Mãe Nossa / Alvo mais que a Neve

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Qualquer pessoa com alguns neurônios funcionando sabe perfeitamente bem que a Bíblia não “determina” que Deus é homem ou mulher. Em pelo menos uma ocasião, respondendo a saduceus (que nem criam na vida eterna), Jesus falou que uma mulher que tinha tido sete maridos não seria “de nenhum deles no céu”, pois no céu seremos como anjos, e não casaremos nem seremos dados em casamento. Uma óbvia resposta ao óbvio conceito de que anjos não são homens nem mulheres, e que Deus, obviamente, não se encaixa num conceito de masculinidade ou feminilidade.

Sexo dos Anjos

E cá estão teólogos e pastores famosos discutindo sobre o sexo dos anjos (como a sabedoria popular já diz: uma bobagem em si mesma. O referido teólogo, em um video recente (reproduzido parcialmente em https://www.youtube.com/watch?v=VLgHdaefoWU ou https://www.gospelprime.com.br/heresia-ed-rene-kivitz-apresenta-deus-como-mamae-do-ceu/) chama atenção para si, mais uma vez, pelas razões mais desatrosas possíveis.

O sexo dos anjos, ao que parece, “precisa” ser debatido, nem que seja para agradar um público específico.

Alvo mais que a Neve

Outra “celebridade” do meio evangélico, recentemente em entrevista com Caetano Veloso, faz uma crítica ao uso do Hino “Alvo mais que a Neve” (No. 39 da Harpa Cristã ou No. 123 do Cantor Cristão). A tal celebridade fala, a um Caetano “inebriado” algo mais ou menos como “a gente cantava aquilo com a maior naturalidade, como se não tivesse problema algum”… Em síntese, na cabeça da celebridade, cantar “alvo mais que a neve” é ato de racismo… e os negros cantavam isso com a “maior naturalidade” nas igrejas.

Talvez esteja na hora de “reinterpretar” o Salmo 51:7, no qual o Rei Davi fala:

“Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve.”

Qual é a Finalidade?

É muito difícil sair censurando as pessoas pelo que elas dizem, no “valor de face”, digamos assim, sem aprofundarmos no assunto, ou nas intenções. Não posso, sinceramente, condenar pessoas, com as quais concorde eu ou não, pelas suas palavras. Isso é função (Sic!, de novo) do STF e de patrulhas ideológicas. Aqui, dou apenas minha humilde opinião e experiências vividas.

Independentemente da puerilidade da discussão, Deus não foi chamado na Bíblia de MÃE em nenhum momento. Algo errado, se tivesse? Não creio. Minha fé mudaria se Deus fosse mais “feminino” que “masculino”? Não. Eu seria menos cristão se assim o cresse? Não.

A questão aqui é outra: Não vejo nenhuma oração da “Mãe Nossa”; não vejo em nenhum lugar o Espírito de Seu Filho clamando por por nós com a expressão “Ama, Mãe” (Ama é o equivalente a Aba, em hebraico).

Não vejo a Senhora dos Exércitos em nenhum lado, não vejo Paulo nos dizendo Graça e Paz da parte de Deus, nossa mãe”.

A questão da neve é menos “grave” por assim dizer, porque não foi levantada por um teólogo, cara eloquente, inteligentíssimo, autor de diversos livros e pregador de tradição. É mais uma questão de aparecer mesmo (talvez em ambos os casos) e jogar pra platéia. É um caso de Wokeísmo, mais barato, menos refinado, e, francamente, menos refletido e talvez mais idiota: ora, neve é branca; ora, fuligem é preta. Ora, não existem “pretos” nem “brancos”. No máximo existem “rosados” e “marrons”, nos dois lados do espectro conhecido da pela humana.

Quando Davi fala de “alvo mais do que a neve”, obviamente não está fazendo nenhuma menção a pele, a nada, que não seja diretamente ligado à noção de pecado, de um lado, e santidade, de outro. É risível, portanto, ver um Caetano, que nem é cristão, ficar transfixado pelas palavras da celebridade. “É verdade? Puxa, que gente racista, que gente burra”…

Talvez seja mais fácil discernir o interesse do talentoso cantor baiano do que a das ditas “celebridades cristãs”.

Arranca Rabo

Mas no caso do teólogo, não sou exatamente inparcial. Há alguns anos, durante a campanha do ocidente para expulsão de Sadam Hussein do poder, e reconquista do Kwait, escrevi um texto (do qual não me arrependo – desculpe, celebridade… burrice minha talvez) em que eu dizia algo como “creio que exista um excesso de grana na mão de alguns tiranos locais, e que seria muito bom que os caras tivessem menos recursos pra bancar suas tiranias”. A resposta ao meu texto (bom, eu que não sou nem celebridade, nem teólogo, e francamente, ninguém na fila do pão) foi “tristes palavras“. Logo depois diz “somos o povo que apanha, não o povo que bate“. Lindo! O coro de aplausos deve ter sido super bacana… só que erra o alvo no básico: um caminho pode parecer uma escolha “de paz” e não “pacificadora”. Todo mundo sabe o resultado: por um lado temos um Iraque e um Kwait mais pacificados; temos um Irã (que não foi confrontado) atacando a única democracia do Oriente Médio; temos, enfim, alguns anos de tentativa de pacificar por meio da covardia, países claramente ofensivos e beligerantes. É o ideal? Não, mas é melhor do que a covardia pura e simples.

Aquilas palavras me doeram, não porque eu seja a favor de guerra alguma. Como cristão desejo a paz, mas não aquela paz imediatista, equivalente à mulher que apanha do marido e se cala para não causar escândalo. Essa é a paz que se submeter a uma tirania significa. Me doeu, mais ainda, porque tenho certeza de que o tal teólogo tem massa encefálica suficiente para entender que pacificar é diferente de ser covarde e ter paz no curto prazo.

O Apóstolo Paulo mesmo, ao falar sobre o tema da “Paz” disse:

Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens.

Romanos 12:18 

Ora se nem a Palavra nos “obiga” a ter paz com todos, como é que julgarei eu, euzinho, que sou obrigado a “apanhar” independentemente do resultdo obtido/

Outro dia, assistindo a Guerra do Pacífico em Cores (na TV a Cabo), fiquei apavorado ao ver o que a conquista de Okinawa representou em termos de vidas, para ambos os lados – Japão e Aliados. Truman, e seus generais, tendo em vista isso, optaram por uma solução terrível, quase impensável, mas que no final das contas, poupou milhões de vida: bombardear Hiroshima e Nagasaki. Alguém é favorável a bombas atômicas? Claro que não. Alguém acha que os fins sempre justificam os meios? Não e não. Apenas que a nós, são dadas às vezes, escolhas extremamente difíceis.

Alvo mais que a Mãe

Assim, e brincando de juntar as duas heresias, que sejamos tanto Alvos mais que a Neve, para glória de Deus, e que Deu continue “Pai”, independentemente de seu gênero (que não existe).

Apenas não façamos de não-questões um cavalo de batalha para destruir conceitos lindos e primordiais na vida do nosso já confuso povo.

Êxodo 20:7

Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. 

Êxodo 20:7 – 10 Mandamentos

Esse é um mandamento que é normalmente mal interpretado. A palavra hebraica para “tomar” é “Nasah” (נָשָׂא), que significa literalmente “levantar”, “erguer” ou mais precisamente, “carregar”.

Não “levantarás”, não “carregarás” o nome do Senhor teu Deus em vão. Já escrevi em algum lado que isso não significa falar “Ai meu Deus do céu” e ser jogado nas trevas do inferno. Não me parece que Deus seria pueril a ponto de pronunciar um mandamento assim.

Carregar, levantar aqui me parece – e pareceu ao estudioso Denis Prager, da Prager University, em seu livro “The Rational Bible Exodus” levanta o tema de forma bem mais adequada: Eu “carrego” o nome de Deus em vão quando eu digo que sou “ligado a Deus” e faço coisas que contrariam o que Ele diz, manda, ensina.

Caso (Hipotético) 1 – Negócios Escusos

Estudo de caso é uma técnica para aprendizado e fixação de conhecimento que se tornou a norma nas melhores universidades do mundo. Parece, realmente, que um “estudo de caso” cairia bem para entender como é que um dito cristão toma o nome de Deus em vão.

Fulano de Tal é um empresário. Fulano se diz “cristão”, fulano vai na igreja, leva os filhos, era casado com uma mulher “terrivelmente cristã”. Fulano faz negócios de forma atabalhoada e convence os amigos a investirem com ele. Um desses amigos, entendendo que é algo interessante, convence outros amigos a investirem com ele, suponhamos (para o “case”) num hotel.

Eles compram juntos o hotel. O amigo confia nele porque, afinal de contas, ele “Carrega o nome de Deus” consigo, e obviamente, quem assim o faz, só pode falar a verdade e agir com o melhor de sua capacidade, em prol do outro, antes de si mesmo.

