Anotem aí…

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Como mencionei no meu último post, parece que minha sina é dizer “eu te disse” pra empresários, colegas, clientes, etc. Minha história talvez se repita em âmbito maior. Temos, desde ontem, um presidente eleito que, por tristeza nossa, é o ex-condenado Lula da Silva.

Tribute-se, se quiser, a eleição dele ao Bolsonaro e seus muitos erros. Não creio. Creio sim que gostamos da memória afetiva que o Lulinha pai-dos-pobres evoca, nos que viveram entre 2003 e 2010, antes da derrocada geral das ideias do PT, que, como dizia Margareth Thatcher, acabou quando o dinheiro dos outros acabou.

Um início brando

Quem quer implementar políticas socialistas no país tem que ir mais devagar. Zé Dirceu, o principal formulador de planos de ação da esquerda brasileira, disse isso quando Dilma foi impichada: deviam ter sido mais rápidos no aparelhamento das cortes superiores, nas forças armadas, e no executivo. Não acho que pretendam “errar” assim em 2023: creio que vão com método, continuar a equipar o executivo com força. Isso é coisa que não se vê de fora, e portanto não fará muito impacto na mídia. Quando terminarem, já será tarde e o governo será “deles”, não importa quem for o próximo presidente.

Na economia, ideal é vender a ideia de continuidade da racionalidade econômica. Aproveitando que o governo atual fez um bom dever de casa, e vai entregar um tesouro equilibrado e um Bacen independente, haverá um gradualismo nas medias, mas que inexoravelmente vão aumentar em volume e efeitos a partir de 2025. O desastre petista, como ocorreu na era negra anterior, advém de muitos anos de água minando as fundações. O povão (mesmo alguns que acham que sabem disso e não medem esforços para falar do que não entendem) não enxergará nada, até que a casa esteja irremediavelmente comprometida, como ocorreu a partir de 2010. A bomba plantada entre 2003 e 2010 explodiu no colo da cumpanhêra
Dilma, que pouco fez para evitar a colisão com o muro da crise econômica, exceto talvez acelerar para ele.

Nas relações de trabalho, claro que as cortes trabalhistas, assanhadas pelo novo “patrão”, continuarão a ignorar solenemente a nova CLT e dar ganhos de causa estranhos, para dizer o mínimo. Isso obviamente vai precarizar a relação de trabalho, ainda mais, num país em que essa já é tênue. O resultado será o previsto – menos vontade de dar empregos, de um lado, e o governo culpando os empresários por sua “falta de sensibilidade social”, de outro. Como agora MEI não é emprego (segundo Lula é desemprego, mesmo que o cara ganhe 3, 4 vezes mais dirigindo Uber do que numa linha de produção qualquer), as estatísticas de desemprego serão “corrigidas” na largada, pra mostrar que era ‘pior do que se dizia’, e logo em 2024 serão corrigidas para baixo, de novo, uma vez que se esqueça o fato. Novilíngua e Duplipensar existem, camaradas.

Um Final Horrível

Obviamente, tudo dependerá do Congresso, e sua habilidade em rejeitar o caminhão de cretinice que certamente virá do Planalto. Mas como o congresso é suscetível a “orçamentos secretos”, claro que Lula se beneficiará dele na mesma medida em que Bolsonaro não o fez. Isso se o modus operandi anterior não voltar com força: ora, se funcionou uma vez, e o criminoso voltou à cena do crime nos braços do povo, por que não dobrar a aposta?

Com um congresso cooptado e um governo assanhado, o final poderá ser horrível – se é que haverá final. Basta ver o que ocorreu agora para entender que sempre é possível piorar, nesses tristes trópicos.

Será menos horrível, ou um horror menos visível (como foi entre 2003-10) se o congresso conseguir pelo menos barrar parte da lambança que se prenuncia (vejam o pouco que o PT liberou de informação sobre plano de governo).

Igrejas e Templos

Não creio que Lula vá se meter com a religiosidade de nossa população. Nem Fidel Castro conseguiu. Ele usou a religiosidade, até onde podemos ver de fora. Eu creio que Lula deixará o populacho seguir com suas crenças, mas as lideranças religiosas (que maciçamente o rechaçaram) sofrerão com a fúria dele.

Lula sabe que precisa ser o receptáculo de parte dessa fé – ele, a alma mais pura do país, o Jesus Cristo da Esquerda (“Pai, perdoa-lhe por sua inguinorânça”, como disse recentemente), certamente saberá tirar partido do ativismo dos pastorecos e padrecos de esquerda, sempre dispostos a retirar liberdades em troca de socialismo.

Enfim, sós…

Mas diferentemente dos recém casados, estamos, de fato, enfim sós, com nossa tristeza. Nós que produzimos (vide figura lá no início) levaremos nas costas a dor de continuar a carregar um país que se recusa a crescer e ser melhor, elegendo corruptos, de novo, numa sanha de autoflagelação não imposta, voluntária.

Triste é que meu couro está sendo arrancado junto com o do cara do lado, com o chicote na mão.

Enfim, sós…

Ver é diferente de falar Sobre

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Eu estava presente em alguns episódios mais emblemáticos da América Latina. Eu estava presente no “Caracazo” de 1989, quando centenas de pessoas perderam a vida por conta de medidas do governo de Jaime Lusinschi, que resultaram no aumento da gasolina (em tempo, a gasolina lá custava menos de 10% do que custava no Brasil na mesma época).

O episódio abriu espaço para Hugo Chavez, que anos depois legou tristeza, perda de liberdade e destruição da economia venezuelana. Legou ainda o companheiro Maduro, de ainda mais tristes feitos, e uma população que já está, em boa parte, no Brasil, Colombia e EUA, apenas para citar alguns destinos favoritos.

Trocou-se o preço da gasolina pela falta de tudo, inclusive de liberdade.

Eu estava também em Manágua, na Nicarágua, quando era presidente Daniel Ortega, em seu primeiro ensaio de poder, do qual foi apeado à força em 2002, para retornar em 2007, pelo voto, e nunca mais sair. A destruição do terremoto de 1973, e outros menores, nunca havia permitido a Manágua se reconstruir totalmente. No entanto, a FSNL – Frente Sandinista de Libertação Nacional, fez a proeza de acabar não só com as regiões afetadas pelo terremoto, mas com todo o país, que até hoje sofre com todo tipo de privação, inclusive da liberdade.

Lá hoje, padres e pastores são presos indiscriminadamente, igrejas são fechadas e imprensa é censurada, como na Venezuela.

