUA não são tão bobos de jogar Taiwan no colo da China de vez… Daí, em resposta, o presidente de Taiwan, Lai Chingte, propôs um regime de zero tarifas com os Estados Unidos. Em contrapartida pede o aumento de investimentos no país, sob desculpa de “fortalecer os laços econômicos e mitigar os impactos das novas tarifas” (de novo, reuters.com).

Como ninguém é bobo, com exceção dos que querem fazer xixi nos cantos do terreiro, pra marcar território, o que o o caso da China (que não pode deixar de fazer isso, sob pena de perder o discurso) e o Brasil (por burrice ideológica mesmo), o mundo vai, rapidamente, se ajustar, e ESPERO (Deus ajude!) que o resultado tanto para a economia americana, quanto global, acabe sendo grandemente mitigado, e até positivo, em última instância.

A nenhum ocidental, com exceção dos ideólogos de esquerda, interessa uns EUA frágeis. Isso exporia demais todo o ocidente às ameaças dos CRINK (China, Rússia, Irã e Corea do Norte). E olha que não são poucas as ameaças representadas por eles, sob Putin, Xi, O Turbantão e o Cabelito.

É só Wishful Thinking mesmo…

E no final, tudo o acima é minha forma de oração. Que Deus me ajude que escrevi algo que será lembrado no futuro como correto. O bom senso costuma vencer, exceto em casos em que “pequenos bigodes ridículos” (Hitler) ou “grandes bigodes mais ridículos ainda” (Stalin), prevalecem. Foi assim na crise dos mísseis de 1962, quando Kennedy e Kruschev acabaram recuando e mantendo a paz.

Tenho mais é que desejar o melhor, já que, francamente, minha confiança na sanidade mental da dupla Trump-Musk anda meio abalada.

Então, Deus nos ajude e que eu esteja correto!!!

“Sua” Primeira Emenda

Tem engraçadinho capaz de qualquer coisa para defender uma ideia que, além de burra, é contrária aos próprios interesses últimos do defensor.

Acabou de acontecer outro dia. O cartunista Fraga, no Jornal Zero Hora de POA, lançou a seguinte pérola:

“Sua primeira emenda termina onde começa a nossa soberania”. Segundo o Google, “A charge ilustrava uma disputa entre Moraes e a Justiça americana.” 

Vamos lá… no fundo, mesmo, na raça, o que diz a primeira emenda da constituição dos EUA?

Como é uma charge, damos ao autor o benefício da dúvida: queria criticar a primeira emenda, ou Alexandre de Moraes? Prefiro crer que a segunda alternativa é a correta. Mas posso estar enganado. Acho que a charge quer dizer realmente que Moraes tem razão, e que aplicar a primeira emenda americana no Brasil pode ser considerado “ato atentatório contra nossa soberania”.

A Primeira Emenda diz:

O congresso não deverá fazer qualquer lei a respeito de um estabelecimento de religião, ou proibir o seu livre exercício; ou restringindo a liberdade de discurso, ou da imprensa; ou o direito das pessoas de se reunirem pacificamente, e de fazerem pedidos ao governo para que sejam feitas reparações de queixas.

Primeira Emenda à Constituição dos EUA

Eu gostaria de saber o que, disso aí, NÃO está de alguma forma contemplado na Constituição Federal de 1988. O QUE exatamente existe na Primeira Emenda que não seja parte integrante da nossa Constituição e suas emendas?

NADA. E é por isso que temos diante de nós um paradoxo. Ao invocar a Primeira Emenda como algo “alienígena” em relação ao Brasil, qualquer pessoa incorre num ato de “inocência útil”, e que só serve para criar antagonismo onde este não deveria existir.

Liberdade de Expressão na Prática

Não sou (mais) assíduo frequentador de mídias sociais, como já fui. Facebook e Instagram pra mim já não são “literatura do dia a dia”. Apenas o LinkedIn permanece, por ser mais técnico e profissional, e, portanto, mais ao meu gosto, para o dia-a-dia. Mídias sociais passaram a ser algo mais de brincadeira do que forma de me comunicar. Apenas envio o link dessas minhas mal-traçadas linhas, para deleite (ou irritação) de meia dúzia de amigos queridos.

Hoje, porém, fui olhar o FB. Apareceu um link de uma publicação do Osvaldo Eustáquio. Deu um like… pensei duas vezes… deslikei…

Apareceu um link de ‘Friends of Israel Global Movement’. Amo Israel, lugar que adoro visitar, por razões de estética e raízes (judaico-cristãs). Ia dar um like. Nem me dei ao trabalho de likar e deslikar…

De vez em quando bate um desespero por me expressar por algo que entala a garganta, como essas reportagens que dão conta de que o USAID foi desmantelado por “fascistas” que não tem empatia pelo próximo. Comento, e sinceramente começo a me perguntar se devia ou não.