Acontece que, por uma razão ou por outra, o tal Fulano só tem olhos para seus próprios interesses, e, no final de anos, desviando recursos para seus outros empreendimentos, e sempre deixando as águas turvas, para que ninguém veja com clareza, consegue levar todos a perder muito.

Fulano, ainda por cima, se sente “o injustiçado”. Não entrou com um centavo no negócio. Trabalhou, é verdade, mas sempre deixou seus interesses acima dos demais, e no final das contas, joga seus processos trabalhistas em cima de “todos”.

Fulano certamente esqueceu de ler o restante do mandamento: “Deus não terá por inocente quem carregar Seu nome em vão”. Fulano, certamente, terá que se entender com o seu deus, ou com Deus.

Caso (Hipotético) 2 – Pirâmide Financeira

Fulana era amiga de décadas de várias pessoas em sua igreja. Era uma verdadeora artista, trabalhadora e mãe de filhos. Fulana, assim como Fulano, “carregava” o nome de Deus sobre si. Todo mundo a conhecia como tal.

Fulana começa um processo de envolver um monte de gente muito “amiga” em um esquema de pirâmide financeira, bastante dissimulado. Isso vai num crescendo até que “explode” com um caminhão de dinheiro de vários “irmãos” e “amigos” indo parar em mãos incertas e não sabidas.

Ações judiciais pra cá e pra lá fazem a festa para detratores do Nome de Deus. É um festival de apontamento de dedos.

Fulana carrega, agora, o nome de Deus absolutamente em vão, e deixa um monte de gente mais pobre, em detrimento de uma pseudo abundância financeira.

Moral da História?

Os dois casos acima tratam na mesma coisa. A (falta) de moral nessa história já estava descrita como um Mandamento – 10% deles, portanto, falando sobre “carregar” sobre si o nome do Deus vivo em vão, ou seja, indignamente. São casos hipotéticos de pessoas que expressam ao público serem “portadoras do nome de Deus”, e o fazem em vão.

Eu, pessoalmente, já carreguei o Santo nome do meu Deus em vão. Sim. Já tive meus momentos de fraqueza, mentiras, desapontamentos e coisas que certamente Deus não me terá por inocente. Obviamente que o Sangue de Jesus já me purificou deste e de muitos outros pecados, mas os efeitos estão cá comigo. Para sempre.

Estudando para aulas de Escola Dominical no Livro de Hebreus, me deparei com um diagrama que de certa forma toca no assunto, e que gostaria de compartilhar:

É uma forma razoavelmente simples de entender o que o sujeito faz e onde ele anda. Você tem uma conduta condizente com o Nome de Deus? Sim, ou não. Se sim, você pode até não ser “crente”, mas age de forma a não ser um problema para Deus, mesmo não crendo nEle. É o tal “joio”.

Se você age de acordo com o Nome de Deus, e é “crente”, é “trigo”. Já tem gente que não age de acordo com o Nome de Deus. Pode ser “crente” (e aí precisa ser disciplinado ou não (é apóstata, no duro).

Vivemos num mundo de gente que tem “carregado” o Nome de Deus sobre si e feito as maiores barbaridades: desde defender assassinato de criança na barriga da mãe até receber propina e ainda “agradecer a Deus” pelo fruto do roubo. Tem gente que mente para se eleger; tem gente que rouba o próximo prometendo “prosperidade”. Tem de tudo. Ao “carregar o nome de Deus” de uma forma tão horrorosa, dão ao Inimigo a munição que ele precisa para dizer que “é tudo igual”.

Tem gente, por outro lado, que dedica a vida, os bens e a inteligência para abençoar o próximo. Tem gente que sequer crê em Deus, mas de certa forma “carrega Seu Nome” de forma mais digna do que muita gente que se diz cristã. Esses, a despeito da incredulidade, acabam se beneficiando dos Mandamentos e sendo mais felizes, mais realizados, mais prósperos.

Eu quero “carregar” o nome do Senhor. Eu faço questão, e faço questão de fazê-lo de forma a que até mesmo meus detratores e inimigos tenham paz comigo.

Sheol

Não posso dizer que acordei, porque não sabia bem se estava dormindo ou não. Só sei que na minha frente tinha um cara de estatura mediana, e que nem consegui ver o rosto de tanto que o lugar brilhava. Acho de que devia ter estado em algum lugar escuro, porque meus olhos não davam conta de se adaptar à claridade absurda em volta de mim.

Ouvi, mais do que vi, a voz do tal sujeito, o único que eu conseguia mais ou menos ver. Tinha a impressão de que não estava sozinho. Não que parecesse que havia do meu lado um montão de gente, nem porque ouvia barulho típico de multidão. Na verdade, não me lembro nem de ouvir um zumbido sequer. Mas que parecia estar acompanhado, parecia.

A voz me falava de coisas que me evocaram pensamentos ainda da mocidade – coisa que, aos quase 90 anos, é difícil de esquecer. Ao envelhecer, fui esquecendo coisas recentes, e me lembrando de coisas pequenas da infância e juventude; coisas que moldaram meu caráter e minha forma de ser: o cheiro da casa dos meus pais, de fogão de lenha e flor de laranjeira, a textura da pele da primeira namorada, branquela e rechonchuda, a cor do céu e das nuvens, que a gente ficava olhando depois do almoço deitado no capim gordura de trás de casa, e dizia “é um elefante“, “é um camelo“… Épocas mais simples, e que com o tempo pude ter certeza de que ajudei a complicar, a tornar mais pesadas e menos brilhantes.

A voz se aproximou de mim e me dizia que eu tinha, sim, responsabilidade pelos meus atos e que tinha me esquecido de coisas que tinha aprendido, e voluntariamente deixado de acreditar, seguir e obedecer. É fácil ver isso, em retrospectiva. Tive uma vida intelectualmente boa, uma educação – dentro e fora de casa – adequadas, numa escola pública que era melhor do que vi em tempos mais modernos, mesmo paga. Éramos mais simples, menos enxovalhados por complicações que, no fundo, minha geração ajudou a criar.

Fé? Não sei. Acho que não tive nunca algo que possa chamar de fé com F maiúsculo. A mãe? Sim; o pai? Sem dúvida. Eu? francamente acho que não. Ao que a voz me chama e diz “no ouvido” (não dá pra saber se foi ou não) – Carlinhos, esquece o que passou e dê-se uma chance de voltar a crer.

Eu, com minha independência intelectual e língua afiada, respondo na hora: mas crer em quê? Onde é que eu estou, em primeiro lugar, e quem é o senhor (“s “minúsculo, já que não sei com quem falo)? E, por falar nisso, dá pra diminuir a intensidade dessa iluminação? Já estou aqui há uns 10 minutos e não consigo enxergar nada, com essa luz toda na minha cara!

A voz não sobe o tom, não briga, mas demonstra que não ficou satisfeita com a resposta. “Vou te dizer, mas diga: você sabe que dia é hoje?” Eu? Como vou saber? Eu estive tanto tempo deitado naquela cama, em casa, sob cuidado de tanto enfermeiro e médico, e agora, nesses últimos 15 dias, nessa praga de UTI que apita o tempo todo e não te deixam em paz, com um ar condicionado frio demais pro meu gosto e essa dor nas costas que não me deixam! Como vou saber que dia é hoje? Já não sei que dia é hoje há 2 anos.

A voz então fala – “você vai entender que dia é hoje, mas deixa eu te contar algo que você aprendeu e esqueceu: você comete erros e pecados; você viveu uma boa vida, teve boa família, bons filhos, não roubou nem matou, e socialmente é considerado um ‘baluarte’. Esqueça tudo isso. A pergunta permanece: você reconhece que erra?

Sim, em uma boa medida eu sei que erro. Mas não mais do que o vizinho do lado ou o cara da padaria. A voz insiste: “você entende que ao errar você se afasta de quem te criou?” Como assim, “quem criou”? Quem disse que fui “criado”? Eu entendo que somos, eu e todo mundo, produto de um processo não pensado ou planejado de melhorias que acabaram por produzir o Carlinhos, ou Dr. Carlos, como me chamam no escritório, que todo mundo conhece, e alguns até admiram. Não – não admito um “criador” a quem deva prestar contas.

A voz segue: “e quem você acha que colocou as duas primeiras bases nitrogenadas no lugar? Quem, me diga, criou o balanço perfeito entre o ponto de congelamento da água e a gravidade? Por que ela puxa tudo nessa terra pro seu centro a 9,8 m/s²? Quem você acha que coordena tudo? Um “Deus das Lacunas“? Fala sério Carlos.

Falo sério, e digo à voz: ninguém poderá ter certeza disso, agora ou nunca. A voz retruca: “o que é ‘agora’ e ‘nunca’ pra você? Quem te persuadiu a pensar que você continua respirando?“. Eu, “suando frio” (nem posso dizer se é isso ou não) pergunto – morri? A voz: “isso ainda não se sabe. Poder ter morrido, pode não ter morrido; tudo depende de sua decisão“. Uai? Que decisão, eu pergunto já meio indignado. A voz: “a decisão de viver internamente, ou morrer eternamente. A decisão de aceitar que é um cara falho e que, não importa o que você pense ou faça, foi criado com um objetivo, que só cumpriu parcialmente, e mesmo assim só do ponto de vista humano; que esqueceu o Criador, com “C” maiúsculo, e que, como tal, pode não ter mais chance de viver eternamente.

