Mãe Nossa / Alvo mais que a Neve

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Qualquer pessoa com alguns neurônios funcionando sabe perfeitamente bem que a Bíblia não “determina” que Deus é homem ou mulher. Em pelo menos uma ocasião, respondendo a saduceus (que nem criam na vida eterna), Jesus falou que uma mulher que tinha tido sete maridos não seria “de nenhum deles no céu”, pois no céu seremos como anjos, e não casaremos nem seremos dados em casamento. Uma óbvia resposta ao óbvio conceito de que anjos não são homens nem mulheres, e que Deus, obviamente, não se encaixa num conceito de masculinidade ou feminilidade.

Sexo dos Anjos

E cá estão teólogos e pastores famosos discutindo sobre o sexo dos anjos (como a sabedoria popular já diz: uma bobagem em si mesma. O referido teólogo, em um video recente (reproduzido parcialmente em https://www.youtube.com/watch?v=VLgHdaefoWU ou https://www.gospelprime.com.br/heresia-ed-rene-kivitz-apresenta-deus-como-mamae-do-ceu/) chama atenção para si, mais uma vez, pelas razões mais desatrosas possíveis.

O sexo dos anjos, ao que parece, “precisa” ser debatido, nem que seja para agradar um público específico.

Alvo mais que a Neve

Outra “celebridade” do meio evangélico, recentemente em entrevista com Caetano Veloso, faz uma crítica ao uso do Hino “Alvo mais que a Neve” (No. 39 da Harpa Cristã ou No. 123 do Cantor Cristão). A tal celebridade fala, a um Caetano “inebriado” algo mais ou menos como “a gente cantava aquilo com a maior naturalidade, como se não tivesse problema algum”… Em síntese, na cabeça da celebridade, cantar “alvo mais que a neve” é ato de racismo… e os negros cantavam isso com a “maior naturalidade” nas igrejas.

Talvez esteja na hora de “reinterpretar” o Salmo 51:7, no qual o Rei Davi fala:

“Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve.”

Qual é a Finalidade?

É muito difícil sair censurando as pessoas pelo que elas dizem, no “valor de face”, digamos assim, sem aprofundarmos no assunto, ou nas intenções. Não posso, sinceramente, condenar pessoas, com as quais concorde eu ou não, pelas suas palavras. Isso é função (Sic!, de novo) do STF e de patrulhas ideológicas. Aqui, dou apenas minha humilde opinião e experiências vividas.

Independentemente da puerilidade da discussão, Deus não foi chamado na Bíblia de MÃE em nenhum momento. Algo errado, se tivesse? Não creio. Minha fé mudaria se Deus fosse mais “feminino” que “masculino”? Não. Eu seria menos cristão se assim o cresse? Não.

A questão aqui é outra: Não vejo nenhuma oração da “Mãe Nossa”; não vejo em nenhum lugar o Espírito de Seu Filho clamando por por nós com a expressão “Ama, Mãe” (Ama é o equivalente a Aba, em hebraico).

Não vejo a Senhora dos Exércitos em nenhum lado, não vejo Paulo nos dizendo Graça e Paz da parte de Deus, nossa mãe”.

A questão da neve é menos “grave” por assim dizer, porque não foi levantada por um teólogo, cara eloquente, inteligentíssimo, autor de diversos livros e pregador de tradição. É mais uma questão de aparecer mesmo (talvez em ambos os casos) e jogar pra platéia. É um caso de Wokeísmo, mais barato, menos refinado, e, francamente, menos refletido e talvez mais idiota: ora, neve é branca; ora, fuligem é preta. Ora, não existem “pretos” nem “brancos”. No máximo existem “rosados” e “marrons”, nos dois lados do espectro conhecido da pela humana.

Quando Davi fala de “alvo mais do que a neve”, obviamente não está fazendo nenhuma menção a pele, a nada, que não seja diretamente ligado à noção de pecado, de um lado, e santidade, de outro. É risível, portanto, ver um Caetano, que nem é cristão, ficar transfixado pelas palavras da celebridade. “É verdade? Puxa, que gente racista, que gente burra”…

Talvez seja mais fácil discernir o interesse do talentoso cantor baiano do que a das ditas “celebridades cristãs”.

Arranca Rabo

Mas no caso do teólogo, não sou exatamente inparcial. Há alguns anos, durante a campanha do ocidente para expulsão de Sadam Hussein do poder, e reconquista do Kwait, escrevi um texto (do qual não me arrependo – desculpe, celebridade… burrice minha talvez) em que eu dizia algo como “creio que exista um excesso de grana na mão de alguns tiranos locais, e que seria muito bom que os caras tivessem menos recursos pra bancar suas tiranias”. A resposta ao meu texto (bom, eu que não sou nem celebridade, nem teólogo, e francamente, ninguém na fila do pão) foi “tristes palavras“. Logo depois diz “somos o povo que apanha, não o povo que bate“. Lindo! O coro de aplausos deve ter sido super bacana… só que erra o alvo no básico: um caminho pode parecer uma escolha “de paz” e não “pacificadora”. Todo mundo sabe o resultado: por um lado temos um Iraque e um Kwait mais pacificados; temos um Irã (que não foi confrontado) atacando a única democracia do Oriente Médio; temos, enfim, alguns anos de tentativa de pacificar por meio da covardia, países claramente ofensivos e beligerantes. É o ideal? Não, mas é melhor do que a covardia pura e simples.

Aquilas palavras me doeram, não porque eu seja a favor de guerra alguma. Como cristão desejo a paz, mas não aquela paz imediatista, equivalente à mulher que apanha do marido e se cala para não causar escândalo. Essa é a paz que se submeter a uma tirania significa. Me doeu, mais ainda, porque tenho certeza de que o tal teólogo tem massa encefálica suficiente para entender que pacificar é diferente de ser covarde e ter paz no curto prazo.

O Apóstolo Paulo mesmo, ao falar sobre o tema da “Paz” disse:

Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens.

Romanos 12:18 

Ora se nem a Palavra nos “obiga” a ter paz com todos, como é que julgarei eu, euzinho, que sou obrigado a “apanhar” independentemente do resultdo obtido/

Outro dia, assistindo a Guerra do Pacífico em Cores (na TV a Cabo), fiquei apavorado ao ver o que a conquista de Okinawa representou em termos de vidas, para ambos os lados – Japão e Aliados. Truman, e seus generais, tendo em vista isso, optaram por uma solução terrível, quase impensável, mas que no final das contas, poupou milhões de vida: bombardear Hiroshima e Nagasaki. Alguém é favorável a bombas atômicas? Claro que não. Alguém acha que os fins sempre justificam os meios? Não e não. Apenas que a nós, são dadas às vezes, escolhas extremamente difíceis.

Alvo mais que a Mãe

Assim, e brincando de juntar as duas heresias, que sejamos tanto Alvos mais que a Neve, para glória de Deus, e que Deu continue “Pai”, independentemente de seu gênero (que não existe).

Apenas não façamos de não-questões um cavalo de batalha para destruir conceitos lindos e primordiais na vida do nosso já confuso povo.

Êxodo 20:7

Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. 

Êxodo 20:7 – 10 Mandamentos

Esse é um mandamento que é normalmente mal interpretado. A palavra hebraica para “tomar” é “Nasah” (נָשָׂא), que significa literalmente “levantar”, “erguer” ou mais precisamente, “carregar”.

Não “levantarás”, não “carregarás” o nome do Senhor teu Deus em vão. Já escrevi em algum lado que isso não significa falar “Ai meu Deus do céu” e ser jogado nas trevas do inferno. Não me parece que Deus seria pueril a ponto de pronunciar um mandamento assim.

Carregar, levantar aqui me parece – e pareceu ao estudioso Denis Prager, da Prager University, em seu livro “The Rational Bible Exodus” levanta o tema de forma bem mais adequada: Eu “carrego” o nome de Deus em vão quando eu digo que sou “ligado a Deus” e faço coisas que contrariam o que Ele diz, manda, ensina.

Caso (Hipotético) 1 – Negócios Escusos

Estudo de caso é uma técnica para aprendizado e fixação de conhecimento que se tornou a norma nas melhores universidades do mundo. Parece, realmente, que um “estudo de caso” cairia bem para entender como é que um dito cristão toma o nome de Deus em vão.

Fulano de Tal é um empresário. Fulano se diz “cristão”, fulano vai na igreja, leva os filhos, era casado com uma mulher “terrivelmente cristã”. Fulano faz negócios de forma atabalhoada e convence os amigos a investirem com ele. Um desses amigos, entendendo que é algo interessante, convence outros amigos a investirem com ele, suponhamos (para o “case”) num hotel.

