Existe uma história (verídica no meu entender) de que socialismo não dá certo em lugar algum do mundo. Até agora é o que temos visto. Virtualmente todos os experimentos comunistas e socialistas trazem pobreza e escravização de seus povos.
A argumentação comumente usada é de que o “verdadeiro socialismo” nunca foi de fato implementado no mundo, e que o “próximo” experimento sim, dará certo. Tá ‘serto’… Dia desses fui inquirido por que, na minha condição de “cristão fervoroso” (título de que me orgulho e quero ver cada vez mais tornado verdade), não achava que o cristianismo tinha admirável semelhança de resultados com o “socialismo” que na prática nunca fazia nada certo. Para isso, os detratores invocam situações de praxe, como as cruzadas, as guerras constantes entre reinos e estados cristãos, defesa de posições difíceis como pena de morte, porte de armas, etc.
Toda questão difícil tem sempre uma resposta fácil, e invariavelmente errada, como dizia H.L. Mencken. Não quero ser mais um a dar uma resposta simplista a uma questão que é, em sua natureza, difícil, portanto aguentem um pouco mais da minha má prosa.
1 – Proposição A – O Socialismo/Comunismo nunca deram certo em lugar algum do planeta – Este é um fato observável, sendo a óbvia mais recente constatação a Venezuela, passando por baluartes como Cuba e Coréia do Norte. Ainda estamos para constatar um país que estatizou os meios de produção, entregou a gestão das fábricas aos sovietes, planejou centralmente sua economia e ao final não colheu fome, morte, destruição da infraestrutura e tirania.
2 – Contra Argumentação A – Países escandinavos são “socialistas” e deram certo – Esta é uma inverdade das mais propaladas do mercado. Os anos de 50 a 90 viram o crescimento da qualidade de vida na Escandinávia virar motivo de inveja do mundo todo. Como sempre (e como até aqui no Brasil, de 2002 em diante), a prosperidade deu lugar ao populismo estatal, que erodiu boa parte da base da riqueza desses países, agora sendo reconstruída à força, a despeito do “encastelamento” dos mimizentos em posições de poder.
3 – Contra Proposição B – O cristianismo (e as fés, de forma geral) promovem a discriminação, o abismo e as injustiças sociais, e a fé cristã em particular é uma fé que promove a violência.
4 – Argumentação B – Argumentos, como os sempre apresentados pelo mundo muçulmano contra as Cruzadas, como instrumento de opressão, não encontram respaldo na história séria, não ideologizada. Cruzadas foram guerras de contra-ofensiva, em relação ao “arrastão” que estava sendo promovido pelos povos muçulmanos na Europa, da qual chegaram a abocanhar grandes nacos (Áustria, Hungria, e sul da Espanha, são os exemplos mais fragrantes). Cruzadas podem até não serem justificadas – como creio que não o são – como “libertação da terra santa”, uma bobagem em que ninguém nunca acreditou depois de 1221. Daí a entender essas mobilizações como puro e infundado ataque, vai uma bela diferença. A Europa foi atacada primeiro. O cristianismo sempre foi, desde muito cedo, a fé dos párias, dos escravos, dos pobres, e depois, a fé dos conventos, das santas casas, das missões, da assistência social (não à toa chamamos de “Cruz” Vermelha a grande organização humanitária que temos até hoje). Contrariamente a isso, outras fés sim, foram baseadas em “conversão ou morte”, num grau de intolerância incomparável. Obvio que episódios como a Inquisição Espanhola maculam a imagem do cristianismo como um todo (como evangélico não me sinto atingido por isso, mas entendo que os católicos sim). Mesmo assim, calcula-se hoje que pouco mais de 2 mil pessoas num espaço de mais de 100 anos tenham sido mortos por Tomás de Torquemada & Cia.
5 – Proposição C – O socialismo é mais tolerante e mais inclusivo do que o capitalismo. O capitalismo aprofunda o abismo entre as classes e pessoas.
6 – Contra-Proposição C – Aqui, uma confissão de que algo acima está ok – o socialismo e o comunismo realmente diminuem o abismo entre pobres e ricos. Tende a tornar todo mundo pobre – o Índice de Gini mais bacana da América do Sul hoje deve ser o da Venezuela, com (ex) ricos e pobres igualmente na miséria. O fato é que enxergo um verdadeiro socialismo no mercado de capitais – bolsa de valores. Os países do 1o. mundo, principalmente os EUA, têm uma grande quantidade de empresas listadas em bolsa (o termo lá é “public companies“, o que não significa “públicas” (estatais) como aqui, mas “detida pelo público”, e “to go public” significa abrir o capital, democratiza-lo). Como os juros são corretamente baixos – para fomentar a produção e inibir o “rentismo“, a poupança da população vai para fundos de pensão privados ou públicos – e de lá para o mercado de capitais, ou diretamente para este, de forma que em alguns casos a única certeza de receita, após uma certa idade, já na aposentadoria, vem dos dividendos trimestrais de boas empresas, pagadoras de dividendos. Daí a pressão por resultados nessas empresas, o que dá origem às reclamações sobre a “ganância” de algumas delas. O fato é que as “viúvas de Taubaté”, na versão americana, inglesa ou alemã, é que são a verdadeira fonte de pressão por resultados. Em síntese, lucro não é crime, mas se torna o rendimento de toda uma população, mais velha ou nem tanto.
Que meleca, alguns dirão. Misturar a contraposição entre cristianismo e outras religiões com capitalismo X comunismo/socialismo. Verdade. Mas a tentativa aqui é de demonstrar como aparências (e uma boa dose de ideologia, mídia contrária e políticos populistas e aproveitadores) podem transformar em “verdades reveladas” contrassensos incríveis.
Tem mais – mas pra outra ocasião – a falácia da “ciência” por trás da Teoria da Evolução versus o chamado “Design Inteligente”, tido como aberração acadêmica. E como somos levados a aceitar como dogma algo sem qualquer fundamento científico verdadeiro, a despeito de apoio de quase todo o mundo acadêmico.