Da República Romana a El Salvador

Um livro comprido, meio chato, mas de fundo histórico inegável (“Patrician of Rome”) li sobre o cerco de Roma pelos bárbaros Volsci, ainda no nascedouro da República Romana, por volta de 384 aC. e a sua defesa heróica pelo patrício (nobre) Senador Marcus Manlius “Capitolinus”. O nome “Capitolinus” foi, inclusive, uma honraria garantida pelo Senado romano ao defensor justamente do Monte Capitolino, onde ficavam os órgãos do governo da Roma republicana, a Curia (Senado), os templos, as cortes de justiça etc.

Menos de 4 anos depois, esse mesmo Senador Manlius Capitolinus era lançado de cima da Rocha Tarpeia, local de execução reservado aos criminosos mais terríveis, e traidores da pátria. A razão era simples: considerado o primeiro “populista” por Suetônio, o historiador romano da antiguidade, Capitolinus havia se aliado à “plebe” na restituição de seus direitos básicos, retirados durante os duros anos pós destruição de Roma pelos Volsci. A plebe havia se endividado junto aos usurários da cidade e seus senadores mais ricos, e haviam sido ajudados por Capitolinus a sair das dívidas, com a venda, inclusive de seu patrimônio pessoal.

Os moradores dos “Mons” (montes ou colinas romanas) eram os patrícios. A plebe morava na planície entre os montes. Quem visita Roma conhece bem essa geografia linda. Os patrícios (não todos, uma minoria, na verdade) eram muito ciosos de seus “direitos” sobre a plebe, e a extorquia, pela via da usura, dos altos preços do trigo e outros alimentos. Um par de Consules (sempre eram dois, eleitos a cada ano) passavam legislações que lhes beneficiava muito. Se uniram a gangues de regiões mais obscuras da cidade, como a Subura (que voltou às telas recentemente numa série de TV), e deixavam que essas aterrorizassem a população, exceto os ativos e negócios dos senadores. A cobrança de tributos passou a ser de tal forma desigual, que, somada à insegurança e à falta de incentivo para trabalhar e empreender, gerou uma revolta da plebe.

Olhando de fora, parece algo bem similar ao que ocorre hoje em vários países do mundo. Elites “senatoriais” se unem a bandos armados de foras-da-lei, deixando-os aterrorizar uma população desarmada (sim, era proibido portar armas na Roma antiga). O resultado foi um “El Salvador” da antiguidade – acabaram por eleger um “Ditador” (por ironia, via Senado). O velho general e senador Marcus Camilus, chamado “o segundo fundador de Roma”, pela derrota pós invasão dos Volsci pelas legiões sob seu comando. O general acabou por resolver dois problemas – acabou com a revolta da plebe, que de fato nunca aconteceu exceto verbalmente (como certos eventos recentes no Brasil) e acalmou os ânimos do Senado, colocando lá nomes melhores. A história, bastante difícil de precisar, devido à falta de dados históricos de qualidade, dá aos dois nomes posições de destaque. Os senadores opressores, de nomes Lucius Valerius Potitus Poplicola e Marcus Furius Camillus, passaram à história como o lado negro da força.

Em tempos de crise, tanto na Roma antiga como na Grécia Clássica, tempos difíceis ensejavam a escolha de um “Ditador” para conduzir o país sem ter que prestar contas a milhares de burocratas. Era um imperativo do momento de crise. Como bem definido por Maslow, e hoje, claramente, descrito pelo articulista Luciano Trigo no seu texto O exemplo de El Salvador (https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/luciano-trigo/o-exemplo-de-el-salvador/), o povo salvadorenho fez uma opção daquelas que não há justificativa moral para recriminar: entre viver e morrer, é preferível viver, afastando momentaneamente todas as considerações de caráter menos imediatas, como comer, obter auto-realização, entre outras. El Salvador acaba de retomar essa mesma atitude, reelegendo o estranho Bukele com 85% dos votos, para raiva e desespero de uma mídia que, não se entende bem por que, exalta mais a criminalidade do que seu combate.

As semelhanças dos dois locais, separados por 2,5 mil anos de história e uns 10 mil Km de distância são marcantes. Bukele é, para todos os efeitos, um ditador, escolhido por uma população amedrontada, para por fim a um reinado de terror imposto pelo narcotráfico desde 1987. Pode-se não gostar, mas é bastante revelador do momento que vários países da América Latina vivem. Pergunte a qualquer carioca de classe média ou média baixa, ou mesmo muitos de classe média alta ou alta, se não concordariam com mais segurança, mesmo que isso significasse mais presídios e mais condenações, menos saidinhas de fim de ano e outras benesses, e verão que a lógica é a mesma.

Bukele encarna um ditador que traz soluções aos males imediatos. E com a queda do número de homicídios de 100 para 7, por cada cem mil habitantes, é reveladora do nível de eficiência alcançado. Bukele chama alguns governantes da região de “amigos de bandidos”, e tem razão. Temos amigos de bandidos em muitos locais. Os senadores romanos eram amigos de bandidos, já em 384 a.C. Poderosos sempre tenderão a se aliar a bandidos, se isso os beneficiar. Para alguns tipos de pessoas, aparentemente não há nunca dinheiro suficiente, ou poder suficiente. Mais é sempre mais, e sempre justificará quase qualquer atitude, por mais errada que seja.

Tivemos nosso momento “ditatorial” segundo alguns, na pessoa do ex-presidente Bolsonaro. Não me parece que foi minimente hábil como para se reeleger. Cometeu quase todos os erros da cartilha política, e cedeu, em momentos cruciais, ao establishment, como aliás, fez Macri, ex-presidente da Argentina, o qual, igualmente, pagou com a derrota na tentativa de se reeleger.

De ditador, pouco tinha. Mas assim ficou marcado pela narrativa que ora atribui a ele até mesmo o desastre de Chernobil, ou a Covid-19. Esperamos o nosso “ditador”? Eu preferiria que o bom senso e o equilíbrio entre poderes seja retomado no país, e que independentemente de ideologias, a paz e a segurança sejam restabelecidas, assim como uma justiça minimamente sã. Difícil acreditar nisso a curto prazo.

Vivamos com a esperança de que um ditador não seja necessário, e que momentos que levam a uma ditadura não sejam vividos. São coisas tristes demais para serem sequer cogitadas, mas às vezes inescapáveis.

Sobre amigos e envelhecer

Manchete do O Globo nos anos 20 lia: “Anciã de 42 anos encontrada morta em sua casa em Santa Teresa“. Pois é, acabei de cumprir 59 anos e falta unzinho pra eu me tornar oficialmente ancião, pelo menos apto a usar vagas de idoso, demarcadas pela Prefeitura de Curitiba.

Ninguém se iluda. No dia 17 de dezembro do ano que vem, se vivo estiver, entro no site da prefeitura e peço minha carteirinha, coloco no parabrisa do carro e vou frequentar vagas exclusivas nos shoppings da cidade, com muito orgulho.

Há várias razões para isso, mas listo duas que são mais caras para mim.

Amigos

A despeito de talvez não ser o melhor amigo do mundo, tenho grandes amigos; os melhores do mundo. Da minha mãe, meus irmãos, tias e tios, meus filhos, minha esposa, sobrinhos e amigos antigos e novos, sou feliz por não andar sozinho e ter a casa quase sempre cheia. Gosto disso. Não é nem que eu seja lá muito festeiro, mas porque gosto de ter gente em volta – festa ou não. É uma espécie de celebração da vida e do contato. Dizem que envelhecer sem amigos encurta a vida, e se for essa a razão, espero que Deus me dê muitos amigos novos e me mantenha os antigos. Lá na frente, os amigos véios vão morrer, como já morreu meu amado pai, já faz dois anos.

Amigo é coisa realmente pra se guardar. Às vezes a gente perde amigos. Recentemente perdi um, que amo muito, e ainda me indigno com o fato, e pelo fato de não ter tido a menor influência sobre o assunto, nem ter contribuído voluntariamente pra isso. De repente o amigo simplesmente achou que já não valia a pena andar comigo. Pena, muita pena, mas respeito à escolha alheia. Se voltar, encontrará o amigo cá, com muitos defeitos (talvez os mesmos que levaram à separação) mas com os braços abertos.

Normalmente – e diria em raríssimos casos – eu me desfaço de amigos. Eu acho que se amizade fosse um fator derivado de alguma vantagem que se leva por andar junto, teria outro nome. Tem que aturar mesmo, com dificuldades, chateações e bobagens que a existência de qualquer um de nós traz. Todo mundo tem bafo, às vezes, todo mundo mente às vezes, todo mundo tem algum tipo de vício (uns mais visíveis que outros), enfim, todo mundo pensa diferente aqui e acolá. Não se pode descartar alguém por defeitos – exceto, talvez, por traição ou maldade. Mas nem assim a Bíblia usa argumentos contrários à amizade:

Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão. 

Provérbios 17:17

E é isso aí… em todo tempo. Em meio a dificuldades, pensando diferente, crendo diferente.