Eles compram juntos o hotel. O amigo confia nele porque, afinal de contas, ele “Carrega o nome de Deus” consigo, e obviamente, quem assim o faz, só pode falar a verdade e agir com o melhor de sua capacidade, em prol do outro, antes de si mesmo.

Acontece que, por uma razão ou por outra, o tal Fulano só tem olhos para seus próprios interesses, e, no final de anos, desviando recursos para seus outros empreendimentos, e sempre deixando as águas turvas, para que ninguém veja com clareza, consegue levar todos a perder muito.

Fulano, ainda por cima, se sente “o injustiçado”. Não entrou com um centavo no negócio. Trabalhou, é verdade, mas sempre deixou seus interesses acima dos demais, e no final das contas, joga seus processos trabalhistas em cima de “todos”.

Fulano certamente esqueceu de ler o restante do mandamento: “Deus não terá por inocente quem carregar Seu nome em vão”. Fulano, certamente, terá que se entender com o seu deus, ou com Deus.

Caso (Hipotético) 2 – Pirâmide Financeira

Fulana era amiga de décadas de várias pessoas em sua igreja. Era uma verdadeora artista, trabalhadora e mãe de filhos. Fulana, assim como Fulano, “carregava” o nome de Deus sobre si. Todo mundo a conhecia como tal.

Fulana começa um processo de envolver um monte de gente muito “amiga” em um esquema de pirâmide financeira, bastante dissimulado. Isso vai num crescendo até que “explode” com um caminhão de dinheiro de vários “irmãos” e “amigos” indo parar em mãos incertas e não sabidas.

Ações judiciais pra cá e pra lá fazem a festa para detratores do Nome de Deus. É um festival de apontamento de dedos.

Fulana carrega, agora, o nome de Deus absolutamente em vão, e deixa um monte de gente mais pobre, em detrimento de uma pseudo abundância financeira.

Moral da História?

Os dois casos acima tratam na mesma coisa. A (falta) de moral nessa história já estava descrita como um Mandamento – 10% deles, portanto, falando sobre “carregar” sobre si o nome do Deus vivo em vão, ou seja, indignamente. São casos hipotéticos de pessoas que expressam ao público serem “portadoras do nome de Deus”, e o fazem em vão.

Eu, pessoalmente, já carreguei o Santo nome do meu Deus em vão. Sim. Já tive meus momentos de fraqueza, mentiras, desapontamentos e coisas que certamente Deus não me terá por inocente. Obviamente que o Sangue de Jesus já me purificou deste e de muitos outros pecados, mas os efeitos estão cá comigo. Para sempre.

Estudando para aulas de Escola Dominical no Livro de Hebreus, me deparei com um diagrama que de certa forma toca no assunto, e que gostaria de compartilhar:

É uma forma razoavelmente simples de entender o que o sujeito faz e onde ele anda. Você tem uma conduta condizente com o Nome de Deus? Sim, ou não. Se sim, você pode até não ser “crente”, mas age de forma a não ser um problema para Deus, mesmo não crendo nEle. É o tal “joio”.

Se você age de acordo com o Nome de Deus, e é “crente”, é “trigo”. Já tem gente que não age de acordo com o Nome de Deus. Pode ser “crente” (e aí precisa ser disciplinado ou não (é apóstata, no duro).

Vivemos num mundo de gente que tem “carregado” o Nome de Deus sobre si e feito as maiores barbaridades: desde defender assassinato de criança na barriga da mãe até receber propina e ainda “agradecer a Deus” pelo fruto do roubo. Tem gente que mente para se eleger; tem gente que rouba o próximo prometendo “prosperidade”. Tem de tudo. Ao “carregar o nome de Deus” de uma forma tão horrorosa, dão ao Inimigo a munição que ele precisa para dizer que “é tudo igual”.

Tem gente, por outro lado, que dedica a vida, os bens e a inteligência para abençoar o próximo. Tem gente que sequer crê em Deus, mas de certa forma “carrega Seu Nome” de forma mais digna do que muita gente que se diz cristã. Esses, a despeito da incredulidade, acabam se beneficiando dos Mandamentos e sendo mais felizes, mais realizados, mais prósperos.

Eu quero “carregar” o nome do Senhor. Eu faço questão, e faço questão de fazê-lo de forma a que até mesmo meus detratores e inimigos tenham paz comigo.

Sheol

Não posso dizer que acordei, porque não sabia bem se estava dormindo ou não. Só sei que na minha frente tinha um cara de estatura mediana, e que nem consegui ver o rosto de tanto que o lugar brilhava. Acho de que devia ter estado em algum lugar escuro, porque meus olhos não davam conta de se adaptar à claridade absurda em volta de mim.

Ouvi, mais do que vi, a voz do tal sujeito, o único que eu conseguia mais ou menos ver. Tinha a impressão de que não estava sozinho. Não que parecesse que havia do meu lado um montão de gente, nem porque ouvia barulho típico de multidão. Na verdade, não me lembro nem de ouvir um zumbido sequer. Mas que parecia estar acompanhado, parecia.

A voz me falava de coisas que me evocaram pensamentos ainda da mocidade – coisa que, aos quase 90 anos, é difícil de esquecer. Ao envelhecer, fui esquecendo coisas recentes, e me lembrando de coisas pequenas da infância e juventude; coisas que moldaram meu caráter e minha forma de ser: o cheiro da casa dos meus pais, de fogão de lenha e flor de laranjeira, a textura da pele da primeira namorada, branquela e rechonchuda, a cor do céu e das nuvens, que a gente ficava olhando depois do almoço deitado no capim gordura de trás de casa, e dizia “é um elefante“, “é um camelo“… Épocas mais simples, e que com o tempo pude ter certeza de que ajudei a complicar, a tornar mais pesadas e menos brilhantes.

A voz se aproximou de mim e me dizia que eu tinha, sim, responsabilidade pelos meus atos e que tinha me esquecido de coisas que tinha aprendido, e voluntariamente deixado de acreditar, seguir e obedecer. É fácil ver isso, em retrospectiva. Tive uma vida intelectualmente boa, uma educação – dentro e fora de casa – adequadas, numa escola pública que era melhor do que vi em tempos mais modernos, mesmo paga. Éramos mais simples, menos enxovalhados por complicações que, no fundo, minha geração ajudou a criar.

Fé? Não sei. Acho que não tive nunca algo que possa chamar de fé com F maiúsculo. A mãe? Sim; o pai? Sem dúvida. Eu? francamente acho que não. Ao que a voz me chama e diz “no ouvido” (não dá pra saber se foi ou não) – Carlinhos, esquece o que passou e dê-se uma chance de voltar a crer.

Eu, com minha independência intelectual e língua afiada, respondo na hora: mas crer em quê? Onde é que eu estou, em primeiro lugar, e quem é o senhor (“s “minúsculo, já que não sei com quem falo)? E, por falar nisso, dá pra diminuir a intensidade dessa iluminação? Já estou aqui há uns 10 minutos e não consigo enxergar nada, com essa luz toda na minha cara!

A voz não sobe o tom, não briga, mas demonstra que não ficou satisfeita com a resposta. “Vou te dizer, mas diga: você sabe que dia é hoje?” Eu? Como vou saber? Eu estive tanto tempo deitado naquela cama, em casa, sob cuidado de tanto enfermeiro e médico, e agora, nesses últimos 15 dias, nessa praga de UTI que apita o tempo todo e não te deixam em paz, com um ar condicionado frio demais pro meu gosto e essa dor nas costas que não me deixam! Como vou saber que dia é hoje? Já não sei que dia é hoje há 2 anos.

A voz então fala – “você vai entender que dia é hoje, mas deixa eu te contar algo que você aprendeu e esqueceu: você comete erros e pecados; você viveu uma boa vida, teve boa família, bons filhos, não roubou nem matou, e socialmente é considerado um ‘baluarte’. Esqueça tudo isso. A pergunta permanece: você reconhece que erra?

Sim, em uma boa medida eu sei que erro. Mas não mais do que o vizinho do lado ou o cara da padaria. A voz insiste: “você entende que ao errar você se afasta de quem te criou?” Como assim, “quem criou”? Quem disse que fui “criado”? Eu entendo que somos, eu e todo mundo, produto de um processo não pensado ou planejado de melhorias que acabaram por produzir o Carlinhos, ou Dr. Carlos, como me chamam no escritório, que todo mundo conhece, e alguns até admiram. Não – não admito um “criador” a quem deva prestar contas.

