A Guerra Comercial de 2025

Estou ouvindo e lendo de tudo. Desde que os EUA estão fazendo certo, até que a China está forte até tudo ao contrário disso. Estou lendo barbaridades, que, normalmente, são jogadas travestidas de opinião independente… a famosa agenda oculta no bolso do colete.

EUA fortes

Líderes do mundo livre, capitalistas e com grande IDH, os EUA são uma espécie de “polícia” do mundo, reconheça-se ou não, e gastam mais com suas segurança do que quase todos os outros países do mundo juntos. Só na OTAN são responsáveis por até 30% do orçamento. Na ONU, as forças de paz consomem 22% de grana americana, sobre o orçamento total da entidade.

(Fonte One AI, sobre dados da OTAN de 2024)

Esses dados dão a medida em que um país que representa 4% da população mundial acaba arcando com algo entre 20% e 25% de tudo o que o mundo gasta em defesa e missões de paz. Isso sem contar o aspecto de vidas, que não se sabe medir.

Meu saudoso pai dizia que “quem dá o pão, dá o ensino”. Ora, chamar os EUA de imperialistas é fácil. Difícil é fazer o que eles fazem. E aqui não vai nenhuma consideração sobre a qualidade desse imperialismo. Cubanos diriam “terrível”, países desenvolvidos diriam “necessário”. Eu diria “importante”.

Tudo isso se traduz para dentro da Guerra Comercial, iniciada agora por Trump. Para começo de conversa, quero deixar bem claro que como amante da Escola Econômica Austríaca, DETESTO qualquer tipo de protecionismo, e acho que Trump está absolutamente ERRADO nessa iniciativa.

Mas posso cá comigo entender por que… J.D Vance disse bem, numa entrevista recente à Heritage Foundation, que não é correto os EUA “bancarem” o faturamento do chinês médio, pagando com dívida que o próprio governo desse chinês médio compra e estoca. Verdade? Sim. Os EUA, com isso, comprometem todo o futuro das gerações vindouras com um déficit que se torna cada dia mais difícil de pagar, ou de manter em uma relação saudável com o PIB.

Exceto que J.D. esquece de dizer uma coisinha: não é de “trade balance” (balança comercial) que se trata o futuro do déficit de um país, mas de toda a corrente de comércio E serviços. E aí está a coisa: como maior emissor de patentes do mundo, cobra a maior parte dos royalties e serviços “intangíveis”, o que em muito ajuda a equilibrar o endividamento de lá.

(Fonte One AI Pro. Dados podem mudar segundo a fonte pesquisada)

No final das contas, os EUA tiveram uma boa melhora entre 2022 e 2023, no que tange a Balanço geral de pagamentos. Mas o fato mais relevante pode ser visto na exposição que o conta correntes sobre o déficit público americano é relevante. Em 2023, metade do déficit público (em valor, nào estoque) pode ser representado por saldo negativo de conta corrente com o restante do mundo.

Dá para entender a visão (no meu ver, “em túnel”) de Trump sobre a importância de reduzir o déficit comercial. Pode, e quase certamente vai, ser um tiro no pé.

Tiro no Pé?

Não sei se Trump considera que seus movimentos de agora, vistos como pré-Armagedom por meio mundo, serão levados à ferro e fogo até o fim. Ele precisa mandar uma mensagem ao mundo:

“Não vamos aceitar menos do que reciprocidade de tarifas, com país algum”

(Um suposto Donald Trump, da minha imaginação)

Se vai às últimas consequências, não sabemos.

Minha sensação é que, após esse freio de arrumação (como diríamos nós cariocas), Trump começará a refazer o sistema, considerando as especificidades e necessidades dos EUA. Não é possível criar uma taxação maiúscula, de (sei lá) 34% sobre Madagascar, que basicamente só exporta baunilha (a melhor do mundo) sem pensar bem e voltar atrás ali na frente. Seria maldade pura e simples.

Em alguns casos, as ditas reciprocidades já embutem algumas pílulas de açúcar, como a exceção de chips de computador de Taiwan. Agora, em abril de 2025, os Estados Unidos impuseram uma tarifa de 32% sobre produtos importados de Taiwan. Mas isso expressamente exclui semicondutores (vide reuters.com). Os EUA não são tão bobos de jogar Taiwan no colo da China de vez… Daí, em resposta, o presidente de Taiwan, Lai Chingte, propôs um regime de zero tarifas com os Estados Unidos. Em contrapartida pede o aumento de investimentos no país, sob desculpa de “fortalecer os laços econômicos e mitigar os impactos das novas tarifas” (de novo, reuters.com).