Já meio irritado, respondo – pode me mandar pra onde quiser. Acaba quando acabar, viro pó e boa noite pro gaiteiro… A voz, meio tristonha, diz: “Vou falar contigo uma última vez: lembra daquilo que você aprendeu com os pais, avós, gente que te amava, sobre um Deus bom, um Filho bom que teve que pagar um preço alto por sua causa? É e era verdade. Você pode viver eternamente, ou morrer internamente, ou vice-versa. Nada, mas nada mesmo, vai mudar essa realidade. Ao longo da sua longa vida você foi abordado por centenas de pessoas que te relataram essa realidade que falo contigo pela última vez. Você deixou sua sapiência e racionalidade se imporem à Sapiência e Racionalidade que falavam contigo. Não te deram provas? Claro que não! Que tipo de fé exige provas? Que tipo de mérito ou decisão informada existe em “ver” o manto de Deus passando diante de você flagrantemente teria pra você? Nenhum mérito, e é por isso que a fé é assim: não pode ser comprovada, agora nem nunca. Tem um porém nessa história toda, e é por isso que estou aqui: você não vai morrer eternamente sem ouvir e tomar uma decisão informada sobre sua situação. Você tem que concluir, por sua própria vontade, se crê no que está colocado diante de você ou não.

Não conseguia refletir. Não é racional o que está diante de mim. Não faz parte do meu modo de ser o “crer” sem fundamentar o que penso em fatos e dados. Ah, mas você tá “ouvindo” essa voz e vendo o “cara” aí na frente. Ou não tá? Sim, estou. Só não sei se 15 dias de UTI não fazem isso com a pessoa. Sabe-se lá se levanto daqui e começo a falar e agir como minha avó e sua mania de dizer que “Deus isso, Deus aquilo, Deus é bom, Deus me salvou” e por aí adiante? Não sei, não sei. ‘Não tenho decisão a tomar’ afirmei à voz.

Bem, não decidir é decidir. Pode partir, Carlos. Mas antes, me diga se tem alguma ideia que dia é hoje.

Eu? Nem ideia…

É Sábado de Aleluia“.

Qual Sábado de Aleluia?

O único que jamais existiu“…

Exemplo de Bolha

https://www.infomoney.com.br/business/global/por-que-o-tesla-cybertruck-de-elon-musk-virou-uma-guerra-cultural-sobre-rodas

Me deparo com este artigo e fiquei encantado com a clareza com que foi tratado o tema, mas, principalmente, a falta de interpretação adequada (minha opinião, claro) das causas da reação da “Bolha” específica.

Síntese do Teretetê

Anos atrás (5 anos) a Tesla lança um SUV grandão, feio pra burro, elétrico, chamado Cybertruck (ver foto acima, do unsplash.com). É grande, quadrado, rápido, blindado (de fábrica) e, segundo os designers, feito pra parecer aqueles carrões de filmes distópicos dos anos 80 e 90, como RoboCop, e outros, em que a corporação malvadona escraviza todo mundo, até o governo, e domina a sociedade com seus produtos ruins mas tornados indispensáveis pelo monopólio.

Ao longo dos anos, somando-se a isso a popularidade (numa Bolha) e impopularidade (noutra Bolha) do dono do boteco chamado Tesla, Elon Musk, há um crescimento em reações exacerbadas de lado a lado:

Segundo Richard Zhang, morador de Pittsburgh e proprietário de um Cybertruck, a grande maioria das interações que ele tem tido a respeito de seu carro tem sido positiva. Mas as negativas são muito, muito negativas. “Elas estão tão tomadas pela raiva que perderam todo o senso de decência e respeito”, disse Zhang, 30, sobre as críticas que recebeu.

Do artigo da Infomoney

Síntese, foco no dono da Tesla, não no produto. Foco no que o produto parece “significar” e não no carro em si.

Reações

Os problemas começam com alguns tipos de reação, que, da “minha Bolha” sequer posso julgar adequadamente, mas confesso que tento:

Para os membros de uma elite tecnológica preocupada com os problemas da vida urbana na Área da Baía de São Francisco e em outros lugares, é difícil não ver o Cybertruck como um carro dos sonhos, ou como um veículo adequado para enfrentar seus pesadelos.

Do Artigo do Infomoney

Bom, o carro é elétrico; o carro é silencioso; o carro é confiável; o carro é blindado. Problemas até o momento? Exceto aqueles que “minha bolha” consideram como difíceis de explicar (por exemplo, o fato de que ter carro elétrico com matriz energética “suja” é bobagem, e que as baterias ocasionarão mais poluição do que os “verdes” querem admitir), os atributos do carro parecem bons.

Mas a “bolha de lá” faz um link perigoso entre Musk e o carro em si.

Há uma conclusão?

Infelizmente, há. O nível de segregação entre as tais bolhas, e o nível de rechaço imediato, não pensado, não refletido, não discutido, faz com que uma e outra bolha julgue que a água do banho “sujou o bebê” e jogue ambos fora…

Estamos diante de uma situação em que o que eu “sinto” sobre algo está se tornando mais importante do que o que este algo é, em si mesmo. É algo que beira à rejeição que um muçulmano sente por um cristão (e muitas vezes, vice-versa), que é visceral e não diz respeito ao cara (cristão, muçulmano) que está diante de mim. É como o torcedor que nem viu o jogo, ouviu falar que teve um pênalti sem VAR, mas sabe, na “alma” que, se foi a favor do Flamengo, é roubado (para informação, sou tricolor de coração e acho que TODO pênalti a favor do Frá é necessariamente roubado – minha bolha, ninguém tasca!)…

A conclusão é a de que a soma de educação limitada e parcimoniosa em suas conclusões com o espírito de Fla-Flu do mundo atual, faz com que ninguém pense muito sobre fatos, mas sentimentos têm sempre razão – refletidos ou nào.

Bolhas

O tema é recorrente. Um lado acusa o outro de viver numa “Bolha” de informação dócil à sua visão do mundo. “Eu” nunca estou numa bolha. O “outro”, sempre. “Eu” nunca sofro a mínima possibilidade de estar errado. O “outro” sempre.

Vou tentar tratar o fenômeno aqui sem me importar com quem seja o “Eu” e o “Outro”. Entendo que se eu quero fazer uma abordagem minimamente rigorosa do assunto, preciso fazê-lo sem me posicionar. É quase impossível e provavelmente vou fracassar, mas vamos lá.

A Minha Bolha

A tentativa de assassinato de Donald Trump, ocorrida dia 14/07/24 foi o estopim desse toró de palpite. Na famosa “mais antiga exposição rural do Brasil”, na minha cidade natal, Cordeiro, em visita à santa mãezinha, me deparo com primos, irmãos, e outros parentes, ainda sob o calor dos acontecimentos.

“Fake News”, diz um. “Atentado sim!” esbraveja outro. Eu, de minha parte, e fazendo coro com minha linha de pensamento, me expresso com um “Igualzinho à facada do Adélio” – com o que todos concordam – ou por acharem fake ou não.

O fato é que percebi que não adianta argumento. Nada vai demover um sujeito a achar “fake” e o outro a enxergar como uma tentativa de desestabilização da democracia. Mas a primeira coisa que me deixa apalermado é a incapacidade das “Bolhas” em esperar apurações para concluir.

A Globonews já do dia mostrava dois jornalistas – um brasileiro (defendendo que era fake news, orquestrada pelo próprio Trump) e um americano que, falando em português, disse que era no mínimo insensato discutir o assunto ali, mas que a alegação do brasileiro era risível e tendenciosa (não lembro dos termos exatos).

Há vídeos, vários, que vão apurar o fato sem sombra de dúvida. Já quanto à acreditar nas apurações, é mais difícil, seja qualquer que seja o resultado. A comissão Warren, que investigou o caso do assassinato de JFK em Dallas, não conseguiu apagar as teorias da conspiração ainda em vigor.

A Sua Bolha

Eu não leio o que você lê. Eu não me coloco no seu lugar. De nenhuma forma eu acredito que [Lula]/[Bolsonaro] (escolha sua alternativa) seja honesto. Deus me livre de achar que [Lula]/[Bolsonaro] fez algo que preste em seu(s) mandato(s). Certamente [Lula]/[Bolsonaro] é um calhorda da pior espécie e odeia os pobres, na verdade.

A sua bolha é a do ódio. O amor [venceu]/[perdeu]. A minha bolha não existe. A SUA sim. EU não vivo em uma bolha. Eu olho tudo, examino tudo e retenho o que creio ser certo. Você? Tá sempre “serto”.