A voz segue: “e quem você acha que colocou as duas primeiras bases nitrogenadas no lugar? Quem, me diga, criou o balanço perfeito entre o ponto de congelamento da água e a gravidade? Por que ela puxa tudo nessa terra pro seu centro a 9,8 m/s²? Quem você acha que coordena tudo? Um “Deus das Lacunas“? Fala sério Carlos.

Falo sério, e digo à voz: ninguém poderá ter certeza disso, agora ou nunca. A voz retruca: “o que é ‘agora’ e ‘nunca’ pra você? Quem te persuadiu a pensar que você continua respirando?“. Eu, “suando frio” (nem posso dizer se é isso ou não) pergunto – morri? A voz: “isso ainda não se sabe. Poder ter morrido, pode não ter morrido; tudo depende de sua decisão“. Uai? Que decisão, eu pergunto já meio indignado. A voz: “a decisão de viver internamente, ou morrer eternamente. A decisão de aceitar que é um cara falho e que, não importa o que você pense ou faça, foi criado com um objetivo, que só cumpriu parcialmente, e mesmo assim só do ponto de vista humano; que esqueceu o Criador, com “C” maiúsculo, e que, como tal, pode não ter mais chance de viver eternamente.

Já meio irritado, respondo – pode me mandar pra onde quiser. Acaba quando acabar, viro pó e boa noite pro gaiteiro… A voz, meio tristonha, diz: “Vou falar contigo uma última vez: lembra daquilo que você aprendeu com os pais, avós, gente que te amava, sobre um Deus bom, um Filho bom que teve que pagar um preço alto por sua causa? É e era verdade. Você pode viver eternamente, ou morrer internamente, ou vice-versa. Nada, mas nada mesmo, vai mudar essa realidade. Ao longo da sua longa vida você foi abordado por centenas de pessoas que te relataram essa realidade que falo contigo pela última vez. Você deixou sua sapiência e racionalidade se imporem à Sapiência e Racionalidade que falavam contigo. Não te deram provas? Claro que não! Que tipo de fé exige provas? Que tipo de mérito ou decisão informada existe em “ver” o manto de Deus passando diante de você flagrantemente teria pra você? Nenhum mérito, e é por isso que a fé é assim: não pode ser comprovada, agora nem nunca. Tem um porém nessa história toda, e é por isso que estou aqui: você não vai morrer eternamente sem ouvir e tomar uma decisão informada sobre sua situação. Você tem que concluir, por sua própria vontade, se crê no que está colocado diante de você ou não.

Não conseguia refletir. Não é racional o que está diante de mim. Não faz parte do meu modo de ser o “crer” sem fundamentar o que penso em fatos e dados. Ah, mas você tá “ouvindo” essa voz e vendo o “cara” aí na frente. Ou não tá? Sim, estou. Só não sei se 15 dias de UTI não fazem isso com a pessoa. Sabe-se lá se levanto daqui e começo a falar e agir como minha avó e sua mania de dizer que “Deus isso, Deus aquilo, Deus é bom, Deus me salvou” e por aí adiante? Não sei, não sei. ‘Não tenho decisão a tomar’ afirmei à voz.

Bem, não decidir é decidir. Pode partir, Carlos. Mas antes, me diga se tem alguma ideia que dia é hoje.

Eu? Nem ideia…

É Sábado de Aleluia“.

Qual Sábado de Aleluia?

O único que jamais existiu“…

O Futuro de BAM – Business as Mission

As viagens missionárias do fazedor de tendas mais famoso da história…

Este pequeno artigo será, se Deus quiser, expandido para algo mais substancial sobre o modelo de futuro que creio que seja adequado para o movimento Business as Mission, BAM, ou na melhor tradução possível, “Missão Empresarial”, ou “Negócios como Missão”. Autores consagrados, como Mike Baer, Mats Tunehag e João Mordomo, entre vários outros teóricos de BAM, juntos conosco no 1º. Encontro do BAM Brasil, entre os dias 18 e 19 de Maio de 2024, nos brindaram com palestras fantásticas que versaram sobre a forma como nós, empresários, podemos e temos obrigação de olhar para nossas empresas e firmas com um olhar “sagrado”.

A principal mensagem, o principal “produto” que levei para casa deste congresso foi:

“Não há hierarquia entre o homem de Deus pastor, pregador ou missionário, e o homem de Deus empresário ou profissional liberal”.

Congresso BAM Brasil

A tendência que temos de olhar para os “clérigos” como gente mais próxima a Deus é absolutamente equivocada, e fruto de um mundo que começou a tratar coisas sagradas e profanas separadamente, relegando os negócios ao plano inferior. As razões são várias, e não vamos entrar nelas de cabeça, mas apenas resumindo, somos considerados mais profanos porque:

  • A cosmovisão católica que permeia boa parte do mundo hierarquizou e segregou o clero dos fiéis, sendo os empresários relegados à segunda categoria.
  • A visão de que lucro é pecado faz com que entendamos que o que fazemos é “arrancar algo de outra pessoa”. É uma visão deturpada da economia e das pessoas de forma geral. Estamos sempre ocupados em sublinhar o que de pior vemos nos outros.
  • A visão especificamente brasileira, em que um certo empresariado está sempre mancomunado com os governos, para obter vantagens indevidas, e mais, a visão de sonegação como um “mal necessário” à sobrevivência das empresas nos faz achar que empresário é alguém que vive num ambiente menos santo.

A despeito de tudo isso, o movimento BAM tem avançado no Brasil e no mundo, fomentando uma nova geração de empreendedores focados em gerar riqueza, para si e para os stakeholders de seu negócio, de forma saudável, socialmente e ambientalmente responsável, mas, sobretudo, espiritualmente comprometidos em viver (mais do que falar) o Evangelho dentro de nossas organizações.

Nós mesmos dentro da VBR Brasil temos tido a oportunidade de ter um turnover bastante baixo nos nossos funcionários. Parte disso, eu creio, advém de um ambiente social e espiritualmente saudável, onde a competição não é estimulada, se leva outro a ser deixado de lado. A competição é estimulada no sentido do melhor esporte do mundo – o golfe – no qual a pessoa, no fundo, joga contra ela mesma, suas limitações e momentos. Um ambiente espiritualmente saudável parece ser conducente a um relacionamento saudável entre as pessoas. As gerações mais modernas parecem gostar disso mais do que de um salário um pouco maior.

BAM joga, então, com a formação de empresas que tenha o poder de impactar o mundo, a começar por seu ambiente de negócios mais próximo, para Cristo e o Seu Reino.

A questão aqui não é mudar nem criticar esta filosofia do trabalho BAM. Ela está perfeitamente em linha com o Novo Testamento e com a Grande Comissão. Ela deve continuar a ser estimulada. Empresas cuja propriedade seja de servos de Deus devem ser estimuladas a se tornarem empresas BAM, sérias com Deus e Seu propósito. Ele continua a querer receber Glória (Doxa, como adora dizer João Mordomo) entre as nações.

O que quero tratar aqui é do futuro de BAM, como forma de penetração nessas nações. O objetivo aqui é tratar do Fluxo de Capital intergeracional, e como isso pode afetar BAM e a atividade e missionária mundial. Temos algumas certezas sobre o mundo atual – social e econômico:

  • Ele jaz no maligno (1 João 5:19).
  • Ele exerce crescente perseguição sobre o povo de Deus (Ap. 2:10)
  • Ele tornará o livre acesso das pessoas ao Evangelho cada vez mais difícil (Rom 8:36).

Diante disso, chegará, em breve, o tempo em que a existência de missionários será restrita de tal forma que somente não-clérigos poderão estar no meio de determinadas populações. Quem serão esses? Nós hoje os chamamos de bi vocacionados, de fazedores de tendas e muitas outras formas. O fato é que o mais bem sucedido “não-clérigo” me parece ser aquele que tem interesses vestidos em empresas e países em regiões complexas, ou que, pela natureza de suas empresas, possuam alcance grande o suficiente para serem relevantes em um local remoto, a despeito de estar ou não lá (a internet pode ser bênção, com certeza).

Do OPEX ao CAPEX

Como me pronunciei durante o painel-entrevista entre mim, e a Lara, brilhante guria de 22 anos, já CEO de sua empresa BAM, e antenada na vida espiritual e empresarial (uma alegria de ver!) e o querido Danilo Brizola, BAMer e agitador profissional, acredito em uma mudança na forma de alocação de recursos para missões.