Tenho certeza que com amigos minha velhice será mais suportável.

A outra razão para eu curtir envelhecer

O Lado de lá do Rio da Vida

Ou a gente envelhece ou morre antes. Essa já seria uma excelente segunda razão pra curtir envelhecer. Morrer antes, como a “anciã de 42 anos” não é uma coisa tão legal assim. Claro que hoje, aos 59 anos, tenho talvez uma saúde melhor do que tinha 10 anos atrás, quando tinha pressão alta, pré-diabetes e 130Kg. Claro que há quase 100 anos atrás, uma pessoa de 42 anos teria condições físicas e mentais talvez piores do que alguém de 70 anos hoje.

Malho 4, 5 vezes por semana, com parcimônia mas persistência, e a única coisa que me incomoda é gostar mais de vinho do que eu deveria… estou tratando do tema… eu e Deus.

Tenho ainda alguns anos de vida profissional pela frente, e anseio pelo dia em que poderei me aposentar do que faço hoje, e continuar a fazer basicamente o que faço hoje para Deus, exclusivamente, num ministério qualquer que Ele me dê. Mas não vou ficar esperando o tempo passar sem fazer nada. Não é do meu estilo. Estou talvez mais preguiçoso do que nunca, mas ainda não acho que eu tenha perdido a vontade de aprender, de ler, de pensar e escrever. Ainda consigo me indignar com o estado das coisas, do mundo, e tentar contribuir de alguma forma.

Mas o que realmente me dá alegria de envelhecer é que a cada dia que passo, estou mais perto de encontrar meu Salvador, aquele que me dá sentido à existência e me faz saber que sou amado, com um amor sem fim. Essa alegria passará o Rio da Vida comigo, quando estiver na hora de ir. De vez em quando me pego pensando no outro lado, em como o Senhor me receberá, as “broncas” que tomarei pelos zilhares de erros cometidos, e pelos acertos que também consigo identificar e me orgulhar por eles.

Essa perspectiva vai tomando forma, e em vez de me assustar, vai me moldando. A expectativa é grande pelo que ainda vou realizar aqui, seja em mais 1, 10 ou 100 anos (!), mas sei que o Outro Lado é muito mais bacana. Ver meu Senhor, rever meus amados, principalmente meu amado Ettore, o Tóia, filho que me dá uma saudade imensa, me acalenta o coração.

Não pensem que este pequeno escrito é triste. NÃO é. É extremamente positivo e alegre. Quero a cada dia, dos que me restam aqui, ser cada vez mais alegre, positivo e contente com o que Deus me dá.

Ontem na igreja (17/12/23) tive a oportunidade de falar à comunidade no momento do ofertório. Me veio à mente uma conversa que tive com o Pastor Marcelo logo antes do culto começar. A colocação do pastor é “como é que tem gente que sempre quer mais riquezas”… eu usei então a famosa frase do J.P. Morgan quando indagado por um repórter sobre “quanto era suficiente“. Ele respondeu, talvez com muita sinceridade: “só um pouquinho mais“. Sincero, porém certamente triste. O pouquinho mais toma nossa mente e nos escraviza. Eu quero o que o mesmo Salomão disse, agora e na velhice:

…não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus. 

Provérbios 30:8-9 

Isso também me libertará as mãos para conseguir me alegrar nos dias que serão certamente os mais desafiadores, fisicamente, mas quase certamente os mais recompensadores para a alma.

Em síntese, amigos, se Deus permitir, serão a minha luz diária para continuar vivendo, até que Ele queira que eu vá.

De novo, nada de soturno aqui, nem estou tentando lançar um véu de tristeza sobre o restante da existência. Ao contrário, uma posição bem mais leve e alegre do que tive até hoje da vida. So help me God…

Sim, sou bobo

Minha conclusão, depois de ver tanta coisa nessa vida é que – “É… sou bobo mesmo”. Estava falando hoje com minha sócia e amiga de longa data. Somos um bando de tolos. Ajudamos até a quem não devíamos ajudar, e quanto mais ajudamos, mais as pessoas se sentem no “direito” de algo que não tínhamos qualquer obrigação de fazer.

Por bobos, ou tolos, me refiro àquela patética qualidade que Deus, através de Seu filho Jesus Cristo, nos ensinou a fazer. Elenco aqui algumas coisas espinhosas que nos foram ordenadas, no Sermão do Monte.

Sermão do Monte – Seja um “tolo

Concluam vocês mesmos como isso é ser idiota, no mundo atual:

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?  Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste. 

Mateus 5:43-48- Sermão do Monte

Perfeitos idiotas são esses caras aí de cima. Imagine! Amar a quem nos persegue? Fazer o bem a quem nos odeia?

Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; 
Mat 6:4  para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. 

Mateus 6:3-4 – Sermão do Monte

Não podemos sequer falar do que fazemos. Temos que fazer e sequer reconhecer que fizemos algo. Tá ok.. tá ok… vamos lá, Senhor. Se nascemos pra Ti e vivemos pra Ti, precisamos cumprir isso tudo né?

Ou seja, devemos ser “bobos profissionais”, e ainda ouvir as pessoas dizendo que somos uns idiotas, e que é fácil nos enganar. É mesmo. O mais doído, porém, é quando a enganação surge de trás de nós, como um soldado que vê um companheiro de suas próprias trincheiras meter uma baioneta nas nossas costelas. É o famoso “fogo amigo”. Alguém que diz que crê nas mesmas coisas, que ama o mesmo Deus, que tem Jesus Cristo como Senhor e que por qualquer razão disputável, ou justificando o mal feito, nos coloca em posição indefensável, absolutamente, de joelhos diante de alguém cujo mau procedimento nos torna isso mesmo – perfeitos idiotas. Contra o “amigo” não temos defesa – alguém que não me lembro quem, fez uma interessante oração a Deus:

Senhor, protege-me dos meus amigos, porque dos inimigos cuido eu

Atribuído a Voltaire, segundo o ChatGPT (duvido)

Para ser um perfeito idiota, no sentido do Sermão do Monte, é preciso antes de tudo renunciar a si mesmo. Não significa que não temos que ser “astutos como a serpente”, ainda que mansos como as pombas, como diz o mesmo Senhor Jesus. Não é isso que nos torna idiotas perfeitos. O que nos faz tão perfeitos é o caráter voluntário que temos que aplicar à nossa idiotice – vou ser idiota para benefício do outro, em detrimento de mim mesmo.

Minha sócia fala com propriedade que poderíamos ganhar mais dinheiro se não fossemos propositalmente bobos algumas vezes. Ela está certa, claro. Mas eu prefiro não ganhar alguns dinheiros. Aliás, ao longo dos anos se eu tivesse aceitado algumas “proposições” feitas a mim, já teria parado de trabalhar e estaria vivendo de renda. Não farei. Já cometi erros no passado, e até hoje esses erros – que alguns veriam como esperteza – me doem, se eu os trago à memória.

Esperteza não é a mesma “astúcia” que Jesus nos pede – esta serve para sermos inteligentes o suficiente para abrirmos mão voluntariamente de qualquer vantagem, SE e QUANDO o Senhor o exigir de nós. Não significa nem se deixar roubar nem ser roubado sem saber. É aceitar que o mal feito do outro nos incomoda, nos fere, nos entristece, mas não nos fará azedar, amargar ou desfalecer porque no fundo nosso lugar não é aqui, mas junto a Deus, no céu.

Parece piegas? Parece burro? Você pode achar, mas deixe-me dizer uma lição que aprendi no módulo de História do Cristianismo, antiguidade, que terminei faz pouco: depois de muito serem martirizados, criticados e sofrerem atrocidades, os cristãos acabaram, mansamente, dominando e mudando o Império Romano de dentro pra fora.

Mais tarde, com a queda do Império Romano, as invasões bárbaras tomaram a Europa de roldão. Foi justamente o cristianismo e sua mansidão que acabou com as guerras internas, fraticidas, acabaram, o que liberou esforços da Europa para as Cruzadas (que foram uma forma de defesa, não de ataque, como seus professores de história dizem por aí). Daí por diante, com marchas e contramarchas, a Europa liderou o mundo no crescimento e prosperidade gerados desde o fim da Idade Média até agora.

Um país de bobos

Lembro bem como amigos meus achavam os americanos “bobos”. Na verdade eu também achava, até me dar conta do caráter deles, com relação à verdade, lisura e à palavra dada. Tanto os ingleses quanto os americanos, e nesta seara também alemães, holandeses e muitos outros de origem europeia, mas mais na Europa Evangélica, formaram uma sociedade baseada na palavra dada, no direito costumeiro e na confiança nas leis e nos contratos. Mas muito mais na palavra dada.

Um amigo meu, italiano, me disse uma vez que “minha palavra è una, sozinha”, ou seja, eu o havia alertado que ele havia me oferecido um carro a um valor abaixo do mercado, e ele disse que já havia dado sua palavra e ia mante-la, a despeito do “caixote” tomado. Quanta gente você conhece que é capaz disso? Quanta gente mantem a palavra e quanta gente distorce as palavras ditas até que se encaixem no seu desejo?

