A Guerra Comercial de 2025

Estou ouvindo e lendo de tudo. Desde que os EUA estão fazendo certo, até que a China está forte até tudo ao contrário disso. Estou lendo barbaridades, que, normalmente, são jogadas travestidas de opinião independente… a famosa agenda oculta no bolso do colete.

EUA fortes

Líderes do mundo livre, capitalistas e com grande IDH, os EUA são uma espécie de “polícia” do mundo, reconheça-se ou não, e gastam mais com suas segurança do que quase todos os outros países do mundo juntos. Só na OTAN são responsáveis por até 30% do orçamento. Na ONU, as forças de paz consomem 22% de grana americana, sobre o orçamento total da entidade.

(Fonte One AI, sobre dados da OTAN de 2024)

Esses dados dão a medida em que um país que representa 4% da população mundial acaba arcando com algo entre 20% e 25% de tudo o que o mundo gasta em defesa e missões de paz. Isso sem contar o aspecto de vidas, que não se sabe medir.

Meu saudoso pai dizia que “quem dá o pão, dá o ensino”. Ora, chamar os EUA de imperialistas é fácil. Difícil é fazer o que eles fazem. E aqui não vai nenhuma consideração sobre a qualidade desse imperialismo. Cubanos diriam “terrível”, países desenvolvidos diriam “necessário”. Eu diria “importante”.

Tudo isso se traduz para dentro da Guerra Comercial, iniciada agora por Trump. Para começo de conversa, quero deixar bem claro que como amante da Escola Econômica Austríaca, DETESTO qualquer tipo de protecionismo, e acho que Trump está absolutamente ERRADO nessa iniciativa.

Mas posso cá comigo entender por que… J.D Vance disse bem, numa entrevista recente à Heritage Foundation, que não é correto os EUA “bancarem” o faturamento do chinês médio, pagando com dívida que o próprio governo desse chinês médio compra e estoca. Verdade? Sim. Os EUA, com isso, comprometem todo o futuro das gerações vindouras com um déficit que se torna cada dia mais difícil de pagar, ou de manter em uma relação saudável com o PIB.

Exceto que J.D. esquece de dizer uma coisinha: não é de “trade balance” (balança comercial) que se trata o futuro do déficit de um país, mas de toda a corrente de comércio E serviços. E aí está a coisa: como maior emissor de patentes do mundo, cobra a maior parte dos royalties e serviços “intangíveis”, o que em muito ajuda a equilibrar o endividamento de lá.

(Fonte One AI Pro. Dados podem mudar segundo a fonte pesquisada)

No final das contas, os EUA tiveram uma boa melhora entre 2022 e 2023, no que tange a Balanço geral de pagamentos. Mas o fato mais relevante pode ser visto na exposição que o conta correntes sobre o déficit público americano é relevante. Em 2023, metade do déficit público (em valor, nào estoque) pode ser representado por saldo negativo de conta corrente com o restante do mundo.

Dá para entender a visão (no meu ver, “em túnel”) de Trump sobre a importância de reduzir o déficit comercial. Pode, e quase certamente vai, ser um tiro no pé.

Tiro no Pé?

Não sei se Trump considera que seus movimentos de agora, vistos como pré-Armagedom por meio mundo, serão levados à ferro e fogo até o fim. Ele precisa mandar uma mensagem ao mundo:

“Não vamos aceitar menos do que reciprocidade de tarifas, com país algum”

(Um suposto Donald Trump, da minha imaginação)

Se vai às últimas consequências, não sabemos.

Minha sensação é que, após esse freio de arrumação (como diríamos nós cariocas), Trump começará a refazer o sistema, considerando as especificidades e necessidades dos EUA. Não é possível criar uma taxação maiúscula, de (sei lá) 34% sobre Madagascar, que basicamente só exporta baunilha (a melhor do mundo) sem pensar bem e voltar atrás ali na frente. Seria maldade pura e simples.

Em alguns casos, as ditas reciprocidades já embutem algumas pílulas de açúcar, como a exceção de chips de computador de Taiwan. Agora, em abril de 2025, os Estados Unidos impuseram uma tarifa de 32% sobre produtos importados de Taiwan. Mas isso expressamente exclui semicondutores (vide reuters.com). Os EUA não são tão bobos de jogar Taiwan no colo da China de vez… Daí, em resposta, o presidente de Taiwan, Lai Chingte, propôs um regime de zero tarifas com os Estados Unidos. Em contrapartida pede o aumento de investimentos no país, sob desculpa de “fortalecer os laços econômicos e mitigar os impactos das novas tarifas” (de novo, reuters.com).

Como ninguém é bobo, com exceção dos que querem fazer xixi nos cantos do terreiro, pra marcar território, o que o o caso da China (que não pode deixar de fazer isso, sob pena de perder o discurso) e o Brasil (por burrice ideológica mesmo), o mundo vai, rapidamente, se ajustar, e ESPERO (Deus ajude!) que o resultado tanto para a economia americana, quanto global, acabe sendo grandemente mitigado, e até positivo, em última instância.

A nenhum ocidental, com exceção dos ideólogos de esquerda, interessa uns EUA frágeis. Isso exporia demais todo o ocidente às ameaças dos CRINK (China, Rússia, Irã e Corea do Norte). E olha que não são poucas as ameaças representadas por eles, sob Putin, Xi, O Turbantão e o Cabelito.

É só Wishful Thinking mesmo…

E no final, tudo o acima é minha forma de oração. Que Deus me ajude que escrevi algo que será lembrado no futuro como correto. O bom senso costuma vencer, exceto em casos em que “pequenos bigodes ridículos” (Hitler) ou “grandes bigodes mais ridículos ainda” (Stalin), prevalecem. Foi assim na crise dos mísseis de 1962, quando Kennedy e Kruschev acabaram recuando e mantendo a paz.

Tenho mais é que desejar o melhor, já que, francamente, minha confiança na sanidade mental da dupla Trump-Musk anda meio abalada.

Então, Deus nos ajude e que eu esteja correto!!!

Terremoto Econômico e o Bai Lan

Estamos diante do maior terremoto nas estruturas econômicas do mundo, talvez desde os choques do petróleo nos anos 70. A percepção que tenho captado, de clientes, colegas e players do mercado, é a de que não faltará fonte de tensão e problema, até que a coisa chegue a um equilíbrio e se torne mais conhecida dos mercados.

Mercados, por definição, odeiam imprevisibilidade. Mais do que odeiam a crise em si. Se há crise, mas há uma ideia clara de onde a crise nos leva, o mercado adapta-se e reage de acordo. Já na incerteza, não há o que fazer. É diante disso que estamos agora.

Trump mexeu com as estruturas do capitalismo mundial, ao propor as tais tarifas recíprocas, e as “mínimas”. Neste pormenor, o Brasil e boa parte da América Latina se livrou do pior, com uma taxação de 10% (ainda a ser mais bem entendida) e já chiou, mesmo assim. A razão de termos nos livrado de tarifas maiores, mesmo sendo um dos países mais protecionistas do mundo, advém de um só fator.

Irrelevância

Sim, escapamos do pior por sermos irrelevantes para os EUA. Aliás, ao lado do epíteto de “Anão Diplomático” este é o que talvez mais mal interior me causa. Quem diria que uma nação que tem o que temos, pode ser mais irrelevante, em termos de mídia, corrente de comércio, patentes, startups, etc, do que nós?