Eu estive na Argentina durante a hiperinflação de 1988, do “corralito”, do Menem (na época chamavam-no de Mendez, porque diziam que até o nome Menem dava azar…). Trocaram gente ruim por gente pior e socialistas disfarçados de peronistas. O resultado custou mais a acontecer, pois que a Argentina tinha melhores instituições (ainda tem, mas sendo corroídas a olhos vistos). Eis que hoje estão com 100% de inflação anualizada, tremenda desordem social e econômica, e um povo acostumado a receber benesses do governo, e achando tudo isso o máximo.

O corolário de tudo isso é um avanço não só da esquerda (eu acho que alguns ideais de esquerda são bem bons, pelo menos em teoria), mas de um tipo pervasivo de ditadura, que suprime não só o direito de opinião mas o direito de comer e se vestir. Que o digam os milhares de graduados em universidades, de Cuba e Venezuela, trabalhando no Brasil como motoristas de Uber, chapeiros em hamburguerias, entre outros trabalhos de alto nível de exigência intelectual.

Nossas Instituições

Assim como a antiga propaganda, que dizia que ‘nossos japoneses são melhores que os japoneses dos outros’, nossa democracia é melhor e mais sólida do que a dos infelizes vizinhos, carcomidos pelo problema do socialismo.

Lula deu a letra, há muitos anos, de que a implementação do socialismo aqui levaria mais tempo, porque o brasileiro era diferente do restante do mundo. E é verdade. Somos mais indolentes e menos propensos a briga, menos dispostos ao confronto. Mas o tempo está passando, e o proverbial sapo no balde está sendo cozido aos poucos.

Estamos prestes a levar uma surra coletiva, nacional, nas urnas (Deus nos livre!). E se essa surra se materializar, estaremos indo de vento em popa para uma situação de perda de referenciais técnicos e morais, que nos levarão, creio, ao desastre economico-social.

Escrevo, como já mencionei em um post no FB, para que daqui há alguns anos o próprio Face me lembre do que escrevi e eu possa re-postar com toda a tristeza que creio que ocorrerá, dizendo “eu te disse, eu te disse”…

Não peço voto em Bolsonaro. Não sou fã dele, embora consiga enxergar claramente o bom governo que está fazendo – apesar dele mesmo. Fico triste pelos meus amigos e parentes que fazem campanha aberta por um sujeito que, se tivesse sido mantida a Lei, estaria em cana, e não tomando cana, num palanque. Nem posso dizer “eles não sabem o que fazem”. Sabem, e resolvem demonizar um sujeito que nem de longe é tão ruim.

Mas isso é só minha opinião. Consigo continuar amando meus amigos e parentes que pensam diferente de mim. Só temo que terei que dizer “eu te disse… eu te disse” em alguns meses ou anos.

Deus nos livre desse destino!

ESG é o Capeta?

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Quero aqui dar uma visão razoavelmente balanceada sobre o advento do ESG. Difícil mas tentarei.

Pra quem não conhece, ESG significa, em inglês, uma sigla criada pelos barões do Forum de Davos: “Environment, Social, Governance” (Governança Ambiental e Social). São três palavras antes aplicadas separadamente e que foram agrupadas nessa única sigla, e que ganhou “vida própria” em seu significado, como outras no vernáculo pátrio, como “coitado”, “fascismo” ou “negacionismo”, além da onomatopéia “mimimi”, de ampla aplicação.

Em separado, não há como ser contra qualquer uma dessas posições. A questão é que ninguém de sã consciência consegue ser contra o Meio Ambiente, a Sociedade e uma boa governança de suas empresas. A questão complica quando juntamos tudo num mesmo conceito interligado, quando nem sempre o deveria ser.

O link abaixo, da Gazeta do Povo, dá uma excelente ideia, a despeito de um tanto carregada nas cores, sobre o que acontece e até onde o conceito mais radical de ESG permeia a sociedade.

https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-o-mercado-investidor-usa-o-esg-para-impor-ideologia-as-empresas/?ref=link-interno-materia

Gazeta do Povo, 01 de Setembro de 2022

Como “dirigir” a opinião da Elite

Por definição, “elite” deveria significar algo que varia de “abastados” a “formadores de opinião”, passando por uma série de conceitos como bom gosto (sic!), finesse e bom senso. Desta forma, mudar opinião de Elites nao deveria ser algo simples, nem tarefa típica de tanger rebanho. Mas ESG prova que não é suficiente e necessário para pensar independentemente ser da Elite – financeira, cultural ou qualquer outra.

Livre pensar é só pensar

Millôr Fernandes

O próprio Millôr, fina flor da Elite, do Beautiful People carioca dos anos 70 em diante, não se demonstrou elite, quando, por exemplo, execrou, esculachou e excluiu Wilson Simonal da vida artistica, provocando inclusive (direta ou indiretamente) sua morte prematura. Millôr, na prática, não livre-pensou em muitos momentos, a despeito de seu talento imenso.

O mesmo se pode dizer de expoentes culturais como Chico Buarque ou Caetano (cuja música eu adoro). Fazem reiteradamente escolhas que, por ideologia ou qualquer outra razão, nubla o entendimento da realidade, e auxilia sua ideologia a se impor a nós, ainda que “tomando o poder, o que é diferente de ganhar eleições”.

Mas é verdade. Livre pensar, é só pensar mesmo… Pense, arrazoe, sem dar chances à ideologia, e a verdade vem à tona, e você não volta a ser do jeito que era, não por ter um “lado”, mas pelo que faz ou não sentido.

E

Environment. Dificilmente algo tem sido utilizado de forma mais ideologizada do que esse termo. Meio Ambiente se tornou campo de batalha, não por uma floresta de pé, não por sustentabilidade, mas por razões inconfessáveis. No artigo, Elon Musk faz uma alusão verdadeira e risível, se pensarmos bem:

ESG é uma farsa. Tem sido usado como arma por falsos guerreiros da justiça social… (A petrolífera) Exxon está colocada entre as dez melhores do mundo em meio ambiente, social e governança (ESG) pela S&P 500, enquanto a Tesla não faz parte da lista!… Estou cada vez mais convencido de que o ESG corporativo é o diabo encarnado

https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-o-mercado-investidor-usa-o-esg-para-impor-ideologia-as-empresas/?ref=link-interno-materia

De fato, colocar no maior índice de bolsa do mundo a Exxon e não a Tesla parece no mínimo estranho. O fato é que tanto aqui, como nos EUA como em qualquer lugar do mundo, vemos uma pressão sobre visões menos à esquerda do espectro ideológico como sendo passíveis de “vendetta”. É o que Musk está demonstrando de forma clara. Ninguém reclama, ninguém se opõe.

O Brasil tem sido, de certa forma, vítima do “E” de ESG, na figura de seu presidente, um boca-dura turrão que é associado a tudo o que não presta, em termos Ambientais, o que não necessariamente (e raramente) é verdade.