Quantos simplesmente não mantem a palavra, mentem descaradamente (a começar do chefe do nosso executivo) e acham que isso é uma baita esperteza? Quantas vezes teremos que ser enganados e escravizados até entendermos que a melhor coisa para uma sociedade é a verdade, a honestidade e a colocação do direito do outro acima do nosso? As palavras de Cristo, e seus ensinamentos, mudaram um mundo antes dominado pelo mais forte por um dominado por regras consensuais. Isso está acabando, até porque o capeta não ia mesmo ficar na sua.

O tal “país de bobos” está desaparecendo. No lugar dele está nascendo um país muito mais parecido com o nosso. Os EUA dos pais fundadores e o “farol em cima da montanha” está se tornando um paizeco de terceiro mundo, no qual vale tudo. Meu saudoso pai costumava dizer que “onde todo mundo é esperto, só tem burro”…

Continuarei a ser um bobão, como tantos brasileiros de valor, que se doaram pela sua pátria, e tantos outros “bobões” aqui e ali escorraçados pela mídia e chamados de otários – “perdeu, mané”. Perder? Perdi? Nada! Minha dignidade e minha honra estão intactas, bem como minha relação com o Justo Juiz, que há de julgar a todos.

PS – Em tempo – Sou auditor independente. Minha função é o chamado “ceticismo saudável”, ou seja, confiar desconfiando. Um leitor me questionou como eu poderia me identificar como “bobo” sendo auditor. Ora, é simples: eu tenho o direito de ser bobo com as minhas coisas, pois sobre elas posso voluntariamente abrir mão. Já quando auditor, opino sobre as coisas dos outros. Sobre essas não posso sequer pensar em ser tolo.

Independência ou Morte!

Dizem que Dom Pedro I não disse essa frase – “Laços fora… independência ou morte”, no Sete de Setembro, às margens do Riacho do Ipiranga. Tanto faz. É mais do que comum os progressistas quererem desfazer do passado de um país, tachando tudo de mito. Desde a dentatura de madeira de George Washington até a luta de João Paulo II contra o comunismo, nas mãos de certos historiadores tudo vira lenda.

Não importa. Parafraseando Monteiro Lobato, “Um país se faz com homens, livros e histórias inspiradoras”. É algo que inspira a todos nós, termos tido um país livre, com pouquíssimo sangue derramado. Uma nação fundada na paz, num território impressionantemente contíguo, com uma língua comum, costumes estranhamente parelhos, para tanta gente distinta que o formou, e paz, muita paz, ao longo de sua história, ainda que pontilhada por guerras aqui e acolá.

Tanto é assim, que o sombrio período militar, descrito como uma era negra, de prisões autoritárias e tortura, não contabiliza, na ponta do lápis, mais do que 400 vítimas – boa parte dela sabendo dos riscos que suas ações representavam. Uma vítima já seria muito, claro, principalmente se a vítima é você, mas cá entre nós, na estatística Staliniana, 400 pessoas é algo que nem conta.

Assim, nossa grande guerra foi a do Paraguai, na qual os feitos de Caxias, Tamandaré e outros são “descontruídos” pela historiografia oficial (deles), houve uma defesa territorial, apoiada pela Inglaterra, a grande potência da época. E daí? Todas as guerras de todos os tempos tiveram interesses difusos, de algum império, o que não tira delas a justiça – pelo menos de um dos lados, o do defensor. A França apoiou os EUA em sua guerra de independência contra a mesma Inglaterra, e ninguém chama a França de “imperialista”.

Mas voltando à efeméride em si, sou tremendamente grato a Deus por ser brasileiro, amo essa nação e tenho pelo minha bandeira um sentimento quase religioso. Sou cidadão dos céus, como a Bíblia me chama, o que não me tira o direito de amar meu país, e, por decorrência cristã, todos os outros, cada um à sua maneira, respeitando povos e culturas, ainda que não concordando com muita coisa. Há impérios, há soft power, hard power, tudo isso. Há dominações, há mutreta, há diplomacia inválida, há de tudo. Nada disso impede que eu seja apaixonado pelo meu país, a ponto de enxergar claramente o perigo que nos ronda, por meio de um internacionalismo pregado pela Internacional Socialista desde sempre.

O mote hoje é o desrespeito às nações. Já não se canta o hino do país sede na Champions League, mas um pavor orquestral e vocal que pra mim soa como “Lasanhaaaa… Lasanhaaaa... Lasaaaaaaanhaaaaa“, toda vez que ouço. Carregar uma bandeira nos ombros depois de uma medalha olímpica, ou de uma vitória na Copa, está se tornando “brega”.

Meu país é este aqui. Sete de Setembro de 1822, portanto há 201 anos, nos tornamos um país soberano, e há muito que comemorar. Se um país de 210 milhões de habitantes, com quase 9 milhões de Km de território soberano, um idioma, que alimenta mais de 1,1 bilhão de bocas diariamente, que produz quase tudo que precisa, que possui o território mais intocado pelo homem até o momento, um país que jamais iniciou qualquer ato bélico (nem unzinho sequer, como umas Malvinas, etc). Um país que criou uma doutrina de não intervenção na soberania dos outros, que é lindo por natureza, ou seja, se NÓS, a 7a. maior economia do mundo não temos o que comemorar, QUEM tem? Será os EUA, que “já chegaram lá” e são a maior nação do mundo? Será a China com sua voracidade de gafanhoto? Será a Rússia e seu czar e política briguenta? Será o Japão, que perde milhões de habitantes por ano, por estar “murchando”?

Meu país é minha copropriedade. Me sinto responsável por ele. Por isso eu quero bem a ele. Quero pagar impostos com justiça, mas pagá-los; quero as ruas limpas, e por isso guardo papel de bala no bolso; quero autoridades honestas, por isso nem penso em subornar guarda de trânsito pra evitar multa; quero preservar o meio ambiente, por isso não apoio iniciativas de desmatamento; quero um país rico, por isso não apoio que simplesmente se deixe a Amazônia sem exploração racional; quero um país educado, por isso dou minha quota de participação, escrevendo com um português minimamente aceitável; quero um país fraterno, por isso apoio os imigrantes que aqui chegam sem ter o mínimo para subsistir; e, por fim, quero um país Cristão, e por isso falo do amor de Jesus Cristo por cada pessoa. Mas mais do que tudo isso, entendo que sou voluntário nesse processo civilizatório. Não preciso nem quero sem empurrado para o bem. Quero fazê-lo porque no fundo me fará mais feliz.

Amo meu Brasil, a despeito do assalto às instituições que está sendo perpetrado debaixo do nosso nariz por gente que no fundo o odeia com todas as forças. Amo meu Brasil e por isso sou favorável a instituições fortes, democráticas e honestas. E é justamente por amar meu país que eu me sinto impelido a expor o que eu penso, e aceitar tudo o que venha de visões diferentes, com liberdade, sem censura, sem arbítrio.

Deus abençoe esse país imenso, lindo, pacífico e cristão!

Ateísmo é Religião?

Como sempre, leitor de Quillette que sou, me esbarro com textos fantásticos, aos quais o leitor médio não tem acesso, e que são muito, muito bons. Hoje me deparei com um artigo que inspira este escrito, e fala ao meu coração de apologeta cristão: o chamado “Novo Ateísmo” de meados dos anos 80, até os dias de hoje.

Fomos levados a aceitar uma “nova normalidade” que é a de que a religião pode (e deve) ser criticada. No fundo, foi um ponto positivo do movimento. Afinal:

“Uma fé que não pode ser questionada não é uma fé digna de ser vivida”

Citação de um querido amigo, aludindo ao pastor chamado Glênio Paranaguá.

Pois assim deve ser: se você não tem liberdade para escolher – garantida desde a colocação da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, no centro do Jardim do Éden – você não é livre, em nada. Escolhas são, para o bem ou para o mal, desejáveis. O texto cita o autor Konstantin Kisin, antes apaixonado pelo Novo Ateísmo, o que nos dá uma sensação do que transpirou depois:

“Os novos ateístas eram empolgantes porque estavam dizendo algo novo, desafiando o dogma de sua época e falando a verdade ao poder. Insatisfeitos em provar que a religião não era verdadeira, eles se aventuraram mais longe, tentando provar que a religião era, no máximo, desnecessária e, mais provavelmente, prejudicial. Com esse objetivo, Dawkins escreveu “Deus, um Delírio” em 2006, e Hitchens lançou “Deus não é Grande” no ano seguinte. O argumento não se limitava mais a encorajar as pessoas religiosas a se acalmarem e nos deixarem em paz; agora, a ideia crescente era que a religião era intrinsecamente errada e prejudicial. Foi por volta desse ponto que comecei a perder minha fé no ateísmo.”

https://quillette.com/2023/07/24/new-atheism-and-the-demand-for-dogma/ – a tradução é cortesia do amigo ChatGPT – o texto é meu mesmo, inclusive os erros…

Empolgantes e Combativos

Pois bem, ficou claro ao longo do tempo que o Novo Ateísmo não era simplesmente uma forma de nos “libertar do crime da heresia”, mas nos fazer odiar a religião pela religião ser o que é – algo intrinsecamente dogmático.

