Mais leveza

Parece que quanto mais o povo se torna abobado, do ponto de vista da rigidez de propósitos e princípios, quanto mais “maria-vai-com-as-outras” é, quanto mais “snowflake”, mais ríspido e mais violento tende a se tornar.

As manifestações de quebra de estátuas, de “ódio contra o ódio”, os quebra-quebras aqui e lá fora, são feitas por gente que parece não ter muito apreço pelo trabalho, pela ética pessoal e coletiva, e aparentemente sem respeito ao outro, à opinião do outro, à vida mesma do outro. Incapaz de acordar cedo pra ganhar o próprio pão, ou manter-se longe de substâncias nocivas, incapaz de reconhecer o que os pais fizeram por eles, seguem dando lição de moral na humanidade, e quebrando vidraças.

O episódio da morte de uma pessoa negra por um policial branco mais uma vez acendeu uma torrente de manifestações que degeneraram em saques e violência. Algo muito parecido com uma briga de torcidas organizadas, de uma só torcida, contra o resto da população. Teve gente indo de arma em punho pra frente de casa para tentar evitar que seu patrimônio fosse depredado. Em muitos lugares o povo ainda não está trancafiado atrás de grades e muros altos, por medo.

Falta leveza, falta alegria simples de viver. Falta Bossa-Nova; sobre “canção de protesto” nesse mundo; falta jazz, sobra grito de guerra. Nos anos 60, os gênios da Bossa Nova foram chamados de “reacionários” o outras coisas, pelos “engajados” porque cantar sobre um banquinho e um violão, sobre um barquinho que vai e vem, era aparentemente uma espécie de pecado, já que importante mesmo era “caminhar e cantar e seguir a canção”. Era outro momento, claro, mas o que vivemos hoje pede menos gritos de guerra e mais “Desafinados”. Já estamos vivendo uma espécie de Sete Pragas do Egito dos tempos modernos. Reputações são jogadas na lama a troco de nada, os poderes se engalfinham para tentar ganhar supremacia sobre os outros, os gastos suados e sofridos do brasileiro são aportados para nos salvar de uma pandemia, somente para serem surrupiados pelos “de sempre”, debaixo dos nossos narizes coletivos.

Enfim, uma tristeza. Falta leveza, falta inspiração. No final, acho que o versinho do banquinho e do violão poderia ser assim:

“Se você quiser que eu desanime, amor / Saiba que um dia vai passar o horror / Desprivilegiados não melhoram sem você / Eu ajudo sem o governo me dizer

Se você insiste em desanimar / Saiba que a dor um dia vai passar / E os áulicos da peste vão enfim calar / Pois bom é a Boa Nova, o bom mesmo é se alegrar…”

La nave va…

5 comentários em “Mais leveza”

  1. Excelente a sua “música”, o seu texto.
    Só tenho dúvidas sobre o quebra-quebra e semelhanças… Ou melhor, sobre os motivos…
    Acho que poderia acrescentar mais um pedacinho no seu sambinha de várias notas…
    Olha só se não cabia?
    “Se você quiser que eu explique, amor / Saiba que o quero mesmo é dor/
    Motivos são motivos para quem quer saber…
    Meu motivo é, sinceramente…, que sou pago para atrapalhar…
    depois, Ponto final”
    …. Aplausos, muitos aplausos para a galera ensandecida que não sabe o que aplaude… Nem o que critica… Rs

  2. Salve. Grande texto! Leveza é tudo. Música boa, um banquinho, um violão, muito amor em uma canção pra fazer feliz a quem se ama. O poder da música é glorioso. Por isso o uso dela para manobrar as massas. O gado gosta de boa música, as plantas gostam de boa música, gerações foram marcadas por músicas, os anjos cantaram glória quando Jesus nasceu. Mas o povo ainda não entendeu.

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