Inflação e Déficit Público

Agorinha mesmo publiquei isso aí, no meu timeline do LinkedIn:

Uma das belezas do capitalismo está justamente na miríade de opinião que “puxam-pra-lá-e-pra-cá”, até que um consenso, digamos, estatístico, se impõe como médias das forças do mercado, e sua “mão invisível”. Esses dias, por exemplo, Luis Nassif, com a argumentação desenvolvimentista típica, diz que Bacen deveria diminuir os juros, não aumentá-lo, o que geraria crescimento, tributos, e, portanto, mais infraestrutura, etc. De outro lado, o sócio da Kapitalo, Bruno Cordeiro (https://lnkd.in/dRf967H4) diz que o Bacen deveria ir na direção oposta.

O fato é que há um único fator desconsiderado por quem é naturalmente desenvolvimentista: que a inflação está intimamente ligada ao déficit público, e que, no longo prazo, “aleija” a nação. É muito difícil que essas duas “bolhas” conversem, mas o fato é que o governo não consegue obter apoio do mercado para sua política do “gaste agora, pague se e quando puder”… É Sarney, é Dilma II de volta. Oremos!

Argentina

É fácil compreender este fato. É só ir aqui do lado, na Argentina, e ver como a corrosão social gerada pela inflação fez, ao longo dos anos, enormes estragos no país. Uma sucessão de governos grandes e perdulários, aliado a políticas fiscais de República de Bananas (o que aliás, a Argentina tradicionalmente não foi) fez com que a inflação se tornasse venezuelana, o crescimento português e a qualidade de vida do povo, sudanesa. Independentemente do alto grau de desenvolvimento humano e educação desse lindo país, o fato é que políticas estatais de tratamento do povo como um bando de crianças, que não podem fazer suas próprias escolhas, mas ser alimentados pela mão amiga do estado, deu no que deu.

Milei, exageradamente libertário na economia, deu um choque que Macri se recusou a fazer, anos atrás. Está causando recessão e perda de renda da população, mas está reduzindo a inflação e o peso do governo sobre a economia enormemente. Já se fala em abolir “jaboticabas portenhas” como controle de câmbio e tributação sobre exportações (!). No final das contas, vai ser a redenção da população, que, neste momento, não consegue ver os benefícios de longo prazo de se trocar um prato de comida pela capacidade futura de plantar, colher e comer por conta própria.

Brasil

Aqui, ao contrário, é “Dilma e Sarney” redivivos. É o governão com o balde de lavagem na mão e o povo atrás, e ainda agradecendo. Chico Buarque, no seu antológico livro Fazenda Modelo, mirou no que viu e acertou no que não viu. Com 40 e tantos anos de atraso, nos vemos, finalmente, na real Fazenda do Chico.

Ainda nem começamos a ver os resultados da intervenção indevida – muitas vezes, maldosa – na economia. Campos Neto ainda está lá. Haddad ainda tenta fechar as contas no zero, mesmo que aumentando impostos. Recessão à vista. O setor pecuário entre aos “campeões nacionais” de Lula, que ditam preço no mercado. Setor agrícola à míngua, com uma China fraca e uma dependência dela cada vez mais acentuada.

Sentimos mais a inflação (teoricamente baixa) do Brasil do que los hermanos sentem a Argentina, como um economista argentino recentemente disse.

Vamos de vento em popa – sabemos para onde.

Exemplo de Bolha

https://www.infomoney.com.br/business/global/por-que-o-tesla-cybertruck-de-elon-musk-virou-uma-guerra-cultural-sobre-rodas

Me deparo com este artigo e fiquei encantado com a clareza com que foi tratado o tema, mas, principalmente, a falta de interpretação adequada (minha opinião, claro) das causas da reação da “Bolha” específica.

Síntese do Teretetê

Anos atrás (5 anos) a Tesla lança um SUV grandão, feio pra burro, elétrico, chamado Cybertruck (ver foto acima, do unsplash.com). É grande, quadrado, rápido, blindado (de fábrica) e, segundo os designers, feito pra parecer aqueles carrões de filmes distópicos dos anos 80 e 90, como RoboCop, e outros, em que a corporação malvadona escraviza todo mundo, até o governo, e domina a sociedade com seus produtos ruins mas tornados indispensáveis pelo monopólio.

Ao longo dos anos, somando-se a isso a popularidade (numa Bolha) e impopularidade (noutra Bolha) do dono do boteco chamado Tesla, Elon Musk, há um crescimento em reações exacerbadas de lado a lado:

Segundo Richard Zhang, morador de Pittsburgh e proprietário de um Cybertruck, a grande maioria das interações que ele tem tido a respeito de seu carro tem sido positiva. Mas as negativas são muito, muito negativas. “Elas estão tão tomadas pela raiva que perderam todo o senso de decência e respeito”, disse Zhang, 30, sobre as críticas que recebeu.

Do artigo da Infomoney

Síntese, foco no dono da Tesla, não no produto. Foco no que o produto parece “significar” e não no carro em si.

Reações

Os problemas começam com alguns tipos de reação, que, da “minha Bolha” sequer posso julgar adequadamente, mas confesso que tento:

Para os membros de uma elite tecnológica preocupada com os problemas da vida urbana na Área da Baía de São Francisco e em outros lugares, é difícil não ver o Cybertruck como um carro dos sonhos, ou como um veículo adequado para enfrentar seus pesadelos.

Do Artigo do Infomoney

Bom, o carro é elétrico; o carro é silencioso; o carro é confiável; o carro é blindado. Problemas até o momento? Exceto aqueles que “minha bolha” consideram como difíceis de explicar (por exemplo, o fato de que ter carro elétrico com matriz energética “suja” é bobagem, e que as baterias ocasionarão mais poluição do que os “verdes” querem admitir), os atributos do carro parecem bons.

Mas a “bolha de lá” faz um link perigoso entre Musk e o carro em si.

Há uma conclusão?

Infelizmente, há. O nível de segregação entre as tais bolhas, e o nível de rechaço imediato, não pensado, não refletido, não discutido, faz com que uma e outra bolha julgue que a água do banho “sujou o bebê” e jogue ambos fora…

Estamos diante de uma situação em que o que eu “sinto” sobre algo está se tornando mais importante do que o que este algo é, em si mesmo. É algo que beira à rejeição que um muçulmano sente por um cristão (e muitas vezes, vice-versa), que é visceral e não diz respeito ao cara (cristão, muçulmano) que está diante de mim. É como o torcedor que nem viu o jogo, ouviu falar que teve um pênalti sem VAR, mas sabe, na “alma” que, se foi a favor do Flamengo, é roubado (para informação, sou tricolor de coração e acho que TODO pênalti a favor do Frá é necessariamente roubado – minha bolha, ninguém tasca!)…

A conclusão é a de que a soma de educação limitada e parcimoniosa em suas conclusões com o espírito de Fla-Flu do mundo atual, faz com que ninguém pense muito sobre fatos, mas sentimentos têm sempre razão – refletidos ou nào.