Estratégias Atuais – a primeira onda – o OPEX[1]

A principal estratégia missionária mundial atual data dos primórdios da BMS – British Missionary Society, criada pelo querido e famoso William Carey no Séc. XVIII ainda, e cujo sucesso é inegável. De lá para cá tem sido mais do mesmo: reunião de fundos via denominações e pessoas empenhadas em contribuir para o Reino. Esses fundos são então lançados sob forma de cobertura de subsistência de missionários profissionais (a palavra é inadequada, mas é uma que reflete o que de fato existe), e os resultados são de maior ou menor intensidade, a depender do local, do estilo de trabalho e outros fatores, muitas vezes incontroláveis.

Essa foi a estratégia vencedora, por exemplo, no Brasil. Mesmo em sendo um país nominalmente cristão, o estilo de cristianismo havido aqui sempre foi mais não-praticante, ou não “nascido de novo” (embora não possamos negar o caráter eminentemente cristão de muitas e muitas lideranças religiosas do país ao longo dos séculos). As denominações evangélicas do velho mundo e dos EUA, primariamente, identificaram o Brasil como uma potencial fonte de cristãos nascidos de novo, e despejaram recursos humanos e materiais aqui.

Eu mesmo sou fruto disso, pois minha família, originalmente italiana e católica, passou por um processo de profunda transformação, a ponto de sermos hoje identificados diretamente com o cristianismo evangélico já por 4 gerações.

Essa foi a onda do OPEX, que ainda é a mais usada por organizações missionárias e denominações.

Estratégias Atuais – a segunda onda – o CAPEX[2]

Em um ambiente de repressão e dificuldades, apenas a lógica econômica mais direta e atraente para o país receptor vai permitir que o jogo continue a ser jogado. É muito mais difícil recusar um visto a um CEO de uma empresa investidora estrangeira do que a um missionário, ou, como tem acontecido frequentemente, missionários travestidos de estudantes de idiomas ou outras funções.

A motivação econômica direta é ao mesmo tempo legítima e legitimadora dos cristãos que, independentemente de qualquer coisa, vão ganhar a vida em outro país, pelo meio do empreendedorismo e do trabalho árduo e honesto.

Para isso, antevejo a necessidade de uma mudança em direção ao modelo seguinte. Aqui, uma pausa para segregar um conceito já apelidado de Business FOR Mission (Negócios PARA Missão) e o que proponho agora. O “disclaimer” de BAM diferencia o conceito de BFM de forma inequívoca[3]

“Business as mission é diferente de… BUSINESS FOR MISSIONS

                Lucros de negócios podem ser doados para dar suporte a missões e ministérios. Isso é diferente de BAM. Alguém pode chamar isso de negócios PARA missões, ao usar negócios para prover fundos para outros tipos de ministérios. Reconhecemos que lucros de negócios podem dar suporte a “missões”, e que isso é bom e válido. De forma semelhante, empregados podem doar parte de seus salários para causas caritativas. Enquanto tal possa ser encorajado, nenhum de nós gostaria de ser operado por um cirurgião cuja única ambição seja a de fazer dinheiro para ofertar à igreja. Ao invés disso, esperamos que ele tenha as habilidades corretas e que possa operar com excelência, fazendo seu trabalho com total integridade profissional. De forma parecida, um negócio BAM deverá produzir mais do que produtos ou serviços a fim de gerar riqueza. Ele deve buscar cumprir os propósitos e valores do Reino de Deus através de cada aspecto de suas operações. O conceito de negócio BFM pode limitar os empresários a um papel de doadores aos “ministérios reais”. A despeito da doação ser uma função importante, BAM se trata de negócios com fins de lucro, mas focados no Reino.[4]

Entendi, então, que o que temos em mão se trata de algo diferente, cujo nome provisório (e conceito por trás dele) poderia ser “BUSINESS ON MISSION”, ou “BUSINESS ON MISSION BASE” (Bomb).

Trata-se aqui de uma forma de empreendimento imaginada, planejada, gestada e capitalizada para uma função legítima (gerar lucro, como BAM) e ao mesmo tempo, servir de veículo também legítimo para que cristãos possam espalhar a Boa Nova a povos não necessariamente alcançados, ou totalmente não alcançados.

Não falo aqui de enfiar evangelho goela abaixo de nenhum povo ou “colonizar” o outro, mas tão simplesmente viver a sua fé simples e forte, permitindo que outros “vejam a Cristo” em nós, ainda que sem qualquer proselitismo. É proibido fazer proselitismo? Não façamos, mas NÃO deixemos de viver a Palavra e exalar “o bom perfume de Cristo”.

Como?

A forma mais objetiva de BOM, ou BOMB (!!!) se baseia em transformar esse atual OPEX (ofertas para missões) em CAPEX (investimentos em missões). Dentro desse conceito, a que eu acho mais atraente e que pode dar os melhores resultados é a acumulação de capital no sentido de gerar  Fundos ou Entidades de Investimento legítimos, cujo objetivo é o lucro, mas cuja estrutura operacional crie oportunidade para que cristãos “raiz” se disponham a trabalhar como executivos em locais normalmente complexos, de forma legítima, mas com olho e tempo para a propagação do Reino, nesses locais.

Não advogo de nenhuma forma que levemos equipes inteiras para essas empresas e atividades. Ao contrário, a contratação de pessoal de base local é fundamental. Ajuda a criação de emprego no país destino, reforça a economia local, recolhe tributos de forma legal e correta, e, no fim das contas, permite que interajamos com os cidadãos locais, levando-os, sem colonialismo, mas com amor profundo, ao conhecimento de Cristo.

Esses fundos funcionariam mais ou menos assim[5]:

Transformar as “doações” em capitalizações para Fundos de Investimento (Private Equities, entre outras plataformas) com todas as salvaguardas, garantias e governanças das leis dos melhores países e jurisdições para tal.

  • Estabelecer para o Fundo: a)As regras de investimento As regras de assunção de riscos e retornos; b)As regras de reembolso e reinvestimento; c) As regras de segregação de retorno ao Fundo e à transformação de CAPEX (retorno) em OPEX (novos bi vocacionados e líderes de campo); d)Um Board com visão alinhada com BAM e com o Reino.

Desta forma, bons investimentos vão gerar bons retornos, que terão três virtudes:

  • Tornar o movimento autossustentável
  • Tornar o movimento menos vulnerável a governos e políticas religiosas de países.
  • Dar ao movimento condições de crescimento mais acelerado do que a mera arrecadação de doações, ofertas e compromissos.
  • Tornar a vida dos bi vocacionados, na ponta extrema do movimento, mais estável.

Política de Emprego e Liderança

Empresas BOMB, ao serem comandadas e coordenadas por uma liderança BAM, teriam necessariamente, como já disse, que empregar localmente o máximo de pessoas, mas manter a liderança ligada e alinhada diretamente ao Fundo, a BAM e aos princípios BOMB.

Isso implica e que, em algum momento, empregados locais convertidos e comprovadamente capazes, passarão a ocupar cargos de liderança, alinhados com os princípios do movimento. Obviamente que lideranças cristãs locais e capazes podem ser recrutadas de imediato, o que normalmente não parece ser tão fácil.

Em qualquer circunstância, é ser “sal e luz” que vai ganhar o jogo, e não fazer proselitismo ou impor um modo de pensar.

São apenas reflexões não teóricas, baseadas em conceitos mais “heróicos” do que acadêmicos, mas podem servir de reflexão aos pensadores do Movimento como um todo.

“Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor”


[1] Operational expenses, em inglês, ou “Despesas Operacionais”.

[2] “Capital Expenditures”, em inglês, ou Gastos de Capital.

[3] Aqui, o puxão de orelhas de João Mordomo me ajudou no avanço para o conceito que apresentarei a seguir.

[4] Extraído do manifesto de BAM, traduzido por mim.

[5] O Fundo IBEX, que eu mesmo invisto, trabalha quase exatamente neste modelo.

Amós o Profeta Social

Há alguns dias tive a honra de ter sido professor de Escola Bíblica Dominical, na Igreja Batista Essência, em Curitiba, sobre o livro de Amós, chamado de profeta, que não era “profeta” no sentido dado a Elias e Eliseu, por exemplo, mas que eu chamo por este epíteto. É profeta porque profetizou e ponto.

Minhas aulas contaram com a base luxuosa de um estudo do Pr. Paschoal Piragine, sempre muito bem fundamentado. O que eu quero chamar atenção aqui é para o paralelo infelizmente verdadeiro, entre o Israel de Jeroboão II, de 760 aC e o Brasil de hoje.

Pano de Fundo

Aquele era um Israel próspero, devido ao domínio, poucas vezes conquistado e mantido, da rota inteira de comércio desde a Síria até o Egito. Israel e Judá tinham, então toda a receita da tributação do comércio que por ali passava, suas caravanas e produtos. Isso enriqueceu os reinos da época e acabou por ser o estopim da derrota, pela invasão promovida pela Babilônia, ao norte, que queria esse comércio para si.