A pergunta fundamental é – os Novos Ateístas se referiam a QUALQUER religião? Com o tempo fica claro que não. A única religião que, de fato, foi alvo dos ateístas somos nós – judeus e cristãos ocidentais. Mesmo os muçulmanos tiveram as críticas reduzidas a generalidades, nunca apontando o dedo – obviamente sabemos que a razão está fundada no medo de represália – não na concordância. Outras religiões, como budismo e brahmanismo sempre foram toleradas como “semi-científicas”.

No fundo, se você apenas “não acredita que algo existe”, não fica lutando contra esta coisa. Por exemplo, eu não creio que ETs existam, ou mais precisamente, que haja alguma possibilidade de contato imediato (ou não) com eles. No entanto, eu não faço campanha contra os ETs, nem digo que “os ETs estão mortos”, ou “os ETs não são grandes”. Eu simplesmente sigo com minha vida e ponto.

Mas não com Deus. Ah… um Deus todo poderoso, um Deus criador, que deixou evidências em todo lado, de uma simples molécula de DNA até às constantes físicas precisamente alinhadas, não. Esse Deus não pode apenas ser ignorado. Ele precisa ser combatido. A razão alegada é a de que a religião era perniciosa. Não apenas desnecessária, mas danosa, como uma droga, que precisa ser combatida. A religião, o “ópio do povo” precisa ser – no limite – tornada ilegal.

É isso, na prática, que os atuais ativismos querem: de uma forma ou de outra, criminalizar quem pensa diferente. Estamos diante de um Novo Ateísmo redivivo, ou um “Novíssimo Ateísmo” travestido de bondade social. Estamos diante da escolha entre pensar e falar o que pensa, e sofrer as consequências, e calar, nos acovardar e deixar que os iluminados minoritários, de microfone e caixa de som altos, não ditem o que podemos ou não fazer.

O artigo segue falando de críticas que cabem, de fato, a alguns atos patrocinados por “religiosos”

Claro, a liberdade de expressão em sociedades liberais depende, em última instância, de proteções legais e físicas oferecidas pelo Estado. Quando teocratas homicidas, portando armas automáticas, atacam os escritórios do Charlie Hebdo ou um seguidor do Aiatolá Khomeini sobe ao palco e repetidamente esfaqueia Salman Rushdie, o confronto com a violência religiosa não é mais uma questão de ideias, mas sim de aplicação da lei. O argumento de Kisin lembra a posição adotada por reacionários britânicos que se queixaram da proteção financiada pelo contribuinte que Rushdie recebeu depois que Khomeini emitiu sua fatwa em 1989 – uma reclamação servil que Kisin entende bem, pois já a criticou antes. A segunda frase de Kisin sugere que os ataques dos Novos Ateístas ao cristianismo aumentaram de alguma forma a ameaça representada pelo radicalismo islâmico, mas, como observado, os Novos Ateístas como Hitchens e Harris foram igualmente críticos em relação ao Islã, se não mais.

Idem anterior

Pois é. Seja uma Cruzada (aqui, um parágrafo: Cruzadas foram guerras PROTETIVAS contra um Islã invasor do Ocidente, não importa o que o seu professor de História tenha te ensinado no 2o. Grau) ou uma Fatwah, a questão é de crime, ou simples emissão de opinião. Apenas duvido da última afirmação do articulista – os Novos Ateístas não foram mais críticos ao Islã do que jamais foram com os cristãos e judeus. Ao contrário, eles repetidamente se esquivaram de clareza ao condenar, por exemplo, o caso do Charlie Hebdo, exceto quando provocados, creio eu.

É ou não Religião?

Eu creio que é religião sim. O fato é que a modernidade, ao tentar acabar com a religião na sociedade, não resolveu o problema mais íntimo do ser humano: sua necessidade de CRER em algo. isso não morreu, nem morrerá jamais.

Como os cubanos ou soviéticos de então precisaram criar as “reuniões” de domingo de manhã, como forma de sincretizar sua “nova religião comunista” de forma bem semelhante a que os cristãos primitivos fizeram com o Samhain, por exemplo, transformando-o em “Natal”.

“No comparte una reunión, más le gusta la canción”

Trecho da canção El breve espacio en que no estás, de Pablo Milanés

O cubano realmente “religioso”, vai à sua “missa” de domingo: a “Reunión”. Pablo Milanés reclama da amada, que não compartilhava uma reunião (dominical, aparentemente) mas gostava das “Canciones de Protesta” do autor (protestar contra que, em um país já dominado, está acima da minha capacidade de entendimento).

Pablo Milanés é um bobão talentosíssimo, na minha opinião humilde, assim como o é Chico Buarque (também na minha opinião). Talento desperdiçado com ideologia boba, sem fim. Mas cá entre nós, fazem um excelente trabalho de dar uma forma linda à uma ideologia pavorosa. E no caso, Pablo faz um trabalho de nos explicar parte desse processo de substituição da religião “ópio do povo” pela religião “do estado opressor”.

E nós?

Bom, nós sofremos. Tanto espiritualmente como fisicamente. No mundo, nenhuma outra religião é mais vilipendiada e perseguida como o cristianismo. Ninguém pode ser cristão e determinados locais sem correr risco de vida. Na Mauritânia, neste momento, está em todas as mídias a prisão de uma pessoa por ter-se tornado cristã. Assim, de pronto. Entram em sua casa e te levam por este “crime”. É um caso de religião a serviço da obscuridade. Nisso, o Novo Ateísmo está certo em condenar a “religião”, como estão certos os cristãos, judeus e outros que sejam “libertários” no sentido da liberdade, mesmo, de consciência, religião e expressão.

No mais, nós, cristãos, continuaremos a ser mais e mais ofendidos em nossas crenças, e cada vez mais martirizados. Isso tá previsto e escrito no “Livrão”. Deus nos ajude a fazermos com que o máximo de pessoas esteja no lado certo desse martírio – o lado de quem o sofre.

Trauma

Li no excelente Quillette.com um texto que diz algo muito importante sobre o mundo que vivemos hoje (se quiser, leia em https://quillette.com/2023/07/10/the-ever-expanding-definition-of-trauma/). Tem sido um tema recorrente meu as indesejáveis, apressadas ou simplesmente burras alterações sociais que têm sido promovidas por “movimentos sociais”, e “ativistas sociais” de quaisquer matizes. Indesejáveis porque não fazem parte nem da necessidade mesma de melhora social, na maioria dos casos; apressadas, principalmente as que se ligam ao idioma, que tem um desenvolvimento próprio; burras, na maior parte das vezes, porque são uma forma de traição à humanidade, como por exemplo, promover e ensinar troca de sexo a crianças ainda em fase de desenvolvimento da personalidade, só para ficar no exemplo mais gritante.

O texto que mencionei fala do conceito de Trauma. Como me lembrou meu primo Bob, psicólogo comportamental, o termo “trauma” foi importado da medicina, e significa literalmente pancada, machucadura ou outra forma de golpe contundente. É coisa grave, aguda, e que precisa de remédio logo, cirurgia, transfusão de sangue e tudo que uma UTI e um médico intensivista bem conhecem.

Bob continua, seguindo os caminhos de sua especialidade, também conhecida como “Behaviorismo” (comportamento = behavior), da seguinte forma:

Eu não tenho muito a opinar sobre a questão relativa ao trauma, pois não é um conceito que utilizo. Na verdade, ele traz uma compreensão, ao meu ver, equivocada do funcionamento cerebral humana. Vou colocar pra você um texto que pode esclarecer melhor minha perspectiva.

“…O trauma pode ser entendido como uma condição na qual uma pessoa desenvolve uma resposta comportamental intensa e negativa a determinados estímulos ambientais. No behaviorismo radical, a análise do comportamento traumático envolve a identificação dos estímulos que desencadeiam a resposta traumática e a investigação das contingências de reforço que mantêm essa resposta ao longo do tempo. Por exemplo, uma pessoa que experimentou um evento traumático pode desenvolver comportamentos de evitação ou respostas de ansiedade em situações semelhantes ao trauma inicial…. “É importante ressaltar que o behaviorismo radical é apenas uma das várias abordagens teóricas dentro da psicologia e que a compreensão e o tratamento do trauma podem ser abordados de diferentes maneiras, dependendo das crenças e orientações teóricas do profissional de saúde mental.”

Bob Montechiari Werneck – citando alguma fonte que não me informou…

Qual é o “pó”, como se dizia na minha época? Onde mora o perigo?