Às favas o Mercado

Reportagem de hoje do Infomoney:(https://www.infomoney.com.br/colunistas/lucas-collazo/lula-voce-nao-liga-para-os-banqueiros-vamos-ver-ate-onde-voce-aguenta-diz-sr-mercado/) dá conta de que a paciência do Mercado com Lula está se deteriorando rapidamente. Lula afirma (creio no que ele falou) que “não tenho que prestar contas a nenhum ricaço deste país”. Mas, segundo a reportagem, em seguida se reune com a equipe econômica e sai de lá dizendo que “equilíbrio das contas públicas é fundamental” ou coisa que o valha.

No mau e velho estilo Lula, ele erra trementamente o foco ao dizer que não presta conta a “ricaço”. Isso é música pros ouvidos de sua claque, mas não é a verdade. O fato é que por “ricaço”, leia-se, em sua maioria, uma miríade de pequenos e médios investidores, que escolheram o mercado de capital e financeiro para tentar manter suas economias de vidas inteiras à salvo de inflação e com poder de compra para uma velhice razoável (já que viver de INSS não é exatamente uma alternativa boa hoje, e no futuro, nem sabemos se será uma alternativa).

Às Favas?

O fato é que há, em minha opinião, uma grande chance de que o executivo atual, com suas manchas mal lavadas, não tenha a força de resistir às correntes que querem mandar, sim, o “mercado” às favas, e gerir o país fora da normalidade econômica – pouca ou muita – que temos hoje.

Há o caminho de Nicarágua e Venezuela, países com baixa ou nenhuma diversificação econômica e mercados financeiros que mesmo antes dos eventos ditatoriais já não eram relevantes. Esse caminho valeu-se, em ambos os casos, do rompimento da normalidade institucional. Mandou às favas, de forma direta, o mercado, assumindo o papel que aos mais radicais da esquerda, competiria ao estado (nem a poderosa China pensa assim, mas eles sim).

Há o caminho da Argentina, que, com economia mais diversificada e padrão de vida médio mais alto (renda per capital superior à nossa), uma dificuldade maior de impor uma ditadura “bolivariana”. A Argentina deu mostras, por duas vezes, na transição de Kirchner para Macri, e agora, de Fernandes para Milei, de que a despeito das diferenças de approach econômico, não houve total ruptura institucional, principalmente no judiciário, relativamente independente, e uma imprensa menos dócil.

O Brasil tem aspectos que beiram à dupla nada dinâmica – Venezuela / Nicarágua, principalmente quanto ao aparelhamento do judiciário e controle da mídia; possui, porém características argentinas, de uma economia ainda mais diversa, e com intercâmbios mundiais mais importantes (principalmente no Agribusiness, que Lula teima em demonizar, com apoio e aplausos de França, e até partes dos EUA e Canadá).

Quanto à qualidade do executivo, a despeito de seus muitos, e não reconhecidos, defeitos, montou uma equipe de ministros “meno male”. Até o momento isenta de grandes ortodoxias, e com o Banco Central, por enquanto, nas mãos competentes de Campos Neto, não deu tempo, nem teve condições políticas, de zoar a coisa toda. Está tentando, na minha opinião, mas a linha entre dar ouvidos ao “mercado” e aos radicais domésticos é tênue e, uma vez rompida, de difícil retorno à sanidade.

Os Limites: Temporal e Econômico

Até o momento, Lula ainda consegue reconhecer o limite, e, de certa forma, manter-se aquém da tragédia. A possível ascenção de Garópolo ao Bacen pode sinalizar outro “meno male” importante, mas até aqui ainda temos uma incógnita. Em evento recente no BTG, um palestrante diz que conhece Garópolo e que ele é um adepto do equilíbrio financeiro e realismo de juros e câmbio. Se terá valor ou espaço para manter sanidade no Bacen é outra conversa, mas é melhor do que Mercadante ou Mantega. Ideal seria manter o Campos Neto lá, mas isso, Lula interesse suficiente em fazer. Não conseguirá reconhecer a necessidade.

As palavras de Lula fazem cada vez menos sentido, tomadas no geral. Estão, na minha opinião, sendo cada vez mais ditas a públicos cativos, e nem podemos cravar que sabemos o que realmente informam ou não. Não esperaríamos Lula dizer que sim, respeita e valoriza a palavra de “ricaços”, ainda que saiba que eles dão parte dos empregos e do capital de investimento do país. Não seria tolo suficiente de excluir uma fatia importante do seu eleitorado, ao se declarar franco favorável ao Agro. Não seria corajoso o suficiente para deixar de fora da Petrobrás figuras que detém o “caminho das pedras” daquela mina de ouro.

A encruzilhada se aproxima, sob o apelido de Janeiro de 2025. Vejamos se manteremos um mínimo de racionalidade econômica.

Medo Social

Este é mais um daqueles meus posts que cumprirá um papel de me lembrar no futuro, de minhas conclusões sobre problemas do presente. E as conclusões estão um tanto longe do fato, tragédia, em si.

Assim como lá perto da minha terra, em Nova Friburgo, RJ, que em 2012 presenciou um “massacre” ambiental que levou a vida de mais de mil pessoas, por conta de chuvas tão avassaladoras que deixaram os meteorologistas de boca aberta, vimos esta semana o Rio Grande do Sul ser assolado por um fenômeno raro, e mais raro ainda deveria ser: uma queda de água sem precedentes, causada por um fenômeno que juntou uma massa úmida da floresta amazônica com um ar frio vindo da Argentina, como acontece todo outono. Como resultado, Porto Alegre ficou embaixo d`água, dezenas de mortos, milhares de desabrigados, gente sem água potável nem comida.

É uma tragédia. Mas para mim, não foi a tragédia de mais longo prazo. O Brasileiro, como sói acontecer, “caiu dentro”, apoiando, ajudando, fazendo doações, fretando aviões, levando água, comida, roupas e tudo o mais que a sociedade pode e deve dar nesses momentos em que nossos irmãos passam necessidade. Lindo de se ver, e independente de governos e autoridades. Mais rápido, voluntário, e certamente custando uma fração do que as “otoridades” conseguem fazer.

Medo

O depois está sendo mais doído e mais difícil de entender, mas posso concluir que deriva de uma parte da população que tem sido alimentada em um sentimento de direitos adquiridos indevido, e de certa forma, em detrimento da população em geral.

