Acabei de ter um video-call com minha equipe de gerentes e diretores. Gente que priva da minha total confiança e que tem a “ousadia” de falar na minha cara, abertamente, o que pensam, sabendo que eu gosto mais de latir do que morder, como bom viralatas. A reunião era sobre a possibilidade de retorno às atividades normais, pouco-a-pouco, visto que estou em contato com centenas de outros empresários, e que há uma certa preocupação em fazer um retorno em condições razoáveis e ordenadas, tomados os devidos cuidados.
Saí da “reunião” espantado. Existe, claramente o aspecto pragmático, que só uma equipe eficiente tem (aliás, são todos, gerentes e diretores da equipe, mulheres). Os argumentos são válidos e variaram de um simples “precisamos distanciamento dentro do escritório, limpeza boa, máscaras, etc”, até considerações sobre a recente redução da jornada de trabalho, onde deixar os filhos, já que as creches não estão funcionando, uma infinidade de detalhes que, francamente, me passaram batido, como bom homem à moda antiga que sou (limitado, focado no objetivo somente, etc).
Mas o que me espanta mesmo são as conclusões a que cheguei sobre a situação em que estamos metidos, não só como país, mas como “mundo” e o que isso acarretará no longo prazo.
Medo Patológico
O nível de medo que pude detectar, medo sincero, nas pessoas, tanto da minha equipe como de outras, é impressionante. A paúra de que tem um equivalente a bicho-papão na esquina, e que VAI matar você, inapelavelmente, ou aos seus, é tão real que dá quase pra pegar com as mãos.
O medo se mostrou logo de cara, quando falei que eu, pessoalmente, pretendia ir retomando atividades no escritório, pois que estou ficando quase doido dentro de casa, apesar de estar trabalhando mais do que antes. A reação foi imediata, e variou desde “eu não” até “você tá doido” (ou quase isso).
Minha resposta foi uma simples pergunta, de volta: “Ah, ok. Ou seja, quanto mais o tempo passar, como é que vocês acham que essas reações serão?”. E é isso, exatamente, que me mete medo (sem trocadilho): a cada dia que passa nós aumentamos nosso grau de medo, e com certeza, de susceptibilidade a outros tipos de problemas, desde depressão a outras “patias”.
Incapacidade de Retomar
Começaremos a nos sentir incapazes de retomar as atividades normais? De interagir? Como vamos enfrentar o dia a dia normal? Qual será o motivador que me tirará da cama para “enfrentar o bicho-papão” na esquina? Será a geladeira vazia? Será a empresa se desagregando ou falindo? Será uma ordem do governo?
Não sou exatamente um cara depressivo, pela natureza, mas sinto a cada dia que estou mais encarquilhado. Com mais dificuldade de retomar o dinamismo, de fazer negócios, de interagir normalmente.
Será que “sairei do outro lado” normalmente?
O efeito da política
Ninguém está se dando conta do efeito pernicioso da briga política que está rolando neste país, e que envolve mais do que o presidente e o ex-ministro da saúde. A briga desceu para os andares de baixo, com ambos os lados se escorraçando publicamente, com os já típicos “vai estudar”, “fulano disse isso”, “beltrano apoia o confinamento”, “Globolixo”, etc… Ninguém mais parece querer aceitar um comando.
Por outro lado, o STF e a Câmara fazem o possível para tirar os poderes do executivo. Estamos sem comando central, e isso não se deve a essa ou aquela atitude ou palavra do presidente:
- O STF decide que no Brasil os governadores têm mais autoridade do que o Ministério da Saúde (esqueçam o presidente por um momento);
- A Câmara aproveita o momento tumultuado para passar emendas ao Plano Mansueto, e joga no colo do tesouro nacional a dívida impagável dos estados, tirando desses a responsabilidade por manter um mínimo de ordem fiscal na casa;
- A oposição apoia todo e qualquer sujeito, com qualquer intenção que seja, e que fale contra o presidente, não importando o que ele fale;
- A grande mídia, cercada de dívidas e com delirium tremens de falta de publicidade governamental, dá eco a toda e qualquer posição contrária ao executivo, mirando no presidente, “errando” a cabeça dos seus ministros, elogiando-os, como se o ministério tivesse aparecido por combustão espontânea na Esplanada, em Brasília.
Enfim, uma enorme piada de muito mau gosto, e que vai enchendo a cabeça de quem tem menos afeto à leitura mais extensiva das opiniões, contra e a favor de qualquer posição (quem chegou até aqui neste artigo entendo o que digo; quem é leitor de memes já parou faz tempo e não se dará conta do que escrevi).
Há um caminho do meio. Há a possibilidade de, racionalmente, tentar unir a população contra o virus, independentemente de governo, remando todos para um lado só. Mas certamente, Câmara, Senado, Oposição, STF e Imprensa NÃO têm essa intenção. Espero, por Deus, estar errado, mas como leio bastante, de tudo, em detalhes, não estou nada esperançoso.
Uma Nota Importante – escrevo antes de tudo como memórias, para mim mesmo. Um dia relerei tudo isso, e me questionarei “onde estava com a cabeça quando escrevi isso”, ou até me congratularei por uma coisa ou outra que escrevi. Portanto, não gostou? Critique (costumo dizer que as opiniões negativas são mais importantes que as positivas). Mas faça-o com civilidade e fundamento (ainda que eu não concorde, vou examinar seu arrazoado com atenção).