El Salvador é mais relevante do que nós. Irã é mais relevante do que nós. Irlanda, Nova Zelândia e outros países que teriam, numa ordem natural mais “cartesiana’, zero relevância comparativamente conosco. Mas irrelevantes somos e, pior, nos achamos muita coisa, num mundo que nos ignora.

E por que somos anões diplomáticos, anões econômicos, anões midiáticos? Porque não produzimos quase nada que valha a pena ser observado. Temos uma sociedade sufocada por tributos e criminalidade. Temos pseudo instituições, que o mundo acertadamente ignora. Temos, enfim, um governo que toda basicamente todas as decisões erradas – e não é só esse. O executivo brasileiro, há décadas, prima pelo erro. Aprimora o jeito de errar. Identifica o problema erradamente, obtém as piores soluções possíveis e as executa com primor.

Nova Fase Global

Pra não falar “nova era”, que não é uma expressão do meu agrado, estamos diante de uma ordem mundial que se altera por canetada. Acertadamente ou não, isso vai gerar, e enquanto escrevo, já gerou, uma reação forte de alguns países, a China entre eles. O gigante comunista do leste acaba de anunciar uma tarifa “reacionária” de 34% sobre as exportações americanas. Isso se contrapõe à tarifa igual, imposta pelos EUA esta semana. Pau que dá em Chico, dá em Francisco, ok? Mais ou menos.

Com uma balança comercial altamente deficitária em relação à China, parece que reagir em igual medida cumpre apenas um papel de estimular o mundo a tomar medidas parecidas contra os EUA, enfraquecendo, por consequência, sua posição adotada recentemente.

Funcionará? Para a China, provavelmente não. E para o Brasil? Possivelmente sim, pois que somos um dos poucos países com os quais os EUA mantêm algum superávit comercial.

J.D. Vance, o vice presidente americano, em entrevista à Heritage Foundation recentemente, argumentou a favor das tarifas da seguinte forma (minhas palavras, ou o que entendi delas): “ora, não é possível os EUA financiarem o comércio mundial com base na contratação de déficits crescentes. Nós financiamos o camponês da China, na fabricação de produtos para exportar para nós, e pagamos com dinheiro de empréstimos feitos a nós, em parte, por esse mesmo camponês chinês”.

Faz sentido continuar um processo de endividamento contínuo, crescente e sufocante, para que outros países tenham facilidade de exportar? Acho que não. O déficit americano nem é devido a um governo maior do que a média dos governos europeus, chinês ou russo. No caso brasileiro, o custo do nosso governo em relação ao PIB é 50%, se é que alguma estatística decente pode ser feita neste sentido. Nos EUA, é 35%. Mas vejam o que o estado americano carrega de gastos feitos a fim de tornar o mundo um lugar minimamente seguro, para os outros – sim, mandar no mundo tem um preço, e os EUA se deram conta de que: a)pagam a parte do leão; b)já não tocam o “apito” que tocavam em quase todo pós guerra.

A ONU é um exemplo, a OTAN, outro. Na ONU, vê-se os EUA apitarem cada vez menos. Países cuja contribuição para a organização é ínfima, mandam em áreas como Direitos Humanos (Irã, Egito, outros). Na OTAN, os EUA bancam quase todo o orçamento, apenas para manter a Europa em relativa segurança (pode-se argumentar que não é bem assim, claro), enquanto os europeus brincam de estado de bem-estar social com parte da grana que deveria estar sendo aplicada em defesa. É isso que Trump percebeu e que tenta remediar.

Bai Lan

Da forma certa? Remedia com bom senso? Acho que não. Não gosto de histrionismo, e de medidas pirotécnicas. Mas é o estilo do cara. Burro, ele não é. Cercou-se de excelentes pessoas. É como Bolsonaro fez aqui no seu governo – teve um “dream team” de ministros, mas continuou falando bobagem. E como o que se fala muitas vezes tem mais repercussão do que o que se faz, ele foi julgado por boquirroto.

 Até o tolo, quando se cala, será reputado por sábio; e o que cerrar os seus lábios, por sábio.

Provérbios 7:28

Boquirroto, apesar de ter feito o que reputo por um excelente governo, Bolsonaro foi, principalmente dadas as circunstâncias, Covid, Ucrânia, etc. Lula agora terá a chance de provar que não é bom piloto somente no sol. Com a tempestade que ameaça se abater sobre todos nós, vamos ver se ele é ou não o governante que, na minha opinião, mais atrapalhou do que ajudou o país, num dos períodos mais ensolarados da história do mundo.

A tempestade poderá alinhar o mundo. A China mete medo, principalmente por estar alinhada fortemente com a Rússia, cujo ditador, a exemplo do nosso presidente, não tem sucessor. Não se sabe se, em alguns anos, quem estará no leme daquele país. A China, por todo o seu desastre humanitário, ainda tem mais previsibilidade de transição de governos, aparentemente. Não é o que o especialista em oriente, o holandês Frank Dikötter, disse no programa “Uncommon Knowledge” há uns dias. Na visão dele, a China é uma estátua com pés de barro. E a razão, segundo ele, vem de uma “revolução silenciosa” que existe naquele país, que os locais apelidaram de “Bai Lan”, literalmente “Deixe apodrecer”. É uma resposta do chinês comum totalmente diferente de tudo o que se viu antes: o chinês que sempre trabalhou 12 horas por dia, começa a dizer: para quê? Vou deixar que tudo se exploda.

É algo que o Partido Comunista daquele país morre de medo, porque é o exemplo mais acabado de revolução sem armas, e que mata, e não apenas aleija, uma nação. No fundo, boa parte do nosso país vive assim. Cuidar do próximo? Que se exploda… patriotismo? que se exploda… honestidade? que apodreça.

É uma atitude derivada da desesperança. E a desesperança destrói governos mais do que qualquer outra força.

A tempestade de Trump pode desencadear uma onda de protecionismo (creio que vai), que vai desencadear um empobrecimento geral no mundo, que vai gerar uma atitude de descontentamento geral que pode desaguar (creio que vai) num Bai Lan mundial.

E de Bai Lan, o Brasil entende…

P.S. a Imagem deste artigo foi gerada por Flux, a partir de uma query minha chamada “Bai Lan – apodrecimento”, via Adapta.org. Achei o máximo…

“Sua” Primeira Emenda

Tem engraçadinho capaz de qualquer coisa para defender uma ideia que, além de burra, é contrária aos próprios interesses últimos do defensor.

Acabou de acontecer outro dia. O cartunista Fraga, no Jornal Zero Hora de POA, lançou a seguinte pérola:

“Sua primeira emenda termina onde começa a nossa soberania”. Segundo o Google, “A charge ilustrava uma disputa entre Moraes e a Justiça americana.” 

Vamos lá… no fundo, mesmo, na raça, o que diz a primeira emenda da constituição dos EUA?

Como é uma charge, damos ao autor o benefício da dúvida: queria criticar a primeira emenda, ou Alexandre de Moraes? Prefiro crer que a segunda alternativa é a correta. Mas posso estar enganado. Acho que a charge quer dizer realmente que Moraes tem razão, e que aplicar a primeira emenda americana no Brasil pode ser considerado “ato atentatório contra nossa soberania”.

A Primeira Emenda diz:

O congresso não deverá fazer qualquer lei a respeito de um estabelecimento de religião, ou proibir o seu livre exercício; ou restringindo a liberdade de discurso, ou da imprensa; ou o direito das pessoas de se reunirem pacificamente, e de fazerem pedidos ao governo para que sejam feitas reparações de queixas.