Minha Bolha, Sua Bolha e a Verdade

Talvez a forma mais correta de abordar este problema – e na verdade, qualquer outro, é o Método Científico. Mas esse se presta mais ao que é exato do que ao que é opinativo. No entanto, a verdade existe. Claro, sempre há os caras que falam da “minha verdade” e “sua verdade”. De dentro da Bolha existe “minha verdade” e sua opinião, somente.

Embora este tipo de visão de mundo sempre tenha existido, estamos diante de um processo radicalização “diabólico”. Coloco o foco no “diabólico” porque o Diabo não é apenas um “nome”. É um conceito – significa DUAL, dois lados, duas mentes, duas opiniões. O diabo é que o Diabo mora nos detalhes, como diz o aforismo. Mas hoje em dia ninguém quer ler detalhes. Ninguém quer esmiuçar nada. O simplismo é a regra. Os Reels de 30, 40 segundos, os memes, e tanta coisa instantânea.

Um cara do meu lado no aeroporto me viu com um livro de papel, de umas 800 páginas, na mão (Signature in the Cell, de Stephen C. Meyer) e não resistiu: “você tem saco pra ler isso tudo? Eu nunca li um livro deste tamanho”… Ele nem era tão jovem assim, para que eu (caindo na tentação da hiperssimplificação) diga que são essas “novas gerações”. Mas certamente, foi honesto. Eu, com cara de paisagem, não sabia como responder. Minha esposa quase me crucifica por ficar com o focinho em livros dia e noite. E com razão, pois pra mim se tornou um vício mais, como alcoolismo ou drogadicção.

A verdade, ah, a verdade é um treco complicado. Jesus recebeu de Pilatos a famosa resposta “e o que é a verdade?” (João 18:38) quando disse que veio ao mundo para “dar testemunho da verdade” (João 18:37). Jesus não respondeu. Não que não soubesse, como diria um detrator da minha ou da sua Bolha. Eu acho que ele não respondeu porque não valia a pena. Melhor morrer (e ressuscitar) logo e deixar a posteridade decidir quem ia ser chamado Salvador, e quem seria um nome de avião, ou de método de exercício, ou ainda um cachorro brabo…

Quando eu tento julgar o que é verdade, tenho séculos de pensadores que, de uma forma ou outra, fizeram contribuições importantes ao processo. Um, famoso, que gosto muito, se chamava Wilhem of Ockham, e sua famosa “Navalha” diz algo assim:

“Nada se deve aceitar sem justificativa própria, a não ser que seja evidente ou conhecido com base na experiência ou assegurado pela autoridade das Sagradas Escrituras

https://pt.wikipedia.org/wiki/Navalha_de_Ockham

Em outros escritos, Ockham foca na “simplidade”: de todas as hipóteses para um problema, sempre devemos procurar apenas UMA explicação suficiente, e o mais simples possível (mas, parafraseando Einsten, não mais simples que isso).

Filosofada pra cá, filosofada pra lá, quem se propõe a analisar um fato, deve, antes de qualquer coisa, supor: a)que não sabe a verdade ainda; b)que está disposto a reconhecer a verdade, se e quando topar com ela; c)que poderá ficar chateado com a verdade.

O caso da Ciência e da Fé

Um dos casos mais emblemáticos de “Bolhas” em conflito se dá há quase 200 anos, entre religião e ciência. Houve um tempo em que o conflito não existia. Era um tempo em que a Igreja organizada fomentou a ciência. Na verdade, as universidades eram todas confessionais, em um tempo dado. Até por volta de 1780, ou por aí, a fé e a ciência caminhavam, aos trancos e barrancos, juntas.

De lá pra cá, grandes pensadores já declararam Deus como tendo falecido, já declararam os homens de fé (qualquer fé) como loucos ou burros, e já declararam que a Ciência estava a caminho de expurgar da humanidade a necessidade de crença (qualquer crença). Só restariam as evidências.

Fomos todos ensinados a deixar a fé numa caixinha à parte, que os verdadeiros cientistas condescendentemente nos deixavam ter, ainda, mas que em breve a luz da verdade se acenderia em nós, e nos livraríamos do obscurantismo que a fé representava.

A Bíblia e outros textos “sagrados” se tornaram contos da carochinha e só isso.

Pois bem, na medida em que a própria ciência foi progredindo, a dúvida voltou a pairar sobre a cabeça dos mesmos que julgavam que haviam resolvido tudo o que havia para ser compreendido. O impacto de descobertas como a Dupla Hélice do DNA, por Crick e Watson, nos anos 50, e, mais recentemente, a radiação de fundo e o Big-Bang, fizeram reacender discussões que haviam “morrido”. Essas descobertas colocam, dia após dia, “consensos” como a Teoria da Evolução em xeque. Hoje, cientistas antes céticos, começam a pensar de forma crítica sobre suas próprias conclusões. O livro que já citei (Signature in the Cell) é um relato fascinante, de um cientista ateu (ma non troppo…) que, se quisesse continuar a ser intelectualmente honesto, tinha que se render a evidências de “Design Inteligente”.

O lado “de cá” (uma das Bolhas) teve chiliques e pitis. Óbvio: é extremamente complexo sair da sua “bolhinha” e ver o mundo de uma forma diferente. O progresso da raça humana, no entanto, depende disso. De sairmos da zona de conforto e nos colocarmos “no sereno” da verdade, e no incômodo que ele produz.

A conclusão é a de que, embora um relato simplificado, há coisas no Gênesis que merecem atenção, e que, se expresso por um “Deus amoroso” precisaria mesmo ser simples: como explicar algo tão imenso em palavras que o pastor de cabras do sul do Sinai entendesse, bem como um ganhador de Nobel? Há que simplificar – sem perder a verdade implícita, mas de forma a contar a história.

Desprezo pela Verdade

A única coisa que vemos no nosso momento “diabólico” de hoje é um tremendo desprezo pela verdade. Ambas as bolhas se entreolham, e têm a certeza de que, se cederem à verdade contidas em determinados argumentos da parte contrária, serão expulsos pelos fanáticos de sua bolha.

Reconhecer que existem apenas dois tipos de cromossomos, e portanto, dois gêneros, passa a ser anátema, em uma bolha.

Reconhecer que pode perfeitamente haver uma rede de proteção social bancada pela sociedade, sem que isso implique em quebra do sistema capitalista, também é anátema, na outra bolha.

Os exemplos se multiplicam e este (já longo) artigo, se tornaria um livreto se contássemos todos os causos.

A razão das Bolhas

Olhando o assunto da melhor forma que consigo, tendo a concluir que a razão da existência das bolhas é, de fato, satânico/diabólico: se eu não separo, se não segrego, não conquisto (Dividir e Conquistar). Se deixo alguém pensar, se não o sufoco com “provas” que me interessam, se não induzo a um determinado objetivo (meu), não chego no meu objetivo. Qual é? Há mais de um – dois, pelo menos.

A razão, de novo, na minha opinião, é a polarização em torno de uma figura central, uma “ideia” difusa ou não, mas sempre há alguém fazendo com que eu seja levado a pensar de um jeito que interesse a alguém. O fato de que alguém seja inteligente de estudado não faz dele imune à influência de uma das bolhas. Pelo contrário, alguns “fanáticos de carteirinha” são justamente pessoas de excelente intelecto e realizações, científicas, artísticas e sociais. Pessoas que nunca poderíamos esperar que se comportassem como trogloditas de mídia.

Já vimos esta situação em momentos de radicalização, diversos. A Revolução Francesa foi uma; o Outubro Vermelho foi outra; o Nazismo foi uma outra. Eu suponho que veremos momentos de maior radicalização ainda. Temo que o resultado seja o mesmo de antes: sangue nas ruas.

De novo, que Deus nos livre!

O Continuar do Mal

A Primeira República Francesa foi proclamada no dia 21 de setembro de 1792, através da Convenção Nacional, como processo da Revolução Francesa. Ela se organiza entre grandes grupos burgueses, tendo como uma das figuras de destaque, Robespierre. Ela marcou o fim da monarquia constitucional e o início do republicanismo como modelo político, que no próximo século passaria a vigorar em grande parte das nações. Durante sua existência, a Primeira República sofreu com intensas disputas pelo poder, que afetou em muito a vida dos franceses. 

Além da queda da hegemonia monárquica e da Convenção Nacional, o período pode ser compreendido também através do Terror, da criação do Diretório e do Consulado. Em 1799, Napoleão Bonaparte lidera o golpe conhecido como 18 de Brumário, que posteriormente acaba transformando a República no Primeiro Império Francês, no ano de 1804.”

Copiado de Verbete da Wikipédia

O Continuar do Mal *

Imagino, apenas imagino, ao citar como sendo o começo do mal, devido ao fato de ter a revolução ocorrido para sanar uma situação muito própria do período feudal, apesar de terem sido os impérios uma forma necessária temporal para unir desunidos espalhados pelos países europeus até então e, em especial, na França.