S

Social… Desde que Zé Sarney declarava “tudo pelo Social”, e fazia um governo que está certamente entre os piores em 522 anos de história, eu fico com um pé atrás em cada “Social” que leio. Justiça Social, então, nem se fale. Eu tenho bastante dificuldade em admitir que alguém receba um benefício qualquer em virtude de sua raça (sic!) cor, religião, orientação sexual, ou qualquer outro aspecto da vida que não o mérito, e só o mérito.

Inclusão Social deve, por óbvio, ser um objetivo da sociedade. Apenas que a inclusão se dá pelo levantar da condição humana, e não pelo rebaixamento de padrões. Sobre isso muitos já escreveram, e melhor.

G

Governança. Esse é o Elo. Falamos, então de “Governança Ambiental e Social”. É disso que se trata o termo ESG, bem entendido. Estabeleça-se, dizem os caciques, padrões de governança tais que cheguem ao ponto da preocupação social e ambiental.

Parece bacana, e pode ser. Não sou contra ESG como conceito, per se. Sou contra o uso que está-se dando a isso. Pelo artigo citado, a Bolsa brasileira, local em que perdedores e vencedores são julgados diária e impiedosamente por milhares de cabeças, sem qualquer consideração por preferências pessoais ou de quaisquer outras naturezas, decidiu aliar-se ao conceito. Em síntese, ESG vai afetar o pregão? Vou comprar ou vender algo por conta de aplicação de conceitos ESG? Vou aceitar que meus dividendos sejam reduzidos – se é que haverá este efeito – em virtude de aplicação de conceitos daí saídos? Não sei, mas francamente, me aproximando da aposentadoria, não me vejo sendo bonzinho com quem não necessariamente concordo ou com pautas que não necessariamente patrocino.

Governança Social tem sido objeto, inclusive, de seminários de auditores e contadores, como é meu caso, e será tema do próximo Simpósio Paranaense de Auditoria, de cuja comissão sou parte. Me orgulho de poder trazer o tema, mas sei que em muitas situações estarei num campo não 100% alinhado com a palestrante.

Resultados

Torço e oro por uma sociedade que trate pra lá de bem o Meio Ambiente. No entanto, reconheço que enquanto não tenhamos dominado a técnica de fazer bife com ar (será possível, creio, num futuro não tão distante), teremos que conviver com pum de milhares de vacas.

Torço e oro por uma sociedade que seja socialmente justa, e que não discrimine por nenhuma característica – física ou de qualquer outra natureza. No entanto reconheço que as pessoas são, intrinsecamente diferentes, e preferiria não ser atendido num pronto socorro por um médico intensivista “quotista”, não porque ele seja branco, preto, gay, hétero, muçulmano, cristão, azul de bolinhas brancas ou sei lá mais o que. Quero um médico que tenha capacidade de exercer medicina. Só isso. Objetivamente.

Finalmente, torço e oro por uma sociedade que consiga dar governança aos dois aspectos anteriores. Uma sociedade que consiga deixar transparentes as ações sociais e ambientas das empresas. No entanto, não estou disposto nem a discriminar nem a alijar do mercado empresas que porventura não queiram se meter nesta seara. Ora, que o mercado julgue até que ponto a empresa, por não deter e aplicar conceitos ESG, entrega um produto ou serviço de qualidade, digno do meu e do seu dinheiro.

Concluindo – ESG não é o capeta encarnado, como crê Elon Musk – necessariamente. No entanto, do jeito que a coisa vai, e como está sendo conduzido pelos ativistas de sempre, aqueles com agenda preta oculta no bolso do paletó, pode se tornar. Pode. Ao ponto de se tornar o embrião de uma Gestapo ESG, para nossa tristeza.

Livre pensar, continua sendo só pensar.


Confortavelmente Entorpecido

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Confortáveis

Em 1979, Roger Waters e David Gilmour “poetizaram” uma tendência que estava já em sua adolescência, e que se tornou um problema de saúde pública hoje.

“Não há dor, você está recuando
Um navio distante, fumaça no horizonte
Você está apenas vindo em ondas
Seus lábios se movem, mas não consigo ouvir o que você está dizendo
Quando eu era criança
Eu saquei um vislumbre fugaz,
De rabo de olho
Eu me virei para olhar, mas ele já tinha passado…
Eu não consigo detalhar o que isso significa, agora
A criança está crescida…
O sonho se foi
Eu me tornei confortavelmente entorpecido”

Pink Floyd, in The Wall, 1979

A juventude, em 1979, encarava um problema: negava-se a encarar a vida, talvez pela primeira vez (de forma coletiva). Antes era mais difícil, porque quem assim o fizesse morreria de fome, frio ou ostracismo social. A vida tinha sido tornada fácil pelas gerações que antecederam os “Baby Boomers” (BBs, nascidos entre 1950 e 1970). Eram tempos nos quais pagar as contas ficava mais a cargo do Estado do que do cidadão, mesmo nos EUA, mais pragmáticos, e muito mais na Europa, com seu estadão grandão e paizão.

A geração dos BBs foi-se revelando, mesmo, uma geração de bebês. No Brasil essa tendência demorou mais a chegar, pois aqui custamos mais a poder depender do estado, e as famílias ainda eram mais próximas e exigentes. Não é mais assim, hoje em dia, e nos aproximamos muito aos padrões de primeiro mundo, pelo menos para uma classe média e alta urbanas.

Confortavelmente entorpecidos fomos vivendo, álcool, narcóticos, pornografia e outras coisas nos distanciando da realidade. Liberdade, como dizia a propaganda de jeans, “é uma calça velha azul e desbotada”. Ou seja, liberdade é usar o que quiser, falar o que quiser, fazer o que quiser, se quiser, fumar, cheirar e beber o que quiser. É proibido proibir, foi nosso mote – o da minha geração, que basicamente começou isso, por aqui. Confortavelmente entorpecidos continuam nossos contemporâneos, e as gerações que nos sucederam, como Gerações X, Y, Millenials, etc.

Vivemos confortavelmente por tempo demais.

Entorpecidos

O entorpecimento parece já não ser tão confortável, mas seguimos negando fatos que são esfregados na nossa cara. Nem numa cracolândia, comendo lixo na rua, parece que o cidadão consegue enxergar que está pouco confortável, e muito entorpecido. Quanto mais desconfortável, mais entorpecido precisa estar para seguir adiante. Se é que se pode chamar esse estado de “ir adiante”.

Estamos entorpecidos por não termos disciplina. Estamos entorpecidos por termos perdido a liberdade para a preguiça, o conforto e a irresponsabilidade com o futuro, e a falta de perspectivas.

Esse entorpecimento é fruto da indisciplina reinante, e tem alguns frutos bem visíveis.