Medo

Sim, tá batendo medo. E não creio nem por um momento que a eleição de Trump e as atividades de Musk frente ao DOGE (Departamento pra cortar gastos públicos nos EUA) vão nos salvar da onda de cerceamento de liberdade de expressão. O medo é que, à medida em que meus posts alcançam mais gente, fico mais exposto à fúria de alguém que resolva me cancelar, expondo minhas visões, minha família, minha vida pessoal e profissional.

Cá entre nós, do ponto de vista, digamos, mais alinhado com nosso Executivo de hoje, eu realmente “mereço”. Afinal sou (quase) branco, conservador, vou à Igreja mais do que 99% da população, dou até aula em Escola Bíblica Dominical e não gosto de fugir de debates. Sou, portanto, alvo fácil para ser chamado de fascista, nazista e terraplanista. Slogan em mim pega fácil.

Então bate o medo, e com ele a pergunta: Por que? Por que estou com medo? Será que meu medo tem a mesma fundamentação daquele medo que a esquerda radical dos anos 60 e 70 tinha dos militares? Será que tenho o mesmo tipo de medo que, digamos, Dilma, Genoíno ou Dirceu tinham? Que Lula devia ter, durante suas greves no ABC?

O Medo de Hoje

Não podemos duvidar que aquele povo do MRI, VAR-Palmares et tal tinham do regime militar. Era real, e tinha fundamento. Estavam “lutando” por aquilo que criam correto (e ainda creem). Dirceu ainda pensa igualzinho do que há 50 anos – que o correto é um governo grande, dono de tudo, e que o cidadão não tem capacidade de se governar e que, portanto, precisa da tutela do Estado. Mas não do Estado militarizado de então: um estado grande, provedor, coletivista e “paizão”. Criam, e talvez ainda creiam, numa utopia socialista.

Dou a eles o direito de pensar como queiram. Creio que o medo deles era fundado. Apenas creio que os métodos que usavam eram, digamos, um tanto radicais, como fazem prova os sequestros de embaixadores, “expropriações” (leia-se assaltos à mão armada), entre outras atitudes.

Em tempo, talvez o ato de maior vilania perpetrado por mim tenha sido surrupiar os deliciosos pastéis que minha Nonna, Gentilina Montechiari, fritava no dia de ano novo na minha cidade, Cordeiro. Não posso portanto me comparar com os “heróis” da resistência ao regime militar. Portanto, meu medo deveria ser menor, pois apenas cometo “crimes de opinião”.

O medo de hoje, eu creio, está plenamente justificado. Alguém me disse outro dia que era moda o povo que votava na ARENA (partido dos milicos antes da redemocratização) não se sentia mal porque concordava com o regime; dessa forma, a gente tinha passaporte, ia e vinha, falava (quase) tudo o que queria, comprava, vendia, e até prosperava; tinha direito a propriedade e não era incomodado em (quase) nada. Ora, era uma ditadura, sim; branda, boboca, mas ditadura. Explicava-se pelo contexto da Guerra Fria, mas era ditadura.

A natureza do medo de hoje vem da certeza que temos de que não teremos quase ninguém para nos apoiar quando formos enredados em algum inquérito secreto, sem o devido processo legal, e metido num Gulag qualquer no Planalto Central ou outro lugar. Meu medo particular advém da certeza de que não estamos em guerra fria, como antes, mas em algo muito pior e mais insidioso. Algo que transcende o mero direito de ir e vir; algo que cassa passaporte, expropria conta corrente, coopta o legislativo e mantém o judiciário em um poder que não deveria ter.

O Medo de Amanhã

De novo, não me iludo que os Trumps ou Musks da vida vão, em longo prazo, me ajudar a perder o medo e falar – errado, certo, de boa, xingando – o que der na telha. Não podemos mais. Nem deputado e senador pode.

Me refiro ao medo que terei amanhã. Será que perderei meu patrimônio, juntado ao longo de décadas de trabalho árduo e honesto? Será que perderei a liberdade de ir à igreja? Será que perderei a liberdade simples de contar uma piada – ainda que de mau gosto? Será que não terei mais o direito de falar algo que alguém não goste, e eu possa ser cassado/sancionado/cancelado por isso?

Eu não tenho mais o direito de dizer que não gosto de algo ou alguém; não tenho o direito de dizer que creio que aborto é assassinato, que creio que o cristianismo é a única religião verdadeira (sem tirar de ninguém o direito de achar o mesmo da sua), de achar que ser conservador é manter um mínimo de ordem e decência, aprendendo com o passado as lições duramente ensinadas, e hoje esquecidas?

Terei que achar bonito um homem vestido de mulher, se declarando mulher? Terei que achar que existem dezenas de gêneros, e que um ser humano pode se identificar com um cachorro? Vejam bem, não estou querendo com isso retirar o direito de ninguém se vestir de querido pônei e relinchar. Faça-o à vontade, desde que não exija meu apoio. Posso perfeitamente não gostar de alguém por suas posições na vida, por mais esquisitas que sejam, e não querê-la morta ou cancelada. Live and let live…

O Medo do futuro repousa na “suposta” piada de Millôr Fernandes sobre o homossexualismo, nos anos 80:

“Antigamente o homossexualismo era proibido no Brasil. Depois, passou a ser tolerado. Hoje é aceito como coisa normal… Eu vou-me embora, antes que se torne obrigatório.” 