Primeira Emenda à Constituição dos EUA

Eu gostaria de saber o que, disso aí, NÃO está de alguma forma contemplado na Constituição Federal de 1988. O QUE exatamente existe na Primeira Emenda que não seja parte integrante da nossa Constituição e suas emendas?

NADA. E é por isso que temos diante de nós um paradoxo. Ao invocar a Primeira Emenda como algo “alienígena” em relação ao Brasil, qualquer pessoa incorre num ato de “inocência útil”, e que só serve para criar antagonismo onde este não deveria existir.

Liberdade de Expressão na Prática

Não sou (mais) assíduo frequentador de mídias sociais, como já fui. Facebook e Instagram pra mim já não são “literatura do dia a dia”. Apenas o LinkedIn permanece, por ser mais técnico e profissional, e, portanto, mais ao meu gosto, para o dia-a-dia. Mídias sociais passaram a ser algo mais de brincadeira do que forma de me comunicar. Apenas envio o link dessas minhas mal-traçadas linhas, para deleite (ou irritação) de meia dúzia de amigos queridos.

Hoje, porém, fui olhar o FB. Apareceu um link de uma publicação do Osvaldo Eustáquio. Deu um like… pensei duas vezes… deslikei…

Apareceu um link de ‘Friends of Israel Global Movement’. Amo Israel, lugar que adoro visitar, por razões de estética e raízes (judaico-cristãs). Ia dar um like. Nem me dei ao trabalho de likar e deslikar…

De vez em quando bate um desespero por me expressar por algo que entala a garganta, como essas reportagens que dão conta de que o USAID foi desmantelado por “fascistas” que não tem empatia pelo próximo. Comento, e sinceramente começo a me perguntar se devia ou não.

Medo

Sim, tá batendo medo. E não creio nem por um momento que a eleição de Trump e as atividades de Musk frente ao DOGE (Departamento pra cortar gastos públicos nos EUA) vão nos salvar da onda de cerceamento de liberdade de expressão. O medo é que, à medida em que meus posts alcançam mais gente, fico mais exposto à fúria de alguém que resolva me cancelar, expondo minhas visões, minha família, minha vida pessoal e profissional.

Cá entre nós, do ponto de vista, digamos, mais alinhado com nosso Executivo de hoje, eu realmente “mereço”. Afinal sou (quase) branco, conservador, vou à Igreja mais do que 99% da população, dou até aula em Escola Bíblica Dominical e não gosto de fugir de debates. Sou, portanto, alvo fácil para ser chamado de fascista, nazista e terraplanista. Slogan em mim pega fácil.

Então bate o medo, e com ele a pergunta: Por que? Por que estou com medo? Será que meu medo tem a mesma fundamentação daquele medo que a esquerda radical dos anos 60 e 70 tinha dos militares? Será que tenho o mesmo tipo de medo que, digamos, Dilma, Genoíno ou Dirceu tinham? Que Lula devia ter, durante suas greves no ABC?

O Medo de Hoje

Não podemos duvidar que aquele povo do MRI, VAR-Palmares et tal tinham do regime militar. Era real, e tinha fundamento. Estavam “lutando” por aquilo que criam correto (e ainda creem). Dirceu ainda pensa igualzinho do que há 50 anos – que o correto é um governo grande, dono de tudo, e que o cidadão não tem capacidade de se governar e que, portanto, precisa da tutela do Estado. Mas não do Estado militarizado de então: um estado grande, provedor, coletivista e “paizão”. Criam, e talvez ainda creiam, numa utopia socialista.

Dou a eles o direito de pensar como queiram. Creio que o medo deles era fundado. Apenas creio que os métodos que usavam eram, digamos, um tanto radicais, como fazem prova os sequestros de embaixadores, “expropriações” (leia-se assaltos à mão armada), entre outras atitudes.

Em tempo, talvez o ato de maior vilania perpetrado por mim tenha sido surrupiar os deliciosos pastéis que minha Nonna, Gentilina Montechiari, fritava no dia de ano novo na minha cidade, Cordeiro. Não posso portanto me comparar com os “heróis” da resistência ao regime militar. Portanto, meu medo deveria ser menor, pois apenas cometo “crimes de opinião”.

O medo de hoje, eu creio, está plenamente justificado. Alguém me disse outro dia que era moda o povo que votava na ARENA (partido dos milicos antes da redemocratização) não se sentia mal porque concordava com o regime; dessa forma, a gente tinha passaporte, ia e vinha, falava (quase) tudo o que queria, comprava, vendia, e até prosperava; tinha direito a propriedade e não era incomodado em (quase) nada. Ora, era uma ditadura, sim; branda, boboca, mas ditadura. Explicava-se pelo contexto da Guerra Fria, mas era ditadura.

A natureza do medo de hoje vem da certeza que temos de que não teremos quase ninguém para nos apoiar quando formos enredados em algum inquérito secreto, sem o devido processo legal, e metido num Gulag qualquer no Planalto Central ou outro lugar. Meu medo particular advém da certeza de que não estamos em guerra fria, como antes, mas em algo muito pior e mais insidioso. Algo que transcende o mero direito de ir e vir; algo que cassa passaporte, expropria conta corrente, coopta o legislativo e mantém o judiciário em um poder que não deveria ter.

O Medo de Amanhã

De novo, não me iludo que os Trumps ou Musks da vida vão, em longo prazo, me ajudar a perder o medo e falar – errado, certo, de boa, xingando – o que der na telha. Não podemos mais. Nem deputado e senador pode.

Me refiro ao medo que terei amanhã. Será que perderei meu patrimônio, juntado ao longo de décadas de trabalho árduo e honesto? Será que perderei a liberdade de ir à igreja? Será que perderei a liberdade simples de contar uma piada – ainda que de mau gosto? Será que não terei mais o direito de falar algo que alguém não goste, e eu possa ser cassado/sancionado/cancelado por isso?

Eu não tenho mais o direito de dizer que não gosto de algo ou alguém; não tenho o direito de dizer que creio que aborto é assassinato, que creio que o cristianismo é a única religião verdadeira (sem tirar de ninguém o direito de achar o mesmo da sua), de achar que ser conservador é manter um mínimo de ordem e decência, aprendendo com o passado as lições duramente ensinadas, e hoje esquecidas?

Terei que achar bonito um homem vestido de mulher, se declarando mulher? Terei que achar que existem dezenas de gêneros, e que um ser humano pode se identificar com um cachorro? Vejam bem, não estou querendo com isso retirar o direito de ninguém se vestir de querido pônei e relinchar. Faça-o à vontade, desde que não exija meu apoio. Posso perfeitamente não gostar de alguém por suas posições na vida, por mais esquisitas que sejam, e não querê-la morta ou cancelada. Live and let live…

O Medo do futuro repousa na “suposta” piada de Millôr Fernandes sobre o homossexualismo, nos anos 80:

“Antigamente o homossexualismo era proibido no Brasil. Depois, passou a ser tolerado. Hoje é aceito como coisa normal… Eu vou-me embora, antes que se torne obrigatório.” 

Millôr Fernandes

Suposta, porque hoje, infelizmente, verdadeira. Já não preciso sequer proibir ou tolerar. Hoje é necessário ter como obrigatório o apoio a pautas como aborto, troca de gêneros, etc.

Não odeio homossexuais. Nada disso. Na verdade tenho amigaços que amo de paixão e que não são “cis”. Nada disso me impede de ver o fenômeno da homossexualidade à luz de princípios que guardo e que creio sagrados.