Escrita e Leitura

Não escrevemos mais. Estamos perdendo a capacidade de nos comunicar por escrito. Por consequência, a falta de disciplina para tal nos faz perder também a capacidade de nos comunicarmos oralmente. Quem não consegue colocar em palavras um mínimo de sentenças organizadas, não vai conseguir falar adequadamente. Vejo que mesmo os analfabetos ou semi analfabetos do meu tempo de criança sabiam se expressar melhor do que muitos alfabetizados de hoje. Talvez porque fossem analfabetos por falta de oportunidade, mas não por desinteresse. O que lhes faltava em letras, talvez lhes sobrasse em reflexão.

Metade, ou mais, de quem chegar a começar a ler este texto provavelmente vai largar – até entendo que meu estilo é chato, mas espero que não o conteúdo. A verdade é que ler se torna cada vez mais difícil a quem prefere ver. Tik-Toks e outros Reels são prova eloquente dessa preguiça em decifrar caracteres. Quanto menos eu ler, menos eu sigo uma linha de raciocínio, e menos, consequentemente, terei disciplina para formar padrões e ideias. Adoraria estar exagerando. Temo que não esteja.

Estética e Música

Desde a pele se tornando um pergaminho multicolorido até os piercings e mutilações cutâneas, fomos sendo paulatinamente tornados cegos à beleza da pele humana. Passamos a achar lindos os apetrechos colocados sobre nós em exageros, que muitas vezes chegam ao implante de chifres.

Na música, repetições indolentes das baladas sertanejas, repetitivas e previsíveis, ao pancadão cujo ritmo serve às rodas de semi-zumbis de periferia, deixamos de lado a harmonia. Trocamos a beleza pela feiura, em uma estética pobre que as massas adoram.

Por que? Porque não requer disciplina alguma para absorver. Requer altura. O som de péssima qualidade, tocado no maior volume possível, talvez seja uma outra prova da necessidade de me isolar (acusticamente) do mundo ao redor.

Fones de ouvido, usados por horas à fio, fazem o papel de um biombo, ocultando nossos sentidos do mundo ao redor. Um belo quarto, pago pelos pais, com internet de alta velocidade e, de preferência, com ar condicionado e TV 4K, completam o serviço, nos tirando do mundo e não nos livrando de mal algum.

O que virá?

Costumávamos dizer que qualquer material tem sua resistência posta à prova, até o ponto de rompimento. Como tudo no mundo parece ser pendular, espero que o pêndulo, que me parece estar totalmente à esquerda (sem conotação política) poderá voltar a virar-se à direita (idem). Assim, é possível que o esgotamento de um modelo de indisciplina e a vida nesse “metaverso” terrível acabe por acabar, nem que seja pelo esgotamento de ter quem pague por isso tudo. Acabando o financiador, talvez acabe a indisciplina, pela via da escassez, do desamparo.

Não acho que isso vai acontecer, contudo. Entendo que o mundo, de fato “jaz no maligno” como a Bíblia diz. Essa entropia (desorganização) do universo, que é crescente, me dá um medo patológico de que cheguemos ao ponto de não-retorno, onde as pessoas estarão tão Comfortably Numb, que nem a morte será mal vinda. Será a consumação de um processo de deterioração que fará com que nossa civilização imploda, como faz o câncer no organismo, indo até matar o hospedeiro.

Eu escapo? Talvez. Acho que sim, porque de fato, estou numa bicicleta sem rodinhas. Se eu parar, eu caio. Portanto, o melhor que a sociedade poderia fazer pelo ser humano seja retirar dele toda e qualquer rede de amparo social (triste dizer isso…) que não derive da extrema necessidade e que não seja continuada, mas pontual. Deixar o ser humano voltar a ser responsável pelos seus pratos de comida, talvez faça com que levemos mais à sério o ato de sobreviver.

Comfortably Numb, mas às minhas custas…

O taxista baiano

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Numa dessas minhas andanças recentes a trabalho pelo país me deparei com um cidadão extremamente bem falante, educadíssimo, boa cultura, voz mansa, dirigindo um taxi que me levaria de um lado a outro da cidade de Feira de Santana, na Bahia.

Ah… a Bahia… um local único onde a cidadania enxerga o mundo de uma maneira muito interessante, nem sempre correspondendo ao que se vê no dia a dia. Bahia de todos os santos, e demônios também… Mas deixemos o coisa-ruim pra lá, se der pra fazer isso.

Arthur Schopenhauer, em seu livro “Como vencer uma debate sem ter razão alguma” elenca 38 formas de debater, e ser bem sucedido, sem ter razão. É, obviamente, uma fina ironia mas define exatamente o mundo em que vivemos, sem a obviedade: quem assim debate não sabe que não tem razão, muitas vezes.

Foi o caso do dito chofer de praça… Lá pelas tantas, numa dessas interjeições que me marcam (e me atrapalham) lanço uma expressão sem objetivo claro, algo do tipo “isso é coisa de esquerdista”, ou “gripezinha, como a Covid”. Foi o suficiente para, com voz calma, branda e didática, eu ter sido ensinado, entre outras coisas: a)meu negacionismo, com relação à Covid; b)meu erro por achar o Paulo Guedes um bom ministro da economia; c)minha suprema burrice por não enxergar o que claramente se nota – que o preço da gasolina está alto por culpa única e exclusiva dos nossos dirigentes.

Não se iludam os meus (parcos) leitores. Nada foi dito com raiva. Não fui chamado de fascista, negacionista, terraplanista e tudo o mais. A voz branda me “educou” em vários aspectos da minha vida em que eu, obviamente, estou totalmente errado. Num dos momentos áureos da corrida que não durou 20 minutos, foi educado no que significam dados científicos. “Vou lhe dar dados à prova de bala: a Covid mata mais do que qualquer outro vírus – as estatísticas (sei lá de que, nem me lembro) confirmar. É ciência!”. Admiti, claro, que matava, pois é verdade. Mas dizer que mata, e mata mesmo, mas que não seria razão para declaração de pandemia ou “feche tudo” não serviu de nada. Os olhos diziam da tristeza que ele sentia por mim, uma alma condenada ao purgatório, no mínimo.

O senhor tem que entender que o Paulo Guedes está fazendo uma péssima gestão. Não vê a inflação? Não vê o preço da gasolina? Não vê como a gente está morrendo de fome feito moscas nas ruas?“. No que eu tento (em vão) contra argumentar – mas o que foi possível foi feito, creio, um auxilio de R$ 400,00 para quem não tinha nada é o que se pode fazer num país com orçamento apertado.”… “Seu Wesley, vou lhe ensinar uma coisa – nós somos um país de miseráveis, e R$ 400,00 são esmola…“. Tá ok… fazer o que, ele tem razão, a economia, afinal de contas, a gente vê depois.