Quando ouvimos nos bancos escolares ainda crianças sobre a histórica Revolução Francesa, passamos rapidamente a admirar tais feitos e realizações, sendo que no Colégio Pedro II onde cursei o Ginasial, aprender a letra e a melodia do hino revolucionário francês nos levava ao êxtase.

Contudo, confesso que mesmo àquela época eu ficava intrigado com o fenômeno Robespierre, as guilhotinas que ceifavam cabeças de contrários à rodo e não só, como hoje se sabe, de reis, rainhas e suas gerações, e até mesmo, crianças.

As leis do Comitê e as políticas levaram a revolução para níveis sem precedentes, que introduziu o calendário revolucionário civil em 1793, fechou igrejas em torno de Paris como parte de um movimento de descristianização, julgou e executou Maria Antonieta, e instituiu a Lei dos suspeitos, entre outras. Sob a liderança de Robespierre, os membros das várias facções e grupos revolucionários foram executados, incluindo os Hébertistas e os Dantonistas, muitos dos quais eram amigos de Robespierre.”

Copiado de Verbete da Wikipédia

O que se viu a partir de Napoleão foi um Estado/Nação extremamente aguerrida, um exército diferenciado e valoroso que, rapidamente, passou a agredir seus vizinhos e dominá-los pela força bruta dos terríveis canhões franceses. Napoleão surgiu para o mundo como o General/Imperador capaz de estender o braço francês até bem próximo a Moscou, só não completando tal feito em razão do desprezo ao rigor do inverno russo e da resiliência dos seus opositores.

Pode-se enganar a alguns por muito tempo, contudo, nem a todos para sempre.

A História contada e requentada sempre foi e será perigosa para os pouco atentos. Existe aqueles que estão a solto e intocados, a margem da crítica paga, por interesses nem sempre verdadeiramente democráticos.

Enfim, “há perigo na esquina” como já foi dito por um bom compositor.

Kristallnachts da Vida

Meus 2 gramas de contribuição **

Diante de um mundo embasbacado pelo conhecimento “enciclopédico” preconizado por Voltaire, e cujo conceito tomamos partido nas citações acima, diante de um mundo que poucos anos depois estava sob o impacto do ultra terror, os expurgos e milhares de mortes, que anos depois viria a dar base “moral” (Sic!) para expurgos de Stalin, Mao, Pol Pot entre tantos outros, nos perguntamos quando é que começaremos a achar absurda a morte pela morte, as prisões sem julgamento, as suspensões “temporárias” do estado de direito, nas palavras de ministros do STF, ou seja, uma Noite dos Cristais à brasileira, tida em 8 de Janeiro de 2023. Essa Kristallnacht que até hoje justifica tanta barbaridade contra velhos, mulheres e jovens de vida pacata, cujo único defeito foi acreditar que viriam em socorro do país, num momento de agudização de uma ditadura tentada e não conseguida, há uns poucos anos, pela “falta de aparelhamento adequado das cortes”, como disse candidamente determinada eminência parda da esquerda.

Ou seja, existe justificativa para determinadas atrocidades (“uma boa bala, uma boa cova”, como disse um notório professor universitário, ao se referir ao “burguês”)? Não, não existe. Defender-se é uma coisa que legitima a violência. Defender-se não é assassinato. O mandamento, em Êxodo 20, em seu hebraico original não é “Não matarás”, mas, mais especificamente, “Não assassinarás”. Assassinar é a tal “boa bala”, “boa cova”.

Tanto aqui como em qualquer lugar do mundo, o devido processo legal e a igualdade perante a Lei são pressupostos de civilização. Ano passado, e ao longo deste ano, temos assistido a morte do processo civilizatório no Brasil. Que isso não prospere! Deus nos livre!

P.S. – entre a confecção deste texto e o dia de sua publicação vimos o atentado à bala contra Donald Trump num comício nos EUA. Embasbacado, fiquei (**) a meditar sobre qual seria a reação da mídia sobre o assunto. Um próximo artigo dará minha contribuição ao debate.

Parceria Arriscada:

*   Roberto Montechiari ** Wesley Montechiari

O Futuro de BAM – Business as Mission

As viagens missionárias do fazedor de tendas mais famoso da história…

Este pequeno artigo será, se Deus quiser, expandido para algo mais substancial sobre o modelo de futuro que creio que seja adequado para o movimento Business as Mission, BAM, ou na melhor tradução possível, “Missão Empresarial”, ou “Negócios como Missão”. Autores consagrados, como Mike Baer, Mats Tunehag e João Mordomo, entre vários outros teóricos de BAM, juntos conosco no 1º. Encontro do BAM Brasil, entre os dias 18 e 19 de Maio de 2024, nos brindaram com palestras fantásticas que versaram sobre a forma como nós, empresários, podemos e temos obrigação de olhar para nossas empresas e firmas com um olhar “sagrado”.

A principal mensagem, o principal “produto” que levei para casa deste congresso foi:

“Não há hierarquia entre o homem de Deus pastor, pregador ou missionário, e o homem de Deus empresário ou profissional liberal”.

Congresso BAM Brasil

A tendência que temos de olhar para os “clérigos” como gente mais próxima a Deus é absolutamente equivocada, e fruto de um mundo que começou a tratar coisas sagradas e profanas separadamente, relegando os negócios ao plano inferior. As razões são várias, e não vamos entrar nelas de cabeça, mas apenas resumindo, somos considerados mais profanos porque:

  • A cosmovisão católica que permeia boa parte do mundo hierarquizou e segregou o clero dos fiéis, sendo os empresários relegados à segunda categoria.
  • A visão de que lucro é pecado faz com que entendamos que o que fazemos é “arrancar algo de outra pessoa”. É uma visão deturpada da economia e das pessoas de forma geral. Estamos sempre ocupados em sublinhar o que de pior vemos nos outros.
  • A visão especificamente brasileira, em que um certo empresariado está sempre mancomunado com os governos, para obter vantagens indevidas, e mais, a visão de sonegação como um “mal necessário” à sobrevivência das empresas nos faz achar que empresário é alguém que vive num ambiente menos santo.

A despeito de tudo isso, o movimento BAM tem avançado no Brasil e no mundo, fomentando uma nova geração de empreendedores focados em gerar riqueza, para si e para os stakeholders de seu negócio, de forma saudável, socialmente e ambientalmente responsável, mas, sobretudo, espiritualmente comprometidos em viver (mais do que falar) o Evangelho dentro de nossas organizações.

Nós mesmos dentro da VBR Brasil temos tido a oportunidade de ter um turnover bastante baixo nos nossos funcionários. Parte disso, eu creio, advém de um ambiente social e espiritualmente saudável, onde a competição não é estimulada, se leva outro a ser deixado de lado. A competição é estimulada no sentido do melhor esporte do mundo – o golfe – no qual a pessoa, no fundo, joga contra ela mesma, suas limitações e momentos. Um ambiente espiritualmente saudável parece ser conducente a um relacionamento saudável entre as pessoas. As gerações mais modernas parecem gostar disso mais do que de um salário um pouco maior.

BAM joga, então, com a formação de empresas que tenha o poder de impactar o mundo, a começar por seu ambiente de negócios mais próximo, para Cristo e o Seu Reino.

A questão aqui não é mudar nem criticar esta filosofia do trabalho BAM. Ela está perfeitamente em linha com o Novo Testamento e com a Grande Comissão. Ela deve continuar a ser estimulada. Empresas cuja propriedade seja de servos de Deus devem ser estimuladas a se tornarem empresas BAM, sérias com Deus e Seu propósito. Ele continua a querer receber Glória (Doxa, como adora dizer João Mordomo) entre as nações.

O que quero tratar aqui é do futuro de BAM, como forma de penetração nessas nações. O objetivo aqui é tratar do Fluxo de Capital intergeracional, e como isso pode afetar BAM e a atividade e missionária mundial. Temos algumas certezas sobre o mundo atual – social e econômico:

  • Ele jaz no maligno (1 João 5:19).
  • Ele exerce crescente perseguição sobre o povo de Deus (Ap. 2:10)
  • Ele tornará o livre acesso das pessoas ao Evangelho cada vez mais difícil (Rom 8:36).

Diante disso, chegará, em breve, o tempo em que a existência de missionários será restrita de tal forma que somente não-clérigos poderão estar no meio de determinadas populações. Quem serão esses? Nós hoje os chamamos de bi vocacionados, de fazedores de tendas e muitas outras formas. O fato é que o mais bem sucedido “não-clérigo” me parece ser aquele que tem interesses vestidos em empresas e países em regiões complexas, ou que, pela natureza de suas empresas, possuam alcance grande o suficiente para serem relevantes em um local remoto, a despeito de estar ou não lá (a internet pode ser bênção, com certeza).

Do OPEX ao CAPEX

Como me pronunciei durante o painel-entrevista entre mim, e a Lara, brilhante guria de 22 anos, já CEO de sua empresa BAM, e antenada na vida espiritual e empresarial (uma alegria de ver!) e o querido Danilo Brizola, BAMer e agitador profissional, acredito em uma mudança na forma de alocação de recursos para missões.