Não odeio quem abortou, aliás, me penalizo e tenho tristeza profunda pelas circunstâncias que levam alguém a achar normal matar uma vida completa, antes de nascer. Mas não preciso achar bacana que a Planned Parenthood (BEMFAM, por aqui) vendam a ideia como parte de uma política de saúde pública.

O Medo de Sempre

No fundo, a inspiração ao medo, venha de onde vier, é sempre sobre como obter controle sobre o outro, como exercer poder. Desde a Inquisição e seus Autos-de Fé até as Caças às Bruxas, e as decapitações de “infiéis” em praça pública por gente de turbante e mau humor, o objetivo sempre é controlar o outro.

O medo é que a pessoa pense por si só, e tente exercer seu direito de pensar. O já citado Millôr costumava escrever no Pasquim que:

“Livre pensar é só pensar”

Millôr Fernandes

Sim, o próprio ato de raciocinar tende a levar a pessoa, independentemente de seu grau de instrução, a refletir sobre algo. E independentemente das conclusões chegadas, é melhor do que a alternativa.

O medo do futuro, pra mim, passa pelo enredo do filme dos anos 90 chamado “Idiocracy” em que um cara que en 2006 era considerado meio burro é congelado e acorda em 2515. Lá, se dá conta de que, mesmo com um QI de 90, se tornara o homem mais esperto do mundo. Ele não melhorou nada. O mundo é que ficou mais idiota. A ponto do “presidente dos EUA” criar uma fome no país porque achou que molhar o milho com água era um desrespeito com a planta, e que essa deveria ser regada com Gatorade…

Tem muito político regando milho com Gatorade hoje, e tem milhares aplaudindo o feito.

Cristianismo – sempre no centro da Perseguição

Li o relatório da organização sem fins lucrativos International Christian Concern (“Persecution.org”), denominado Global Persecution Index, publicado agora, para o resultado de 2024.

Os suspeitos de hábito

No topo da lista países como Coréia do Norte, China, Paquistão, Afeganistão, Somália, Nigéria, entre outras “potências” da perseguição. Em comum, o óbvio: o caráter ditatorial de seus governos.

No topo da lista de países mais perigosos para um cristão viver está a Nigéria, país que até pouco tempo era considerado majoritariamente cristão. Organizações desestabilizadoras, terroristas, como Boko Haram, conseguiram, nos últimos tempos, varrer quase todo o cristianismo do norte para o sul, com massacres, conversões forçadas, etc.

Os Novos Suspeitos

Entre os mais novos suspeitos, um país que está na região que, tecnicamente, menos persegue o cristianismo (de forma organizada, estatal): a Nicarágua. Em comum com os suspeitos de hábito, a necessidade de um tiranete de republiqueta de banana manter-se no poder. Esse país eu conheço. Já estive lá diversas vezes, a trabalho, nos anos do Sandinismo, quando o mesmo cretino estava encastelado no poder. Eram anos de intensa colaboração com Cuba (sempre ela) e um domínio quase total da sociedade, mas com certa leniência da Igreja Cristã, marcadamente a católica. Hoje, diferentemente disso, é justamente o catolicismo que tem pago o preço mais alto lá, com expulsão e prisão de padres e bispos.

O Cristianismo como alvo preferencial

Entendo que o cristianismo tem sido o alvo preferencial meramente por ter sido a religião de maior crescimento no mundo, por milênios, e por ser uma religião prosélita (que prega e quer fazer convertidos), diferentemente de várias outras e à semelhança dos muçulmanos, cuja “conversão”, com raras exceção, é obtida, digamos, de formas heterodoxas.

Sendo a religião dos maiores poderes do mundo, mormente ocidental, associa-se à ela as atitudes de governos ocidentais, o que quase nunca tem sido a regra. Claro que o catolicismo, com seu governo centralizado, no passado passou por situações em que sim, foi perseguidor (Inquisição Espanhola sendo o marco mais visível, corretamente) ou declarado perseguidor (Cruzadas sendo também marco visível, incorretamente, por se tratar de uma guerra de defesa, não de ataque, como comumente se diz nos livros de história).

Verdade é que governos, em algumas regiões, e em nome de “valores cristãos” perseguiram, por exemplo, judeus. Os pogroms são prova disso, assim como as conversões forçadas (cristãos-novos, dos quais parcialmente descendo). O holocausto não. Esse é fruto das ações de um maluco. De lá pra cá, o cristianismo tem insistido em emendar suas ações e, vezes sem conta, pedir perdão por atitudes que contrariam, antes de qualquer coisa, os dizeres do próprio Cristo (“amai vossos inimigos, orai pelos que vos perseguem”).

Governos raramente se dobram a preceitos religiosos. O cristianismo, sabedor disso, e sendo, originalmente, a religião dos perseguidos e dos párias, até Constantino, no século IV, pregou e ainda prega a segregação Estado X Igreja, o que não significa, como sobejamente dito por vários articulistas e pensadores, que o Estado deva ser “ateu”.

De fato, até recentemente, apenas católicos poderiam ser presidentes de alguns países, a Argentina entre eles. O fato é que essa tendência, entre os cristãos e ocidentais, praticamente acabou.

O cristianismo é, na minha opinião, alvo preferencial justamente por ter sido o alicerce intelectual do ocidente laico, progressista, conservador e democrático. Os EUA nascem sob a égide de Deus, na moeda e tudo, e assim continua, aos trancos e barrancos, tentando manter-se à margem das tentativas de cooptação do Estado para fins antirreligiosos. A eleição de Trump é uma prova cabal de que o americano médio, não-woke, prefere um cara meio doido na presidência do que um bando de pessoas desconectadas da crença e valores da maioria.

Por que é Alvo?

É difícil responder à pergunta acima sem adentrar nos princípios mesmos das crenças judaico cristãs. Somos alvo desde os imperadores romanos por diversas razões. Não dá para dissociar essas razões das ações de um inimigo (o diabo) que para a maior parte das pessoas não passa de um mito (assim como Deus, para quem não crê).

Somos alvo, e seremos cada vez mais, porque as Escrituras Cristãs assim nos contam. Não deveríamos estar espantados por isso, nem mesmo pelo crescimento da perseguição mundial a nós.

Quanto mais vocais formos, mais, e mais rápido, seremos perseguidos, seja moralmente, seja física e politicamente mesmo. Somos “de todos os mais rejeitados” como o Apóstolo nos ensina. O Apocalipse já nos contava, lá atrás, que seríamos objeto de tribulação, mas que seríamos vencedores dela.

Conto, portanto, com o crescimento, não a diminuição das perseguições a cristãos, e tenho apenas que agradecer a Deus pela perseverança e amor de cristãos Norte-Coreanos, Iranianos e outros, que, em meio a toda essa tempestade, conseguem deixar patente sua fé. Sem constranger; sem forçar; sem exigir; sem matar; sem silenciar.

PS: Após escrever este texto, vivemos um desses momentos de perseguição muito na carne, aqui do Brasil. Veja em anexo esta situação dramática vivida pela Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira, na Nigéria:

https://www.instagram.com/p/DE5rsE-yZg1/?utm_source=ig_web_copy_link

Green Brakes

My foreign colleagues in our practice (accounting, audit) frequently hit me with questions arisen from what they read in their media on the fact that Brazil does not follow a good Environmental Governance. Allegation as to how much we devastate on the Amazon, how we have such a poor administration of our environment frequently get under my skin, due to the lack of proper information and the ultimate bad faith of a league of media outlets that are either totally mistaken or willfully wishing to spread misinformation, at someone else`s expenses, and for someone else’s profit.