Millôr Fernandes

Suposta, porque hoje, infelizmente, verdadeira. Já não preciso sequer proibir ou tolerar. Hoje é necessário ter como obrigatório o apoio a pautas como aborto, troca de gêneros, etc.

Não odeio homossexuais. Nada disso. Na verdade tenho amigaços que amo de paixão e que não são “cis”. Nada disso me impede de ver o fenômeno da homossexualidade à luz de princípios que guardo e que creio sagrados.

Não odeio quem abortou, aliás, me penalizo e tenho tristeza profunda pelas circunstâncias que levam alguém a achar normal matar uma vida completa, antes de nascer. Mas não preciso achar bacana que a Planned Parenthood (BEMFAM, por aqui) vendam a ideia como parte de uma política de saúde pública.

O Medo de Sempre

No fundo, a inspiração ao medo, venha de onde vier, é sempre sobre como obter controle sobre o outro, como exercer poder. Desde a Inquisição e seus Autos-de Fé até as Caças às Bruxas, e as decapitações de “infiéis” em praça pública por gente de turbante e mau humor, o objetivo sempre é controlar o outro.

O medo é que a pessoa pense por si só, e tente exercer seu direito de pensar. O já citado Millôr costumava escrever no Pasquim que:

“Livre pensar é só pensar”

Millôr Fernandes

Sim, o próprio ato de raciocinar tende a levar a pessoa, independentemente de seu grau de instrução, a refletir sobre algo. E independentemente das conclusões chegadas, é melhor do que a alternativa.

O medo do futuro, pra mim, passa pelo enredo do filme dos anos 90 chamado “Idiocracy” em que um cara que en 2006 era considerado meio burro é congelado e acorda em 2515. Lá, se dá conta de que, mesmo com um QI de 90, se tornara o homem mais esperto do mundo. Ele não melhorou nada. O mundo é que ficou mais idiota. A ponto do “presidente dos EUA” criar uma fome no país porque achou que molhar o milho com água era um desrespeito com a planta, e que essa deveria ser regada com Gatorade…

Tem muito político regando milho com Gatorade hoje, e tem milhares aplaudindo o feito.

Exemplos de Justiça

Nosso judiciário não é bom, e não precisamos muita memória para constatar isso. Cada um de nós tem pelo menos meia dúzia de casos em que um processo está na justiça há 10, 15 anos; cada um de nós tem uma injustiça flagrante feita contra nós, como receber um processo trabalhista de alguém que não tem nada a ver conosco, só porque tivemos, há anos atrás, uma participação “micro” conjunta numa empresa; cada um de nós viu o noticiário recentemente e pode atestar a baixíssima qualidade dos julgamentos, a falta de técnica e respeito à Lei, mesma, na aplicação do direito; cada um de nós já testemunhou casos de flagrante perseguição judicial, “proof-fishing” e outros mecanismos de pressão social contra cristãos, conservadores, e, no passado, contra opositores do regime de exceção.

Branco não sofre Racismo

Em 05/02/25, o Ministro do STJ, Og Fernandes, concedeu um Habeas Corpus a um negro que insultou um coroa italiano, em Alagoas, por te-lo chamado de “racista de cabeça branca europeu, escravagista”. Ou seja, disse que branco não tem o direito de se sentir, nem ser, de fato, tratado com discriminação, pois é o “topo da cadeia de discriminação”. Para tal, usou base não legal (decisão do Conselho Nacional de Justiça – CNJ) que sequer é órgão regulador. Desrespeitou a Lei mesma, em prol de uma agenda identitária que está-se esboroando no mundo inteiro por falta de bom senso nos pleitos.

Acionista Minoritário Processando Auditorias

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) deu aos minoritários o direito de um minoritário em processar auditorias, por conta da fraude nas Americanas (AMER3) por negligência em seu trabalho. Em sua decisão, o Desembargador Luiz Eduardo Cavalcante Canabarro diz que, a despeito da jurisprudência, o minoritário teria, no caso das Americanas, o direito de processar as auditorias:

Superior Tribunal de Justiça entende que o sócio minoritário não tem legitimidade ativa para a propositura da ação individual por prejuízos causados ao patrimônio da empresa, pois não se pode considerar como seu prejuízo individual o que o atinge apenas indiretamente, por reflexo dos danos causados à companhia (AgInt no REsp 1.891.031). Mas o caso das Americanas é diferente, destacou o magistrado.

https://www.conjur.com.br/2025-fev-05/acionista-minoritario-das-americanas-pode-pedir-reparacao-a-auditoras-diz-tj-rj/

Ou seja, a jurisprudência existe, mas “aqui é diferente”. Isso abre a torneira para uma quantidade de injustiças e exageros que vão tornar, no médio/longo prazos, a vida das empresas que detêm ações em bolsa, algo impossível. Em síntese, QUALQUER cara que tiver perdido dinheiro em situações em que se julgue que houve omissão de auditores ou mesmo de diretores, pode, individualmente, ingressar com ação diretamente contra esses, individualmente. Se é que eu entendi corretamente, o ambiente de negócios no mercado de capitais corre o risco de se tornar impossível.