Tudo é Trauma

Esse é o maior problema. TUDO é trauma. O ser humano não tem mais condição de lidar com adversidade. Nos EUA existem os “safe spaces” até em universidades: locais onde a pessoa pode se “sentir segura”, e nos quais não se pode falar quase nada. Talvez comentar do tempo chuvoso (talvez ser acusado de chuvófobo por alguém), ou do calor (calorófobo também é uma possibilidade).

A sociedade que há 70 anos mandou seus filhos para lutar em sangrentas batalhas, pela liberdade e contra regimes tirânicos, nas quais a coragem era a forma de sobreviver, e da qual sair vivo era um bônus, já não existe mais. As pessoas lidaram, de forma melhor ou pior, com seus traumas (esses sim, físicos, espirituais e psicológicos verdadeiros) e seguiram suas vidas. Casaram, tiveram filhos (Baby Boom) e construíram a sociedade moderna e deram vida mais fácil aos filhos, que deram vida ainda mais fácil aos seus filhos, até que hoje, nós, os de vida muito fácil, vemos nossos filhos e netos se doerem por qualquer coisa.

Trauma, hoje, é alguém dizer “você está errado. Dois mais dois não são cinco, não importa como você se sinta”. Trauma hoje é se sentir mal porque foi confrontado com uma avaliação B-, ou C+, ou mesmo F, tendo merecido. É ter corrido, chegado em último, e não ganhado “medalha de participação”.

São esses os traumas de nossos dias. Coisas que fariam nossos pais e avós rirem. Mas são menos reais? Infelizmente não. O problema não é na “dor” que o tal trauma traz, mas como as pessoas reagem a ele. É real? É. É vital? Não. Mas isso pouco importa, porque quem se sente traumatizado, o faz não porque o problema existe de fato, mas porque o percebe como um problema.

O meu problema é maior do que o seu

Me lembro muito bem quando estávamos vivendo, minha esposa e eu, o trauma (esse, creio que verdadeiro) de ter um filho numa UTI dentro de casa, sem esperança de sobreviver. Por mais de 11 anos nós nutrimos pacientemente a esperança de que o nosso Tóia (Ettore) voltasse a ter uma vida pelo menos moderadamente boa. Deus não quis assim, e o levou. É trauma, mas com Deus é mais fácil. Mas não se trata disso.

Uma das visitas que tivemos foi interessante pelo fato da pessoa ter dito que estava profundamente traumatizada porque perdeu seu cachorro, um lindo Golden Retriever… Ora, tínhamos um Golden, o Johnnie, e hoje temos outro, o Chico. Ambos lindos e amados. Mas cá entre nós, eu quase perdi a compostura diante da comparação do nosso filho com o Golden da visita. No entanto, o Golden, pra pessoa, era o “filho”. Eu tive que engolir a comparação em seco.

Não se trata aqui de classificar os traumas, ou dizer o que é ou não traumático. Se trata, isso sim, de entender que tipo de coisa atinge, realmente uma pessoa hoje em dia. Sei que houve tempos em que as famílias tinham 10, 12 filhos, e ao longo do tempo perdiam 5, 6, e “vingavam” outros 5 ou 6. Parece que as pessoas nem sentiam tanto essas perdas. Duvido, mas acredito que o “Limiar de Dor” era mais alto, e as pessoas suportavam a dor de forma mais estóica.

O ocidente estará em breve diante de uma encruzilhada que lhe pode ser fatal: a incapacidade de lidar com o “trauma” de uma equação que lhe diz na cara que ela está errada, em contraposição a uma civilização oriental cujo limiar de dor está tão mais alto que não haverá mais termo de comparação entre cidadãos de lá e de cá, nos colocando numa posição em que acabaremos servos dos mais aptos, mais trabalhadores, mais resilientes, menos frágeis.

Essa é a dor de ver alguém chorar pelo Golden. É ser incapaz de demonstrar para essa pessoa que por mais “sofrida” que seja, a dor dela não encontra eco num mundo onde não hajam tantos “safe spaces”.

ENGLISH VERSION – Courtesy of ChatGPT (see the quality!)

I read an excellent article on Quillette.com that says something very important about the world we live in today (if you’d like, you can read it at https://quillette.com/2023/07/10/the-ever-expanding-definition-of-trauma/). The undesirable, hasty, or simply foolish social changes promoted by “social movements” and “social activists” of any kind have been a recurring theme for me. Undesirable because they often do not contribute to the actual need for social improvement; hasty, especially when it comes to language, which has its own natural development; and foolish, most of the time, because they betray humanity, such as promoting and teaching sex changes to children who are still in the process of developing their personalities, just to give the most glaring example.

The aforementioned article discusses the concept of trauma. As my cousin Bob, a behavioral psychologist, reminded me, the term “trauma” was imported from medicine and literally means a blow, injury, or another form of severe impact. It is something serious, acute, and requires immediate treatment like surgery, blood transfusion, and everything that an ICU and an intensive care doctor are familiar with.

Bob continues, following the path of his specialty, also known as “Behaviorism”, as follows:

I don’t have much to say about the issue of trauma because it is not a concept I use. In fact, it brings about a mistaken understanding of how the human brain functions, in my view. Let me share a text that may better clarify my perspective.

“…Trauma can be understood as a condition in which a person develops intense and negative behavioral responses to certain environmental stimuli. In radical behaviorism, the analysis of traumatic behavior involves identifying the stimuli that trigger the traumatic response and investigating the reinforcing contingencies that maintain this response over time. For example, a person who has experienced a traumatic event may develop avoidance behaviors or anxiety responses in situations similar to the initial trauma…. It is important to note that radical behaviorism is just one of several theoretical approaches within psychology, and the understanding and treatment of trauma can be approached in different ways depending on the beliefs and theoretical orientations of mental health professionals.”

Bob Montechiari Werneck – quoting a source that was not informed to me…

What’s up, as we used to say back in my day? Where does the danger lie?

Everything is Trauma

That’s the biggest problem. EVERYTHING is trauma. Human beings are no longer capable of dealing with adversity. In the US, even universities have “safe spaces” where people can “feel safe” and where almost nothing can be said. Maybe talking about the rainy weather (perhaps being accused of rainphobia by someone) or the heat (heatphobia is also a possibility).

The society that sent its children to fight in bloody battles for freedom and against tyrannical regimes, where courage was the way to survive and coming out alive was a bonus, no longer exists. People dealt, in better or worse ways, with their traumas (the real physical, spiritual, and psychological ones) and moved on with their lives. They got married, had children (Baby Boom), built the modern society, and made life easier for their children, who made life even easier for their children. And now, we, who have had a very easy life, see our children and grandchildren getting upset over trivial matters.

Today, trauma is someone saying, “You are wrong. Two plus two is not five, no matter how you feel.” Today, trauma is feeling bad because you received a B-, C+, or even an F grade that you deserved. It’s running and coming in last without receiving a “participation medal.”

These are the traumas of our days. Things that would make our parents and grandparents laugh. But are they any less real? Unfortunately, no. The problem lies not in the “pain” that such trauma brings, but in how people react to it. Is it real? Yes. Is it vital? No. But that matters little because those who feel traumatized do so not because the problem actually exists, but because they perceive it as a problem.

My problem is bigger than yours

I remember very well when my wife and I were living through the trauma (which I believe was real) of having a child in the ICU at home, with no hope of survival. For over 11 years, we patiently nurtured the hope that our Tóia (Ettore) would have at least a moderately good life again. God did not wish it, and He took him away. It’s a trauma, but with God, it’s easier. But that’s not the point.

One of the visits we had was interesting because the person said they were deeply traumatized because they lost their dog, a beautiful Golden Retriever… Now, we had a Golden, Johnnie, and today we have another one, Chico. Both beautiful and beloved. But between us, I almost lost my composure when our child was compared to the visitor’s Golden. However, for that person, the Golden was their “child.” I had to swallow that comparison.

The point here is not to classify traumas or determine what is or isn’t traumatic. It’s about understanding what kind of thing genuinely affects a person nowadays. I know there was a time when families had 10, 12 children, and over time they lost 5 or 6 of them, and then had another 5 or 6. It seems that people didn’t feel those losses as deeply. I doubt it, but I believe the “Pain Threshold” was higher, and people endured the pain in a more stoic manner.

The West will soon face a crossroads that could be fatal: the inability to deal with the “trauma” of an equation that tells it straight to its face that it is wrong, in contrast to an Eastern civilization whose pain threshold is so much higher that there will no longer be any basis for comparison between citizens from here and there, putting us in a position where we will end up as servants to the fittest, the hardest workers, the most resilient, the least fragile.

That is the pain of seeing someone cry over their Golden. It is the inability to show that person that, no matter how “suffering” they may be, their pain finds no echo in a world where there aren’t as many “safe spaces.”

Teoria da Descontinuidade Normativa

Certa vez li algo, en passant, sobre a Teoria da Descontinuidade Normativa. Li, e esqueci totalmente de onde li. Só que, tanto na minha cabeça quanto com relação ao sentido comum que fazia, fiquei “apaixonado” pelo conceito que foi descrito ali, e que, na minha visão, exemplificava um montão de coisas que aconteciam hoje e que eram fruto exatamente daquele pensamento.