Environmental Code

Being born in a rural area in Rio de Janeiro State and directly linked to a family of original agricultures and dairy producers, I know for a fact that fulfilling the Brazilian Environmental Code (BEC for short) is a challenge. In the South/Southeast areas of Brazil, a minimum of 20% of the total area of a farm must be kept untouched; riversides are to be kept untouched for a minimum of 10 meters up to 100 meters in each side, depending on the width of the river. Knowing Brazil, and knowing the amount of rivers and creeks we have, you may imagine how much of native forest must be kept.

In the “Legal Amazon Area”, that corresponds to 59% of the total area of Brazil`s more than 8 million Km². It means that legally, at least 55.4% will never, ever be touched. In fact, as of today, Brazil keeps 64.7% of its original vegetation, as it was in April 22, 1500. This does not include the reforesting, an increasing and thriving activity, vital for the pulp and paper chain.

Energy

Here, a conundrum: despite of the fact Brazil has over 90% of its energy sourced from renewables.

In fact, renewables represents about 92% of Brazil’s energy generation in 2024. Hydropower remains the dominant source, contributing around 50% of the electricity supply, while wind and solar energy have also seen significant growth ()1

The primary renewable energy sources in Brazil’s matrix include:

  • Hydropower: Approximately 50% of electricity generation.
  • Wind Energy: Around 15% of electricity generation.
  • Solar Energy: About 10% of electricity generation.
  • Biomass: Contributing to the remaining share.

BTW, nuclear is not included in the quote from ChatGPT. It represents 2.2%. ChatGPT is right in not classifying nuclear as “renewable”. That does not mean it isn`t “clean”, in my opinion.

The Environmental Control Bureaus

Brazil has a myriad of environmental bureaus and bureaucracies. Each, with few exceptions, occupied by radical environmentalists with close to zero cares on the development of the country and the wellbeing of our population. We have 5 agencies of direct/indirect environmental control, at federal level, 27 such organisms at state level and, assuming we have over 5.5 thousand counties, at least half of them with environmental secretariats.

All in all, a constellation of environmentalists, each willing to outdo and clickbait the other and show more “concern” on the environment.

Nothing against environmental control, of course. This is important and Brazil is doing its fair share on it. Just that it has shown relevant side effects that must be understood.

Side Effects

Once again, asking my patient reader to keep in mind that I am all for a good environmental stewardship, I just want to point out some absurd effects of it over the Brazilian society as a whole and how, even with all the burden carried by us, it seems that some countries are not satisfied with the results.

For we know that the whole creation groaneth and travaileth in pain together until now. 

Romans 8:22 (KJV)

My Bible tells me, more than once, that the human sin has put a tremendous strain on the environment, as above quoted from the Apostle Paul. Unnecessary to elaborate the fact that all mankind should be extremely environmentally concerned, without being idiots, of course.

That said, one side effect of the radical environmentalism, probably the most critical, is on infrastructure and mobility. From Curitiba, where I live, to the nearest beach, it is about 100Km, or 60 Mi. It takes from 1h 40min to reach there, but it often takes 3, 4 hours. The reason is that environmental agencies stop virtually all efforts to give better access to the beautiful shore. Good stewardship of infrastructure should be conducive to a larger appreciation of the environment; a stronger attachment to the beauties of the Atlantic Forest close to us.

One other example: the highway from São Paulo to the south of Brazil, the Regis Bittencourt highway, had a 30 Km portion in single lane, despite the quality of the rest of the road. The reason, environmental permits to duplicate that portion due to the existence of some families of “Mico Leão da Cara Preta” (Leontopithecus caissara) monkeys. A battle ensued and it took over 20 years to complete the duplication of the highway. Now the travel from Curitiba to São Paulo takes at least 1 hour less than 5 years ago. Nobody thought about the long line of trucks and cars expelling CO2 in the atmosphere for some many years. Something totally evitable.

Rivers and bays denied bridges and highways, due to “environmental impacts” (despite the reports telling the opposite, sometimes). Everybody in Brazil have experienced trips partially interrupted by long lines of cars/trucks waiting to be ferried over a bay or a river in ferryboats.

Whole communities in the northern Brazil have electricity for no more than 8 hours per day, diesel-based. The reason? A transmission line that links the north to the rest of the energy grid is deemed “harmful” to the environment. Let the diesel be used, let peoples’ quality of life be miserable, provided some unknown bureaucrat have its way (or the way some ONG directs them to apply).

Agendas

As usual in Brazil, a hidden agenda permeates the environmental decisions. Rationality, not a national sport among politicians by any means, becomes enraged platitudeness speeches of raging and red faced politicians, with prominent blue veins in the neck, from the tribune of the chambers of the legislative, uncapable of seeing the bad light that they unnecessarily bring to Brazil in the world.

This beautiful country will some day wake up and start doing the rational and right thing: to adequately plan and develop an infrastructure that will enable progress, boost eco-tourism and facilitate mobility, all at once, making our lives not only better, but more enjoyable.

I wish all my friends and relatives, those who follow me in the social media and here, a blessed Christmas and a very happy New Year, 2025!

  1. Source Brazilian Government, through ChatGPT ↩︎

Sociedades Crescentemente Heterogêneas

As tribos se formaram por proximidade, parentesco e necessidade. Nas tribos, esses fatores acabaram por tornar o grupo mais homogêneo. Um grupo homogêneo é mais fácil de se conviver; menos propenso a ter estresses por questões do dia a dia. Os comportamentos são mais ou menos parecidos, e aceitos por todos, e há “princípios geralmente aceitos” de conduta, vestimenta, alimentação, entre outros.

Várias tribos, ao longo dos séculos, acabaram se tornando nações, por proximidade geográfica ou racial: já não com um nível tão alto de homogeneidade, mas com uma razoável similaridade de condutas, gostos, etc. A pluralidade de idiomas é mais marcante na Europa e Ásia do que em quase qualquer lugar, justamente por conta do relativo isolamento geográfico. Dialetos e Patuás fazem a interface, digamos assim, entre regiões maiores.

No final do Séc XIX e durante todo o Séc XX, um movimento sem precedentes de migrações massivas, pela primeira vez não necessariamente originada em guerras de ocupação ou fatores de força maior, começaram a deixar o mundo um lugar mais “plural”. A criação de “padrões idiomáticos” mais amplos, como o inglês de Shakespeare, o italiano de Dante Alighieri, o espanhol de Cervantes e o português de Camões são exemplos de ampliação de uma área de influência, ainda que cada vez menos homogênea, culturalmente.

Mesmo os EUA e o Brasil, talvez os dois maiores exemplos mundiais de populações que se formaram, desde sua colonização, já heterogêneas, havia até algum tempo atrás, um traço de união que acabava por tornar as pessoas mais “parecidas” ao longo dos anos. Era uma forma de absorção ao contexto total, em que o imigrante acabava por compreender e moldar sua conduta a um determinado modelo geralmente aceito. Minha própria família, tanto dos italianos do lado da mãe quanto dos suíços e portugueses do lado o pai são exemplos de absorção tão rápida que em duas gerações, somente, poucos falavam o dialeto ou idioma dos avós.