Em vez de promover o desenvolvimento e bem estar de seus súditos, esses reis, e a elite do país, fizeram o oposto, o que acabou por enfraquecer o cidadão comum e por consequência as defesas nacionais.

Violência

A primeira crítica de Deus, por Amós, à Israel e Judá da época diz respeito à violência. A condenação feita aos reis e líderes pelo pouco cuidado com aspectos violentos da sociedade, e mesmo a imposição de violência ao povo, dá o tom para a profecia e os “Ais” de Deus para o povo – prepare-se, porque uma liderança que permite a violência vai acabar por cair.

Vivemos momentos iguais aqui, com extrema leniência com quem é violento, e a inversão de valores típica dos moderninhos que são contra qualquer coisa que tente conter o agente da violência, e chama de violentos os agentes da ordem. Desde a moda do “Defund the Police” nos EUA aos ecos macaqueados aqui repetidos, vivemos uma época e um Brasil no qual a verdadeira violência é bem vista, e a suposta violência de quem quer cadeia pra bandido é colocada com horror frente a câmeras de TV.

Somos “violentos” quando nos colocamos contra o aborto? Somos violentos quando nos insurgimos contra injustiças cometidas por poderosos sem freio? Somos ruins, maus mesmo, quando somos contra o poder do narcotráfico e sua violência tanto física quando pelo efeito devastador que seus “produtos” geram?

Exploração

Amós fala da parte de Deus sobre a exploração que é imposto ao povo. É bem específico sobre um tipo de exploração se trata: extorsão via tributos, concentração de riqueza nas mãos de meia dúzia que nada produziam (não, isso não é capitalismo – é exatamente o oposto), extorsão via criminalização da atividade comercial.

Amós é específico nessa condenação (na verdade, Deus através de Amós).


“Ouçam esta palavra, vocês, vacas de Basã que estão no monte de
Samaria, vocês, que oprimem os pobres e esmagam os necessitados e dizem aos senhores deles: ‘Tragam bebidas e vamos beber'”…

Amós 4:1

O grande pecado da exploração é geralmente cometido pelo principal explorador do mundo – o governo. Quase qualquer governo age assim. Quanto maior o governo, maior o explorador, ou a tentação de explorar via o pode que este confere. Quem é o seu maior sócio? Quem é o seu maior dependente? Quem menos te dá em troca? Eu arrisco a dizer que é quem leva mais de 1/3 da riqueza de uma nação sem dar nada remotamente compatível em troca. Exploração, que já ultrapassou o “quinto dos infernos” (os 20% de tributos sobre o ouro, instituído por Portugal sobre o Brasil) em mais da metade.

A Corrupção

O terceiro ponto reprovado e descrito Deus, via Amós, é a maldição de ontem e de hoje, a corrupção.


“Eles não sabem agir com retidão”, declara o Senhor, “eles, que
acumulam em seus palácios o que roubaram e saquearam”

Amós 3:10

A corrupção aqui é “palaciana” e não velada. É, de certa forma, institucionalizada. Quem, como nós, vive sob tremenda corrupção, deveria ter aprendido a identificá-la e a se defender dela da forma mais simples possível: não participando dela nem sendo corrupto.

Nosso povo, como os judeus deste milênio antes de Cristo, parece padecer da mesma dificuldade.

A religiosidade vazia

O último item de reprovação de Deus, por Amós, foi uma religiosidade vazia. Não é que os judeus não cressem em Deus ou prestassem culto a Ele. É, talvez um excesso de religiosidade. Aquela coisa de crer em Deus mas acreditar que temos que pular sei-lá-quantas ondinhas no fim do ano para sermos bem sucedidos; de ir à missa ou ao culto, mas também fazer uma fezinha na mega sena, pois afinal, vai que dá certo…

Uma religiosidade vazia é uma postura de confiança “desconfiada” do Todo-Poderoso. É achar que o volante da Sena corre o risco de ocupar o lugar provedor de Deus. É acreditar no que não pode nos ajudar, no final das contas.

Em suma…

Tanto o livro de Amós como o de Miquéias, que estamos estudando agora, nos dão conta de advertências de Deus a Israel na época chamada “Pré-Exílio Babilônico”, quando os judeus foram desarraigados de suas terras, o Templo destruído, seus reis mortos ou aprisionados.

É um tempo muito parecido, moralmente com o que vivemos agora. Corrupção, Exploração, Violência, Religiosidade Vazia, compõem nossa sociedade. Não creio que Deus tenha mudado; não creio que o Brasil e o mundo de hoje sejam muito diferentes. Resta a nós esperar um exílio qualquer, numa Babilônia qualquer, até que, “purgados”, possamos voltar à Terra Prometida e, quem sabe, de uma vez aprendermos a viver.

Sobre amigos e envelhecer

Manchete do O Globo nos anos 20 lia: “Anciã de 42 anos encontrada morta em sua casa em Santa Teresa“. Pois é, acabei de cumprir 59 anos e falta unzinho pra eu me tornar oficialmente ancião, pelo menos apto a usar vagas de idoso, demarcadas pela Prefeitura de Curitiba.

Ninguém se iluda. No dia 17 de dezembro do ano que vem, se vivo estiver, entro no site da prefeitura e peço minha carteirinha, coloco no parabrisa do carro e vou frequentar vagas exclusivas nos shoppings da cidade, com muito orgulho.

Há várias razões para isso, mas listo duas que são mais caras para mim.

Amigos

A despeito de talvez não ser o melhor amigo do mundo, tenho grandes amigos; os melhores do mundo. Da minha mãe, meus irmãos, tias e tios, meus filhos, minha esposa, sobrinhos e amigos antigos e novos, sou feliz por não andar sozinho e ter a casa quase sempre cheia. Gosto disso. Não é nem que eu seja lá muito festeiro, mas porque gosto de ter gente em volta – festa ou não. É uma espécie de celebração da vida e do contato. Dizem que envelhecer sem amigos encurta a vida, e se for essa a razão, espero que Deus me dê muitos amigos novos e me mantenha os antigos. Lá na frente, os amigos véios vão morrer, como já morreu meu amado pai, já faz dois anos.

Amigo é coisa realmente pra se guardar. Às vezes a gente perde amigos. Recentemente perdi um, que amo muito, e ainda me indigno com o fato, e pelo fato de não ter tido a menor influência sobre o assunto, nem ter contribuído voluntariamente pra isso. De repente o amigo simplesmente achou que já não valia a pena andar comigo. Pena, muita pena, mas respeito à escolha alheia. Se voltar, encontrará o amigo cá, com muitos defeitos (talvez os mesmos que levaram à separação) mas com os braços abertos.

Normalmente – e diria em raríssimos casos – eu me desfaço de amigos. Eu acho que se amizade fosse um fator derivado de alguma vantagem que se leva por andar junto, teria outro nome. Tem que aturar mesmo, com dificuldades, chateações e bobagens que a existência de qualquer um de nós traz. Todo mundo tem bafo, às vezes, todo mundo mente às vezes, todo mundo tem algum tipo de vício (uns mais visíveis que outros), enfim, todo mundo pensa diferente aqui e acolá. Não se pode descartar alguém por defeitos – exceto, talvez, por traição ou maldade. Mas nem assim a Bíblia usa argumentos contrários à amizade:

Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão. 

Provérbios 17:17

E é isso aí… em todo tempo. Em meio a dificuldades, pensando diferente, crendo diferente.

Tenho certeza que com amigos minha velhice será mais suportável.

A outra razão para eu curtir envelhecer

O Lado de lá do Rio da Vida

Ou a gente envelhece ou morre antes. Essa já seria uma excelente segunda razão pra curtir envelhecer. Morrer antes, como a “anciã de 42 anos” não é uma coisa tão legal assim. Claro que hoje, aos 59 anos, tenho talvez uma saúde melhor do que tinha 10 anos atrás, quando tinha pressão alta, pré-diabetes e 130Kg. Claro que há quase 100 anos atrás, uma pessoa de 42 anos teria condições físicas e mentais talvez piores do que alguém de 70 anos hoje.

Malho 4, 5 vezes por semana, com parcimônia mas persistência, e a única coisa que me incomoda é gostar mais de vinho do que eu deveria… estou tratando do tema… eu e Deus.