Minha irritação sobe na medida em que a vozinha de padre de paróquia vai ficando tanto mais agressiva nos argumentos quanto mais doce e branda no tom. Eu ia perdendo a paciência. A discussão, eu já tinha perdido. No final da corrida o meu professor de economia e saúde ainda me diz “o senhor entendeu“? Eu, obviamente já com cara vermelha digo: “meu amigo, você deveria parar e pensar no que fala, porque dissemina um nível de falsidade que não dá pra tolerar“.

Ponto pro taxista. Bola fora pra mim… vou aprender um dia a ter vozinha de padre, a não perder a calma quando confrontado com argumentos tão “acachapantes” como esses… e depois, de saideira, tive que dar a minha nas costelas dele, às expensas do bondoso e amigo povo baiano, que nada tem a ver com essa situação em particular: “você deve ter razão… afinal, a Bahia há anos vive sob governos tão bons, e tem taxa de desemprego e IDH tao altos”…

Que baixeza da minha parte… não sabendo como “me defender”, aplico um golpe baixo desses… Um dia eu aprendo…

Linguagem de Gênero? Sou Neutre…

(Reprodução/Internet)
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Os idiomas tem uma evolução no tempo, e algumas âncoras. Quanto mais longevo e “estático” é o idioma, significa que mais ciência e regras ele tem. Alguns exemplos, como o Chinês Mandarim, o Grego e o Latim são contundentes. Tão contundentes a ponto de um cidadão grego comum e corrente do Século XXI ter a capacidade de ler e entender, em grande parte, um texto da antiguidade clássica grega, digamos, os Diálogos de Platão.

Âncoras

A âncora do idioma é sua forma culta – ou seja, o fato de que alguém(ns) teve (tiveram) o trabalho de estabelecer uma norma. Enquanto isso não acontece, normalmente o idioma vai espiralando indefinidamente, evoluindo sem controle, tornando cada geração incapaz de entender a anterior, em alguns casos.

O inglês foi uma “criação” de William Shakespeare, Geoffrey Chaucer e outros talentosos escritores, que “amarraram” o barco da língua inglesa em um píer de regras, de onde é mais difícil – mas não impossível – escapar. O alemão foi amarrado ao cais da norma culta por Goethe, o italiano (florentino) por Dante Alighieri, o português por Luis de Camões.

O que esses caras tinham em comum? A necessidade de usar um código de compreensão claro para si e para outros. Um código que permitisse a sua obra sobreviver a mais de uma geração sem precisar de um expert linguístico para fazer toda uma arqueologia sobre o idioma.

É natural que os idiomas escapem das âncoras, pouco a pouco. A função da norma culta não me parece ser a de deixar o idioma estático, mas de permitir que as variações possam ser localizadas no tempo, separando regras de costumes. É importante que os significados evoluam. “Coitado” já foi palavrão, hoje é uma mera interjeição de pena. “Porrada” está a caminho de deixar de ser palavrão para significar soco, pontapé, cacetada… e por aí vai. Isso é uso, e usos mudam. Algumas palavras vão e vêm, como os nomes da moda – Joaquim é um nome que no meu tempo de criança só gente velha tinha. Hoje virou nome de lindos moleques. O mesmo vale pra Alice. Um dia voltaremos a ver de novo os Crisóstomos e as Marlenes de 2, 3 e 4 anos andando pelas ruas.

O que me chama atenção na evolução do idioma, no entanto, é seu caráter popular e voluntário. É um fenômeno de massas. É algo que surge ninguém sabe de onde.

Mudança Forçada

Estamos, no entanto, vivendo um momento diferente, em que estamos diante da decisão, de uma minoria, de impor ao falante uma realidade paralela, em que será obrigado a usar expressões que não nasceram nem da alma, nem do uso, nem do desejo de copiar.

A gente não fala “follow up”, “drivers”, “modus operandi”, “data vênia” ou “savoir faire” porque foi forçado. A gente falar porque algum meio, seja acadêmico ou profissional nos empurrou para tal. A gente não fala “lá em riba” ou “Ôxe” porque foi doutrinado a fazê-lo. Fala porque cresceu falando, e porque os pais nasceram falando. Eu, por exemplo, canso de dizer “Nossa”, sem me tocar que, como batista que sou, não sou necessariamente crente nas graças da mãe de Jesus, como intercessora. É parte da herança.

Alemão, há anos no Brasil, ainda fala “genau”; italiano ainda fala “caspita” e japonês ainda se cumprimenta com um “ohaio” sem nem pensar, às vezes. É a fonte, não imposta, mas incorporada, que vale.

Por que eu deveria me curvar a uma imposição de dizer que sou “neutre” num assunto ou outro, ou aceitar que meu suado canudo de papel da USP venha grafado com “Formandes”, só para agradar alguns que acham que a língua vai mudar a forma que um trata o outro?

Por que eu tenho que responder que sou “Latinx” a um gringo? Até entendo que um transsexual use determinado pronome, que lhe interesse. Não é meu problema. Fale como quiser. Seja o que quiser, e preste contas por isso. Não é força nem violência que mudam a sociedade. Isso inclui a violência linguística, imposta por uma minoria que considero (EU considero, bem dito) sem noção.

Se você quiser falar formandes, latinx, el@ ou elxs, tudo bem. Eu não quero nem vou falar assim, Peço que respeitem meu direito de não fazê-lo. Gosto bastante da norma culta da língua, e a despeito do meu português nem sempre castiço, desejo falar o mais explicadamente possível, ao maior número de pessoas, pelo máximo tempo possível. Quero ser entendido.

Não achemos que a língua vai dar a menor bola para isso. Além de romper com uma regra, nada vai mudar se o povão não incorporar isso como mudança. Claro, é fácil mudar regras quando a população é fundamentalmente iletrada. É mais fácil aqui, entendo, do que em um país de nível cultural mais alto. É mais fácil “caô” ou “zuêra” virarem norma culta do que “elxs”, penso eu – até porque pronunciar certas coisas é mais difícil.

O idioma é âncora e é fator de união. Quem conhece esse brasilsão de norte a sul entende que só nos tornamos nação por causa do nosso idioma. Nossa união passa por nos entendermos. Que assim continue, sem imposições.

Salmos da Modernidade – Salmo 15

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A Casa de Deus não é moradia pra qualquer um…

Quem, Deus do Céu, vai morar na tenda que o Senhor mandou a gente erguer no deserto? Quem é que vai ser corajoso de viver tão perto de Você?
A resposta parece simples, mas no fundo é bem complexa e a gente nem se dá conta disso: quem tem integridade. Quem é justo no que faz, de coração. Quem fala a verdade.
Quem não fala mal do alheio. Quem não faz mal aos outros. Quem não calunia os outros. 
Quem despreza gente que é ruim, mas faz de Deus seu modelo de vida, e tem pavor de desrespeitá-Lo e as Suas Leis. Quem dá a palavra e cumpre a palavra, mesmo que isso cause prejuízo pra si. 
Quem não cobra juros absurdos dos outros. Quem não faz conchavo ou recebe propina.