Foram tempos de grandes trocas de experiência e acumulação de novas e desejáveis características. No Brasil, para ficar em apenas alguns exemplos, absorvemos os hábitos alimentares de outras culturas, desde uma boa feijoada até um sushizinho bacana. Criamos e adaptamos costumes, absorvemos e modificamos palavras estrangeiras, aprendemos esportes alheios e ficamos, por isso, mais ricos.

Mantivemos, porém, características fundamentais, como por exemplo, o uso do idioma que agora lanço mão para me fazer entendido, e tento, pelo menos, fazê-lo de forma a não deixar meu saudoso pai, Prof. Ivanir, envergonhado (ele, professor de português, sempre exigiu qualidade escrita e falada).

Algumas coisas se absorvia, outras se modificava, outras se rechaçava (por serem diferentes demais). Mas sempre de forma paulatina e sem enfiar nada goela abaixo de uma população inteira.

Hoje, entendo que dois movimentos estão contribuindo para que a sociedade se torne cada vez mais complexa de governar: o primeiro é o volume de migrantes. O grande volume de um determinado povo, dentro do país alheio, acaba gerando tensões e muitas vezes rupturas. É como se fosse uma “Aquisição Hostil” de um território, sem dar um tiro (ou poucos tiros).

A segunda razão é um outro tipo de “migração”. É a quase obsessão com a cultura do outro, o “lugar de fala”, e a necessidade de aceitar/engolir a conduta alheia, ainda que nos fira ou incomode. Não se trata mais de um gradualismo, que leva a sociedade a mudar sem mais ferimentos. Trata-se de engolir um boi inteiro, em uma única refeição, sem tempo de absorver e digerir. É como um veneno por dosagem, não por conteúdo.

A sociedade brasileira está sendo forçada a ir numa direção que majoritariamente não quer ir, em uma velocidade que não permite tempo para “normalização” do novo.

É aí que a sociedade começa a perder seu sentido.

Mãe Nossa / Alvo mais que a Neve

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Qualquer pessoa com alguns neurônios funcionando sabe perfeitamente bem que a Bíblia não “determina” que Deus é homem ou mulher. Em pelo menos uma ocasião, respondendo a saduceus (que nem criam na vida eterna), Jesus falou que uma mulher que tinha tido sete maridos não seria “de nenhum deles no céu”, pois no céu seremos como anjos, e não casaremos nem seremos dados em casamento. Uma óbvia resposta ao óbvio conceito de que anjos não são homens nem mulheres, e que Deus, obviamente, não se encaixa num conceito de masculinidade ou feminilidade.

Sexo dos Anjos

E cá estão teólogos e pastores famosos discutindo sobre o sexo dos anjos (como a sabedoria popular já diz: uma bobagem em si mesma. O referido teólogo, em um video recente (reproduzido parcialmente em https://www.youtube.com/watch?v=VLgHdaefoWU ou https://www.gospelprime.com.br/heresia-ed-rene-kivitz-apresenta-deus-como-mamae-do-ceu/) chama atenção para si, mais uma vez, pelas razões mais desatrosas possíveis.

O sexo dos anjos, ao que parece, “precisa” ser debatido, nem que seja para agradar um público específico.

Alvo mais que a Neve

Outra “celebridade” do meio evangélico, recentemente em entrevista com Caetano Veloso, faz uma crítica ao uso do Hino “Alvo mais que a Neve” (No. 39 da Harpa Cristã ou No. 123 do Cantor Cristão). A tal celebridade fala, a um Caetano “inebriado” algo mais ou menos como “a gente cantava aquilo com a maior naturalidade, como se não tivesse problema algum”… Em síntese, na cabeça da celebridade, cantar “alvo mais que a neve” é ato de racismo… e os negros cantavam isso com a “maior naturalidade” nas igrejas.

Talvez esteja na hora de “reinterpretar” o Salmo 51:7, no qual o Rei Davi fala:

“Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve.”

Qual é a Finalidade?

É muito difícil sair censurando as pessoas pelo que elas dizem, no “valor de face”, digamos assim, sem aprofundarmos no assunto, ou nas intenções. Não posso, sinceramente, condenar pessoas, com as quais concorde eu ou não, pelas suas palavras. Isso é função (Sic!, de novo) do STF e de patrulhas ideológicas. Aqui, dou apenas minha humilde opinião e experiências vividas.

Independentemente da puerilidade da discussão, Deus não foi chamado na Bíblia de MÃE em nenhum momento. Algo errado, se tivesse? Não creio. Minha fé mudaria se Deus fosse mais “feminino” que “masculino”? Não. Eu seria menos cristão se assim o cresse? Não.

A questão aqui é outra: Não vejo nenhuma oração da “Mãe Nossa”; não vejo em nenhum lugar o Espírito de Seu Filho clamando por por nós com a expressão “Ama, Mãe” (Ama é o equivalente a Aba, em hebraico).

Não vejo a Senhora dos Exércitos em nenhum lado, não vejo Paulo nos dizendo Graça e Paz da parte de Deus, nossa mãe”.

A questão da neve é menos “grave” por assim dizer, porque não foi levantada por um teólogo, cara eloquente, inteligentíssimo, autor de diversos livros e pregador de tradição. É mais uma questão de aparecer mesmo (talvez em ambos os casos) e jogar pra platéia. É um caso de Wokeísmo, mais barato, menos refinado, e, francamente, menos refletido e talvez mais idiota: ora, neve é branca; ora, fuligem é preta. Ora, não existem “pretos” nem “brancos”. No máximo existem “rosados” e “marrons”, nos dois lados do espectro conhecido da pela humana.

Quando Davi fala de “alvo mais do que a neve”, obviamente não está fazendo nenhuma menção a pele, a nada, que não seja diretamente ligado à noção de pecado, de um lado, e santidade, de outro. É risível, portanto, ver um Caetano, que nem é cristão, ficar transfixado pelas palavras da celebridade. “É verdade? Puxa, que gente racista, que gente burra”…

Talvez seja mais fácil discernir o interesse do talentoso cantor baiano do que a das ditas “celebridades cristãs”.

Arranca Rabo

Mas no caso do teólogo, não sou exatamente inparcial. Há alguns anos, durante a campanha do ocidente para expulsão de Sadam Hussein do poder, e reconquista do Kwait, escrevi um texto (do qual não me arrependo – desculpe, celebridade… burrice minha talvez) em que eu dizia algo como “creio que exista um excesso de grana na mão de alguns tiranos locais, e que seria muito bom que os caras tivessem menos recursos pra bancar suas tiranias”. A resposta ao meu texto (bom, eu que não sou nem celebridade, nem teólogo, e francamente, ninguém na fila do pão) foi “tristes palavras“. Logo depois diz “somos o povo que apanha, não o povo que bate“. Lindo! O coro de aplausos deve ter sido super bacana… só que erra o alvo no básico: um caminho pode parecer uma escolha “de paz” e não “pacificadora”. Todo mundo sabe o resultado: por um lado temos um Iraque e um Kwait mais pacificados; temos um Irã (que não foi confrontado) atacando a única democracia do Oriente Médio; temos, enfim, alguns anos de tentativa de pacificar por meio da covardia, países claramente ofensivos e beligerantes. É o ideal? Não, mas é melhor do que a covardia pura e simples.

Aquilas palavras me doeram, não porque eu seja a favor de guerra alguma. Como cristão desejo a paz, mas não aquela paz imediatista, equivalente à mulher que apanha do marido e se cala para não causar escândalo. Essa é a paz que se submeter a uma tirania significa. Me doeu, mais ainda, porque tenho certeza de que o tal teólogo tem massa encefálica suficiente para entender que pacificar é diferente de ser covarde e ter paz no curto prazo.