“Proteção a Jovens e Adolescentes”

Medidas recentes determinam que jovens e adolescentes em situação de criminalidade não podem ser revistados, não podem ser abordados sem um membro do Conselho Tutelar presente, e não podem ser presos ou colocados em viaturas da polícia.

Em síntese, estaremos, com essas decisões, à mercê de bandidos de 16, 17 anos, que estarão virtualmente livres de abordagens policiais. Como se não soubéssemos que o narcotráfico se utiliza principalmente desses “fumaças” e “aviõezinhos” do tráfico para cometer seus ilícitos. Mais – um menor que está a ponto de cometer um crime (eque dificilmente pode ser identificado como tal à primeira vista) não pode ser abordado pela polícia. Precisa, primeiro, roubar, assaltar, ou mesmo matar, para que depois, na presença de um representante do Conselho Tutelar, possa ser “detido”. Uma tal Coalisão pela Socioeducação (https://coalizaopelasocioeducacao.com/abordagem-policial-a-adolescente-deve-ter-responsavel-presente-regulamenta-mprj/) celebra o fato como uma vitória da sociedade.

É o mal usando a justiça para perpetuar injustiças.

E nós?

Tirando as flagrantes indecências cometidas por ministros dos nossos tribunais superiores contra a liberdade de expressão e contra a segurança pública, ficamos, nós, sociedade (de verdade) desprovidos de qualquer defesa, ou possibilidade dela, já que de nós foram tirados todos os instrumentos de defesa. Sem armas, sem voz e sem polícia, estamos à mercê de uma rede de malfeitores que se apossaram do estado brasileiro, pela via de quem deveria ser o fiel da balança, a nos proteger.

Até quando? Talvez até a volta de Jesus Cristo.

Cristianismo – sempre no centro da Perseguição

Li o relatório da organização sem fins lucrativos International Christian Concern (“Persecution.org”), denominado Global Persecution Index, publicado agora, para o resultado de 2024.

Os suspeitos de hábito

No topo da lista países como Coréia do Norte, China, Paquistão, Afeganistão, Somália, Nigéria, entre outras “potências” da perseguição. Em comum, o óbvio: o caráter ditatorial de seus governos.

No topo da lista de países mais perigosos para um cristão viver está a Nigéria, país que até pouco tempo era considerado majoritariamente cristão. Organizações desestabilizadoras, terroristas, como Boko Haram, conseguiram, nos últimos tempos, varrer quase todo o cristianismo do norte para o sul, com massacres, conversões forçadas, etc.

Os Novos Suspeitos

Entre os mais novos suspeitos, um país que está na região que, tecnicamente, menos persegue o cristianismo (de forma organizada, estatal): a Nicarágua. Em comum com os suspeitos de hábito, a necessidade de um tiranete de republiqueta de banana manter-se no poder. Esse país eu conheço. Já estive lá diversas vezes, a trabalho, nos anos do Sandinismo, quando o mesmo cretino estava encastelado no poder. Eram anos de intensa colaboração com Cuba (sempre ela) e um domínio quase total da sociedade, mas com certa leniência da Igreja Cristã, marcadamente a católica. Hoje, diferentemente disso, é justamente o catolicismo que tem pago o preço mais alto lá, com expulsão e prisão de padres e bispos.

O Cristianismo como alvo preferencial

Entendo que o cristianismo tem sido o alvo preferencial meramente por ter sido a religião de maior crescimento no mundo, por milênios, e por ser uma religião prosélita (que prega e quer fazer convertidos), diferentemente de várias outras e à semelhança dos muçulmanos, cuja “conversão”, com raras exceção, é obtida, digamos, de formas heterodoxas.

Sendo a religião dos maiores poderes do mundo, mormente ocidental, associa-se à ela as atitudes de governos ocidentais, o que quase nunca tem sido a regra. Claro que o catolicismo, com seu governo centralizado, no passado passou por situações em que sim, foi perseguidor (Inquisição Espanhola sendo o marco mais visível, corretamente) ou declarado perseguidor (Cruzadas sendo também marco visível, incorretamente, por se tratar de uma guerra de defesa, não de ataque, como comumente se diz nos livros de história).

Verdade é que governos, em algumas regiões, e em nome de “valores cristãos” perseguiram, por exemplo, judeus. Os pogroms são prova disso, assim como as conversões forçadas (cristãos-novos, dos quais parcialmente descendo). O holocausto não. Esse é fruto das ações de um maluco. De lá pra cá, o cristianismo tem insistido em emendar suas ações e, vezes sem conta, pedir perdão por atitudes que contrariam, antes de qualquer coisa, os dizeres do próprio Cristo (“amai vossos inimigos, orai pelos que vos perseguem”).

