Hoje dei de cara com uma manchete que choca pela audácia do sujeito. No link acima, da Infomoney, Elon Musk, que ontem disse que tiraria a fábrica da Tesla da California para “Texas ou Nevada”, por conta do excesso regulatório que o estado dos ricos e descolados impõe aos cidadãos e aos negócios. Não é fácil ter propriedade ou negócios na Califórnia. É, talvez, o que mais se aproxima da Europa em termos de regulação, principalmente no que diz respeito a meio ambiente, direitos LGBT+, etc. Impõe um peso que ao longo dos anos tem gerado uma grande fuga de capital de lá.
Hoje, Elon Musk, mesmo proibido pelas autoridades municipais do condado (município) de Alameda, California, peitou todo mundo e diz que abre a fábrica sim, e que se alguém quiser, que venha prendê-lo, mas não aos seus empregados, que só estão cumprindo ordens: “Estarei na linha de frente com todo mundo. Se alguém for preso, peço que seja apenas eu“, escreveu Elon Musk em seu Twitter.
Então qual é o comparativo com Bolsonaro? Tanto lá quanto cá, há uma enorme/diametral diferença de opinião entre a imprensa e governos estaduais e o governo federal, sobre a imposição de lockdown. Lá a coisa é mais rígida do que aqui, na verdade. E Musk entende que a coisa foi longe demais. Trump tuitou que apoia Musk, “a fábrica tem que ser aberta AGORA”, uma vez que Trump deseja o isolamento social, seletivo, mas não lockdown completo.
Os EUA enfrentam uma situação muito pior do que a do Brasil, pois lá tem muito mais infectados e mortos, porque as fronteiras lá são mais “porosas” e tem muito mais cidadãos dos EUA e do mundo todo indo e voltando o tempo todo. Quando Trump decidiu fechar o espaço aéreo e limitar a entrada e saída de pessoas, já era tarde. Ele culpa, com razão, penso eu, a China por ter atrasado a informação sobre a COVID-19.
Aqui a coisa parece mais bem controlada, com uma briga política maior do que sanitária. Podemos acusar Bolsonaro do que for (e ele merece muito xingamento nosso, sem dúvida), mas ele é corajoso pra caramba. Ele está sozinho, contra todos os formadores de opinião, praticamente, apenas com um eleitorado que parece fiel ao seu lado (dentro dos quais não me incluo). Fato é fato – o cara não tem o menor problema de ficar sozinho contra todos. Coisa de ogro? Pode ser, mas que não se lhe negue a coragem. Idem pra Musk.
Quem tem razão no imbróglio? Quem quer lockdown acha que quem quer trabalhar é negacionista da ciência, ogro, bolsominion, burro, etc; quem quer trabalhar acha que o pessoal do “fique em casa” é insensível às necessidades da população mais carente, é “gente rica”, ou esquerdista que não se importa nem um pouco se o país vai pro buraco, “quanto pior melhor” e por aí vai.
Claro que o povo não tem condição, no momento, de ter uma ideia clara do que de fato é certo ou errado. Entendo que um presidente da república, com todo o aparato de inteligência por detrás, deva ter mais condições de tomar decisões sobre isso do que eu, você, ou a dona Maria do carrinho de pipoca… Elegemos o cara (a maioria ainda é a maioria) para ISSO. E em nome de uma suposta imbecilidade do cara (como todo mundo tá tomando decisão pra todo lado, com a única diferença de alguns terem mais verniz na língua do que outros), estamos de cara julgando que a atitude dele é errada, e todo o establishment está se movimentando pra jogar pedra no caminho do executivo a todo custo, usando a mídia toda pra isso, indecorosamente.
Entendo que deva haver uma cadeia de comando em qualquer lugar. O nome “executivo” advém justamente do termo “executar” (fazer, operar). A cadeia de comando está sendo minada a todo momento, por decisões que na melhor das hipóteses poderiam ser consideradas tão equivocadas, ou no mínimo sujeitas a crítica, quanto às tomadas pelo executivo.
Aqui na minha empresa sempre deixo claro uma coisa: pode discordar de mim à vontade. Vou ouvir, ouvir, mas quando tomar uma decisão, ela cabe a mim, pois é o “meu” que está na “reta”. O mesmo, em maior escala, ocorre no executivo. O STF tomou do executivo o poder de tomar várias decisões. Os governos estaduais NÃO estão se saindo melhor, nem pior, do que o executivo, de uma forma que se possa aferir minimamente. Portanto, houve uma quebra na cadeia de comando determinada pelo judiciário, numa incursão indevida em outro poder, pelo arbítrio e julgamento de um único juiz, sem qualquer crivo ou estudo, apenas para defender uma ideia que o tal juiz não tem qualquer condição de tecer juízo de valor com as informações que detém, mas apenas e tão somente por alinhamento ideológico ou de simples pensamento.
Elon Musk quer produzir; não quer matar empregados, não quer criar desastre. Não se sabe, neste momento, se isso vai ou não gerar mais ou menos COVID-19. Mas uma coisa é absolutamente certa e independe de opinião médica para ser verdade – se não produzirmos, morremos todos de inanição.
Não creio que nem Elon Musk nem Bolsonaro tenham por objetivo ferrar com seu semelhante. Mas as coisas estão tão poluídas, que nem o benefício da dúvida é dado a quem, no final das contas, vai acabar tendo o “seu” na “reta”… não a imprensa, não o STF, não os governadores, não o Congresso. Só o executivo.