Difícil, não?  Mas saiba que quem faz isso tudo, JAMAIS vai ter medo de nada. Vai viver de cabeça erguida para sempre. 

A natureza das discussões

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Pertenço a um grupo de executivos que se reúne mensalmente e debate sobre temas diversos. É como um “Conselho de Administração” coletivo, privado, em que temos a oportunidade de nos apoiar uns aos outros, e usar as experiências coletivas para ajudar e apoiar os outros. É muito bom.

Na base dos “guidelines” do grupo está uma orientação para nunca darmos a nossa opinião, mas contarmos experiências e deixar que o outro chegue a conclusões por si só. Seria uma forma de não ser intrusivos, e não darmos uma de “professor de Deus” aos outros. Confesso que com minha natureza voluntariosa, e profissão, tenho a tendência de sair imediatamente dizendo “se eu fosse você…”. Isso é algo radicalmente contra a tal diretriz.

Recentemente me deparei com um artigo num editorial chamado “Quillette” (www.quillette.com) extremamente interessante, e que dá uma entonação muito diferente ao conceito de “intromissão” e discordâncias. Se chama “Quando discordância se torna trauma” (tradução livre) e pode ser encontrado no link https://quillette.com/2022/05/08/when-did-disagreement-become-trauma/.

O subtítulo é bastante revelador sobre o tema: “How does one deal with those who claim that debate itself represents an agony beyond human endurance?” (“Como é que alguém lida com aqueles que dizem que o debate, em si mesmo, representa uma agonia além da resistência humana?”

A Universidade da Columbia Britânica gestou, por anos, um documento chamado “Anti-Racism and Inclusive Excellence Task Force Report” (Relatório da Força-Tarefa Anti-Racismo e Excelência Inclusiva”), seja lá o que isso de fato signifique. É um calhamaço de 300 páginas em que os acadêmicos defendem o que têm defendido já há alguns anos, e que define um termo: “Truthing” (eu traduziria por “verdadear”, mas o Google traduz como “veracidade”). O termo, vejam, não trata da “verdade” em si, e é definido como

“o ato de afirmar verdades sobre assuntos considerados de conhecimento difícil e/ou perigoso, em contextos de hiperpoliciamento, vigilância e microgerenciamento de organizações racializadas… , e censura que acompanha a veracidade do assunto enquanto simultaneamente aborda as relações de poder e as injustiças que interrogam ativamente o desconforto, a negação, o direito à negação, o apagamento e a censura que acompanha a verdade do assunto.”

Força-Tarefa Anti-Racismo e Excelência Inclusiva da BCU

Fugindo da discussão

É um tremendo esforço para dizer que não se pode expressar ideias, creio eu. Discutir, em “bolhas”, se tornou sinônimo de pecar. Fora da Bolha também. Dentro da Bolha, discutir significa desagregar, por esta definição; significa querem criar caso. Fora da Bolha, significa perda de tempo, num ambiente em que só nos cabe “cancelar” o outro por pensar diferente.

Não se trata de um lado, outro lado, esquerda, direita. Nada disso. Qualquer lado neste mundo tem usado essa mesma abordagem quando algum assunto entra em discussão. Eu concordo? Não discuto; eu discordo? Eu xingo. Não transijo, não tento entender o outro, não promovo o progresso do pensamento. Cancelo e vou-me embora pra Pasárgada, feliz e justificado…

Em síntese – sinta-se bem. Não raciocine nem se preocupe em fingir que se preocupa.

Safe Environments

Volto ao tema inicial – o meu grupo de amigos: estamos no meio do caminho. Não deixamos de discutir; não discutimos, porém. Não damos opinião direta mesmo que instados a isso. Somos os “Ambiente Seguro”. Não que eu me orgulhe disso. Como (supostamente) pensador, gosto de me dar ao luxo de pensar nas coisas – e escrever sobre elas – sob um ponto de vista que muitas vezes até eu mesmo tenho preguiça de fazer, quando em companhia de terceiros.

Gosto, portanto, de pensar que talvez estamos diante de uma incapacidade crescente de contrariar o outro – isso torna o ambiente “unsafe” por expressarmos o que pensamos. As “turmas do deixa-disso”, que antes eram circunscritas às brigas a socos e pontapés, agora interfere em qualquer discussão que passe de uma sequencia de concordâncias – qualquer sinal de que vai “acalorar”, mesmo que da forma mais positiva possível, é motivo para ess turma agir, mudar de assunto, e falar de algo mais light, como futebol, praia, e o tempo.

Eu me vejo de quando em vez sendo “apartado” de discussões como nos tempos do pátio do colégio público de Cordeiro, RJ, quando “rodava a baiana” com alguém, ou alguém o fazia comigo. Discuto e sou tangido a não fazê-lo, e principalmente não me aprofundar em qualquer assunto, mesmo que a coisa possa desaguar em soluções ou apoio legítimo.

Que ambiente “seguro” eu quero, no campo da discussão, “papo cabeça” mesmo, coisa de amigo que bebeu mais do que devia e abre o coração para o outro, que, por também estar doidão, aceita as provocações e conselhos na boa, sem filtros? Eu quero um ambiente em que eu não seja “coagido” mentalmente?

enquanto simultaneamente aborda as relações de poder e as injustiças que interrogam ativamente o desconforto, a negação, a negação, o apagamento e a censura que acompanha a verdade do assunto.

Uma parte do artigo que me choca – mesmo em se tratando do Canadá de Trudeau:

Essa alergia ao desacordo é agora uma característica crescente da vida intelectual em todo o Canadá. Na Mount Royal University, em Alberta, por exemplo, o sindicato dos professores recentemente enviou duas páginas de instruções detalhadas sobre como os professores deveriam se comunicar uns com os outros em um próximo retiro de primavera. Na mensagem de e-mail, vazada para mim por um membro do corpo docente exasperado, o sindicato alertou os membros que as discussões no retiro “podem alcançar o envolvimento em espaços corajosos, embora não totalmente seguros”. A fim de “minimizar os danos”, os participantes foram aconselhados a “falar de nossa própria experiência e não invalidar as experiências dos outros. Foi-lhes garantido que os moderadores expulsariam qualquer um que violasse intencionalmente essas regras e confortariam aqueles que fugiram de discussões “prejudiciais”. Também havia instruções detalhadas sobre como delatar colegas sindicalistas que se envolveram em falar errado – inclusive por denúncia anônima. Tomado como um todo, o documento é um aviso para todos de que qualquer pessoa que discorde de alguém sobre qualquer coisa pode estar em risco de vergonha pública e sanção oficial.