Governos raramente se dobram a preceitos religiosos. O cristianismo, sabedor disso, e sendo, originalmente, a religião dos perseguidos e dos párias, até Constantino, no século IV, pregou e ainda prega a segregação Estado X Igreja, o que não significa, como sobejamente dito por vários articulistas e pensadores, que o Estado deva ser “ateu”.

De fato, até recentemente, apenas católicos poderiam ser presidentes de alguns países, a Argentina entre eles. O fato é que essa tendência, entre os cristãos e ocidentais, praticamente acabou.

O cristianismo é, na minha opinião, alvo preferencial justamente por ter sido o alicerce intelectual do ocidente laico, progressista, conservador e democrático. Os EUA nascem sob a égide de Deus, na moeda e tudo, e assim continua, aos trancos e barrancos, tentando manter-se à margem das tentativas de cooptação do Estado para fins antirreligiosos. A eleição de Trump é uma prova cabal de que o americano médio, não-woke, prefere um cara meio doido na presidência do que um bando de pessoas desconectadas da crença e valores da maioria.

Por que é Alvo?

É difícil responder à pergunta acima sem adentrar nos princípios mesmos das crenças judaico cristãs. Somos alvo desde os imperadores romanos por diversas razões. Não dá para dissociar essas razões das ações de um inimigo (o diabo) que para a maior parte das pessoas não passa de um mito (assim como Deus, para quem não crê).

Somos alvo, e seremos cada vez mais, porque as Escrituras Cristãs assim nos contam. Não deveríamos estar espantados por isso, nem mesmo pelo crescimento da perseguição mundial a nós.

Quanto mais vocais formos, mais, e mais rápido, seremos perseguidos, seja moralmente, seja física e politicamente mesmo. Somos “de todos os mais rejeitados” como o Apóstolo nos ensina. O Apocalipse já nos contava, lá atrás, que seríamos objeto de tribulação, mas que seríamos vencedores dela.

Conto, portanto, com o crescimento, não a diminuição das perseguições a cristãos, e tenho apenas que agradecer a Deus pela perseverança e amor de cristãos Norte-Coreanos, Iranianos e outros, que, em meio a toda essa tempestade, conseguem deixar patente sua fé. Sem constranger; sem forçar; sem exigir; sem matar; sem silenciar.

PS: Após escrever este texto, vivemos um desses momentos de perseguição muito na carne, aqui do Brasil. Veja em anexo esta situação dramática vivida pela Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira, na Nigéria:

https://www.instagram.com/p/DE5rsE-yZg1/?utm_source=ig_web_copy_link

Brazilianization

Acabando de chegar pra trabalhar, dou de cara com esse artigo que chama de “abrasileiramento” o fenômeno de empobrecimento (físico, moral, judicial) em países do primeiro mundo, que acabam por se tornar bem mais parecido conosco.

https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/brazilianization-como-o-brasil-deu-origem-a-um-termo-pejorativo-no-exterior/?utm_source=salesforce&utm_medium=emkt&utm_campaign=newsletter-bom-dia&utm_content=bom-dia

Empobrecimento

O primeiro aspecto do termo diz respeito ao empobrecimento gerado em locais como Canadá, Reino Unido e a Califórnia, para ficar em poucos exemplos, nos quais a população de classe média começa a minguar, dando lugar a uma quantidade grande de muito ricos e uma legião de pobres.

Não dá pra dizer que a existência pura e simples de ricos seja ruim em si, exceto que a inexistência de uma substancial classe média, típica dos países ricos, é, sim, um marcador importante de pobreza sistêmica, cuja tendência, se não revertida, faz um país realmente empobrecer.

Mas isso, na minha opinião, é resultado, não causa.

Favelização

“O abrasileiramento do Canadá já começou. Favelas e censura para todos”

Cosmin Dzsurdzsa

Acho que o autor da frase acima não se limita à menção de favelas mesmo, físicas. Obviamente que sabemos que mais de 10% da população brasileira vive em favelas ou bairros análogos. O Rio de Janeiro é o símbolo maior dessa situação. No meu tempo de jovem, locais como Vila Cruzeiro, eram bairros de classe média-baixa, mas não eram favelas. Tinham ruas razoavelmente retas e abertas, coleta de lixo e “fumacê” (mata-mosquitos). Hoje, locais onde ficava a fábrica de lingeries Poesi, por exemplo, estão dentro do complexo do Alemão.

Não para na favela física, creio, mas vai até a favela educacional:

“O presente dos Estados Unidos do Brasil se parece com o Brasil do passado, e o futuro dos Estados Unidos se parece com o presente do Brasil”, Green afirma, depois de mencionar que a Califórnia tem fronteiras porosas, ruas esburacadas, escolas comandadas por “analfabetos fanáticos”, prisões superlotadas, uma taxa de homicídios em alta e um governo corrupto.

“O presente dos Estados Unidos do Brasil se parece com o Brasil do passado, e o futuro dos Estados Unidos se parece com o presente do Brasil”, Green afirma, depois de mencionar que a Califórnia tem fronteiras porosas, ruas esburacadas, escolas comandadas por “analfabetos fanáticos”, prisões superlotadas, uma taxa de homicídios em alta e um governo corrupto.