O Apóstolo Paulo mesmo, ao falar sobre o tema da “Paz” disse:

Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens.

Romanos 12:18 

Ora se nem a Palavra nos “obiga” a ter paz com todos, como é que julgarei eu, euzinho, que sou obrigado a “apanhar” independentemente do resultdo obtido/

Outro dia, assistindo a Guerra do Pacífico em Cores (na TV a Cabo), fiquei apavorado ao ver o que a conquista de Okinawa representou em termos de vidas, para ambos os lados – Japão e Aliados. Truman, e seus generais, tendo em vista isso, optaram por uma solução terrível, quase impensável, mas que no final das contas, poupou milhões de vida: bombardear Hiroshima e Nagasaki. Alguém é favorável a bombas atômicas? Claro que não. Alguém acha que os fins sempre justificam os meios? Não e não. Apenas que a nós, são dadas às vezes, escolhas extremamente difíceis.

Alvo mais que a Mãe

Assim, e brincando de juntar as duas heresias, que sejamos tanto Alvos mais que a Neve, para glória de Deus, e que Deu continue “Pai”, independentemente de seu gênero (que não existe).

Apenas não façamos de não-questões um cavalo de batalha para destruir conceitos lindos e primordiais na vida do nosso já confuso povo.

Êxodo 20:7

Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. 

Êxodo 20:7 – 10 Mandamentos

Esse é um mandamento que é normalmente mal interpretado. A palavra hebraica para “tomar” é “Nasah” (נָשָׂא), que significa literalmente “levantar”, “erguer” ou mais precisamente, “carregar”.

Não “levantarás”, não “carregarás” o nome do Senhor teu Deus em vão. Já escrevi em algum lado que isso não significa falar “Ai meu Deus do céu” e ser jogado nas trevas do inferno. Não me parece que Deus seria pueril a ponto de pronunciar um mandamento assim.

Carregar, levantar aqui me parece – e pareceu ao estudioso Denis Prager, da Prager University, em seu livro “The Rational Bible Exodus” levanta o tema de forma bem mais adequada: Eu “carrego” o nome de Deus em vão quando eu digo que sou “ligado a Deus” e faço coisas que contrariam o que Ele diz, manda, ensina.

Caso (Hipotético) 1 – Negócios Escusos

Estudo de caso é uma técnica para aprendizado e fixação de conhecimento que se tornou a norma nas melhores universidades do mundo. Parece, realmente, que um “estudo de caso” cairia bem para entender como é que um dito cristão toma o nome de Deus em vão.

Fulano de Tal é um empresário. Fulano se diz “cristão”, fulano vai na igreja, leva os filhos, era casado com uma mulher “terrivelmente cristã”. Fulano faz negócios de forma atabalhoada e convence os amigos a investirem com ele. Um desses amigos, entendendo que é algo interessante, convence outros amigos a investirem com ele, suponhamos (para o “case”) num hotel.

Eles compram juntos o hotel. O amigo confia nele porque, afinal de contas, ele “Carrega o nome de Deus” consigo, e obviamente, quem assim o faz, só pode falar a verdade e agir com o melhor de sua capacidade, em prol do outro, antes de si mesmo.

Acontece que, por uma razão ou por outra, o tal Fulano só tem olhos para seus próprios interesses, e, no final de anos, desviando recursos para seus outros empreendimentos, e sempre deixando as águas turvas, para que ninguém veja com clareza, consegue levar todos a perder muito.

Fulano, ainda por cima, se sente “o injustiçado”. Não entrou com um centavo no negócio. Trabalhou, é verdade, mas sempre deixou seus interesses acima dos demais, e no final das contas, joga seus processos trabalhistas em cima de “todos”.

Fulano certamente esqueceu de ler o restante do mandamento: “Deus não terá por inocente quem carregar Seu nome em vão”. Fulano, certamente, terá que se entender com o seu deus, ou com Deus.

Caso (Hipotético) 2 – Pirâmide Financeira

Fulana era amiga de décadas de várias pessoas em sua igreja. Era uma verdadeora artista, trabalhadora e mãe de filhos. Fulana, assim como Fulano, “carregava” o nome de Deus sobre si. Todo mundo a conhecia como tal.

Fulana começa um processo de envolver um monte de gente muito “amiga” em um esquema de pirâmide financeira, bastante dissimulado. Isso vai num crescendo até que “explode” com um caminhão de dinheiro de vários “irmãos” e “amigos” indo parar em mãos incertas e não sabidas.

Ações judiciais pra cá e pra lá fazem a festa para detratores do Nome de Deus. É um festival de apontamento de dedos.

Fulana carrega, agora, o nome de Deus absolutamente em vão, e deixa um monte de gente mais pobre, em detrimento de uma pseudo abundância financeira.

Moral da História?

Os dois casos acima tratam na mesma coisa. A (falta) de moral nessa história já estava descrita como um Mandamento – 10% deles, portanto, falando sobre “carregar” sobre si o nome do Deus vivo em vão, ou seja, indignamente. São casos hipotéticos de pessoas que expressam ao público serem “portadoras do nome de Deus”, e o fazem em vão.

Eu, pessoalmente, já carreguei o Santo nome do meu Deus em vão. Sim. Já tive meus momentos de fraqueza, mentiras, desapontamentos e coisas que certamente Deus não me terá por inocente. Obviamente que o Sangue de Jesus já me purificou deste e de muitos outros pecados, mas os efeitos estão cá comigo. Para sempre.

Estudando para aulas de Escola Dominical no Livro de Hebreus, me deparei com um diagrama que de certa forma toca no assunto, e que gostaria de compartilhar:

É uma forma razoavelmente simples de entender o que o sujeito faz e onde ele anda. Você tem uma conduta condizente com o Nome de Deus? Sim, ou não. Se sim, você pode até não ser “crente”, mas age de forma a não ser um problema para Deus, mesmo não crendo nEle. É o tal “joio”.

Se você age de acordo com o Nome de Deus, e é “crente”, é “trigo”. Já tem gente que não age de acordo com o Nome de Deus. Pode ser “crente” (e aí precisa ser disciplinado ou não (é apóstata, no duro).

Vivemos num mundo de gente que tem “carregado” o Nome de Deus sobre si e feito as maiores barbaridades: desde defender assassinato de criança na barriga da mãe até receber propina e ainda “agradecer a Deus” pelo fruto do roubo. Tem gente que mente para se eleger; tem gente que rouba o próximo prometendo “prosperidade”. Tem de tudo. Ao “carregar o nome de Deus” de uma forma tão horrorosa, dão ao Inimigo a munição que ele precisa para dizer que “é tudo igual”.

Tem gente, por outro lado, que dedica a vida, os bens e a inteligência para abençoar o próximo. Tem gente que sequer crê em Deus, mas de certa forma “carrega Seu Nome” de forma mais digna do que muita gente que se diz cristã. Esses, a despeito da incredulidade, acabam se beneficiando dos Mandamentos e sendo mais felizes, mais realizados, mais prósperos.

Eu quero “carregar” o nome do Senhor. Eu faço questão, e faço questão de fazê-lo de forma a que até mesmo meus detratores e inimigos tenham paz comigo.