Na minha cidade, Cordeiro (Rio de Janeiro), conversando com um primo conversador e inteligente, falei sobre o assunto. Ele, como sempre controverso e provocativo, duvidou que essa teoria existia. Passei talvez dois ou três anos “entisicado” com a falta de documentação sobre ela.

Recentemente resolvi fazer um teste, usando o ChatGPT, e, voilà, o tal instrumento “satânico” retornou o seguinte pra mim:

A teoria sociológica que aborda a ideia de que um comportamento se torna menos aceitável quando está em declínio na sociedade é conhecida como “teoria da descontinuidade normativa” ou “teoria da descontinuidade moral”. Essa teoria sugere que as atitudes e normas sociais são influenciadas pelo contexto histórico e pela mudança social.

De acordo com essa teoria, quando um comportamento está em declínio na sociedade, seja devido a mudanças culturais, avanços tecnológicos, pressões econômicas ou outros fatores, ocorre uma descontinuidade moral. Isso significa que as pessoas começam a questionar e desafiar a aceitação desse comportamento, tornando-o cada vez menos aceitável.

No exemplo mencionado, a abolição da escravidão, a teoria da descontinuidade normativa argumenta que o declínio gradual da instituição da escravidão na sociedade contribuiu para que a abolição ganhasse mais adeptos. À medida que a escravidão se tornava menos comum e outras formas de organização social e trabalho emergiam, as pessoas começaram a questionar a moralidade e a ética da escravidão. Isso levou a um aumento na demanda por sua abolição, eventualmente levando a mudanças legais e sociais.

Essa teoria destaca a interação complexa entre mudanças sociais, normas culturais e atitudes individuais. Ela sugere que a mudança social não ocorre de forma linear, mas sim através de momentos de descontinuidade moral, nos quais as normas e atitudes se transformam rapidamente à medida que um comportamento entra em declínio.

Alguns dos principais sociólogos e teóricos sociais que contribuíram para o desenvolvimento dessa perspectiva incluem:

  1. Emile Durkheim: Considerado um dos fundadores da sociologia moderna, Durkheim argumentou que as normas e valores sociais evoluem à medida que a sociedade passa por mudanças e transformações. Ele explorou a relação entre mudança social, moralidade e coesão social.
  2. Max Weber: Weber examinou o papel das ideias e valores na sociedade, destacando a importância das crenças compartilhadas para a estabilidade social. Ele enfatizou como as mudanças sociais afetam as normas e os valores morais, influenciando o comportamento individual e coletivo.
  3. Talcott Parsons: Parsons propôs uma teoria sociológica ampla que abordava a mudança social e a adaptação de normas e valores. Ele enfatizou a necessidade de coerência e integração social à medida que as normas se transformam.
  4. Neil J. Smelser: Smelser desenvolveu uma teoria da mudança social baseada em eventos desencadeadores e processos de descontinuidade social. Ele explorou como os eventos históricos e sociais afetam a evolução das normas e valores sociais.

É importante destacar que a teoria da descontinuidade normativa é uma perspectiva ampla e multidisciplinar, e outros estudiosos também contribuíram para o seu desenvolvimento. Diferentes abordagens e enfoques podem variar em termos de ênfase e teorias específicas utilizadas para explicar como a mudança social afeta a aceitação e a rejeição de comportamentos na sociedade.

ChatGPT…

Pois bem, finalmente “provei” ao meu primo que a teoria existe… mas e daí?

Disrupção da Norma

O exemplo que soprei pro ChatGPT, e que me retornou o assunto acima, foi a escravidão. O que a teoria quer dizer: que quando o mundo estava “imerso” na cultura da escravidão, a maior parte da população sequer conseguia entender essa instituição como algo “mau”, mesmo pessoas de grande sensibilidade, honra, ética e princípios. Não era somente o fato de que “todo mundo faz”, e portanto, deve ser correto. Não é isso: é que as pessoas não conseguiam sequer entender que pessoas de pele negra eram “seres humanos”. Uma grande parte da academia (e dos púlpitos, diga-se) se dedicou a “comprovar” que a raça negra era, inclusive, uma “coisa” diferente dos homens brancos. O mesmo foi dito de asiáticos e outros, em outros momentos. Foi um momento muito sombrio da história.

Este momento difere de outros, principalmente no império romano, pois lá, a despeito de haver escravidão enorme, não havia o conceito casuístico de que o escravo “não era ser humano”. Mais honestamente, o romano sabia e dizia que se tratava de “gente”, apenas inferior em razão de conquista militar.

Na medida em que a escravidão começa a declinar como instituição, a “grita”, os movimentos organizados e outros meios de protesto começam a ganhar corpo, culminando na erradicação desse mal.

Aqui não há ruptura algum com o mais alto padrão moral já elaborado. O Novo Testamento é claro quanto à igualdade de todo ser humano, e o Apóstolo Paulo apenas diz ao escravo que “sirva ao senhor como ao próprio Deus”, não por considerar qualquer direito do senhor sobre o escravo, mas por tornar a vida do escravo algo significativo para si mesmo. No fundo, ver-se trabalhando para Deus é mil vezes mais significativo, e digno do que trabalhar para qualquer patrão. De quebra, essa atitude tinha o condão de “amaciar” e tornar o senhor menos cruel, ou envergonhado de sua crueldade… bom, nem sempre, claro.

Movimentos de Força

Pode se alegar com isso, que os movimentos atuais, como LGTBQ!@#$% etc estejam indo na mesma toada. O filho de um amigo meu, brasileiro e que vive nos EUA, criado em uma igreja cristã, me falou sobre a necessidade de “normalizar” o comportamento homoafetivo. Isso, na visão dele, significaria tornar o fato algo “comum e corrente”. É um dos exemplos de Descontinuidade Normativa em vigor hoje, por conta de um problema cuja solução (ou dissolução) já teria sido alcançada socialmente. Meu problema com isso é que somente uma pequena camada da sociedade, mas muito vocal, entende isso como algo realmente normal e aceitável. A maioria, ou é ignorante sobre o conceito, contra ele ou indiferente.

Creio que essa “normalização” vai acontecer, independentemente do que nós, cristãos, achemos, e do que diga a Bíblia. Mas o ponto não é esse. Esse escrito é sobre algo que era impensável até um tempo atrás, e que rapidamente (e cada vez mais rapidamente devido às redes sociais) vai se tornando algo aceitável.

Velocidade da Normalização – Âncora e Norma

Vejo que o problema começa no momento em que a sociedade não normalizou algo, ainda – dentro de si, e algum grupo “empurra a pauta” goela abaixo. O exemplo mais claro são os pronomes neutros. Amigos, amigas e amigues, todos todas e todes… A língua é um “ente vivo” como diria meu pai, e vai se transformando na medida em que a sociedade evolui. A norma culta, aplicada pela influência literária de luminares como Shakespeare (inglês), Goethe e Schiller (alemão), Dante Alighieri (italiano), Cervantes (espanhol) ou Camões (português) serve para criar uma âncora que permita que gerações se entendam, com base nos mesmos padrões, e que a língua de um século seja totalmente obscura a outro, criando um abismo de conhecimento intransponível.

Sociedades mais avançadas, como a grega e a romana, são justamente aquelas em que a norma culta pode ser preservada pelos séculos. Bárbaros são justamente aqueles que não souberam fixar por escrito suas tradições e ideias, e por isso se perderam no tempo. Por isso é mais fácil reconhecer Roma, Grécia ou China, do que impérios semelhantes, ou até maiores, como o Mongol e Huno.

A forçada de barra que está sendo imposta por essa “novilíngua” politicamente correta, nos leva a crer que há uma indevida imposição sobre o Espírito do Tempo, e para além desse.

Fait Accompli…

Para além de forçar uma barra cultural, o que vejo diante de mim, hoje, é uma tentativa de normalizar condutas que não apenas são discutíveis, diante de Deus e humanos, mas tremendamente execráveis diante de ambos, e para além do Espírito do Tempo (pros mais chiques, Esprit du Temp ou Zeitgeist).

Como exemplo, coloco a transição de gênero para crianças de 10, 12 anos de idade, e pedofilia, que não me parecem que deveriam ser “normalizados” nem mesmo se a sociedade se acostumasse e eles. O canibalismo já foi aceito e praticado em diversas sociedades e, por imperativos morais (sequer restrito ao cristianismo) deixou de ser coisa aceitável para se tornar abominável, o que realmente é. Espíritos mais combativos, como o do meu primo, diriam (só pra atazanar): “ah, mas canibalismo seria aceitável para alguns” e argumentaria ad nauseam sobre o treco, só pra ter o prazer de discutir. Eu diria que para além de qualquer outra consideração, é uma desnecessidade. Prefiro dar razão a vegano do que a canibal, retrucaria eu. E ambos cairíamos na risada…

O processo chamado de Ação Afirmativa propugna que forcemos a barra para criar situações que venham a se tornar “normais”. Essas ações incluem alguns monstrengos como a política de quotas em universidades e no serviço público, quotas para minorias em empresas, etc.