Estratégias Atuais – a primeira onda – o OPEX[1]

A principal estratégia missionária mundial atual data dos primórdios da BMS – British Missionary Society, criada pelo querido e famoso William Carey no Séc. XVIII ainda, e cujo sucesso é inegável. De lá para cá tem sido mais do mesmo: reunião de fundos via denominações e pessoas empenhadas em contribuir para o Reino. Esses fundos são então lançados sob forma de cobertura de subsistência de missionários profissionais (a palavra é inadequada, mas é uma que reflete o que de fato existe), e os resultados são de maior ou menor intensidade, a depender do local, do estilo de trabalho e outros fatores, muitas vezes incontroláveis.

Essa foi a estratégia vencedora, por exemplo, no Brasil. Mesmo em sendo um país nominalmente cristão, o estilo de cristianismo havido aqui sempre foi mais não-praticante, ou não “nascido de novo” (embora não possamos negar o caráter eminentemente cristão de muitas e muitas lideranças religiosas do país ao longo dos séculos). As denominações evangélicas do velho mundo e dos EUA, primariamente, identificaram o Brasil como uma potencial fonte de cristãos nascidos de novo, e despejaram recursos humanos e materiais aqui.

Eu mesmo sou fruto disso, pois minha família, originalmente italiana e católica, passou por um processo de profunda transformação, a ponto de sermos hoje identificados diretamente com o cristianismo evangélico já por 4 gerações.

Essa foi a onda do OPEX, que ainda é a mais usada por organizações missionárias e denominações.

Estratégias Atuais – a segunda onda – o CAPEX[2]

Em um ambiente de repressão e dificuldades, apenas a lógica econômica mais direta e atraente para o país receptor vai permitir que o jogo continue a ser jogado. É muito mais difícil recusar um visto a um CEO de uma empresa investidora estrangeira do que a um missionário, ou, como tem acontecido frequentemente, missionários travestidos de estudantes de idiomas ou outras funções.

A motivação econômica direta é ao mesmo tempo legítima e legitimadora dos cristãos que, independentemente de qualquer coisa, vão ganhar a vida em outro país, pelo meio do empreendedorismo e do trabalho árduo e honesto.

Para isso, antevejo a necessidade de uma mudança em direção ao modelo seguinte. Aqui, uma pausa para segregar um conceito já apelidado de Business FOR Mission (Negócios PARA Missão) e o que proponho agora. O “disclaimer” de BAM diferencia o conceito de BFM de forma inequívoca[3]

“Business as mission é diferente de… BUSINESS FOR MISSIONS

                Lucros de negócios podem ser doados para dar suporte a missões e ministérios. Isso é diferente de BAM. Alguém pode chamar isso de negócios PARA missões, ao usar negócios para prover fundos para outros tipos de ministérios. Reconhecemos que lucros de negócios podem dar suporte a “missões”, e que isso é bom e válido. De forma semelhante, empregados podem doar parte de seus salários para causas caritativas. Enquanto tal possa ser encorajado, nenhum de nós gostaria de ser operado por um cirurgião cuja única ambição seja a de fazer dinheiro para ofertar à igreja. Ao invés disso, esperamos que ele tenha as habilidades corretas e que possa operar com excelência, fazendo seu trabalho com total integridade profissional. De forma parecida, um negócio BAM deverá produzir mais do que produtos ou serviços a fim de gerar riqueza. Ele deve buscar cumprir os propósitos e valores do Reino de Deus através de cada aspecto de suas operações. O conceito de negócio BFM pode limitar os empresários a um papel de doadores aos “ministérios reais”. A despeito da doação ser uma função importante, BAM se trata de negócios com fins de lucro, mas focados no Reino.[4]

Entendi, então, que o que temos em mão se trata de algo diferente, cujo nome provisório (e conceito por trás dele) poderia ser “BUSINESS ON MISSION”, ou “BUSINESS ON MISSION BASE” (Bomb).

Trata-se aqui de uma forma de empreendimento imaginada, planejada, gestada e capitalizada para uma função legítima (gerar lucro, como BAM) e ao mesmo tempo, servir de veículo também legítimo para que cristãos possam espalhar a Boa Nova a povos não necessariamente alcançados, ou totalmente não alcançados.

Não falo aqui de enfiar evangelho goela abaixo de nenhum povo ou “colonizar” o outro, mas tão simplesmente viver a sua fé simples e forte, permitindo que outros “vejam a Cristo” em nós, ainda que sem qualquer proselitismo. É proibido fazer proselitismo? Não façamos, mas NÃO deixemos de viver a Palavra e exalar “o bom perfume de Cristo”.

Como?

A forma mais objetiva de BOM, ou BOMB (!!!) se baseia em transformar esse atual OPEX (ofertas para missões) em CAPEX (investimentos em missões). Dentro desse conceito, a que eu acho mais atraente e que pode dar os melhores resultados é a acumulação de capital no sentido de gerar  Fundos ou Entidades de Investimento legítimos, cujo objetivo é o lucro, mas cuja estrutura operacional crie oportunidade para que cristãos “raiz” se disponham a trabalhar como executivos em locais normalmente complexos, de forma legítima, mas com olho e tempo para a propagação do Reino, nesses locais.

Não advogo de nenhuma forma que levemos equipes inteiras para essas empresas e atividades. Ao contrário, a contratação de pessoal de base local é fundamental. Ajuda a criação de emprego no país destino, reforça a economia local, recolhe tributos de forma legal e correta, e, no fim das contas, permite que interajamos com os cidadãos locais, levando-os, sem colonialismo, mas com amor profundo, ao conhecimento de Cristo.

Esses fundos funcionariam mais ou menos assim[5]:

Transformar as “doações” em capitalizações para Fundos de Investimento (Private Equities, entre outras plataformas) com todas as salvaguardas, garantias e governanças das leis dos melhores países e jurisdições para tal.

  • Estabelecer para o Fundo: a)As regras de investimento As regras de assunção de riscos e retornos; b)As regras de reembolso e reinvestimento; c) As regras de segregação de retorno ao Fundo e à transformação de CAPEX (retorno) em OPEX (novos bi vocacionados e líderes de campo); d)Um Board com visão alinhada com BAM e com o Reino.

Desta forma, bons investimentos vão gerar bons retornos, que terão três virtudes:

  • Tornar o movimento autossustentável
  • Tornar o movimento menos vulnerável a governos e políticas religiosas de países.
  • Dar ao movimento condições de crescimento mais acelerado do que a mera arrecadação de doações, ofertas e compromissos.
  • Tornar a vida dos bi vocacionados, na ponta extrema do movimento, mais estável.

Política de Emprego e Liderança

Empresas BOMB, ao serem comandadas e coordenadas por uma liderança BAM, teriam necessariamente, como já disse, que empregar localmente o máximo de pessoas, mas manter a liderança ligada e alinhada diretamente ao Fundo, a BAM e aos princípios BOMB.

Isso implica e que, em algum momento, empregados locais convertidos e comprovadamente capazes, passarão a ocupar cargos de liderança, alinhados com os princípios do movimento. Obviamente que lideranças cristãs locais e capazes podem ser recrutadas de imediato, o que normalmente não parece ser tão fácil.

Em qualquer circunstância, é ser “sal e luz” que vai ganhar o jogo, e não fazer proselitismo ou impor um modo de pensar.

São apenas reflexões não teóricas, baseadas em conceitos mais “heróicos” do que acadêmicos, mas podem servir de reflexão aos pensadores do Movimento como um todo.

“Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor”


[1] Operational expenses, em inglês, ou “Despesas Operacionais”.

[2] “Capital Expenditures”, em inglês, ou Gastos de Capital.

[3] Aqui, o puxão de orelhas de João Mordomo me ajudou no avanço para o conceito que apresentarei a seguir.

[4] Extraído do manifesto de BAM, traduzido por mim.

[5] O Fundo IBEX, que eu mesmo invisto, trabalha quase exatamente neste modelo.

Amós o Profeta Social

Há alguns dias tive a honra de ter sido professor de Escola Bíblica Dominical, na Igreja Batista Essência, em Curitiba, sobre o livro de Amós, chamado de profeta, que não era “profeta” no sentido dado a Elias e Eliseu, por exemplo, mas que eu chamo por este epíteto. É profeta porque profetizou e ponto.

Minhas aulas contaram com a base luxuosa de um estudo do Pr. Paschoal Piragine, sempre muito bem fundamentado. O que eu quero chamar atenção aqui é para o paralelo infelizmente verdadeiro, entre o Israel de Jeroboão II, de 760 aC e o Brasil de hoje.

Pano de Fundo

Aquele era um Israel próspero, devido ao domínio, poucas vezes conquistado e mantido, da rota inteira de comércio desde a Síria até o Egito. Israel e Judá tinham, então toda a receita da tributação do comércio que por ali passava, suas caravanas e produtos. Isso enriqueceu os reinos da época e acabou por ser o estopim da derrota, pela invasão promovida pela Babilônia, ao norte, que queria esse comércio para si.