Como ninguém é bobo, com exceção dos que querem fazer xixi nos cantos do terreiro, pra marcar território, o que o o caso da China (que não pode deixar de fazer isso, sob pena de perder o discurso) e o Brasil (por burrice ideológica mesmo), o mundo vai, rapidamente, se ajustar, e ESPERO (Deus ajude!) que o resultado tanto para a economia americana, quanto global, acabe sendo grandemente mitigado, e até positivo, em última instância.

A nenhum ocidental, com exceção dos ideólogos de esquerda, interessa uns EUA frágeis. Isso exporia demais todo o ocidente às ameaças dos CRINK (China, Rússia, Irã e Corea do Norte). E olha que não são poucas as ameaças representadas por eles, sob Putin, Xi, O Turbantão e o Cabelito.

É só Wishful Thinking mesmo…

E no final, tudo o acima é minha forma de oração. Que Deus me ajude que escrevi algo que será lembrado no futuro como correto. O bom senso costuma vencer, exceto em casos em que “pequenos bigodes ridículos” (Hitler) ou “grandes bigodes mais ridículos ainda” (Stalin), prevalecem. Foi assim na crise dos mísseis de 1962, quando Kennedy e Kruschev acabaram recuando e mantendo a paz.

Tenho mais é que desejar o melhor, já que, francamente, minha confiança na sanidade mental da dupla Trump-Musk anda meio abalada.

Então, Deus nos ajude e que eu esteja correto!!!

Terremoto Econômico e o Bai Lan

Estamos diante do maior terremoto nas estruturas econômicas do mundo, talvez desde os choques do petróleo nos anos 70. A percepção que tenho captado, de clientes, colegas e players do mercado, é a de que não faltará fonte de tensão e problema, até que a coisa chegue a um equilíbrio e se torne mais conhecida dos mercados.

Mercados, por definição, odeiam imprevisibilidade. Mais do que odeiam a crise em si. Se há crise, mas há uma ideia clara de onde a crise nos leva, o mercado adapta-se e reage de acordo. Já na incerteza, não há o que fazer. É diante disso que estamos agora.

Trump mexeu com as estruturas do capitalismo mundial, ao propor as tais tarifas recíprocas, e as “mínimas”. Neste pormenor, o Brasil e boa parte da América Latina se livrou do pior, com uma taxação de 10% (ainda a ser mais bem entendida) e já chiou, mesmo assim. A razão de termos nos livrado de tarifas maiores, mesmo sendo um dos países mais protecionistas do mundo, advém de um só fator.

Irrelevância

Sim, escapamos do pior por sermos irrelevantes para os EUA. Aliás, ao lado do epíteto de “Anão Diplomático” este é o que talvez mais mal interior me causa. Quem diria que uma nação que tem o que temos, pode ser mais irrelevante, em termos de mídia, corrente de comércio, patentes, startups, etc, do que nós?

El Salvador é mais relevante do que nós. Irã é mais relevante do que nós. Irlanda, Nova Zelândia e outros países que teriam, numa ordem natural mais “cartesiana’, zero relevância comparativamente conosco. Mas irrelevantes somos e, pior, nos achamos muita coisa, num mundo que nos ignora.

E por que somos anões diplomáticos, anões econômicos, anões midiáticos? Porque não produzimos quase nada que valha a pena ser observado. Temos uma sociedade sufocada por tributos e criminalidade. Temos pseudo instituições, que o mundo acertadamente ignora. Temos, enfim, um governo que toda basicamente todas as decisões erradas – e não é só esse. O executivo brasileiro, há décadas, prima pelo erro. Aprimora o jeito de errar. Identifica o problema erradamente, obtém as piores soluções possíveis e as executa com primor.

Nova Fase Global

Pra não falar “nova era”, que não é uma expressão do meu agrado, estamos diante de uma ordem mundial que se altera por canetada. Acertadamente ou não, isso vai gerar, e enquanto escrevo, já gerou, uma reação forte de alguns países, a China entre eles. O gigante comunista do leste acaba de anunciar uma tarifa “reacionária” de 34% sobre as exportações americanas. Isso se contrapõe à tarifa igual, imposta pelos EUA esta semana. Pau que dá em Chico, dá em Francisco, ok? Mais ou menos.

Com uma balança comercial altamente deficitária em relação à China, parece que reagir em igual medida cumpre apenas um papel de estimular o mundo a tomar medidas parecidas contra os EUA, enfraquecendo, por consequência, sua posição adotada recentemente.