O resultado da Ação Afirmativa costuma ser o posicionamento de pessoas ou grupos artificialmente em posições inadequadas para boa parte de seus membros.

Alguns grupos querem apressar dessa forma o processo de Descontinuidade Normativa, tornando o mesmo disruptivo e abrupto. Não posso concordar com isso, principalmente quando da boca de quem deveria zelar pela ortodoxia, proclama de púlpito que devemos, por exemplo, “resignificar” a Bíblia. Esse resignificado me soa um monte como Disrupção Normativa fora de tempo. E aliás, sobre algo que, na minha opinião, não é temporal nem cabe resignificado algum.

Triste fim do Bom Senso

O resultado de um processo que atropela o passo da sociedade é uma brigaria sem fim, que não faz bem nem à minoria nem à maioria; uma briga que acaba por fazer com que a sociedade perca o foco e o padrão. Enfim, o resultado é a confusão e o caos. Do caos, claro, sempre surge um aproveitador que acaba “botando ordem na casa” à força, e acaba por acabar com qualquer chance de evolução social natural e pacífica.

O bom senso, o senso comum (como dizem os anglicistas) deveria ditar as regras numa sociedade baseada na educação formal. Vejo isso se perdendo de nós como areia entre dedos secos.

Oremos…

Perseguição “Científica”

Dei de cara, no site Quillette (que eu gosto muito) com uma história escabrosa de um astrônomo chamado Geoff Marcy, um dos “pais” da descoberta de exoplanetas (planetas fora do nosso sistema solar) que só recentemente (1995 vimos o primeiro) pudemos conhecer, através dos novos telescópios colocados diretamente no espaço e o famoso Keck Observatory em Mauna Kea, no Havaí.

Outros dois astrônomos receberam por essas mesmas descobertas o Prêmio Shaw, astrofísico suíço Michel Mayor e o astrônomo suíço Didier Queloz. Geoff Marcy não recebeu coisa alguma, a despeito de ter descoberto 70 dos 100 primeiros exoplanetas.

A razão foi que houve uma “investigação” no Campus da Universidade da California, Berkeley, sobre “má conduta sexual”. Nada foi nem provado nem ninguém o denunciou. Nada. Apenas que (parece) o cara era gente boa, distribuía abraços e beijos nos estudantes, e trabalhava por uma participação mais ativa de mulheres na pesquisa científica, tendo sido orientador de doutorado de várias mulheres, que depois viram suas carreiras deslancharem.

Alguém pegou a história, e de “leve suspeita” (nem isso parece ser correto) o cara foi pintado como “Agressor Sexual”, e seus artigos foram retirados de publicações de prestígio, não somente pelos editores, mas vetado pelos próprios colegas, que não queriam “se ver associados” com uma criatura dessa estirpe.

O que é Ciência

Não sou acadêmico nem gosto muito da academia, por conta do jeitão de sabe-tudo e o baixo aproveitamento no mundo real, de quase tudo o que se produz ali. Não disputo sua validade e necessidade. Aliás, ao contrário, creio que a academia é vital para o desenvolvimento do conhecimento humano, no mundo todo. Apenas aqui, no Brasil, a academia é uma coisa meio inservível para a economia real e para a vida dos cidadãos.

Richard Feynman, o grande físico e ganhador do Nobel, viveu no Brasil e ensinou na UFRJ por algum tempo. Fascinado pelo Brasil, chegou a aprender a tocar tamborim pra sair em Escolas de Samba. Era um aficionado por nós e nossa cultura. Sobre nossa ciência, mais precisamente sobre a física, ele falou uma frase NADA agradável de se ouvir:

O principal propósito da minha apresentação é provar aos senhores que não se está ensinando ciência alguma no Brasil!”

Richard Feynman, entre 1951 e 1952, em palestra no Brasil

A razão para isso foi que, como dito por ele, os brasileiros sabiam muito “sobre” física, e nada “de física”. Sabiam repetir conceitos e equações, mas não “pensavam” sobre física.

Tendo estudado física, confesso que fiz o mesmo, na mesma UFRJ. Sabia sobre física mas nunca soube de física mesmo. Sabia e sei ainda alguns conceitos, mas me faltava massa cinzenta pra ser um físico. Deixei física de lado e fui me dedicar a algo, digamos, mais dentro das minhas capacidades.

Se em 1951-52 já pouco ensinávamos de ciência, se não faz mais educação formal como antigamente, imaginemos hoje, o que há. Algumas coisas melhoraram, outras pioraram. Uma das razões desse artigo é justamente eu tentar fazer sentido de coisas que a academia faz de errado e que não é ciência. Sabemos hoje que os tais “Wokes” tomaram conta da academia, aqui e no exterior, e como tal, pessoas como Geoff Marcy estão sendo “expelidos” da vida científica mundial sem direito a defesa ou voz. Perdendo “voz científica”, ou seja, o que eles sabem e discutem não tem importância para alguns. O que alegadamente fazem é o que conta (se é verdade ou não, parece pouco importar).

Eu Faço Ciência, mesmo que me comporte Mal?

Não vou nunca achar que erro é algo bom. Erro é erro, pecado é pecado, crime é crime. Pura e simplesmente temos que ter o mais alto padrão moral em qualquer instituição humana – desde a família até a cátedra.

O que não podemos fazer é entender que alguém por ser imoral, por exemplo, é burro ou não sabe fazer ciência. Os avanços de Albert Einstein sobre suas aluninhas eram legendários. Ninguém desculparia Einstein por isso. Ninguém quer jogar a Teoria da Relatividade Restrita no lixo em função das indiscrições do gênio.

“Ah, então se é gênio está desculpado de abuso sexual?” Claro que não. Apenas que a má conduta pessoal não desfaz uma equação tão simples como magistral, como E=MC². Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como diria Mestre Didi, o da Folha Seca.

E o caso Marcy?

O problema principal com o caso Marcy não é nada remotamente parecido com as escapadas de Einstein. O cara, aparentemente, deixou a Universidade da Califórnia muito triste por ter sido acusado justamente por fazer algo que a sociedade deveria aplaudir: tentar ser sociável e tentar incluir mulheres num mundo ainda altamente masculino, que é o da física superior.

Marcy não fez nada digno de reprovação e foi vítima de cancelamento, ao que tudo indica. Ainda que tivesse sido julgado e condenado, suas descobertas ainda teriam validade científica. O problema (que cansaço!) de hoje é que se joga o bebê fora junto com a água suja do banho, como dizia Joelmir Betting.

Mas mais do que isso, os “sentimentos” e “impressões” pessoais passaram a invadir até uma catedral santíssima, como é a matemática. Não se discute com equação. Não se discute com o Efeito Doppler. Se as conclusões estão corretas, usa-se seu resultado e a ciência vai progredindo, até melhor juízo.

Pois bem, se o Reino da Matemática e da Física foram vilipendiados, o que dizer do Reino da Psicologia, da Sociologia e outras ciências cuja “prova material” e “repetitividade” sob experimentação são, digamos, mais variáveis?

Liberdade Acadêmica

“Como eu me sinto” diante da conclusão de que alguém, sabe-se lá por que razão, não gosta de sua orientação sexual homo afetiva? Se a pessoa não quer, não gosta e não aceita ser levada a acreditar na Teoria da Evolução, mas acha que alguém desenhou a vida na terra? Posso aventar a possibilidade de que as ditosas vacinas causem algum tipo de mal? Posso ser, por isso, execrado do ambiente acadêmico, por ter uma opinião discrepante, mesmo que possa estar errada?

Uma das amarras mais importantes da pesquisa científica reside num “tenet” que é mais ou menos assim: Uma teoria PRECISA ser “Falsificável” (https://en.wikipedia.org/wiki/Falsifiability). Em poucas palavras, qualquer teoria ou hipótese é falsificável (ou refutável) se puder ser contradita, logicamente, por um teste empírico. Se eu fizer um teste que contradiz a teoria, logicamente ela é refutável.

Como é que eu refuto uma teoria, se estou impedido de fazê-lo, por uma razão que não é puramente científica, mas baseada na interpretação de alguém sobre o que é e o que não é “aceitável”? Estou impedido de usar a lógica, a biologia ou a química para provar que a Teoria da Evolução não funciona, já que ela é “aceita” ou “politicamente correta”?

A ciência deixará de fazer perguntas difíceis, porque a resposta passa por descontruir alguma preferência de um grupo?

Fica a pergunta: estamos fazendo ALGUMA ciência neste mundo, de alguns anos para cá, ou simplesmente tentando acomodar resultados às tendências (na minha opinião, muitas vezes diabólicas) de alguns grupos?