Em vez de promover o desenvolvimento e bem estar de seus súditos, esses reis, e a elite do país, fizeram o oposto, o que acabou por enfraquecer o cidadão comum e por consequência as defesas nacionais.

Violência

A primeira crítica de Deus, por Amós, à Israel e Judá da época diz respeito à violência. A condenação feita aos reis e líderes pelo pouco cuidado com aspectos violentos da sociedade, e mesmo a imposição de violência ao povo, dá o tom para a profecia e os “Ais” de Deus para o povo – prepare-se, porque uma liderança que permite a violência vai acabar por cair.

Vivemos momentos iguais aqui, com extrema leniência com quem é violento, e a inversão de valores típica dos moderninhos que são contra qualquer coisa que tente conter o agente da violência, e chama de violentos os agentes da ordem. Desde a moda do “Defund the Police” nos EUA aos ecos macaqueados aqui repetidos, vivemos uma época e um Brasil no qual a verdadeira violência é bem vista, e a suposta violência de quem quer cadeia pra bandido é colocada com horror frente a câmeras de TV.

Somos “violentos” quando nos colocamos contra o aborto? Somos violentos quando nos insurgimos contra injustiças cometidas por poderosos sem freio? Somos ruins, maus mesmo, quando somos contra o poder do narcotráfico e sua violência tanto física quando pelo efeito devastador que seus “produtos” geram?

Exploração

Amós fala da parte de Deus sobre a exploração que é imposto ao povo. É bem específico sobre um tipo de exploração se trata: extorsão via tributos, concentração de riqueza nas mãos de meia dúzia que nada produziam (não, isso não é capitalismo – é exatamente o oposto), extorsão via criminalização da atividade comercial.

Amós é específico nessa condenação (na verdade, Deus através de Amós).


“Ouçam esta palavra, vocês, vacas de Basã que estão no monte de
Samaria, vocês, que oprimem os pobres e esmagam os necessitados e dizem aos senhores deles: ‘Tragam bebidas e vamos beber'”…

Amós 4:1

O grande pecado da exploração é geralmente cometido pelo principal explorador do mundo – o governo. Quase qualquer governo age assim. Quanto maior o governo, maior o explorador, ou a tentação de explorar via o pode que este confere. Quem é o seu maior sócio? Quem é o seu maior dependente? Quem menos te dá em troca? Eu arrisco a dizer que é quem leva mais de 1/3 da riqueza de uma nação sem dar nada remotamente compatível em troca. Exploração, que já ultrapassou o “quinto dos infernos” (os 20% de tributos sobre o ouro, instituído por Portugal sobre o Brasil) em mais da metade.

A Corrupção

O terceiro ponto reprovado e descrito Deus, via Amós, é a maldição de ontem e de hoje, a corrupção.


“Eles não sabem agir com retidão”, declara o Senhor, “eles, que
acumulam em seus palácios o que roubaram e saquearam”

Amós 3:10

A corrupção aqui é “palaciana” e não velada. É, de certa forma, institucionalizada. Quem, como nós, vive sob tremenda corrupção, deveria ter aprendido a identificá-la e a se defender dela da forma mais simples possível: não participando dela nem sendo corrupto.

Nosso povo, como os judeus deste milênio antes de Cristo, parece padecer da mesma dificuldade.

A religiosidade vazia

O último item de reprovação de Deus, por Amós, foi uma religiosidade vazia. Não é que os judeus não cressem em Deus ou prestassem culto a Ele. É, talvez um excesso de religiosidade. Aquela coisa de crer em Deus mas acreditar que temos que pular sei-lá-quantas ondinhas no fim do ano para sermos bem sucedidos; de ir à missa ou ao culto, mas também fazer uma fezinha na mega sena, pois afinal, vai que dá certo…

Uma religiosidade vazia é uma postura de confiança “desconfiada” do Todo-Poderoso. É achar que o volante da Sena corre o risco de ocupar o lugar provedor de Deus. É acreditar no que não pode nos ajudar, no final das contas.

Em suma…

Tanto o livro de Amós como o de Miquéias, que estamos estudando agora, nos dão conta de advertências de Deus a Israel na época chamada “Pré-Exílio Babilônico”, quando os judeus foram desarraigados de suas terras, o Templo destruído, seus reis mortos ou aprisionados.

É um tempo muito parecido, moralmente com o que vivemos agora. Corrupção, Exploração, Violência, Religiosidade Vazia, compõem nossa sociedade. Não creio que Deus tenha mudado; não creio que o Brasil e o mundo de hoje sejam muito diferentes. Resta a nós esperar um exílio qualquer, numa Babilônia qualquer, até que, “purgados”, possamos voltar à Terra Prometida e, quem sabe, de uma vez aprendermos a viver.

Medo Social

Este é mais um daqueles meus posts que cumprirá um papel de me lembrar no futuro, de minhas conclusões sobre problemas do presente. E as conclusões estão um tanto longe do fato, tragédia, em si.

Assim como lá perto da minha terra, em Nova Friburgo, RJ, que em 2012 presenciou um “massacre” ambiental que levou a vida de mais de mil pessoas, por conta de chuvas tão avassaladoras que deixaram os meteorologistas de boca aberta, vimos esta semana o Rio Grande do Sul ser assolado por um fenômeno raro, e mais raro ainda deveria ser: uma queda de água sem precedentes, causada por um fenômeno que juntou uma massa úmida da floresta amazônica com um ar frio vindo da Argentina, como acontece todo outono. Como resultado, Porto Alegre ficou embaixo d`água, dezenas de mortos, milhares de desabrigados, gente sem água potável nem comida.

É uma tragédia. Mas para mim, não foi a tragédia de mais longo prazo. O Brasileiro, como sói acontecer, “caiu dentro”, apoiando, ajudando, fazendo doações, fretando aviões, levando água, comida, roupas e tudo o mais que a sociedade pode e deve dar nesses momentos em que nossos irmãos passam necessidade. Lindo de se ver, e independente de governos e autoridades. Mais rápido, voluntário, e certamente custando uma fração do que as “otoridades” conseguem fazer.

Medo

O depois está sendo mais doído e mais difícil de entender, mas posso concluir que deriva de uma parte da população que tem sido alimentada em um sentimento de direitos adquiridos indevido, e de certa forma, em detrimento da população em geral.

  • Grêmio – O clube de futebol abre as portas de seu lindo estádio para abrigar refugiados, apoia com água, comida, recebe as doações, faz o que é seu “dever cívico” (sim) mas com grande senso de dever social. O resultado é que parte, “aquela” parte da população cujo bem estar está acima de qualquer sentimento, invade as lojas do clube, quebra e rouba as vending machines, destrói cadeiras… talvez sejam torcedores do Inter, e achem isso “legal”. Mas é mais do que isso… certamente mais.
  • Saques – De novo, os “oprimidos” saem às ruas, enquanto a população se preocupa em salvar o que pode, para quebrar portas de lojas e mercados, e roubar. Comida? Pode ser também, mas as notícias dão conta de saques mais “seletivos”, de TVs, notebooks, e otras cositas más.
  • Assaltos – Uma organização cristã estava arregimentando gente pra ir apoiar no socorro a Porto Alegre. São homens, em sua maioria, e que fazem um treinamento intenso de sobrevivência, junto com uma jornada bacana pela fé em Cristo. Foram tomados de surpresa quando a liderança anunciou para “ir somente quem tem porte de arma” devido ao nível de bandidos à solta, cometendo crimes contra uma população já fragilizada.

Tá bom pra você? Ou acha sensacionalismo?

Repressão

A palavra acima suscita arrepios em correntes mais “libertárias” e “wokes” da sociedade, aqui e mundo afora. Reprimir, afinal, é o que dizem que a sociedade fez ao longo de séculos, criando um odiado patriarcado, e uma sociedade em que “é bom proibir”. Até que o “É proibido proibir” tomou conta da vida de todos nós.

  • Família – O pilar central da sociedade foi perdendo aos poucos o direito de educar, e dar uma boa palmada no traseiro de um filho rebelde. Claro, os exemplos de espancamentos são usados contra os pais que só querem, por amor aos filhos, faze-los sofrer menos no futuro. O resultado é uma família em que os filhos mandam (e mamam) nos pais. Os pais mandam então os filhos para o ponto seguinte do processo de “repressão” (segundo os wokes) sem um mínimo de respeito pelo outro, de respeito por si mesmos, e disciplina zero.
  • Escola – A escola então recebe um aluno que já tende a desrespeitar tudo e todos. Até um passado recente, a escola tentava tapar a lacuna de famílias desestruturadas e dar um pouco de disciplina e educação (no sentido não acadêmico) – falhar em provas, repetir de ano, ser levado ao “gabinete” do diretor, eram formas de tentar, ao menos, dar um mínimo de senso de convívio social. Não mais. Escolas se tornaram polos progressistas de transformação do que já vinha ruim, acabava por piorar
  • Governo – Todo governo, qualquer governo, que toma uma medida, meia boca que seja, no sentido de dotar a sociedade de meios de controle, é taxada de fascista, e ditatorial. O ex-ministro da justiça Sérgio Moro, em que pese sua burrice política extrema ao comprar briga com o chefe do executivo (convenhamos, não era também nenhum gênio), desfez um trabalho extremamente útil à sociedade, que foi o de acabar com uns tais “diálogos cabulosos” com a marginalidade. Por ego, talvez, colocou a perder o que teria sido seu maior legado: uma sociedade com menos poderes na mão de bandidos.