Johnathan Kay in https://quillette.com/2022/05/08/when-did-disagreement-become-trauma/

Me chama atenção aqui o paralelismo entre a visão de “minimizar os danos”, os participantes foram aconselhados a “falar de nossa própria experiência e não invalidar as experiências dos outros e a situação que convivemos em nosso ambiente de discussão.

Ora, qual é, então, o limite que o outro está disposto a aceitar para crescer? Isso, obviamente, é decisão de cada um. Sempre se pode levantar e ir embora, se algum limite severo tiver sido ultrapassado. Não interessa que o outro tenha tido a melhor das intenções. Os incomodados que se mudem, dizia-se antigamente. Já não é assim – os incomodados, hoje, mudam a maioria, mudam o mundo, mudam os costumes, os hábitos. Exigem serem chamados de “elxs” ou “querid@s”, exigem ser reconhecidos como negros, sendo brancos, gato, sendo gente, e muito mais.

E agora?

Um texto que recebi recentemente, de um tal

faz um paralelo interessante entre o QI médio da população e a quantidade de palavras usadas, ou habituais. Reproduzo porque é muito interessante:

O QI médio da população mundial, que sempre aumentou desde o pós-guerra até ao final dos anos 90, diminuiu nos últimos vinte anos. É a inversão do efeito Flynn.
Parece que o nível de inteligência, medido pelos testes, diminui nos países mais desenvolvidos. Pode haver muitas causas para este fenómeno. Um deles pode ser o empobrecimento da linguagem.
Na verdade, vários estudos mostram a diminuição do conhecimento lexical e o empobrecimento da linguagem: não é apenas a redução do vocabulário utilizado, mas também as sutilezas linguísticas que permitem elaborar e formular pensamentos complexos.
O desaparecimento gradual dos tempos (subjuntivo, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dá origem a um pensamento quase sempre no presente, limitado ao momento: incapaz de projeções no tempo.
A simplificação dos tutoriais, o desaparecimento das letras maiúsculas e da pontuação são exemplos de “golpes mortais” na precisão e variedade de expressão.
Apenas um exemplo: eliminar a palavra “signorina/senhorita/mademoiselle” (agora obsoleta) não significa apenas abrir mão da estética de uma palavra, mas também promover involuntariamente a ideia de que entre uma menina e uma mulher não existem fases intermediárias.
Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento. Estudos têm mostrado que parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de descrever as emoções em palavras.
Sem palavras para construir um argumento, o pensamento complexo torna-se impossível.
Quanto mais pobre a linguagem, mais o pensamento desaparece.
A história está cheia de exemplos e muitos livros (George Orwell – “1984”; Ray Bradbury – “Fahrenheit 451”) contam como todos os regimes totalitários sempre atrapalharam o pensamento, reduzindo o número e o significado das palavras.
Se não houver pensamentos, não há pensamentos críticos. E não há pensamento sem palavras. Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem o condicional? Como pensar o futuro sem uma conjugação com o futuro? Como é possível captar uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, passado ou futuro, e a sua duração relativa, sem uma linguagem que distinga entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderia ser, e o que será depois do que pode ter acontecido, realmente aconteceu?
Caros pais e professores: Façamos com que os nossos filhos, os nossos alunos falem, leiam e escrevam. Ensinemos e pratiquemos o idioma nas suas mais diversas formas. Mesmo que pareça complicado. Principalmente se for complicado. Porque nesse esforço existe liberdade.
Aqueles que afirmam a necessidade de simplificar a grafia, descartar a linguagem dos seus “defeitos”, abolir géneros, tempos, nuances, tudo que cria complexidade, são os verdadeiros arquitetos do empobrecimento da mente humana.
Não há liberdade sem necessidade. Não há beleza sem o pensamento da beleza.

A gramática é a expressão da linguagem. A linguagem é a expressão de pensamento. O pensamento é a expressão de Deus no homem….

Christophe Clavé

Palavras são tão importantes que deveriam ser mais usadas. A pobreza de vernáculo certamente traz consigo a burrice. Não que a riqueza traga necessariamente a sabedoria (um amigo querido costumava chamar um imbecil conhecido de “uma diarreia de palavras e uma prisão de ventre de ideias”). O fato é que os Safe Environments do presente estão deixando as universidades e entrando em nossas casas, via chats, via mídias sociais, via boca de filhos e de pais. Com os Safe Environment está vindo o medo patológico de discutir ideias das quais se discorda.

Pobre mundo.

É burrice mesmo

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Tem um site que gosto muito, que se chama Quillette (www.quillette.com). é um site de matérias compridas e profundas sobre temas equilibrados, nas quais sempre há espaço para divergência, seja por parte de alguém mais identificado como “libertário” ou como “conservador”. Muito bom, vale verificar. Neste site li uma matéria ontem que me chamou atenção sobre o nível de alienação do ser humano com relação ao rigor intelectual que deve reger a vida de qualquer um de nós, sob pena de escravidão (à opinião do outro, às finanças do outro, ou simplesmente ao outro, como propriedade).

O Caso do Algoritmo Intolerante

O artigo (acesse em https://quillette.com/2021/01/27/beating-back-cancel-culture-a-case-study-from-the-field-of-artificial-intelligence/) traz um exemplo desconcertante de burrice acadêmica explícita, do nível daqueles que acham que sexo é um construto social e não uma realidade biológica inescapável: em síntese, um sofisticado sistema de IA – Inteligência Artificial foi aplicado em scanners corporais (tomografias computadorizadas, etc) para identificar doenças, mesmo antes de haver qualquer traço delas no corpo do paciente.

Pois bem, apresentado num congresso da NeurIPS (Conferência da Neural Information Processing Systems, ou Sistemas de Processamento de Informações Neurais), o algoritmo usado identificava, além das potenciais doenças e condições genéticas, a RAÇA e cor da pele do cidadão/ã com um percentual de acerto altíssimo. Bastou pro mundo cair na cabeça do Dr. Pedro Domingos, professor da California Institute of Technology.

“Citando evidências, por exemplo, de que “sistemas de reconhecimento facial tem muito mais erros para mulheres de pele escura, enquanto tem muito menos erros para homens de pele clara“, a cientista de dados Timnit Gebru, ex co-líder da Equipe de Ética do Google, arguiu que os sistemas de IA estão contaminados pelo preconceito da maioria de programadores, homens brancos que os os criam [algoritmos]. Num “paper” assinado com colegas do Google e minha universidade [CIT, diz o Dr. Domingo] ela avisou que grande parte dos sistemas de IA baseados na linguagem, particularmente encorajam uma “visão de mundo hegemônica” que serve para perpetuar o discurso de ódio e a intolerância”.