  • Grêmio – O clube de futebol abre as portas de seu lindo estádio para abrigar refugiados, apoia com água, comida, recebe as doações, faz o que é seu “dever cívico” (sim) mas com grande senso de dever social. O resultado é que parte, “aquela” parte da população cujo bem estar está acima de qualquer sentimento, invade as lojas do clube, quebra e rouba as vending machines, destrói cadeiras… talvez sejam torcedores do Inter, e achem isso “legal”. Mas é mais do que isso… certamente mais.
  • Saques – De novo, os “oprimidos” saem às ruas, enquanto a população se preocupa em salvar o que pode, para quebrar portas de lojas e mercados, e roubar. Comida? Pode ser também, mas as notícias dão conta de saques mais “seletivos”, de TVs, notebooks, e otras cositas más.
  • Assaltos – Uma organização cristã estava arregimentando gente pra ir apoiar no socorro a Porto Alegre. São homens, em sua maioria, e que fazem um treinamento intenso de sobrevivência, junto com uma jornada bacana pela fé em Cristo. Foram tomados de surpresa quando a liderança anunciou para “ir somente quem tem porte de arma” devido ao nível de bandidos à solta, cometendo crimes contra uma população já fragilizada.

Tá bom pra você? Ou acha sensacionalismo?

Repressão

A palavra acima suscita arrepios em correntes mais “libertárias” e “wokes” da sociedade, aqui e mundo afora. Reprimir, afinal, é o que dizem que a sociedade fez ao longo de séculos, criando um odiado patriarcado, e uma sociedade em que “é bom proibir”. Até que o “É proibido proibir” tomou conta da vida de todos nós.

  • Família – O pilar central da sociedade foi perdendo aos poucos o direito de educar, e dar uma boa palmada no traseiro de um filho rebelde. Claro, os exemplos de espancamentos são usados contra os pais que só querem, por amor aos filhos, faze-los sofrer menos no futuro. O resultado é uma família em que os filhos mandam (e mamam) nos pais. Os pais mandam então os filhos para o ponto seguinte do processo de “repressão” (segundo os wokes) sem um mínimo de respeito pelo outro, de respeito por si mesmos, e disciplina zero.
  • Escola – A escola então recebe um aluno que já tende a desrespeitar tudo e todos. Até um passado recente, a escola tentava tapar a lacuna de famílias desestruturadas e dar um pouco de disciplina e educação (no sentido não acadêmico) – falhar em provas, repetir de ano, ser levado ao “gabinete” do diretor, eram formas de tentar, ao menos, dar um mínimo de senso de convívio social. Não mais. Escolas se tornaram polos progressistas de transformação do que já vinha ruim, acabava por piorar
  • Governo – Todo governo, qualquer governo, que toma uma medida, meia boca que seja, no sentido de dotar a sociedade de meios de controle, é taxada de fascista, e ditatorial. O ex-ministro da justiça Sérgio Moro, em que pese sua burrice política extrema ao comprar briga com o chefe do executivo (convenhamos, não era também nenhum gênio), desfez um trabalho extremamente útil à sociedade, que foi o de acabar com uns tais “diálogos cabulosos” com a marginalidade. Por ego, talvez, colocou a perder o que teria sido seu maior legado: uma sociedade com menos poderes na mão de bandidos.

De novo – posso ser taxado de extrema direita pelas opiniões acima? Estou errado? Pode ser. Sempre estou disposto a admitir, desde que com boas razões. Não creio – neste momento de crise, pelo menos – que eu possa me sentir assim.

Legado

O resultado está diante de nós, na forma de uma sociedade cuja pior parte está armada, e pronta para cometer crimes contra uma maioria que só quer comer, dormir, trabalhar, procriar e fazer uma ou outra festa, quando der. Uma maioria esmagadora de gente que não está disposta a abrir mão de sua tranquilidade em troca de sensações de bem estar pessoal (leia-se, justiça própria).

Joaosinho Trinta dizia com propriedade que

pobre gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual“.

Joãosinho Trinta, carnavalesco

Sabedoria vindo de onde menos se esperava, sob forma de um aforismo que, creio, todos deveriam ler corretamente: pobre gosta de luxo, de estar bem, de ter coisas boas; intelectual adora a miséria – alheia, e luta para ter uma plêiade de miseráveis a quem pastorear.

O resultado é uma sociedade dominada por minorias: de corruptos, de bandidos, de intelectuais pró-miséria, de artistas woke ganhando suas benesses à lá Rouanet, todos, sem exceção, apontando o dedo para o “pequeno burguês”, o “capitalistazinho selvagem” cuja principal preocupação é trabalhar duro e não perder, seja para ladrão, seja para inflação, o que consegue juntar ao longo da vida.

Como sempre, este post é dirigido a mim mesmo, mas compartilho com quem quiser ler. Depois de uma temporada de balanços patrimoniais, me volto a escrever um tantinho. Deprimido de tanto ver erro e mal feito, e esperando nada ansiosamente o momento em que serei “descoberto e cancelado” porque, secretamente ou nem tanto, gostaria mesmo é que todo mundo fosse paupérrimo – exceto a si mesmos.

Deus nos acuda!

Da República Romana a El Salvador

Um livro comprido, meio chato, mas de fundo histórico inegável (“Patrician of Rome”) li sobre o cerco de Roma pelos bárbaros Volsci, ainda no nascedouro da República Romana, por volta de 384 aC. e a sua defesa heróica pelo patrício (nobre) Senador Marcus Manlius “Capitolinus”. O nome “Capitolinus” foi, inclusive, uma honraria garantida pelo Senado romano ao defensor justamente do Monte Capitolino, onde ficavam os órgãos do governo da Roma republicana, a Curia (Senado), os templos, as cortes de justiça etc.

Menos de 4 anos depois, esse mesmo Senador Manlius Capitolinus era lançado de cima da Rocha Tarpeia, local de execução reservado aos criminosos mais terríveis, e traidores da pátria. A razão era simples: considerado o primeiro “populista” por Suetônio, o historiador romano da antiguidade, Capitolinus havia se aliado à “plebe” na restituição de seus direitos básicos, retirados durante os duros anos pós destruição de Roma pelos Volsci. A plebe havia se endividado junto aos usurários da cidade e seus senadores mais ricos, e haviam sido ajudados por Capitolinus a sair das dívidas, com a venda, inclusive de seu patrimônio pessoal.