De novo – posso ser taxado de extrema direita pelas opiniões acima? Estou errado? Pode ser. Sempre estou disposto a admitir, desde que com boas razões. Não creio – neste momento de crise, pelo menos – que eu possa me sentir assim.

Legado

O resultado está diante de nós, na forma de uma sociedade cuja pior parte está armada, e pronta para cometer crimes contra uma maioria que só quer comer, dormir, trabalhar, procriar e fazer uma ou outra festa, quando der. Uma maioria esmagadora de gente que não está disposta a abrir mão de sua tranquilidade em troca de sensações de bem estar pessoal (leia-se, justiça própria).

Joaosinho Trinta dizia com propriedade que

pobre gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual“.

Joãosinho Trinta, carnavalesco

Sabedoria vindo de onde menos se esperava, sob forma de um aforismo que, creio, todos deveriam ler corretamente: pobre gosta de luxo, de estar bem, de ter coisas boas; intelectual adora a miséria – alheia, e luta para ter uma plêiade de miseráveis a quem pastorear.

O resultado é uma sociedade dominada por minorias: de corruptos, de bandidos, de intelectuais pró-miséria, de artistas woke ganhando suas benesses à lá Rouanet, todos, sem exceção, apontando o dedo para o “pequeno burguês”, o “capitalistazinho selvagem” cuja principal preocupação é trabalhar duro e não perder, seja para ladrão, seja para inflação, o que consegue juntar ao longo da vida.

Como sempre, este post é dirigido a mim mesmo, mas compartilho com quem quiser ler. Depois de uma temporada de balanços patrimoniais, me volto a escrever um tantinho. Deprimido de tanto ver erro e mal feito, e esperando nada ansiosamente o momento em que serei “descoberto e cancelado” porque, secretamente ou nem tanto, gostaria mesmo é que todo mundo fosse paupérrimo – exceto a si mesmos.

Deus nos acuda!

Sobre amigos e envelhecer

Manchete do O Globo nos anos 20 lia: “Anciã de 42 anos encontrada morta em sua casa em Santa Teresa“. Pois é, acabei de cumprir 59 anos e falta unzinho pra eu me tornar oficialmente ancião, pelo menos apto a usar vagas de idoso, demarcadas pela Prefeitura de Curitiba.

Ninguém se iluda. No dia 17 de dezembro do ano que vem, se vivo estiver, entro no site da prefeitura e peço minha carteirinha, coloco no parabrisa do carro e vou frequentar vagas exclusivas nos shoppings da cidade, com muito orgulho.

Há várias razões para isso, mas listo duas que são mais caras para mim.

Amigos

A despeito de talvez não ser o melhor amigo do mundo, tenho grandes amigos; os melhores do mundo. Da minha mãe, meus irmãos, tias e tios, meus filhos, minha esposa, sobrinhos e amigos antigos e novos, sou feliz por não andar sozinho e ter a casa quase sempre cheia. Gosto disso. Não é nem que eu seja lá muito festeiro, mas porque gosto de ter gente em volta – festa ou não. É uma espécie de celebração da vida e do contato. Dizem que envelhecer sem amigos encurta a vida, e se for essa a razão, espero que Deus me dê muitos amigos novos e me mantenha os antigos. Lá na frente, os amigos véios vão morrer, como já morreu meu amado pai, já faz dois anos.

Amigo é coisa realmente pra se guardar. Às vezes a gente perde amigos. Recentemente perdi um, que amo muito, e ainda me indigno com o fato, e pelo fato de não ter tido a menor influência sobre o assunto, nem ter contribuído voluntariamente pra isso. De repente o amigo simplesmente achou que já não valia a pena andar comigo. Pena, muita pena, mas respeito à escolha alheia. Se voltar, encontrará o amigo cá, com muitos defeitos (talvez os mesmos que levaram à separação) mas com os braços abertos.

Normalmente – e diria em raríssimos casos – eu me desfaço de amigos. Eu acho que se amizade fosse um fator derivado de alguma vantagem que se leva por andar junto, teria outro nome. Tem que aturar mesmo, com dificuldades, chateações e bobagens que a existência de qualquer um de nós traz. Todo mundo tem bafo, às vezes, todo mundo mente às vezes, todo mundo tem algum tipo de vício (uns mais visíveis que outros), enfim, todo mundo pensa diferente aqui e acolá. Não se pode descartar alguém por defeitos – exceto, talvez, por traição ou maldade. Mas nem assim a Bíblia usa argumentos contrários à amizade:

Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão. 

Provérbios 17:17

E é isso aí… em todo tempo. Em meio a dificuldades, pensando diferente, crendo diferente.

Tenho certeza que com amigos minha velhice será mais suportável.

A outra razão para eu curtir envelhecer

O Lado de lá do Rio da Vida

Ou a gente envelhece ou morre antes. Essa já seria uma excelente segunda razão pra curtir envelhecer. Morrer antes, como a “anciã de 42 anos” não é uma coisa tão legal assim. Claro que hoje, aos 59 anos, tenho talvez uma saúde melhor do que tinha 10 anos atrás, quando tinha pressão alta, pré-diabetes e 130Kg. Claro que há quase 100 anos atrás, uma pessoa de 42 anos teria condições físicas e mentais talvez piores do que alguém de 70 anos hoje.

Malho 4, 5 vezes por semana, com parcimônia mas persistência, e a única coisa que me incomoda é gostar mais de vinho do que eu deveria… estou tratando do tema… eu e Deus.

Tenho ainda alguns anos de vida profissional pela frente, e anseio pelo dia em que poderei me aposentar do que faço hoje, e continuar a fazer basicamente o que faço hoje para Deus, exclusivamente, num ministério qualquer que Ele me dê. Mas não vou ficar esperando o tempo passar sem fazer nada. Não é do meu estilo. Estou talvez mais preguiçoso do que nunca, mas ainda não acho que eu tenha perdido a vontade de aprender, de ler, de pensar e escrever. Ainda consigo me indignar com o estado das coisas, do mundo, e tentar contribuir de alguma forma.

Mas o que realmente me dá alegria de envelhecer é que a cada dia que passo, estou mais perto de encontrar meu Salvador, aquele que me dá sentido à existência e me faz saber que sou amado, com um amor sem fim. Essa alegria passará o Rio da Vida comigo, quando estiver na hora de ir. De vez em quando me pego pensando no outro lado, em como o Senhor me receberá, as “broncas” que tomarei pelos zilhares de erros cometidos, e pelos acertos que também consigo identificar e me orgulhar por eles.

Essa perspectiva vai tomando forma, e em vez de me assustar, vai me moldando. A expectativa é grande pelo que ainda vou realizar aqui, seja em mais 1, 10 ou 100 anos (!), mas sei que o Outro Lado é muito mais bacana. Ver meu Senhor, rever meus amados, principalmente meu amado Ettore, o Tóia, filho que me dá uma saudade imensa, me acalenta o coração.

Não pensem que este pequeno escrito é triste. NÃO é. É extremamente positivo e alegre. Quero a cada dia, dos que me restam aqui, ser cada vez mais alegre, positivo e contente com o que Deus me dá.

Ontem na igreja (17/12/23) tive a oportunidade de falar à comunidade no momento do ofertório. Me veio à mente uma conversa que tive com o Pastor Marcelo logo antes do culto começar. A colocação do pastor é “como é que tem gente que sempre quer mais riquezas”… eu usei então a famosa frase do J.P. Morgan quando indagado por um repórter sobre “quanto era suficiente“. Ele respondeu, talvez com muita sinceridade: “só um pouquinho mais“. Sincero, porém certamente triste. O pouquinho mais toma nossa mente e nos escraviza. Eu quero o que o mesmo Salomão disse, agora e na velhice:

…não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus. 

Provérbios 30:8-9 

Isso também me libertará as mãos para conseguir me alegrar nos dias que serão certamente os mais desafiadores, fisicamente, mas quase certamente os mais recompensadores para a alma.

Em síntese, amigos, se Deus permitir, serão a minha luz diária para continuar vivendo, até que Ele queira que eu vá.

De novo, nada de soturno aqui, nem estou tentando lançar um véu de tristeza sobre o restante da existência. Ao contrário, uma posição bem mais leve e alegre do que tive até hoje da vida. So help me God…