Sheol

Não posso dizer que acordei, porque não sabia bem se estava dormindo ou não. Só sei que na minha frente tinha um cara de estatura mediana, e que nem consegui ver o rosto de tanto que o lugar brilhava. Acho de que devia ter estado em algum lugar escuro, porque meus olhos não davam conta de se adaptar à claridade absurda em volta de mim.

Ouvi, mais do que vi, a voz do tal sujeito, o único que eu conseguia mais ou menos ver. Tinha a impressão de que não estava sozinho. Não que parecesse que havia do meu lado um montão de gente, nem porque ouvia barulho típico de multidão. Na verdade, não me lembro nem de ouvir um zumbido sequer. Mas que parecia estar acompanhado, parecia.

A voz me falava de coisas que me evocaram pensamentos ainda da mocidade – coisa que, aos quase 90 anos, é difícil de esquecer. Ao envelhecer, fui esquecendo coisas recentes, e me lembrando de coisas pequenas da infância e juventude; coisas que moldaram meu caráter e minha forma de ser: o cheiro da casa dos meus pais, de fogão de lenha e flor de laranjeira, a textura da pele da primeira namorada, branquela e rechonchuda, a cor do céu e das nuvens, que a gente ficava olhando depois do almoço deitado no capim gordura de trás de casa, e dizia “é um elefante“, “é um camelo“… Épocas mais simples, e que com o tempo pude ter certeza de que ajudei a complicar, a tornar mais pesadas e menos brilhantes.

A voz se aproximou de mim e me dizia que eu tinha, sim, responsabilidade pelos meus atos e que tinha me esquecido de coisas que tinha aprendido, e voluntariamente deixado de acreditar, seguir e obedecer. É fácil ver isso, em retrospectiva. Tive uma vida intelectualmente boa, uma educação – dentro e fora de casa – adequadas, numa escola pública que era melhor do que vi em tempos mais modernos, mesmo paga. Éramos mais simples, menos enxovalhados por complicações que, no fundo, minha geração ajudou a criar.

Fé? Não sei. Acho que não tive nunca algo que possa chamar de fé com F maiúsculo. A mãe? Sim; o pai? Sem dúvida. Eu? francamente acho que não. Ao que a voz me chama e diz “no ouvido” (não dá pra saber se foi ou não) – Carlinhos, esquece o que passou e dê-se uma chance de voltar a crer.

Eu, com minha independência intelectual e língua afiada, respondo na hora: mas crer em quê? Onde é que eu estou, em primeiro lugar, e quem é o senhor (“s “minúsculo, já que não sei com quem falo)? E, por falar nisso, dá pra diminuir a intensidade dessa iluminação? Já estou aqui há uns 10 minutos e não consigo enxergar nada, com essa luz toda na minha cara!

A voz não sobe o tom, não briga, mas demonstra que não ficou satisfeita com a resposta. “Vou te dizer, mas diga: você sabe que dia é hoje?” Eu? Como vou saber? Eu estive tanto tempo deitado naquela cama, em casa, sob cuidado de tanto enfermeiro e médico, e agora, nesses últimos 15 dias, nessa praga de UTI que apita o tempo todo e não te deixam em paz, com um ar condicionado frio demais pro meu gosto e essa dor nas costas que não me deixam! Como vou saber que dia é hoje? Já não sei que dia é hoje há 2 anos.

A voz então fala – “você vai entender que dia é hoje, mas deixa eu te contar algo que você aprendeu e esqueceu: você comete erros e pecados; você viveu uma boa vida, teve boa família, bons filhos, não roubou nem matou, e socialmente é considerado um ‘baluarte’. Esqueça tudo isso. A pergunta permanece: você reconhece que erra?

Sim, em uma boa medida eu sei que erro. Mas não mais do que o vizinho do lado ou o cara da padaria. A voz insiste: “você entende que ao errar você se afasta de quem te criou?” Como assim, “quem criou”? Quem disse que fui “criado”? Eu entendo que somos, eu e todo mundo, produto de um processo não pensado ou planejado de melhorias que acabaram por produzir o Carlinhos, ou Dr. Carlos, como me chamam no escritório, que todo mundo conhece, e alguns até admiram. Não – não admito um “criador” a quem deva prestar contas.

A voz segue: “e quem você acha que colocou as duas primeiras bases nitrogenadas no lugar? Quem, me diga, criou o balanço perfeito entre o ponto de congelamento da água e a gravidade? Por que ela puxa tudo nessa terra pro seu centro a 9,8 m/s²? Quem você acha que coordena tudo? Um “Deus das Lacunas“? Fala sério Carlos.

Falo sério, e digo à voz: ninguém poderá ter certeza disso, agora ou nunca. A voz retruca: “o que é ‘agora’ e ‘nunca’ pra você? Quem te persuadiu a pensar que você continua respirando?“. Eu, “suando frio” (nem posso dizer se é isso ou não) pergunto – morri? A voz: “isso ainda não se sabe. Poder ter morrido, pode não ter morrido; tudo depende de sua decisão“. Uai? Que decisão, eu pergunto já meio indignado. A voz: “a decisão de viver internamente, ou morrer eternamente. A decisão de aceitar que é um cara falho e que, não importa o que você pense ou faça, foi criado com um objetivo, que só cumpriu parcialmente, e mesmo assim só do ponto de vista humano; que esqueceu o Criador, com “C” maiúsculo, e que, como tal, pode não ter mais chance de viver eternamente.

Já meio irritado, respondo – pode me mandar pra onde quiser. Acaba quando acabar, viro pó e boa noite pro gaiteiro… A voz, meio tristonha, diz: “Vou falar contigo uma última vez: lembra daquilo que você aprendeu com os pais, avós, gente que te amava, sobre um Deus bom, um Filho bom que teve que pagar um preço alto por sua causa? É e era verdade. Você pode viver eternamente, ou morrer internamente, ou vice-versa. Nada, mas nada mesmo, vai mudar essa realidade. Ao longo da sua longa vida você foi abordado por centenas de pessoas que te relataram essa realidade que falo contigo pela última vez. Você deixou sua sapiência e racionalidade se imporem à Sapiência e Racionalidade que falavam contigo. Não te deram provas? Claro que não! Que tipo de fé exige provas? Que tipo de mérito ou decisão informada existe em “ver” o manto de Deus passando diante de você flagrantemente teria pra você? Nenhum mérito, e é por isso que a fé é assim: não pode ser comprovada, agora nem nunca. Tem um porém nessa história toda, e é por isso que estou aqui: você não vai morrer eternamente sem ouvir e tomar uma decisão informada sobre sua situação. Você tem que concluir, por sua própria vontade, se crê no que está colocado diante de você ou não.

Não conseguia refletir. Não é racional o que está diante de mim. Não faz parte do meu modo de ser o “crer” sem fundamentar o que penso em fatos e dados. Ah, mas você tá “ouvindo” essa voz e vendo o “cara” aí na frente. Ou não tá? Sim, estou. Só não sei se 15 dias de UTI não fazem isso com a pessoa. Sabe-se lá se levanto daqui e começo a falar e agir como minha avó e sua mania de dizer que “Deus isso, Deus aquilo, Deus é bom, Deus me salvou” e por aí adiante? Não sei, não sei. ‘Não tenho decisão a tomar’ afirmei à voz.

Bem, não decidir é decidir. Pode partir, Carlos. Mas antes, me diga se tem alguma ideia que dia é hoje.

Eu? Nem ideia…

É Sábado de Aleluia“.

Qual Sábado de Aleluia?

O único que jamais existiu“…