Os moradores dos “Mons” (montes ou colinas romanas) eram os patrícios. A plebe morava na planície entre os montes. Quem visita Roma conhece bem essa geografia linda. Os patrícios (não todos, uma minoria, na verdade) eram muito ciosos de seus “direitos” sobre a plebe, e a extorquia, pela via da usura, dos altos preços do trigo e outros alimentos. Um par de Consules (sempre eram dois, eleitos a cada ano) passavam legislações que lhes beneficiava muito. Se uniram a gangues de regiões mais obscuras da cidade, como a Subura (que voltou às telas recentemente numa série de TV), e deixavam que essas aterrorizassem a população, exceto os ativos e negócios dos senadores. A cobrança de tributos passou a ser de tal forma desigual, que, somada à insegurança e à falta de incentivo para trabalhar e empreender, gerou uma revolta da plebe.

Olhando de fora, parece algo bem similar ao que ocorre hoje em vários países do mundo. Elites “senatoriais” se unem a bandos armados de foras-da-lei, deixando-os aterrorizar uma população desarmada (sim, era proibido portar armas na Roma antiga). O resultado foi um “El Salvador” da antiguidade – acabaram por eleger um “Ditador” (por ironia, via Senado). O velho general e senador Marcus Camilus, chamado “o segundo fundador de Roma”, pela derrota pós invasão dos Volsci pelas legiões sob seu comando. O general acabou por resolver dois problemas – acabou com a revolta da plebe, que de fato nunca aconteceu exceto verbalmente (como certos eventos recentes no Brasil) e acalmou os ânimos do Senado, colocando lá nomes melhores. A história, bastante difícil de precisar, devido à falta de dados históricos de qualidade, dá aos dois nomes posições de destaque. Os senadores opressores, de nomes Lucius Valerius Potitus Poplicola e Marcus Furius Camillus, passaram à história como o lado negro da força.

Em tempos de crise, tanto na Roma antiga como na Grécia Clássica, tempos difíceis ensejavam a escolha de um “Ditador” para conduzir o país sem ter que prestar contas a milhares de burocratas. Era um imperativo do momento de crise. Como bem definido por Maslow, e hoje, claramente, descrito pelo articulista Luciano Trigo no seu texto O exemplo de El Salvador (https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/luciano-trigo/o-exemplo-de-el-salvador/), o povo salvadorenho fez uma opção daquelas que não há justificativa moral para recriminar: entre viver e morrer, é preferível viver, afastando momentaneamente todas as considerações de caráter menos imediatas, como comer, obter auto-realização, entre outras. El Salvador acaba de retomar essa mesma atitude, reelegendo o estranho Bukele com 85% dos votos, para raiva e desespero de uma mídia que, não se entende bem por que, exalta mais a criminalidade do que seu combate.

As semelhanças dos dois locais, separados por 2,5 mil anos de história e uns 10 mil Km de distância são marcantes. Bukele é, para todos os efeitos, um ditador, escolhido por uma população amedrontada, para por fim a um reinado de terror imposto pelo narcotráfico desde 1987. Pode-se não gostar, mas é bastante revelador do momento que vários países da América Latina vivem. Pergunte a qualquer carioca de classe média ou média baixa, ou mesmo muitos de classe média alta ou alta, se não concordariam com mais segurança, mesmo que isso significasse mais presídios e mais condenações, menos saidinhas de fim de ano e outras benesses, e verão que a lógica é a mesma.

Bukele encarna um ditador que traz soluções aos males imediatos. E com a queda do número de homicídios de 100 para 7, por cada cem mil habitantes, é reveladora do nível de eficiência alcançado. Bukele chama alguns governantes da região de “amigos de bandidos”, e tem razão. Temos amigos de bandidos em muitos locais. Os senadores romanos eram amigos de bandidos, já em 384 a.C. Poderosos sempre tenderão a se aliar a bandidos, se isso os beneficiar. Para alguns tipos de pessoas, aparentemente não há nunca dinheiro suficiente, ou poder suficiente. Mais é sempre mais, e sempre justificará quase qualquer atitude, por mais errada que seja.

Tivemos nosso momento “ditatorial” segundo alguns, na pessoa do ex-presidente Bolsonaro. Não me parece que foi minimente hábil como para se reeleger. Cometeu quase todos os erros da cartilha política, e cedeu, em momentos cruciais, ao establishment, como aliás, fez Macri, ex-presidente da Argentina, o qual, igualmente, pagou com a derrota na tentativa de se reeleger.

De ditador, pouco tinha. Mas assim ficou marcado pela narrativa que ora atribui a ele até mesmo o desastre de Chernobil, ou a Covid-19. Esperamos o nosso “ditador”? Eu preferiria que o bom senso e o equilíbrio entre poderes seja retomado no país, e que independentemente de ideologias, a paz e a segurança sejam restabelecidas, assim como uma justiça minimamente sã. Difícil acreditar nisso a curto prazo.

Vivamos com a esperança de que um ditador não seja necessário, e que momentos que levam a uma ditadura não sejam vividos. São coisas tristes demais para serem sequer cogitadas, mas às vezes inescapáveis.

Proibir Criptos?

Duas opiniões divergentes, uma de um “banqueirão” mundial, outra do presidente do nosso Banco Central, vão em posições diametralmente opostas.

Em sabatina no Senado dos EUA, o CEO do J. P. Morgan, Jamie Dimon, disse que “se ele fosse o governo, acabaria com as criptomoedas (https://www.infomoney.com.br/onde-investir/se-eu-fosse-o-governo-acabaria-com-as-criptomoedas-diz-ceo-do-jpmorgan/).

Já Roberto Campos Neto vai na direção contrária, e diz que “Acho que melhor do que expelir e tentar proibir é tentar entender e trazer para perto do mundo financeiro” (https://www.infomoney.com.br/onde-investir/proibir-criptomoedas-no-mercado-financeiro-nao-e-a-melhor-solucao-diz-campos-neto/).

Quem tem razão? Ou melhor, que objetivos têm cada um desses caras? Algumas coisas vêm à mente. Tudo tem prós e contras, e vou listar os meus, porque francamente fico dividido por conta de diversas particularidades desses ativos, suas maravilhas e seu potencial incrível para oprimir o cidadão.

Reserva de Valor

Criptomoedas são uma espécie de “metal precioso” intangível. Ouro, platina, prata (em menor extensão) sempre foram considerados reserva de valor, ainda que não tenham, nem de longe, a aplicabilidade prática do ferro/aço, alumínio ou cobre. São reserva de valor por duas razões: raridade e durabilidade.