Tenho ainda alguns anos de vida profissional pela frente, e anseio pelo dia em que poderei me aposentar do que faço hoje, e continuar a fazer basicamente o que faço hoje para Deus, exclusivamente, num ministério qualquer que Ele me dê. Mas não vou ficar esperando o tempo passar sem fazer nada. Não é do meu estilo. Estou talvez mais preguiçoso do que nunca, mas ainda não acho que eu tenha perdido a vontade de aprender, de ler, de pensar e escrever. Ainda consigo me indignar com o estado das coisas, do mundo, e tentar contribuir de alguma forma.

Mas o que realmente me dá alegria de envelhecer é que a cada dia que passo, estou mais perto de encontrar meu Salvador, aquele que me dá sentido à existência e me faz saber que sou amado, com um amor sem fim. Essa alegria passará o Rio da Vida comigo, quando estiver na hora de ir. De vez em quando me pego pensando no outro lado, em como o Senhor me receberá, as “broncas” que tomarei pelos zilhares de erros cometidos, e pelos acertos que também consigo identificar e me orgulhar por eles.

Essa perspectiva vai tomando forma, e em vez de me assustar, vai me moldando. A expectativa é grande pelo que ainda vou realizar aqui, seja em mais 1, 10 ou 100 anos (!), mas sei que o Outro Lado é muito mais bacana. Ver meu Senhor, rever meus amados, principalmente meu amado Ettore, o Tóia, filho que me dá uma saudade imensa, me acalenta o coração.

Não pensem que este pequeno escrito é triste. NÃO é. É extremamente positivo e alegre. Quero a cada dia, dos que me restam aqui, ser cada vez mais alegre, positivo e contente com o que Deus me dá.

Ontem na igreja (17/12/23) tive a oportunidade de falar à comunidade no momento do ofertório. Me veio à mente uma conversa que tive com o Pastor Marcelo logo antes do culto começar. A colocação do pastor é “como é que tem gente que sempre quer mais riquezas”… eu usei então a famosa frase do J.P. Morgan quando indagado por um repórter sobre “quanto era suficiente“. Ele respondeu, talvez com muita sinceridade: “só um pouquinho mais“. Sincero, porém certamente triste. O pouquinho mais toma nossa mente e nos escraviza. Eu quero o que o mesmo Salomão disse, agora e na velhice:

…não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus. 

Provérbios 30:8-9 

Isso também me libertará as mãos para conseguir me alegrar nos dias que serão certamente os mais desafiadores, fisicamente, mas quase certamente os mais recompensadores para a alma.

Em síntese, amigos, se Deus permitir, serão a minha luz diária para continuar vivendo, até que Ele queira que eu vá.

De novo, nada de soturno aqui, nem estou tentando lançar um véu de tristeza sobre o restante da existência. Ao contrário, uma posição bem mais leve e alegre do que tive até hoje da vida. So help me God…

Talentos, a Parábola

Ao andar pelos meus sites favoritos hoje na hora do almoço me deparei com este artigo. Como cristão, estranhei o teor totalmente cristão dentro de um site de economia liberar como o do Instituto Mises Brasil. Lá no meio do artigo o autor revela uma visão que vi pessoalmente nos EUA entre os meses de Outubro e Novembro do ano passado: milhares, literalmente, de ofertas de emprego em lanchonetes, restaurantes, transportadoras e outras, sem preenchimento.

Leia https://mises.org.br/artigos/1857/a-parabola-dos-talentos-a-biblia-os-empreendedores-e-a-moralidade-do-lucro

A razão é esta:

“Além de o governo proibir aqueles que aceitariam trabalhar por menos que o salário mínimo, ele também cria um incentivo perverso para se recorrer ao assistencialismo: ninguém aceitará um trabalho que pague pelo menos o mesmo que o seguro-desemprego.

Preocupado que estou com o rumo dessa prosa de emprego versus “vale isso”, “vale aquilo”, vejo que não estamos diante de um problema nacional, mas um que está tomando dimensões fantasticamente complexas para um mundo que, de um lado, vai vendo sua força de trabalho minguar, por envelhecimento da população, de um lado, e de outro, vendo as tecnologias tirar do ser humano a capacidade de reflexão mais profunda, sobre quase qualquer coisa.

Países tentam, cada um a seu jeito, ajudar o cidadão. Pelo menos é isso que vemos, com exceção dos suspeitos de hábito, cujo objetivo é tão somente torná-los mais dependentes de um estado-pai. Aceito perfeitamente a visão de um socialista honesto, intelectualmente, de que, na visão dele, o estado deve fazer um papel de proteção e extensão de uma rede social para que a sociedade não sofra. Entendo. Não concordo, mas entendo.

Também enxergo no capitalista intelectualmente honesto uma visão de que é o cidadão que deve se ajudar, primariamente, e que a sociedade, voluntariamente, deve se organizar em torno da criação da tal rede de proteção social. Vejo mais mérito nessa ideia, e no fato comprovado de que funciona melhor do que um estado-pai, inchado.

Mas ok, se o indivíduo for intelectualmente honesto, eu aceito discutir, argumentar, à exaustão. Isso não me cansa, mas me anima. O que cansa é ouvir ladainha, decoreba, de gente que não tem o valor (ou os neurônios) para argumentar, e, caso convencido, mudar de opinião. Ainda espero mudar de opinião caso convencido intelectualmente, e de forma livre, que um estado-pai é melhor para o cidadão do que um bom emprego ou liberdade de empreender.

Entendo o capitalismo como meu sistema nervoso periférico, que trabalha por mim 24 X 7, e produz resultados que eu não obteria se, conscientemente, tivesse que pensar em respirar, em tossir, em espirrar, em reagir ao quente ou ao frio, e todas as complexas operações que são feitas descentralizadamente por meus neurônios, deixando para meu sistema nervoso central, meu cérebro, as atividades mais nobres de refletir, tomar decisões e fazer acontecer. Um governo é eleito para pensar e fazer o melhor, deixando a sociedade agir dentro de um sem-fim de atividades descentralizadas que garantem o funcionamento do “corpo” (a nação) – água e esgoto, circulação, respiração, engolir e deglutir, são atividades que é melhor deixar pra periferia. Já estudar e decidir, pode ser feito centralizadamente, mas apenas para o “macro”.

Um governo não deveria ser maior do que uma cabeça, em relação ao corpo: uns 7 a 8% no máximo, e não os 34% que corresponde hoje ao naco que o governo leva da atividade total da nação. E olha que o cérebro usa 20% da energia, mesmo representando 7, 8% do volume total (aqui incluo a cabeça toda… o cérebro mesmo dá 2% do volume total).

Deus, o dono e criador do bom senso, não comete erros. Se fez um sistema nervoso que no total do corpo humano implica em 10% (vá lá) do total, é essa métrica que eu acho que seria correta para o bom funcionamento da “máquina”.

Mais do que isso: até 2 anos atrás em tinha mais de 130 Kg. Estava me matando de diabetes, pressão alta, etc. O corpo não aguentava levar tanto peso. Hoje tenho 87 Kg, e quero baixar ainda mais. Estou bem, feliz, animado e disposto. Peso demais, para a mesma estrutura, é causa de morte. É uma doença, uma inflamação. Com o estado, não é diferente. O estado está doente, e nós pagaremos o preço.

Oremos!

Sim, sou bobo

Minha conclusão, depois de ver tanta coisa nessa vida é que – “É… sou bobo mesmo”. Estava falando hoje com minha sócia e amiga de longa data. Somos um bando de tolos. Ajudamos até a quem não devíamos ajudar, e quanto mais ajudamos, mais as pessoas se sentem no “direito” de algo que não tínhamos qualquer obrigação de fazer.

Por bobos, ou tolos, me refiro àquela patética qualidade que Deus, através de Seu filho Jesus Cristo, nos ensinou a fazer. Elenco aqui algumas coisas espinhosas que nos foram ordenadas, no Sermão do Monte.

Sermão do Monte – Seja um “tolo

Concluam vocês mesmos como isso é ser idiota, no mundo atual:

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?  Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste. 

Mateus 5:43-48- Sermão do Monte

Perfeitos idiotas são esses caras aí de cima. Imagine! Amar a quem nos persegue? Fazer o bem a quem nos odeia?

Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; 
Mat 6:4  para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. 

Mateus 6:3-4 – Sermão do Monte

Não podemos sequer falar do que fazemos. Temos que fazer e sequer reconhecer que fizemos algo. Tá ok.. tá ok… vamos lá, Senhor. Se nascemos pra Ti e vivemos pra Ti, precisamos cumprir isso tudo né?