Dominic Green, citado na reportagem da GP, acima mencionada.

Atenção à frase “analfabetos fanáticos”. É aí que está o grosso da destruição. Entregamos nosso sistema educacional a analfabetos na prática, mas com muito potencial destrutivo. Isso ocorre há décadas, e hoje colhemos os resultados. O que o artigo reforça é que o Brasil parece ter “exportado” essa tecnologia de destruição social a países do primeiro mundo. O estarrecedor é que esses países desenvolvidos tenham “comprado” as ideias e as colocado em prática.

Judiciário

Um judiciário como o brasileiro, caro, ineficiente e em boa parte, corrompido, não pode gerar efeitos educacionais (positivos) numa sociedade, qualquer que seja. O autor compara a situação vivida por países desenvolvidos com o que temos aqui: leniência com o crime organizado, e com relação às “elites” políticas da nação. Falta quase total de justiça para a população em geral. Um traficante mata um guri de 18 anos que pisou no seu pé (provavelmente sem querer). Não há qualquer pudor em matar, já que as consequências inexistem.

Além de caro, lento. O avô da minha esposa bem que tentou esperar para ver reparada a desapropriação de suas terras, num ilha no Rio Paraná, perto de Guaíra, para formação do lago de Itaipu, que acabou nem inundado nada. A ilha está lá, intacta, o avô da esposa morreu aos 94 anos de idade, sem que o judiciário se pronunciasse, em mais de 30 anos de processo indenizatório aberto. Lentidão na justiça e injustiça pura e simples, são a mesma coisa, creio.

Mais do que isso, a deterioração da qualidade acompanha um aumento violento de custos com o judiciário. Férias de 60 dias ou mais, por ano, auxílio isso, auxílio aquilo, verba disso, verba daquilo, fazem os togados verdadeiros rajás brasileiros. É de longe o judiciário mais caro do mundo.

Quanto à qualidade da legislação criminal, a falta de punição a quem mais precisa dela dá ao cidadão comum o senso de que não tem jeito, e não vale a pena lutar por justiça. Ao marginal, dá a plena segurança de que “tá tudo dominado” e que existe uma nova ordem em cidades como o Rio e São Paulo, uma ordem na qual o poder público não detém mais o monopólio da violência, e que, mesmo quando tem, prefere não exercer, trocando o encarceramento por medidas tão brandas que estimulam o crime.

Educação

Já toquei no aspecto educacional, mas aqui há mais a ser dito: não se trata de entender diferente a educação. Trata-se, pura e simplesmente, na negação dela à população, travestida de preocupação com a mesma. Matemática, Português, Biologia, Física, Química, História e Geografia são substituídas por “matérias” que ensinam a questionar a ciência, a torná-la tão relativa quanto possível, independentemente do fato de que não que qualquer pessoa com 2 neurônios não devesse discutir com uma equação.

Aqui, é importante frisar que a base da prosperidade de qualquer país é a qualidade de seu povo, do ponto de vista de saber fazer coisas, de criar outras coisas melhores, e de usar coisas com habilidade. Perdemos, dia a dia, e continuaremos a perder essas qualidades, na medida em que nossa educação serve mais para desestabilizar a geração de riqueza da nação do que criá-la.

De anão diplomático a exemplo de anti-desenvolvimento, vamos bem, nessa jornada rumo ao quarto mundo.

Inflação e Déficit Público

Agorinha mesmo publiquei isso aí, no meu timeline do LinkedIn:

Uma das belezas do capitalismo está justamente na miríade de opinião que “puxam-pra-lá-e-pra-cá”, até que um consenso, digamos, estatístico, se impõe como médias das forças do mercado, e sua “mão invisível”. Esses dias, por exemplo, Luis Nassif, com a argumentação desenvolvimentista típica, diz que Bacen deveria diminuir os juros, não aumentá-lo, o que geraria crescimento, tributos, e, portanto, mais infraestrutura, etc. De outro lado, o sócio da Kapitalo, Bruno Cordeiro (https://lnkd.in/dRf967H4) diz que o Bacen deveria ir na direção oposta.

O fato é que há um único fator desconsiderado por quem é naturalmente desenvolvimentista: que a inflação está intimamente ligada ao déficit público, e que, no longo prazo, “aleija” a nação. É muito difícil que essas duas “bolhas” conversem, mas o fato é que o governo não consegue obter apoio do mercado para sua política do “gaste agora, pague se e quando puder”… É Sarney, é Dilma II de volta. Oremos!

Argentina

É fácil compreender este fato. É só ir aqui do lado, na Argentina, e ver como a corrosão social gerada pela inflação fez, ao longo dos anos, enormes estragos no país. Uma sucessão de governos grandes e perdulários, aliado a políticas fiscais de República de Bananas (o que aliás, a Argentina tradicionalmente não foi) fez com que a inflação se tornasse venezuelana, o crescimento português e a qualidade de vida do povo, sudanesa. Independentemente do alto grau de desenvolvimento humano e educação desse lindo país, o fato é que políticas estatais de tratamento do povo como um bando de crianças, que não podem fazer suas próprias escolhas, mas ser alimentados pela mão amiga do estado, deu no que deu.