Neste sentido, as Criptos cumprem este papel. São relativamente raras (sua mineração é complexa, implica provar as chamadas “Provas de Trabalho” (PoW ou Proof of Work), e, como na mineração comum, se alguém “acha” o “metal”, se beneficia dele. É a recriação da corrida do ouro em escala digital. Além disso, a tecnologia blockchain faz delas algo relativamente “blindado”. Melhor do que o ouro, que pode ser roubado, o sistema descentralizado e quase à prova de bala do Blockchain faz com que esse “ouro digital” seja seu próprio Fort Knox.

Uso em Trocas

Os Maias, na América Central, possuíam um montão de ouro, mas nem por isso fizeram dele uma “moeda” ou meio de trocas. Assim, eram pouco mais do que uma coisa bonita pra adornar o pescoço, de valor menor do que muitos outros bens cambiáveis. Os espanhóis entraram e pegaram o ouro, o que não me consta ter sido agressivamente contestado pelos mesoamericanos. O pau quebrou lá por outras razões, como terras e poder. Não pelo ouro.

Os espanhóis tinham para o ouro uma função. Os criptoativos foram criados de olho justamente nesta função – de ter um ativo usado em trocas comerciais com segurança, durabilidade e valor.

Abuso em Trocas

Como tudo o que é raro e caro no mundo, não custou para que sofisticados esquemas fossem criados para fazer com que os incautos comprassem sonhos lastreados em Criptomoedas, apenas para ver sua grana evaporar na mão dos “Ponzi Schemers” do mundo.

Ora, os esquemas Ponzi, ou pirâmides, já existiam antes da existência mesma de computadores. Assim, a afirmação do CEO do J.P. Morgan, de que os tais esquemas são razão suficiente para atacar a existência mesma desses ativos me parece lúdica, pra dizer o mínimo.

Porto Seguro para Crimonosos

A deputada democrata, Elizabeth Warren, fala com certa propriedade que “Os terroristas de hoje têm uma nova maneira de contornar a Lei de Sigilo Bancário: criptomoedas”. Nós podemos ter uma noção relativamente realista de que traficantes de tóxico de armas e políticos corruptos do mundo inteiro devem fazer uso desse meio para ocultar seu patrimônio e deixá-lo inalcançável às autoridades.

Obviamente que bandido não precisa de incentivo para “contornar sigilo bancário”. Bandido faz até submarino pra traficar tóxico, corrompe com toneladas de dinheiro alguns governos, tornando-os passíveis de diálogos cabulosos e amistosos. Bandido é bandido, qualquer seja a posição que ocupe.

Assim, não podemos ter ilusão de que: a)a inexistência das criptos implique em resolver o problema da ocultação de bens; b)a proibição de criptoativos vá acabar com os mesmos, nem com sua utilidade ou uso. Tornar a platina ilegal, e só o ouro legal, mal comparando, não vai fazer com que o bandido jogue seu estoque de platina fora.

Medo Verdadeiro

Como conclusão, aí vai meu verdadeiro medo: o controle seletivo de cidadãos e suas atividades pelo uso de Criptomoedas E MOEDAS FIDUCIÁRIAS DIGITAIS, como é o caso do DREX, recém lançado pelo Banco Central. No fundo, tenho menos medo das Criptomoedas do que das Moedas Digitais como o DREX.

Corremos o risco de ver, num futuro próximo, alguns cidadãos, como dissidentes de alguns países não-democráticos, ou mesmo em pseudo-democracias, serem limitados em seus direitos por conta do fato de que cada “DREX” em sua carteira é de conhecimento dos donos do poder, e suas atividades sejam rigorosamente vigiadas e coibidas, sem autorização judicial. Ou melhor, sem autorização de um judiciário decente e democrático, ciente de seu papel numa democracia.

Meu medo, como Cristão, é ver nossa liberdade de emitir nossas opiniões ser cerceada de forma transversal e velada pelos donos do poder, sem que isso possa ser diretamente atribuído a eles. Com muita facilidade nós brasileiros passamos a usar dinheiro digital, em relação a países mais desenvolvidos. Recentemente na Alemanha e nos EUA, me dei conta do uso pesado que eles ainda fazem de dinheiro de papel. Pode ser conservadorismo, mas acho que há um resquício de medo “de fundo” em entregar a totalidade de suas transações econômicas ao controle ou interferência de governos.

A agenda de cada um

Campos Neto tem sua agenda, como executor de políticas monetárias de um país de tamanho razoável. Jamie Dimon tem sua agenda, como alguém que tem muito a perder com a possível desintermediação bancária que as criptos têm gerado, e que as moedas fiduciárias digitais certamente aumentarão.

Ficar de olho nas motivações é bastante importante, e não acho que eles devessem se comportar de forma diferente, pois têm mandatos claros de seus “patrões” e como bons profissionais, precisam levá-los a cabo da melhor forma possível (meu artigo de ontem sobre Kissinger pode colocar este diplomata sob ótica parecida).

No que crer? Num mundo ideal, sejam criptomoedas ou moedas fiduciárias digitais seriam um incrível facilitador da vida comum. Num mundo que vem sendo mais e mais liderado por bandidos, o medo pode ser real.

Kissinger

Henry Kissinger morreu, e logo surgiram os artigos contra e a favor do seu legado. No conservador Gazeta do Povo um Op-ed de Filipe Figueiredo tasca o pau no legado de Kissinger (https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/filipe-figueiredo/o-legado-maldito-de-henry-kissinger-e-de-sua-lupa-de-ver-o-mundo/) por conta dos aspectos “manipuladores” e quase demoníacos do diplomata.

Já Niall Ferguson, seu biógrafo, o enche de elogios, pelo conjunto de sua obra (https://www.bloomberg.com/opinion/articles/2023-11-30/henry-kissinger-was-a-complex-man-for-a-complex-century).

Nada mais convincente do que uma opinião simples, direta, e profundamente afetada por interesses (Niall) ou fundamentos ideológicos (Filipe). Nasci e vivi ouvindo desde muito jovem o Repórter Esso, e depois o Jornal Nacional, entre outros, falarem de “o Secretário de Estado americano, Henry Kissingeeer”… com aquela voz de Heron Domingues empostada e bacana. Era a Guerra Fria, o Vietnam e a revolução cultural pela qual passamos, e na qual perdemos a santidade e a sanidade.

Kisssinger, contudo, não foi um “gênio do mal” ou um santo bem intencionado. Não há tal simplicidade em sua conduta, e o que o guiou, como guia toda diplomacia mundial decente (com seus eventuais Anões Diplomáticos, como é o nosso caso) na minha opinião, foi um pragmatismo que, ao fim e ao cabo, nos rendeu entre outras coisas, a queda do Muro de Berlim (de novo, minha opinião de leitor ávido mas não tão espero assim).