Dr. Pedro Domingos, PhD

Não é piada. Tem gente achando normal dizer de público que um algoritmo que faz parte de um sistema de Inteligência Artificial que está voltado a detectar doenças está contaminado com a “brancura” dos programadores. Ninguém que leu, na cátedra, achou anormal a fala. Pai do Céu! Trata-se de um algoritmo, por amor dos meus filhos! É uma fórmula matemática que se baseia em dados acumulados para tecer uma conclusão via cruzamento desses dados com as imagens produzidas por um scanner ou equivalente! É CIÊNCIA, até onde se pode ver.

Tanto é ciência com C maiúsculo, que os resultados são amplamente corretos – e olha que a tal Inteligência Artificial ainda está aprendendo com as leituras feitas, e que alteram o próprio padrão e algoritmo.

O Estranho Caso do Tratamento Preconceituoso

Vez por outra dá entrada num hospital em algum lugar do mundo um transsexual, um não-binário, um “sei-lá-como-se-chama-e-me-perdoe-de-antemão-por-não-saber” que acaba por receber um tratamento inadequado e que acaba tendo graves complicações porque o pessoal da emergência não conseguir, no fogo da batalha pela vida, identificar o sexo (biológico) do paciente.

Se sexo é um conceito social, e não biológico, não faz diferença tratar a próstata da Srta. Myrella ou o útero do Sr. Adamastor. Fazer diferente disso é intolerância e discurso de ódio. Dá pra entender? De uma vez por todas, IGNORE detalhes e bobagens como XX-XY e resolva meu problema de saúde!

Tratamentos são preconceituosos em sua natureza, ao que parece. Afinal, para tratar alguém com eficácia há que se tomar decisões de cunho iminentemente “bigot” (pra ficar chique). É necessário passar ao largo da modernidade e ir buscar conhecimento em conceitos ultrapassados, como hormônios “femininos” e “masculinos”, e órgãos que são diferentes e funcionam diferentes em pessoas XX e pessoas XY.

O Estranho Caso da Mudança de Gênero sem Trauma

Aprendi na escola que se dizia “Obrigado” e se escrevia “Obrigado” independentemente de se ser homem ou mulher. É (era) uma daquelas palavras que não comportavam masculino, feminino, ou “neutre”. Mulher falava Obrigado, Homem se dizia “Telefonista”. Ninguém fazia a menor conexão dos termos com o sexo de quem os aplicava. Era o que era, sem frescura.

Ao longo dos anos, as mulheres começaram a usar o termo no feminino – “Obrigada”, o que foi estranho, no início, mas foi se incorporando ao vernáculo do português brasileiro até que hoje faz parte da norma. Não houve briga, não houve passeata para reforçar o “a” do agradecimento diário. Houve só uso, sem forçada de barra.

Mais recentemente toda sociedade está sendo impelida a dizer que “todes somes pessoes boes”, ou o que quer que se queira dizer, em linguagem “neutra”. Usar o masculino ou feminino, ou ambos “todos(as) somos pessoas boas” já não basta. Saber que “pessoas”. “somos” e “boas” não tem qualquer implicação de gênero já não basta. É importante marcar uma posição. Não importa quão ridícula, ou o quanto dificulta o entendimento diário.

Línguas evoluem de acordo com o conforto de quem as usa. É mais confortável? Faz mais sentido prático? Não é ambíguo? Usa-se e ponto. O uso consagra. Não mais… para onde vai a praticidade da língua, ou da Novilíngua, sendo mais Orwelliano, não importa.

É burrice mesmo

Mas no fundo, no fundo, é burrice mesmo. É querer complicar as coisas indevidamente. Pior, é criar uma situação de tal forma ridícula, que os possíveis beneficiados com a intenção de quem age (o guerreiro social) vejam o tiro sair pela culatra.

É burrice tornar as expressões ambíguas. É burrice tornar os diagnósticos e tratamentos mais difíceis. Enfim, é burrice trocar um algoritmo por um sentimento. Uma ponte cai se mal construída, não importa o sentimento do engenheiro calculista quanto à equação que usa, ao botar no papel a largura dos pilares da estrutura. Cai e ponto. E cai a 9,8 m/seg². A gravidade não mudará porque hoje estou “me sentindo leve”. Pule da ponte alegre e você verá, até não ver mais.

Enfim, é burrice não ver evidências claras de que é preciso testar fórmulas antes de usa-las, é preciso usar remédios testados; não é terraplanismo achar que uma droga experimental é isso mesmo – experimental. Independentemente da relação custo X benefício que nos leva a usá-la. Não é negacionismo achar que há que se ter cuidado em vacinar crianças, por conta da mesma relação custo X benefício. É prudência somente. Me vacinei porque julguei que o custo de não me vacinar superava o benefício de não ter a droga no organismo. Da mesma forma, não vacinaria um filho abaixo de 12 anos por conta do mesmo raciocínio feito na mão inversa.

A burrice só é extirpada com consciência de que testar, estudar, conversar e refletir são atos a serem exercitados diariamente, sem parar e sem descanso. E olha que burrice vai e volta. Se deixo de refletir e pensar por alguns dias, fico mais burro, com certeza. Ou burro sobre um assunto diferente (quando aliás tendo a expressar minha opinião sem reservas…).

Num mundo em que a capacidade de reflexão e tomada de decisões do indivíduo estão sendo substituídas por um Estado-Pai que não admite decisões privadas, mas que enfia um modelo padrão a todos, a burrice só tende a aumentar, sem que possamos sequer saber se aqueles que criam o modelo padrão têm o mínimo de bom senso para fazê-lo.

A burrice é mais forte que a morte.

Salmos da Modernidade – Salmo 13

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Maestro, aos costumes… Um salminho de Davi…

Eu pareço um zé-ninguém mesmo… nem Deus liga pra mim… se Ele fosse capaz de esquecer de algo, eu diria que se esqueceu mesmo foi de mim! Não liga pra mim, Divindade?
Como sempre tem gente querendo meu mal. Tem gente que me odeia, e às vezes eu nem sei bem por que… Até quando você, Deus, vai deixar que esse povo me odeie? Eu fico num bode, num calundu, numa tristeza de dar (des)gosto…
Como diria meu filho Ettore, o famoso Tóia – “Ola pla minha cala”, Deus! Deixa eu enxergar o futuro, porque não vejo um palmo adiante do nariz! Eu não quero morrer agora, sem realizar nada; 
Depois eu morro, e aí os meus inimigos vão dizer que ganharam de mim. Vão ficar todos prosas, se achando, e eu terei perdido essa “peleia”. 
Mas tudo bem, como sempre. Eu confio que o Senhor vai fazer o melhor, não importa quanta assombração me apareça. Eu confio em Deus e ponto final. 
Eu reclamo, reclamo, brigo com Deus e fico brabo, mas no final das contas, Senhor, eu só tenho mesmo é que agradecer!