Milei, exageradamente libertário na economia, deu um choque que Macri se recusou a fazer, anos atrás. Está causando recessão e perda de renda da população, mas está reduzindo a inflação e o peso do governo sobre a economia enormemente. Já se fala em abolir “jaboticabas portenhas” como controle de câmbio e tributação sobre exportações (!). No final das contas, vai ser a redenção da população, que, neste momento, não consegue ver os benefícios de longo prazo de se trocar um prato de comida pela capacidade futura de plantar, colher e comer por conta própria.

Brasil

Aqui, ao contrário, é “Dilma e Sarney” redivivos. É o governão com o balde de lavagem na mão e o povo atrás, e ainda agradecendo. Chico Buarque, no seu antológico livro Fazenda Modelo, mirou no que viu e acertou no que não viu. Com 40 e tantos anos de atraso, nos vemos, finalmente, na real Fazenda do Chico.

Ainda nem começamos a ver os resultados da intervenção indevida – muitas vezes, maldosa – na economia. Campos Neto ainda está lá. Haddad ainda tenta fechar as contas no zero, mesmo que aumentando impostos. Recessão à vista. O setor pecuário entre aos “campeões nacionais” de Lula, que ditam preço no mercado. Setor agrícola à míngua, com uma China fraca e uma dependência dela cada vez mais acentuada.

Sentimos mais a inflação (teoricamente baixa) do Brasil do que los hermanos sentem a Argentina, como um economista argentino recentemente disse.

Vamos de vento em popa – sabemos para onde.

Exemplo de Bolha

https://www.infomoney.com.br/business/global/por-que-o-tesla-cybertruck-de-elon-musk-virou-uma-guerra-cultural-sobre-rodas

Me deparo com este artigo e fiquei encantado com a clareza com que foi tratado o tema, mas, principalmente, a falta de interpretação adequada (minha opinião, claro) das causas da reação da “Bolha” específica.

Síntese do Teretetê

Anos atrás (5 anos) a Tesla lança um SUV grandão, feio pra burro, elétrico, chamado Cybertruck (ver foto acima, do unsplash.com). É grande, quadrado, rápido, blindado (de fábrica) e, segundo os designers, feito pra parecer aqueles carrões de filmes distópicos dos anos 80 e 90, como RoboCop, e outros, em que a corporação malvadona escraviza todo mundo, até o governo, e domina a sociedade com seus produtos ruins mas tornados indispensáveis pelo monopólio.

Ao longo dos anos, somando-se a isso a popularidade (numa Bolha) e impopularidade (noutra Bolha) do dono do boteco chamado Tesla, Elon Musk, há um crescimento em reações exacerbadas de lado a lado:

Segundo Richard Zhang, morador de Pittsburgh e proprietário de um Cybertruck, a grande maioria das interações que ele tem tido a respeito de seu carro tem sido positiva. Mas as negativas são muito, muito negativas. “Elas estão tão tomadas pela raiva que perderam todo o senso de decência e respeito”, disse Zhang, 30, sobre as críticas que recebeu.

Do artigo da Infomoney

Síntese, foco no dono da Tesla, não no produto. Foco no que o produto parece “significar” e não no carro em si.

Reações

Os problemas começam com alguns tipos de reação, que, da “minha Bolha” sequer posso julgar adequadamente, mas confesso que tento:

Para os membros de uma elite tecnológica preocupada com os problemas da vida urbana na Área da Baía de São Francisco e em outros lugares, é difícil não ver o Cybertruck como um carro dos sonhos, ou como um veículo adequado para enfrentar seus pesadelos.

Do Artigo do Infomoney

Bom, o carro é elétrico; o carro é silencioso; o carro é confiável; o carro é blindado. Problemas até o momento? Exceto aqueles que “minha bolha” consideram como difíceis de explicar (por exemplo, o fato de que ter carro elétrico com matriz energética “suja” é bobagem, e que as baterias ocasionarão mais poluição do que os “verdes” querem admitir), os atributos do carro parecem bons.

Mas a “bolha de lá” faz um link perigoso entre Musk e o carro em si.

Há uma conclusão?

Infelizmente, há. O nível de segregação entre as tais bolhas, e o nível de rechaço imediato, não pensado, não refletido, não discutido, faz com que uma e outra bolha julgue que a água do banho “sujou o bebê” e jogue ambos fora…

Estamos diante de uma situação em que o que eu “sinto” sobre algo está se tornando mais importante do que o que este algo é, em si mesmo. É algo que beira à rejeição que um muçulmano sente por um cristão (e muitas vezes, vice-versa), que é visceral e não diz respeito ao cara (cristão, muçulmano) que está diante de mim. É como o torcedor que nem viu o jogo, ouviu falar que teve um pênalti sem VAR, mas sabe, na “alma” que, se foi a favor do Flamengo, é roubado (para informação, sou tricolor de coração e acho que TODO pênalti a favor do Frá é necessariamente roubado – minha bolha, ninguém tasca!)…

A conclusão é a de que a soma de educação limitada e parcimoniosa em suas conclusões com o espírito de Fla-Flu do mundo atual, faz com que ninguém pense muito sobre fatos, mas sentimentos têm sempre razão – refletidos ou nào.