Kissinger foi sobretudo o cara mais inteligente da sala em quase qualquer sala que tenha frequentado. Era difícil acompanhá-lo em sua montagem de castelos de carta intelectuais que o levariam ao resultado pretendido pelo presidente da vez, e, principalmente, o interesse dos EUA.

Lendo um livro agora que relembra a invasão de Copenhagen pelos ingleses, no início do Século XIX, para capturar navios de guerra muito necessários para o Bloqueio Continental, contra as tropas de Napoleão, vejo um paralelo interessante: a colocação do interesse nacional sobre aquele de uma nação que, se não era aliada, não era inimiga. Entraram, roubaram os navios e foram embora. Por medo da França fazê-lo? Provavelmente. Mas muito mais porque eram necessários e eles ao fim e ao cabo PODIAM fazê-lo sem medo de retaliações. É um pragmatismo conhecido, e que levou a outras atrocidades (segundo alguns) como a “colonização” da Índia e sua entrega à Companhia das Índias Orientais, que a explorava e mandava parte pra His Britannical Majesty. Outros dizem que no fundo nem Índia existia, e que os ingleses entraram, juntaram tudo e “legaram ao mundo” o país que hoje conhecemos. A verdade está um tanto dos dois lados.

Kissinger foi pragmático, e ponto final. Ele não tinha muita saída em muitas das políticas que ajudou a traçar e implementou. Eram tempos bem mais bicudos, em termos de balanço de poder mundial – bom, estamos voltando a tempos igualmente ruins, creio. Ele fez o que achava – não sozinho, obviamente, mas junto com o Think Tank existente dentro de qualquer corpo diplomático. Identificaram a China como sendo objeto de uma “ameaça lateral” de natureza parecida com a da então URSS e trataram de implementar um plano que acabou dando errado: abrir o comércio do Ocidente (carreada pelos EUA) à China, na presunção de que a riqueza, a afluência de seu povo, faria com que o comunismo acabasse por acabar, como ocorreu na Europa Ocidental no início da Revolução Industrial, pelo simples fato de que o trabalhador estava ficando mais rico, não menos, a despeito das acusações (muitas delas corretas) de trabalho análogo à escravidão, etc.

Eu ia cair naquele jargão de sociólogo e historiador: “Kissinger foi um produto do seu tempo”. Mas todo mundo que pensa um pouco sabe que qualquer ser humano, no fundo, o é. Kissinger for mais do que isso. Sua personalidade complexa e controversa, aliado a seu jeitão bonachão e sua afabilidade faziam dele um político como poucos. Um Lula, digamos assim, com a mentira mas sem as contradições.

A lição que aprendo com Kissinger e seu legado é: O interesse nacional egoísta acaba sendo menos prejudicial ao mundo do que um internacionalismo artificial supostamente benévolo, assim como o espírito interesseiro e egoísta do capitalismo acaba provendo melhores resultados do que um comunismo preguiçoso e simplista. No fundo, em ambos os casos, tanto o internacionalista quanto o comunista são o mesmo cara, e tem tudo, menos o interesse coletivo, no coração.

PS: Em tempo (e depois de comentários pela minha falta de amor cristão, ao patrocinar a visão que expressei acima) – Jesus Cristo nos disse para sermos “mansos como as pombas, e astutos como a serpente”. Ou seja, não mandou ninguém ser burro ou cego. Em outro lado, a Palavra diz “maldito o homem que confia no homem”. Em síntese, confiança é algo raro, difícil de manter e fácil de perder. Sei por experiência própria – pelos amigos que perdi, quase sempre por fazer algo que não sabia que achavam errado e ofensivo – quanto os que expeli, talvez por razões iguais. O fato é que quando TODOS cuidam se seus interesses e sua vida ao mesmo tempo, há um equilíbrio notável. O que não acontece, por exemplo, quando alguns portam armas e outros não. Meu amor pelo povo do meu país estará preservado quando eu defender o que é melhor para nós, sem ferir o outro propositalmente. No entanto, entre ferir e ser ferido, ferirei sempre.

Talentos, a Parábola

Ao andar pelos meus sites favoritos hoje na hora do almoço me deparei com este artigo. Como cristão, estranhei o teor totalmente cristão dentro de um site de economia liberar como o do Instituto Mises Brasil. Lá no meio do artigo o autor revela uma visão que vi pessoalmente nos EUA entre os meses de Outubro e Novembro do ano passado: milhares, literalmente, de ofertas de emprego em lanchonetes, restaurantes, transportadoras e outras, sem preenchimento.

Leia https://mises.org.br/artigos/1857/a-parabola-dos-talentos-a-biblia-os-empreendedores-e-a-moralidade-do-lucro

A razão é esta:

“Além de o governo proibir aqueles que aceitariam trabalhar por menos que o salário mínimo, ele também cria um incentivo perverso para se recorrer ao assistencialismo: ninguém aceitará um trabalho que pague pelo menos o mesmo que o seguro-desemprego.

Preocupado que estou com o rumo dessa prosa de emprego versus “vale isso”, “vale aquilo”, vejo que não estamos diante de um problema nacional, mas um que está tomando dimensões fantasticamente complexas para um mundo que, de um lado, vai vendo sua força de trabalho minguar, por envelhecimento da população, de um lado, e de outro, vendo as tecnologias tirar do ser humano a capacidade de reflexão mais profunda, sobre quase qualquer coisa.

Países tentam, cada um a seu jeito, ajudar o cidadão. Pelo menos é isso que vemos, com exceção dos suspeitos de hábito, cujo objetivo é tão somente torná-los mais dependentes de um estado-pai. Aceito perfeitamente a visão de um socialista honesto, intelectualmente, de que, na visão dele, o estado deve fazer um papel de proteção e extensão de uma rede social para que a sociedade não sofra. Entendo. Não concordo, mas entendo.

Também enxergo no capitalista intelectualmente honesto uma visão de que é o cidadão que deve se ajudar, primariamente, e que a sociedade, voluntariamente, deve se organizar em torno da criação da tal rede de proteção social. Vejo mais mérito nessa ideia, e no fato comprovado de que funciona melhor do que um estado-pai, inchado.

Mas ok, se o indivíduo for intelectualmente honesto, eu aceito discutir, argumentar, à exaustão. Isso não me cansa, mas me anima. O que cansa é ouvir ladainha, decoreba, de gente que não tem o valor (ou os neurônios) para argumentar, e, caso convencido, mudar de opinião. Ainda espero mudar de opinião caso convencido intelectualmente, e de forma livre, que um estado-pai é melhor para o cidadão do que um bom emprego ou liberdade de empreender.