Ou seja, devemos ser “bobos profissionais”, e ainda ouvir as pessoas dizendo que somos uns idiotas, e que é fácil nos enganar. É mesmo. O mais doído, porém, é quando a enganação surge de trás de nós, como um soldado que vê um companheiro de suas próprias trincheiras meter uma baioneta nas nossas costelas. É o famoso “fogo amigo”. Alguém que diz que crê nas mesmas coisas, que ama o mesmo Deus, que tem Jesus Cristo como Senhor e que por qualquer razão disputável, ou justificando o mal feito, nos coloca em posição indefensável, absolutamente, de joelhos diante de alguém cujo mau procedimento nos torna isso mesmo – perfeitos idiotas. Contra o “amigo” não temos defesa – alguém que não me lembro quem, fez uma interessante oração a Deus:

Senhor, protege-me dos meus amigos, porque dos inimigos cuido eu

Atribuído a Voltaire, segundo o ChatGPT (duvido)

Para ser um perfeito idiota, no sentido do Sermão do Monte, é preciso antes de tudo renunciar a si mesmo. Não significa que não temos que ser “astutos como a serpente”, ainda que mansos como as pombas, como diz o mesmo Senhor Jesus. Não é isso que nos torna idiotas perfeitos. O que nos faz tão perfeitos é o caráter voluntário que temos que aplicar à nossa idiotice – vou ser idiota para benefício do outro, em detrimento de mim mesmo.

Minha sócia fala com propriedade que poderíamos ganhar mais dinheiro se não fossemos propositalmente bobos algumas vezes. Ela está certa, claro. Mas eu prefiro não ganhar alguns dinheiros. Aliás, ao longo dos anos se eu tivesse aceitado algumas “proposições” feitas a mim, já teria parado de trabalhar e estaria vivendo de renda. Não farei. Já cometi erros no passado, e até hoje esses erros – que alguns veriam como esperteza – me doem, se eu os trago à memória.

Esperteza não é a mesma “astúcia” que Jesus nos pede – esta serve para sermos inteligentes o suficiente para abrirmos mão voluntariamente de qualquer vantagem, SE e QUANDO o Senhor o exigir de nós. Não significa nem se deixar roubar nem ser roubado sem saber. É aceitar que o mal feito do outro nos incomoda, nos fere, nos entristece, mas não nos fará azedar, amargar ou desfalecer porque no fundo nosso lugar não é aqui, mas junto a Deus, no céu.

Parece piegas? Parece burro? Você pode achar, mas deixe-me dizer uma lição que aprendi no módulo de História do Cristianismo, antiguidade, que terminei faz pouco: depois de muito serem martirizados, criticados e sofrerem atrocidades, os cristãos acabaram, mansamente, dominando e mudando o Império Romano de dentro pra fora.

Mais tarde, com a queda do Império Romano, as invasões bárbaras tomaram a Europa de roldão. Foi justamente o cristianismo e sua mansidão que acabou com as guerras internas, fraticidas, acabaram, o que liberou esforços da Europa para as Cruzadas (que foram uma forma de defesa, não de ataque, como seus professores de história dizem por aí). Daí por diante, com marchas e contramarchas, a Europa liderou o mundo no crescimento e prosperidade gerados desde o fim da Idade Média até agora.

Um país de bobos

Lembro bem como amigos meus achavam os americanos “bobos”. Na verdade eu também achava, até me dar conta do caráter deles, com relação à verdade, lisura e à palavra dada. Tanto os ingleses quanto os americanos, e nesta seara também alemães, holandeses e muitos outros de origem europeia, mas mais na Europa Evangélica, formaram uma sociedade baseada na palavra dada, no direito costumeiro e na confiança nas leis e nos contratos. Mas muito mais na palavra dada.

Um amigo meu, italiano, me disse uma vez que “minha palavra è una, sozinha”, ou seja, eu o havia alertado que ele havia me oferecido um carro a um valor abaixo do mercado, e ele disse que já havia dado sua palavra e ia mante-la, a despeito do “caixote” tomado. Quanta gente você conhece que é capaz disso? Quanta gente mantem a palavra e quanta gente distorce as palavras ditas até que se encaixem no seu desejo?

Quantos simplesmente não mantem a palavra, mentem descaradamente (a começar do chefe do nosso executivo) e acham que isso é uma baita esperteza? Quantas vezes teremos que ser enganados e escravizados até entendermos que a melhor coisa para uma sociedade é a verdade, a honestidade e a colocação do direito do outro acima do nosso? As palavras de Cristo, e seus ensinamentos, mudaram um mundo antes dominado pelo mais forte por um dominado por regras consensuais. Isso está acabando, até porque o capeta não ia mesmo ficar na sua.

O tal “país de bobos” está desaparecendo. No lugar dele está nascendo um país muito mais parecido com o nosso. Os EUA dos pais fundadores e o “farol em cima da montanha” está se tornando um paizeco de terceiro mundo, no qual vale tudo. Meu saudoso pai costumava dizer que “onde todo mundo é esperto, só tem burro”…

Continuarei a ser um bobão, como tantos brasileiros de valor, que se doaram pela sua pátria, e tantos outros “bobões” aqui e ali escorraçados pela mídia e chamados de otários – “perdeu, mané”. Perder? Perdi? Nada! Minha dignidade e minha honra estão intactas, bem como minha relação com o Justo Juiz, que há de julgar a todos.

PS – Em tempo – Sou auditor independente. Minha função é o chamado “ceticismo saudável”, ou seja, confiar desconfiando. Um leitor me questionou como eu poderia me identificar como “bobo” sendo auditor. Ora, é simples: eu tenho o direito de ser bobo com as minhas coisas, pois sobre elas posso voluntariamente abrir mão. Já quando auditor, opino sobre as coisas dos outros. Sobre essas não posso sequer pensar em ser tolo.

Ateísmo é Religião?

Como sempre, leitor de Quillette que sou, me esbarro com textos fantásticos, aos quais o leitor médio não tem acesso, e que são muito, muito bons. Hoje me deparei com um artigo que inspira este escrito, e fala ao meu coração de apologeta cristão: o chamado “Novo Ateísmo” de meados dos anos 80, até os dias de hoje.

Fomos levados a aceitar uma “nova normalidade” que é a de que a religião pode (e deve) ser criticada. No fundo, foi um ponto positivo do movimento. Afinal:

“Uma fé que não pode ser questionada não é uma fé digna de ser vivida”

Citação de um querido amigo, aludindo ao pastor chamado Glênio Paranaguá.

Pois assim deve ser: se você não tem liberdade para escolher – garantida desde a colocação da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, no centro do Jardim do Éden – você não é livre, em nada. Escolhas são, para o bem ou para o mal, desejáveis. O texto cita o autor Konstantin Kisin, antes apaixonado pelo Novo Ateísmo, o que nos dá uma sensação do que transpirou depois:

“Os novos ateístas eram empolgantes porque estavam dizendo algo novo, desafiando o dogma de sua época e falando a verdade ao poder. Insatisfeitos em provar que a religião não era verdadeira, eles se aventuraram mais longe, tentando provar que a religião era, no máximo, desnecessária e, mais provavelmente, prejudicial. Com esse objetivo, Dawkins escreveu “Deus, um Delírio” em 2006, e Hitchens lançou “Deus não é Grande” no ano seguinte. O argumento não se limitava mais a encorajar as pessoas religiosas a se acalmarem e nos deixarem em paz; agora, a ideia crescente era que a religião era intrinsecamente errada e prejudicial. Foi por volta desse ponto que comecei a perder minha fé no ateísmo.”

https://quillette.com/2023/07/24/new-atheism-and-the-demand-for-dogma/ – a tradução é cortesia do amigo ChatGPT – o texto é meu mesmo, inclusive os erros…

Empolgantes e Combativos

Pois bem, ficou claro ao longo do tempo que o Novo Ateísmo não era simplesmente uma forma de nos “libertar do crime da heresia”, mas nos fazer odiar a religião pela religião ser o que é – algo intrinsecamente dogmático.

A pergunta fundamental é – os Novos Ateístas se referiam a QUALQUER religião? Com o tempo fica claro que não. A única religião que, de fato, foi alvo dos ateístas somos nós – judeus e cristãos ocidentais. Mesmo os muçulmanos tiveram as críticas reduzidas a generalidades, nunca apontando o dedo – obviamente sabemos que a razão está fundada no medo de represália – não na concordância. Outras religiões, como budismo e brahmanismo sempre foram toleradas como “semi-científicas”.

No fundo, se você apenas “não acredita que algo existe”, não fica lutando contra esta coisa. Por exemplo, eu não creio que ETs existam, ou mais precisamente, que haja alguma possibilidade de contato imediato (ou não) com eles. No entanto, eu não faço campanha contra os ETs, nem digo que “os ETs estão mortos”, ou “os ETs não são grandes”. Eu simplesmente sigo com minha vida e ponto.