A nova Moda

Toda vez que um artigo num jornal qualquer chama minha atenção, me dedico a comentar, com meu olhar específico, e tecer considerações que podem ser de ajuda pra alguém (além de mim mesmo, obviamente – já deixei claro aqui que escrevo em primeiro lugar pra mim mesmo). O de hoje é baseado no excelente artigo que estimulo todos a ler: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/por-que-as-consultorias-em-diversidade-estao-tomando-conta-das-empresas/

Hoje, o assunto da vez foram as consultorias DEI – Diversity, Equity, Inclusion (Diversidade, Equidade, Inclusão). É, ou parece ser, um apêndice da queridinha de uns meses atrás, ESG – Environmental and Social Governance (Governança Ambiental e Social). Digo queridinha, porque uma moda é uma moda. Pode pegar ou não. Eu ainda me lembro da era da “Reengenharia”, e tantas outras modas que nos acometeram ao longo das décadas.

Se antes a moda era fulcrada na necessidade de então – crescimento com queda de custos e preços ao consumidor, melhoria de processos, etc – hoje ela é baseada em uma necessidade que parece nada ter a ver com a vida empresarial em si, mas que representa uma agenda de parte da sociedade.

Não há nada errado em impulsionar agendas, e essa tensão, desde que democrática, faz a sociedade, e o mercado, progredirem. O problema está justamente no caráter “democrático” de determinadas demandas. O artigo cita como exemplo a capitulação aparente da cúpula da rede de fast-food Chick-Fil-A, criada por evangélicos, que não abre aos domingos, e cresce vertiginosamente. Até 2014, impulsionada por seu criador, Samuel Truett Cathy, a rede mantinha um padrão rigoroso em seu caráter cristão. Nada errado, tudo certo, não há ninguém lá que pareça se sentir mal ao trabalhar para eles. Ocorre que pressões de grupos ideológicos aparentemente fizeram com que fosse criada uma dessas diretorias de DEI, dentro da Empresa, o que parece ser um retrocesso no caráter cristão da Empresa. Não necessariamente. É perfeitamente possível, creio eu, que uma diretoria de diversidade, equidade e inclusão, apoie de verdade esses ideais, dando voz, por exemplo, a minorias atingidas, e a maiorias, que muitas vezes são discriminadas e marginalizadas a ponto de parecerem-se muito com as tais minorias oprimidas.

E o que a sociedade faz com as modas? Bom, no momento em que os negócios vão bem, parece que a moda cabe no orçamento e sempre se encontra uma forma de acomodar o gasto. Entendo, porém, que dificilmente uma diretoria vai manter seus quadros ESG e DEI em detrimento, por exemplo, de seus engenheiros, analistas de TI, operadores de empilhadeira entre outros profissionais que cumprem, na ponta, a necessidade de facto, das corporações.

Há áreas dentro do mundo de consultoria que não existiriam se não fosse pela necessidade legal. Como exemplo, as recentes “conquistas” legais de segurança da informação, ou mesmo as não tão recentes exigências de auditorias em vários segmentos.

Cada um com seu “Cadaqual“, como eu diria proseando furado. Vivo de uma dessas exigências legais – embora ache que o mercado já deveria ter aprendido que: se COM auditoria já é difícil, SEM ela, o problema é certo. Mas aqui, puxo brasa pra minha sardinha, obviamente.

O que parece não ser democrático aqui, a despeito de não haver regulação para tal, é que as empresas se sentem impelidas a criar essas diretorias e gastar uma grana em consultorias DEI e ESG por conta não de valores intrínsecos às organizações, ou mesmo por detectarem necessidades estratégicas para tal, mas por “ameaças de cancelamento” ou o que eu costumo chamar de “extorsão mediante sequestro de “. Não é democrático, por exemplo, um veículo de mídia social “cancelar” alguém, como faz dia-sim-outro-também o (in)famoso(e) Sleeping Giants. Aliás, o nome está incorreto. Nem Giants, muito menos Sleeping. Roaring Midgets seria um nome mais adequado.

Eu, de minha parte, quero crer que a futura escassez de capital que se avizinha, e que já dá mostras claras nas taxas de juros dos principais bancos centrais, levará as coisas para o limite do que realmente é necessário. Identificará, da mesma forma, o que é supérfluo. As diretorias DEI e ESG não vão acabar em todas as empresas, mas certamente restarão naquelas para quem seu trabalho é considerado essencial e valoroso.

De novo, NADA contra qualquer moda, nada contra DEI ou ESG. Apenas me dou conta de que pouco há (como o artigo deixa claro) de democrático e de realmente inclusivo nas iniciativas até aqui desenvolvidas.

A escassez mostrará a verdade da frase que enaltece a simplicidade que deve permear qualquer modelo organizacional:

Tudo deve ser o mais Simples possível, porém não mais simples.

Atribuído a Albert Einstein

Da Suécia, com Amor

Eu escrevi em um post de 2020 (Limites da Democracia) o seguinte:

Não se trata de ser contra o isolamento, ou ser contra o lockdown. Nada disso. Trata-se apenas e tão somente de saber que limites existem. A questão fundamental é que evitar lockdown é apenas uma forma de manter a constituição, enquanto esta não for mudada. Infelizmente estamos fazendo, todos, parte de um grande experimento social, que pode até não “visar” eliminar liberdades, mas certamente dão a pista de como a sociedade vai responder em caso de uma ameaça real às liberdades individuais.

A Suécia disse algo mais ou menos parecido, para justificar o fato de que não iria colocar todo mundo trancado em casa, preferindo apelar para o bom senso da população, o que funcionou, em boa medida. E mesmo que tiver funcionado em escala menor do que em outros países, pelo menos não serviu pra criar uma determinada ruptura constitucional. Bom, cada país com suas leis, e em alguns casos, como nos EUA, é possível, por haver uma constituição mais enxuta e mais poder ao executivo.

Eu mesmo, durante a Covid

Eu escrevi isso aí baseado num papo com um amigo sueco, na época do início das discussões sobre lockdown ou não lockdown. Ele, para minha surpresa, disse que não iam fazer NADA. Iam seguir as regras sanitárias, lavar as mãos, manter distância, e mais nada.

A Suécia virou imediatamente um pária internacional. A Suécia não é conhecida por ser um país desorganizado, corrupto ou irrazoável. Uma atitude proposta aqui, por Bolsonaro e seu governo, gerou uma reação ainda mais drástica. Houve até uma CPI, um tanto midiática, que deu em absolutamente nada, a não ser palanque. De fato, as atitudes de Bolsonaro durante a Covid, como noticiadas na imprensa, foram (minha opinião) a principal razão dele ter perdido as eleições para (of all people) um ex-detento, condenado.

Bolsonaro tem uma boca maior do que o cérebro, e isso é fato. Mas o “fato”, de fato, é que hoje fica demonstrado, a cada dia, que ele tinha razão, pelo menos ao evitar ações perversas, como lockdowns, e cerceamento da liberdade de ir e vir.

Detesto ter Razão

Eu costumo ter razão, e às vezes não admito com muita facilidade o fato de frequentemente não ter razão. Estar errado, claramente. Mas o fato é que eu detesto, recentemente, ter razão, pelo fato de que a verdade dos fatos está se tornando difícil de analisar.

Hoje, a Gazeta do Povo refletiu uma matéria do New York Times em que eles “relutantemente admitem” que a Suécia pudesse ter razão em ter tratado o Lockdown e medidas semelhantes como quebras de liberdade, e francamente desnecessárias (https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/new-york-times-admite-com-relutancia-que-suecia-acertou-na-pandemia/?ref=busca).

No texto original do NYT vem um quadro bastante representativo do “excesso de mortes” totais por país da União Europeia, que elucida a charada:

Excesso de mortes durante o período da Covid-19

Da forma como acima vemos, talvez fique claro para o respeitável público que não houve nem negacionismo nem terraplanismo por parte da Suécia, mas bom senso e disciplina nacional, imbuída nos valores da sociedade daquele país.

Pois bem, e aqui? Talvez precisemos de uma CPI da CPI da Covid, para tentar colocar em perspectiva o mal terrível que uns poucos senadores, cujo cálculo político excede sempre os interesses nacionais, fizeram a todos nós.

Somos um país de TOLOS mesmo. Damos ouvidos ao que se nos é dito sem crítica alguma.

Como disse, ODEIO ter razão, principalmente quanto isso implica em que um erro absurdo foi cometido, e quem poderia fazer algo pra evitar, cruzou os braços por razões políticas

O gráfico acima poderia seus dizeres no eixo x substituído por “qualidade dos políticos”. Ia dar quase na mesma, com honrosas exceções.

Da próxima vez que nosso atolado julgamento nos dizer que “O Bolsonaro é que criou a necessidade do consórcio de mídia”, ou que o governo foi “terraplanista”, sem refletir, vamos tentar separar o histrionismo e boca-aberta do ex-presidente dos ATOS de governo que culminaram com a passagem do Brasil praticamente incólume, economicamente, de uma crise medonha que se abateu sobre o mundo todo.