Entendo o capitalismo como meu sistema nervoso periférico, que trabalha por mim 24 X 7, e produz resultados que eu não obteria se, conscientemente, tivesse que pensar em respirar, em tossir, em espirrar, em reagir ao quente ou ao frio, e todas as complexas operações que são feitas descentralizadamente por meus neurônios, deixando para meu sistema nervoso central, meu cérebro, as atividades mais nobres de refletir, tomar decisões e fazer acontecer. Um governo é eleito para pensar e fazer o melhor, deixando a sociedade agir dentro de um sem-fim de atividades descentralizadas que garantem o funcionamento do “corpo” (a nação) – água e esgoto, circulação, respiração, engolir e deglutir, são atividades que é melhor deixar pra periferia. Já estudar e decidir, pode ser feito centralizadamente, mas apenas para o “macro”.

Um governo não deveria ser maior do que uma cabeça, em relação ao corpo: uns 7 a 8% no máximo, e não os 34% que corresponde hoje ao naco que o governo leva da atividade total da nação. E olha que o cérebro usa 20% da energia, mesmo representando 7, 8% do volume total (aqui incluo a cabeça toda… o cérebro mesmo dá 2% do volume total).

Deus, o dono e criador do bom senso, não comete erros. Se fez um sistema nervoso que no total do corpo humano implica em 10% (vá lá) do total, é essa métrica que eu acho que seria correta para o bom funcionamento da “máquina”.

Mais do que isso: até 2 anos atrás em tinha mais de 130 Kg. Estava me matando de diabetes, pressão alta, etc. O corpo não aguentava levar tanto peso. Hoje tenho 87 Kg, e quero baixar ainda mais. Estou bem, feliz, animado e disposto. Peso demais, para a mesma estrutura, é causa de morte. É uma doença, uma inflamação. Com o estado, não é diferente. O estado está doente, e nós pagaremos o preço.

Oremos!

Independência ou Morte!

Dizem que Dom Pedro I não disse essa frase – “Laços fora… independência ou morte”, no Sete de Setembro, às margens do Riacho do Ipiranga. Tanto faz. É mais do que comum os progressistas quererem desfazer do passado de um país, tachando tudo de mito. Desde a dentatura de madeira de George Washington até a luta de João Paulo II contra o comunismo, nas mãos de certos historiadores tudo vira lenda.

Não importa. Parafraseando Monteiro Lobato, “Um país se faz com homens, livros e histórias inspiradoras”. É algo que inspira a todos nós, termos tido um país livre, com pouquíssimo sangue derramado. Uma nação fundada na paz, num território impressionantemente contíguo, com uma língua comum, costumes estranhamente parelhos, para tanta gente distinta que o formou, e paz, muita paz, ao longo de sua história, ainda que pontilhada por guerras aqui e acolá.

Tanto é assim, que o sombrio período militar, descrito como uma era negra, de prisões autoritárias e tortura, não contabiliza, na ponta do lápis, mais do que 400 vítimas – boa parte dela sabendo dos riscos que suas ações representavam. Uma vítima já seria muito, claro, principalmente se a vítima é você, mas cá entre nós, na estatística Staliniana, 400 pessoas é algo que nem conta.

Assim, nossa grande guerra foi a do Paraguai, na qual os feitos de Caxias, Tamandaré e outros são “descontruídos” pela historiografia oficial (deles), houve uma defesa territorial, apoiada pela Inglaterra, a grande potência da época. E daí? Todas as guerras de todos os tempos tiveram interesses difusos, de algum império, o que não tira delas a justiça – pelo menos de um dos lados, o do defensor. A França apoiou os EUA em sua guerra de independência contra a mesma Inglaterra, e ninguém chama a França de “imperialista”.

Mas voltando à efeméride em si, sou tremendamente grato a Deus por ser brasileiro, amo essa nação e tenho pelo minha bandeira um sentimento quase religioso. Sou cidadão dos céus, como a Bíblia me chama, o que não me tira o direito de amar meu país, e, por decorrência cristã, todos os outros, cada um à sua maneira, respeitando povos e culturas, ainda que não concordando com muita coisa. Há impérios, há soft power, hard power, tudo isso. Há dominações, há mutreta, há diplomacia inválida, há de tudo. Nada disso impede que eu seja apaixonado pelo meu país, a ponto de enxergar claramente o perigo que nos ronda, por meio de um internacionalismo pregado pela Internacional Socialista desde sempre.

O mote hoje é o desrespeito às nações. Já não se canta o hino do país sede na Champions League, mas um pavor orquestral e vocal que pra mim soa como “Lasanhaaaa… Lasanhaaaa... Lasaaaaaaanhaaaaa“, toda vez que ouço. Carregar uma bandeira nos ombros depois de uma medalha olímpica, ou de uma vitória na Copa, está se tornando “brega”.

Meu país é este aqui. Sete de Setembro de 1822, portanto há 201 anos, nos tornamos um país soberano, e há muito que comemorar. Se um país de 210 milhões de habitantes, com quase 9 milhões de Km de território soberano, um idioma, que alimenta mais de 1,1 bilhão de bocas diariamente, que produz quase tudo que precisa, que possui o território mais intocado pelo homem até o momento, um país que jamais iniciou qualquer ato bélico (nem unzinho sequer, como umas Malvinas, etc). Um país que criou uma doutrina de não intervenção na soberania dos outros, que é lindo por natureza, ou seja, se NÓS, a 7a. maior economia do mundo não temos o que comemorar, QUEM tem? Será os EUA, que “já chegaram lá” e são a maior nação do mundo? Será a China com sua voracidade de gafanhoto? Será a Rússia e seu czar e política briguenta? Será o Japão, que perde milhões de habitantes por ano, por estar “murchando”?

Meu país é minha copropriedade. Me sinto responsável por ele. Por isso eu quero bem a ele. Quero pagar impostos com justiça, mas pagá-los; quero as ruas limpas, e por isso guardo papel de bala no bolso; quero autoridades honestas, por isso nem penso em subornar guarda de trânsito pra evitar multa; quero preservar o meio ambiente, por isso não apoio iniciativas de desmatamento; quero um país rico, por isso não apoio que simplesmente se deixe a Amazônia sem exploração racional; quero um país educado, por isso dou minha quota de participação, escrevendo com um português minimamente aceitável; quero um país fraterno, por isso apoio os imigrantes que aqui chegam sem ter o mínimo para subsistir; e, por fim, quero um país Cristão, e por isso falo do amor de Jesus Cristo por cada pessoa. Mas mais do que tudo isso, entendo que sou voluntário nesse processo civilizatório. Não preciso nem quero sem empurrado para o bem. Quero fazê-lo porque no fundo me fará mais feliz.

