O hemisfério norte está saindo do frio. O hemisfério sul está entrando nele. Há uma curva bastante bem demarcada de mortes totais na população, que aponta para um aumento crítico nos meses de inverno:
Cada um dos “picos” acima se refere exatamente a Janeiro, ou Fevereiro de cada ano, no hemisfério norte. O “Janeiro” deles é o nosso Junho, e o “Fevereiro” deles é nosso Julho, em termos de sazonalidade das mortes.
A questão lógica que se propõe no Brasil é se estamos ou não certos em tentar empurrar a curva de contaminação da COVID-19 pra frente. Como sempre, copiamos sem pensar muito os modelos que “deram certo” no hemisfério norte, onde está a maior parte das nações desenvolvidas.
Ocorre que lá, empurrar a tal curva pra frente, achatar a curva, faz sentido. Aqui no hemisfério sul, não faz. E a explicação é bem simples: enquanto eles saem do inverno, nós entramos. Essa é inclusive uma das razões pelas quais o combate à COVID-19 no Brasil até o momento se demonstra relativamente mais efetivo do que em países mais desenvolvidos.
Há um racional, então, para o que estamos fazendo? Vamos relacionar as medidas que estamos tomando com o outro fator chave nessa equação, que é a economia: achatar a curva implica em trancar gente; trancar gente implica em trancar a economia; trancar a economia implica em criar diversos problemas estruturais e conjunturais para o país.
Assim, as medidas que o presidente Trump está tomando nos EUA, rigorosas e de lockdown, são medidas corretas, no sentido de que o país tem a “felicidade” de estar rumando para períodos mais quentes.
No Brasil, ou é tudo a mesma coisa – verão, inverno, etc, como por exemplo nos estados do N, NE e CO. A coisa complica mais um pouco no S e SE, porque o clima castiga um pouco mais.
Então, faz sentido o que estamos fazendo aqui? Aparentemente não. Promovemos um lockdown em alguns estados por razões açodadas e claramente de cunho político, e não cuidamos de entender com calma outras variáveis importantes, como essa meia dúzia de dados coletados, que incluí aqui.
Em síntese:
A reação do organismo ao clima, no Brasil, tende a ser menor do que no hemisfério norte. Estamos, portanto, usando medidas de contraciclo no meio do ciclo…
O gráfico acima, se tivessemos aqui (devemos ter…) seria um espelho quase que perfeito ao acima, que trata só do Norte do Equador. Assumindo que isto seja verdade, hoje estamos no “mês de setembro” do hemisfério norte, ou seja, um mês de relativa calmaria de mortes estatísticas. Em três meses estaremos no “dezembro” do hemisfério norte, rumando para os meses de caos, Janeiro e Fevereiro (nossos Junho e Julho).
Até lá, teremos criado um estresse antecipado e em boa medida desnecessário, no momento errado e ficaremos sem munição para atravessar o momento mais agudo.
Não se trata de dar tempo de capacitar mais os hospitais. Isso a natureza já cuidou de nos dar, nos meses até maio pelo menos. Teríamos que ter tomado as mesmas medidas de aumetno de capacidade das UTIs, respiradouros, etc, mas SEM ter sufocado a economia por antecipação.
Como este país todo mundo se rege pela cartilha dos países do Norte sem fazer praticamente nenhuma reflexão, estaremos diante de um problema muito mais grave do que o necessário, e que começará a se tornar crítico em Junho, caso Deus não nos mande um milagre em forma de vacina ou outra cura antes.