Às favas o Mercado

Reportagem de hoje do Infomoney:(https://www.infomoney.com.br/colunistas/lucas-collazo/lula-voce-nao-liga-para-os-banqueiros-vamos-ver-ate-onde-voce-aguenta-diz-sr-mercado/) dá conta de que a paciência do Mercado com Lula está se deteriorando rapidamente. Lula afirma (creio no que ele falou) que “não tenho que prestar contas a nenhum ricaço deste país”. Mas, segundo a reportagem, em seguida se reune com a equipe econômica e sai de lá dizendo que “equilíbrio das contas públicas é fundamental” ou coisa que o valha.

No mau e velho estilo Lula, ele erra trementamente o foco ao dizer que não presta conta a “ricaço”. Isso é música pros ouvidos de sua claque, mas não é a verdade. O fato é que por “ricaço”, leia-se, em sua maioria, uma miríade de pequenos e médios investidores, que escolheram o mercado de capital e financeiro para tentar manter suas economias de vidas inteiras à salvo de inflação e com poder de compra para uma velhice razoável (já que viver de INSS não é exatamente uma alternativa boa hoje, e no futuro, nem sabemos se será uma alternativa).

Às Favas?

O fato é que há, em minha opinião, uma grande chance de que o executivo atual, com suas manchas mal lavadas, não tenha a força de resistir às correntes que querem mandar, sim, o “mercado” às favas, e gerir o país fora da normalidade econômica – pouca ou muita – que temos hoje.

Há o caminho de Nicarágua e Venezuela, países com baixa ou nenhuma diversificação econômica e mercados financeiros que mesmo antes dos eventos ditatoriais já não eram relevantes. Esse caminho valeu-se, em ambos os casos, do rompimento da normalidade institucional. Mandou às favas, de forma direta, o mercado, assumindo o papel que aos mais radicais da esquerda, competiria ao estado (nem a poderosa China pensa assim, mas eles sim).

Há o caminho da Argentina, que, com economia mais diversificada e padrão de vida médio mais alto (renda per capital superior à nossa), uma dificuldade maior de impor uma ditadura “bolivariana”. A Argentina deu mostras, por duas vezes, na transição de Kirchner para Macri, e agora, de Fernandes para Milei, de que a despeito das diferenças de approach econômico, não houve total ruptura institucional, principalmente no judiciário, relativamente independente, e uma imprensa menos dócil.

O Brasil tem aspectos que beiram à dupla nada dinâmica – Venezuela / Nicarágua, principalmente quanto ao aparelhamento do judiciário e controle da mídia; possui, porém características argentinas, de uma economia ainda mais diversa, e com intercâmbios mundiais mais importantes (principalmente no Agribusiness, que Lula teima em demonizar, com apoio e aplausos de França, e até partes dos EUA e Canadá).

Quanto à qualidade do executivo, a despeito de seus muitos, e não reconhecidos, defeitos, montou uma equipe de ministros “meno male”. Até o momento isenta de grandes ortodoxias, e com o Banco Central, por enquanto, nas mãos competentes de Campos Neto, não deu tempo, nem teve condições políticas, de zoar a coisa toda. Está tentando, na minha opinião, mas a linha entre dar ouvidos ao “mercado” e aos radicais domésticos é tênue e, uma vez rompida, de difícil retorno à sanidade.

Os Limites: Temporal e Econômico

Até o momento, Lula ainda consegue reconhecer o limite, e, de certa forma, manter-se aquém da tragédia. A possível ascenção de Garópolo ao Bacen pode sinalizar outro “meno male” importante, mas até aqui ainda temos uma incógnita. Em evento recente no BTG, um palestrante diz que conhece Garópolo e que ele é um adepto do equilíbrio financeiro e realismo de juros e câmbio. Se terá valor ou espaço para manter sanidade no Bacen é outra conversa, mas é melhor do que Mercadante ou Mantega. Ideal seria manter o Campos Neto lá, mas isso, Lula interesse suficiente em fazer. Não conseguirá reconhecer a necessidade.

As palavras de Lula fazem cada vez menos sentido, tomadas no geral. Estão, na minha opinião, sendo cada vez mais ditas a públicos cativos, e nem podemos cravar que sabemos o que realmente informam ou não. Não esperaríamos Lula dizer que sim, respeita e valoriza a palavra de “ricaços”, ainda que saiba que eles dão parte dos empregos e do capital de investimento do país. Não seria tolo suficiente de excluir uma fatia importante do seu eleitorado, ao se declarar franco favorável ao Agro. Não seria corajoso o suficiente para deixar de fora da Petrobrás figuras que detém o “caminho das pedras” daquela mina de ouro.

A encruzilhada se aproxima, sob o apelido de Janeiro de 2025. Vejamos se manteremos um mínimo de racionalidade econômica.