Funcionará? Para a China, provavelmente não. E para o Brasil? Possivelmente sim, pois que somos um dos poucos países com os quais os EUA mantêm algum superávit comercial.

J.D. Vance, o vice presidente americano, em entrevista à Heritage Foundation recentemente, argumentou a favor das tarifas da seguinte forma (minhas palavras, ou o que entendi delas): “ora, não é possível os EUA financiarem o comércio mundial com base na contratação de déficits crescentes. Nós financiamos o camponês da China, na fabricação de produtos para exportar para nós, e pagamos com dinheiro de empréstimos feitos a nós, em parte, por esse mesmo camponês chinês”.

Faz sentido continuar um processo de endividamento contínuo, crescente e sufocante, para que outros países tenham facilidade de exportar? Acho que não. O déficit americano nem é devido a um governo maior do que a média dos governos europeus, chinês ou russo. No caso brasileiro, o custo do nosso governo em relação ao PIB é 50%, se é que alguma estatística decente pode ser feita neste sentido. Nos EUA, é 35%. Mas vejam o que o estado americano carrega de gastos feitos a fim de tornar o mundo um lugar minimamente seguro, para os outros – sim, mandar no mundo tem um preço, e os EUA se deram conta de que: a)pagam a parte do leão; b)já não tocam o “apito” que tocavam em quase todo pós guerra.

A ONU é um exemplo, a OTAN, outro. Na ONU, vê-se os EUA apitarem cada vez menos. Países cuja contribuição para a organização é ínfima, mandam em áreas como Direitos Humanos (Irã, Egito, outros). Na OTAN, os EUA bancam quase todo o orçamento, apenas para manter a Europa em relativa segurança (pode-se argumentar que não é bem assim, claro), enquanto os europeus brincam de estado de bem-estar social com parte da grana que deveria estar sendo aplicada em defesa. É isso que Trump percebeu e que tenta remediar.

Bai Lan

Da forma certa? Remedia com bom senso? Acho que não. Não gosto de histrionismo, e de medidas pirotécnicas. Mas é o estilo do cara. Burro, ele não é. Cercou-se de excelentes pessoas. É como Bolsonaro fez aqui no seu governo – teve um “dream team” de ministros, mas continuou falando bobagem. E como o que se fala muitas vezes tem mais repercussão do que o que se faz, ele foi julgado por boquirroto.

 Até o tolo, quando se cala, será reputado por sábio; e o que cerrar os seus lábios, por sábio.

Provérbios 7:28

Boquirroto, apesar de ter feito o que reputo por um excelente governo, Bolsonaro foi, principalmente dadas as circunstâncias, Covid, Ucrânia, etc. Lula agora terá a chance de provar que não é bom piloto somente no sol. Com a tempestade que ameaça se abater sobre todos nós, vamos ver se ele é ou não o governante que, na minha opinião, mais atrapalhou do que ajudou o país, num dos períodos mais ensolarados da história do mundo.

A tempestade poderá alinhar o mundo. A China mete medo, principalmente por estar alinhada fortemente com a Rússia, cujo ditador, a exemplo do nosso presidente, não tem sucessor. Não se sabe se, em alguns anos, quem estará no leme daquele país. A China, por todo o seu desastre humanitário, ainda tem mais previsibilidade de transição de governos, aparentemente. Não é o que o especialista em oriente, o holandês Frank Dikötter, disse no programa “Uncommon Knowledge” há uns dias. Na visão dele, a China é uma estátua com pés de barro. E a razão, segundo ele, vem de uma “revolução silenciosa” que existe naquele país, que os locais apelidaram de “Bai Lan”, literalmente “Deixe apodrecer”. É uma resposta do chinês comum totalmente diferente de tudo o que se viu antes: o chinês que sempre trabalhou 12 horas por dia, começa a dizer: para quê? Vou deixar que tudo se exploda.

É algo que o Partido Comunista daquele país morre de medo, porque é o exemplo mais acabado de revolução sem armas, e que mata, e não apenas aleija, uma nação. No fundo, boa parte do nosso país vive assim. Cuidar do próximo? Que se exploda… patriotismo? que se exploda… honestidade? que apodreça.

É uma atitude derivada da desesperança. E a desesperança destrói governos mais do que qualquer outra força.

A tempestade de Trump pode desencadear uma onda de protecionismo (creio que vai), que vai desencadear um empobrecimento geral no mundo, que vai gerar uma atitude de descontentamento geral que pode desaguar (creio que vai) num Bai Lan mundial.