Mas não com Deus. Ah… um Deus todo poderoso, um Deus criador, que deixou evidências em todo lado, de uma simples molécula de DNA até às constantes físicas precisamente alinhadas, não. Esse Deus não pode apenas ser ignorado. Ele precisa ser combatido. A razão alegada é a de que a religião era perniciosa. Não apenas desnecessária, mas danosa, como uma droga, que precisa ser combatida. A religião, o “ópio do povo” precisa ser – no limite – tornada ilegal.

É isso, na prática, que os atuais ativismos querem: de uma forma ou de outra, criminalizar quem pensa diferente. Estamos diante de um Novo Ateísmo redivivo, ou um “Novíssimo Ateísmo” travestido de bondade social. Estamos diante da escolha entre pensar e falar o que pensa, e sofrer as consequências, e calar, nos acovardar e deixar que os iluminados minoritários, de microfone e caixa de som altos, não ditem o que podemos ou não fazer.

O artigo segue falando de críticas que cabem, de fato, a alguns atos patrocinados por “religiosos”

Claro, a liberdade de expressão em sociedades liberais depende, em última instância, de proteções legais e físicas oferecidas pelo Estado. Quando teocratas homicidas, portando armas automáticas, atacam os escritórios do Charlie Hebdo ou um seguidor do Aiatolá Khomeini sobe ao palco e repetidamente esfaqueia Salman Rushdie, o confronto com a violência religiosa não é mais uma questão de ideias, mas sim de aplicação da lei. O argumento de Kisin lembra a posição adotada por reacionários britânicos que se queixaram da proteção financiada pelo contribuinte que Rushdie recebeu depois que Khomeini emitiu sua fatwa em 1989 – uma reclamação servil que Kisin entende bem, pois já a criticou antes. A segunda frase de Kisin sugere que os ataques dos Novos Ateístas ao cristianismo aumentaram de alguma forma a ameaça representada pelo radicalismo islâmico, mas, como observado, os Novos Ateístas como Hitchens e Harris foram igualmente críticos em relação ao Islã, se não mais.

Idem anterior

Pois é. Seja uma Cruzada (aqui, um parágrafo: Cruzadas foram guerras PROTETIVAS contra um Islã invasor do Ocidente, não importa o que o seu professor de História tenha te ensinado no 2o. Grau) ou uma Fatwah, a questão é de crime, ou simples emissão de opinião. Apenas duvido da última afirmação do articulista – os Novos Ateístas não foram mais críticos ao Islã do que jamais foram com os cristãos e judeus. Ao contrário, eles repetidamente se esquivaram de clareza ao condenar, por exemplo, o caso do Charlie Hebdo, exceto quando provocados, creio eu.

É ou não Religião?

Eu creio que é religião sim. O fato é que a modernidade, ao tentar acabar com a religião na sociedade, não resolveu o problema mais íntimo do ser humano: sua necessidade de CRER em algo. isso não morreu, nem morrerá jamais.

Como os cubanos ou soviéticos de então precisaram criar as “reuniões” de domingo de manhã, como forma de sincretizar sua “nova religião comunista” de forma bem semelhante a que os cristãos primitivos fizeram com o Samhain, por exemplo, transformando-o em “Natal”.

“No comparte una reunión, más le gusta la canción”

Trecho da canção El breve espacio en que no estás, de Pablo Milanés

O cubano realmente “religioso”, vai à sua “missa” de domingo: a “Reunión”. Pablo Milanés reclama da amada, que não compartilhava uma reunião (dominical, aparentemente) mas gostava das “Canciones de Protesta” do autor (protestar contra que, em um país já dominado, está acima da minha capacidade de entendimento).

Pablo Milanés é um bobão talentosíssimo, na minha opinião humilde, assim como o é Chico Buarque (também na minha opinião). Talento desperdiçado com ideologia boba, sem fim. Mas cá entre nós, fazem um excelente trabalho de dar uma forma linda à uma ideologia pavorosa. E no caso, Pablo faz um trabalho de nos explicar parte desse processo de substituição da religião “ópio do povo” pela religião “do estado opressor”.

E nós?

Bom, nós sofremos. Tanto espiritualmente como fisicamente. No mundo, nenhuma outra religião é mais vilipendiada e perseguida como o cristianismo. Ninguém pode ser cristão e determinados locais sem correr risco de vida. Na Mauritânia, neste momento, está em todas as mídias a prisão de uma pessoa por ter-se tornado cristã. Assim, de pronto. Entram em sua casa e te levam por este “crime”. É um caso de religião a serviço da obscuridade. Nisso, o Novo Ateísmo está certo em condenar a “religião”, como estão certos os cristãos, judeus e outros que sejam “libertários” no sentido da liberdade, mesmo, de consciência, religião e expressão.

No mais, nós, cristãos, continuaremos a ser mais e mais ofendidos em nossas crenças, e cada vez mais martirizados. Isso tá previsto e escrito no “Livrão”. Deus nos ajude a fazermos com que o máximo de pessoas esteja no lado certo desse martírio – o lado de quem o sofre.

O Brasil amanhece menos justo

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Ontem de noite, depois da ridícula decisão do TSE de cassar o mandato do Dep. Deltan Dallagnol, me vi numa espécie de depressão, incapaz que sou tanto de entender qualquer senso de justiça nisso, quanto de compreender como é que um país descamba tão rapidamente para um autoritarismo judiciário-executivo em cinco meses apenas, de forma tão drástica e maléfica.

Aos meus amigos (e parentes) que fizeram “L” e votaram no “Glorioso” Nine-Fingers, confesso que tenho dificuldade em entendê-los. E cada vez mais dificuldade ainda de perdoá-los, pela irracionalidade e inconsequência – comigo, com o país, e com seus próprios descendentes.

Ontem, depois da decisão do TSE, que não tem nem base fática nem jurídica alguma, li e ouvi algumas pérolas, exaradas das bocas mais sujas e covardes do país.

O Ministro da “Justiça” tem a ousadia e o escárnio de usar, para além da maldade óbvia de quem ocupa um cargo público e deveria servir ao público, de um verso bíblico – alusão clara à fé do deputado cassado:

É… está em Mateus 5:6 mesmo. No Sermão do Monte. Mas não se iluda, Dino. Lá também está escrito:

“…bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa.”

Mat. 5:11

“Se, pelo nome de Cristo, sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus. “

1Pe 4:14

Dallagnol é um servo de Deus. Sei disso, conheço isso. Conquistou uma vitória importante para a justiça brasileira e demonstrou à população que a justiça sempre prevalece.

Não se iluda, Ministros, não se iludam, Ministros. Satanás também ousou usar a bíblia para tentar e chantagear o próprio Filho de Deus. Não conseguiu. Parecia ter conseguido, quando, na Cruz, Ele foi morto.

Ocorre que a vitória final é sempre do Bem, sempre de Deus. Não tenho dúvida de que esse jogo pode demorar, mas no final, os verdadeiros “fichas sujas” (como ousou chamar Dallagnol o “magnífico” Renan Calheiros) serão extirpados da vida nacional.

Costumo dizer que diante de cada um de nós existe um muro, chamado Morte. Ninguém sabe a quantos quilômetros, metros ou centímetros está o Muro. O fato é que, ao bater no Muro, a vida aqui acaba, e todos, sem exceção, vamos dar contas a quem ousamos vituperar usando as próprias Escrituras para tripudiar do outro. O Ministro e todos os Ministros, todos os Nine e os Zé deste mundo baterão no Muro. Aqui poder-se-á chorar por alguns deles – até ladrão tem amigo – mas lá, onde não há mais tempo nem ilegalidades, nem Ministros Amigos, o papo é outro. Eu, se fosse esses senhores, pensaria um pouco nisso. Viver com a certeza de que tudo acaba (parece que essa gente se acha eterna) é um bom antídoto contra atitudes insolentes e más, como temos visto.

A escalada autoritária no Brasil está apenas começando. Não tenho dúvidas de que a máxima marxista, de que o comunismo é “inevitável” é verdadeira, em determinada medida. A Bíblia diz que o “mundo jaz no maligno” (I João 5:19).

Como cristão espero que essa gente tenha um verdadeiro encontro com Deus, entenda sua pequenez e maldade, e se arrependa de sua multidão de pecados. Esperança nisso? Tenho pouca. Mas não me custa orar para que, se não se arrependerem, pelo menos sejam cerceados em suas malvadezas e deixem uma nação linda, inteira, viver em paz.