Amo meu Brasil, a despeito do assalto às instituições que está sendo perpetrado debaixo do nosso nariz por gente que no fundo o odeia com todas as forças. Amo meu Brasil e por isso sou favorável a instituições fortes, democráticas e honestas. E é justamente por amar meu país que eu me sinto impelido a expor o que eu penso, e aceitar tudo o que venha de visões diferentes, com liberdade, sem censura, sem arbítrio.

Deus abençoe esse país imenso, lindo, pacífico e cristão!

Argentina e a Revolta de Atlas

Semana passada, em uma viagem ao Chile, um amigo querido me lembrou do livro da filósofa russa/americana Ayn Rand chamado A revolta de Atlas. Gosto mais do título em ingles, Atlas Shrugged (algo como “Atlas deu de ombros” – sabe aquele gesto de “tô nem aí”)… significa que o Gigante que carrega o mundo nas costas, o tal Atlas, acabou se chateando com tudo e “deu de ombros”… como o mundo está nos ombros dele, imagino que o mundo deve ter caído “no chão” e se espatifado em milhões de pedaços.

Hoje, lendo a epopeia argentina de autodestruição econômica, me lembrei do tal livro, que comecei a reler (havia lido há muuuuitos anos atrás). Dando de cara com manchete da Gazeta do Povo –https://www.infomoney.com.br/economia/pacote-argentino-preve-400-bi-de-pesos-para-linha-de-credito-alem-de-bonus-a-trabalhadores/ – não tive como conter a sensação de que os Atlas argentinos acabaram dando de ombros para o seu país.

Mas antes preciso fazer uma breve resenha do livro Atlas Shrugged para deixar todo mundo na mesma página. Para facilitar, e para ilustrar a todos como o ChatGPT é esperto, recorri a ele. Em vez de gastar alguns minutos fazendo minha própria resenha, passo a descrever o que um simples questionamento como “qual é a mensagem central do livro Atlas Shrugged” retornou, na tal IA:

Em resumo, “A Revolta de Atlas” é uma obra que promove o individualismo, o capitalismo, a razão e a criatividade enquanto critica o coletivismo, o altruísmo extremo e a opressão do governo. É uma obra polêmica que gerou discussões intensas ao longo dos anos e continua a influenciar debates políticos e filosóficos.

Chat GPT para dummies… (eu)

“A Revolta de Atlas” (Atlas Shrugged) é um romance filosófico escrito por Ayn Rand e publicado em 1957. A mensagem central do livro pode ser resumida em várias ideias interconectadas:

  1. Individualismo e Capitalismo: O livro promove fortemente o individualismo e o capitalismo laissez-faire como sistemas morais e econômicos superiores. Ele defende a ideia de que os indivíduos têm o direito de buscar seus próprios interesses e que isso é fundamental para o progresso da sociedade.
  2. A importância da mente criativa: “A Revolta de Atlas” celebra os criadores, inovadores e empreendedores como motores da economia e da civilização. Ele argumenta que a produtividade e a criação de valor são lideradas por indivíduos talentosos e criativos.
  3. A crítica ao coletivismo e ao altruísmo excessivo: O livro critica severamente sistemas políticos e econômicos que sacrificam os indivíduos em nome do coletivo. Ele argumenta que a busca do bem comum não deve ser feita à custa da liberdade individual.
  4. A defesa da razão e da lógica: “A Revolta de Atlas” valoriza a razão como a principal ferramenta do ser humano para entender o mundo e tomar decisões racionais. Ele critica a irracionalidade e o coletivismo que muitas vezes surgem quando a razão é negligenciada.
  5. A resistência à opressão do governo: O livro narra a história de indivíduos talentosos e produtivos que decidem “desaparecer” em resposta à crescente opressão do governo e às políticas de redistribuição de riqueza. Eles se recusam a ser explorados e fogem para criar uma sociedade própria.
  6. Ética da autossuficiência: Ayn Rand enfatiza a importância da autossuficiência e da independência individual. Ela argumenta que as pessoas devem buscar seus próprios objetivos e não depender excessivamente do Estado ou de outras instituições.

No livro, um grupo de intelectuais resolve fazer uma “greve” e negar à humanidade sua produção. Os tais “Homens que pensam” resolvem que vá todo mundo se lascar. Não querem viver nas costas de quem produz? Então comecem a produzir… e o pau quebrou. O legal é a definição dada a essa situação, frente à postura dos grevistas: governo centralizador e “paizão” é tão, mas tão ruim, que ele quebra a economia e acaba caindo por seus próprios deméritos. Tudo o que se tem que fazer é deixar que façam o que fazem melhor – bobagem.

O que tem isso a ver com a Argentina? Tudo. A Argentina é o exemplo mais perfeito e acabado de como uma série de governos semi-ditatoriais, ou abertamente ditatoriais, que privilegiam “o social” em detrimento do indivíduo e suas escolhas individuais podem fazer para acabar com um país maravilhoso, fértil e de gente educada. Nada me parece mais próximo da fábula de Ayn Rand do que o Brasil de hoje, a Argentina de hoje (e de sempre), a Bolívia de hoje, o México de AMLO, e o Chile… opa… o Chile nem tanto.

Vindo de uma palestra sobre o Chile na semana passada, dada pelo meu ilustre colega de Praxity, Ignacio Gepp, percebi que ali a “guinada à esquerda” acabou não sendo o que pareceu ser. Parece que lá, Sebastián Piñera, que havia saído da presidência com 8% de aprovação (ou seja, um Temer da vida) volta à cena como a terceira opção em um novo pleito presidencial. Além disso, a tal nova constituição que parecia muito com uma colcha de retalhos de ideários de esquerda foi rejeitada menos de 1 ano depois da eleição do atual presidente, Boric, por nada menos que 62% da população – lá, diferentemente daqui, a população tem que aprovar a nova Carta Magna no voto.

Uma nova constituição está sendo elaborada, por um congresso menos à esquerda, e parece que incorporará alguns temas caros à sinistra, mas com manutenção do bom senso econômico que tem caracterizado o Chile há décadas, e que o coloca como o maior PIB per capita da América Latina já há algum tempo.

Síntese do babado todo: não adianta correr. Pode dar a economia à esquerda à vontade. É questão de tempo até quebrarem tudo, e devolverem em frangalhos ao povo. “Ah… mas e a China”… bom, a China é um exemplo de aprendizado confucionista: melhor ficamos com o poder político mas deixemos a quem entende a iniciativa privada. Não que eu creia que isso vai durar. Acho que não. Assim que a China se sentir “dona do mundo” ela retornará ao ideário de dominação também econômica, além de política, e o caos sobrevirá.

Deus nos ajude e dê vontade de não querer fazer greve de ideias… vontade dá.