E de Bai Lan, o Brasil entende…

P.S. a Imagem deste artigo foi gerada por Flux, a partir de uma query minha chamada “Bai Lan – apodrecimento”, via Adapta.org. Achei o máximo…

Selic acima de qualquer retorno possível – a Saga da Inflação

A recente elevação da Taxa Selic, pelo Banco Central, para 14,25% acena para dois fatores. Um, surpreendentemente bom, e outro que remete a um cheiro de naftalina que eu julgava que estava num passado definitivamente morto e enterrado.

É positivo

O novo presidente do Bacen, contra minhas piores dúvidas, se revelou mais técnico do que político, e elevou a taxa Selic, num reconhecimento de que o aquecimento (artificial) da economia brasileira aponta para mais inflação, o que leva à necessidade de juros altos para desaquecer os ânimos.

É positivo, num contexto extremamente negativo, em que a economia cresce por uma demanda turbinada a gastos públicos descontrolados e “bolsas”.

Mais recentemente, o tão necessário aumento no limite de isenção do IR para o cidadão que ganha até R$ 5.000 vem no pior momento possível, e sendo contrabalanceado com uma medida que certamente desagradará a todo mundo (eu incluso) e que certamente terá efeitos colaterais que este governo não sabe precisar: evasão, por um lado e “criatividade” por outro.

É negativo

É negativo, é claro, porque juros nas alturas, ainda mais pelas razões que temos diante de nós, só pode ser considerado uma insanidade. A razão, obviamente, está fundamentada e explicada pelo aumento vertiginoso de gastos públicos, descontrole sobre estatais e burrices sobre burrices de condução da máquina pública que atende pelo nome de populismo social. Um populismo diferente do anterior, que denomino populismo “de gogó”. É negativo, ainda, pela qualidade dos gastos públicos. Tira-se gasto de áreas produtivas ou indutoras de produtividade, como Embrapa e outras, e coloca-se em ações para agradar “movimentos sociais”, cujos resultados são pra lá de incertos, se é que desejáveis.

É negativo porque é uma corrida contra o tempo para tentar não estourar o orçamento. Mais ou menos uma família que contrata despesas no cartão de crédito e depois sai atrás de aumentos de salário. Improvável, e de consequências possivelmente funestas.

Preço dos Ativos

Por volta da virada do milênio, a jornalista de economia e amiga, Mirian Gasparin, me perguntou em entrevista por que a Sanepar (à época planejava-se privatizar) tinha um valor de mercado tão baixo (francamente, nem lembro quanto era). A resposta que dei se baseou justamente na Selic da época: 45%, máxima histórica, durante os anos FHC. Que retorno sobre investimento resiste a uma comparação com uma Selic dessas?

O valor dos ativos deve ser sempre comparado com um “custo de oportunidade”. A oposição da época (o governo de hoje) estrilou barbaridade contra a privatização como “espoliação do povo brasileiro”. A Sanepar não foi privatizada, na minha visão corretamente, à época. Não porque privatização seja coisa ruim – eu acho que governo tem que cuidar de de saúde, educação, segurança pública e defesa, mas porque, como qualquer bom gestor, espera-se o melhor momento, a melhor janela, o melhor preço, para vender um ativo.

O termo “WACC” ou “CMPC” (Custo Médio Ponderado de Capital, em Português) refere-se à média do custo de capital próprio e de terceiros. Ora, se o custo do capital de terceiro ancorava-se em uma taxa básica de 45% em 1999, hoje ancora-se em não menos absurdos 14,25%. Isso, obviamente, deve ser comparado com a inflação da época: 20,12% (total de 1999) contra algo entre 5 e 6% esperados para 2025.

O tempo passa, o tempo voa, e a tal da irresponsabilidade fiscal continua numa boa… Créditos a FHC, pelo menos nesse caso, convivendo com uma economia que, claro, que vinha de uma hiperinflação, somente 4 anos antes, e tentava domesticar expectativas de que o Real fosse sucumbir, como sucumbiram o cruzado, cruzeiro, cruzeiro real, etc.

O site www.infomoney.com.br de hoje pergunta – que ativos ainda rendem acima da Selic de 14,25%? Poucos Quase nenhum. E não é por falta de eficiência ou trabalho, mas por excesso de taxa.

Os valuations certamente demonstram decréscimos cada vez que o custo de oportunidade aumenta (Selic aqui, juros nos EUA, Europa, etc, lá fora) que vai fazer com que a competitividade do preço dos ativos listados em bolsa (e fora dela, por decorrência) vire pó.

Conclusão

A conclusão não poderia ser menos animadora: falamos de um governo que vai na contramão da história econômica recente, não somente aqui, mas em diversos países. Mais do que isso, não o faz por desconhecer a doutrina econômica que funciona, mas por desejo evidente de contrariá-la, já que em o fazendo obtém o resultado desejado: uma população crescentemente dependente de bolsas; os que não fogem do país, claro.

Ontem, um amigo/sócio nosso de origem coreana deu o tom da história: eram 30 mil coreanos no Brasil até a pandemia. De lá pra cá, 20 mil saíram do país pra tentar a sorte em outros lados. Industriosos e inteligentes, os coreanos, com recursos suficientes para migrar, vazaram e nos deixaram pelos motivos óbvios: apontamos na direção errada, em relação ao resto do mundo.

O êxodo será proporcional ao descalabro. Deus nos acuda!

Condicionantes de Balanço Patrimonial para fins de Fluxo de Caixa Descontado

O tema aqui é técnico e um tanto mais árido do que meus textos regulares. Peço que me desculpem os eventuais leitores.

Por que projetar Balanços em DCF?

O mundo do “valuation” é composto de milhares de formatos diferentes, quase todos baseados em conceitos de Fluxo de Caixa Descontado (Discounted Cash Flow ou DCF), e em quase todos os casos, os modelos, desde que matematicamente precisos, levam a resultados parecidos, “ceteris paribus” (mantendo-se as variáveis iguais em cada caso).

De forma geral, as projeções derivam simplesmente uma Demonstração de Resultados (DRE) e seu resultado intermediário, o EBITDA (Geração Bruta de Caixa), da qual são derivados os Fluxos de Caixa Livre, ao Patrimônio, e aos Acionistas (FCFF e FCFE, respectivamente Free Cash Flow to Firm e to Equity).

A simples projeção de uma DRE e seu resultante FCF, mais o denominado CAPEX (Gastos de Capital, tangível e intangível) dão as variáveis necessárias para cálculo do FCF. Necessárias, mas, suficientes?

Projeções de Balanço

No mundo que muitas vezes é de “faz de conta”, do Valuation, um modelo adequado e matematicamente coerente pode não ser suficiente. A razão principal deriva da falha dos modeleiros em projetar as variáveis que perfazem as variáveis de Balanço.

Já lá atrás, consultando o que já foi a “bíblia” do Valuation, de Tom Copeland, et al (publicado pela Wiley and Sons em várias edições, inclusive em português), vemos que eles já se preocupavam em projetar não somente os fluxos de fundos, mas o Balanço Patrimonial. A razão é simples de entender, embora implique em diversas dificuldades para o avaliador, que, com base na famosa Lei do Menor Esforço, costuma não criar as projeções de balanço.

Uma empresa “madura” possui algumas variáveis que são proporcionais ao incremento ou redução de sua atividade (faturamento) mas que de forma geral se mantêm ao longo de diversos períodos. Assim, é razoavelmente confortável projetar premissas de variação de itens de balanço como Contas a Receber e a Pagar de forma segura via “dias” de atividade (por exemplo, 30 dias, em média, de contas a receber, 35 dias em média de contas a pagar, entre outros).

Com a aplicação dessas variáveis, é relativamente simples projetar boa parte do Balanço Patrimonial.

Ativos Fixos, tangíveis e intangíveis, possuem regras específicas de depreciação, aquisição de novos itens (CAPEX) entre outros. cuja projeção também é razoavelmente segura, desde que as premissas de CAPEX estejam bem fundamentadas, e a depreciação calculada de forma correta, pelos métodos mais modernos exarados do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), convergentes com o IFRS.

Investimentos deveriam sofrer uma avaliação à parte, contendo as premissas específicas das investidas, dentro dos mesmos padrões técnicos aqui tratados.

O Patrimônio Líquido é, para todos os fins práticos, uma decorrência da Demonstração de Resultados e eventos contábeis mais específicos, como Capitalização Mínima (“thin capitalization”), reservas legais etc.

Resta o mais complexo, que são os ativos líquidos e passivos onerosos.

Pontos de Ruptura e Outras Considerações

Uma vez feitas todas as projeções cuja lógica derivam exclusivamente das operações, resta projetar os efeitos financeiros, que impactam diretamente sobre a Necessidade de Capital de Giro.

Normalmente os modelos deveriam visar a maior assertividade possível no que tange às classes de ativos e passivos, e sua lógica de acumulação e liquidação.

1 – Ativos Líquidos – Caixa e Equivalentes

O Caixa Operacional pode ser estimado como sendo uma quantidade em dias de caixa, mínimos, para sobrevivência da operação, de forma bastante corriqueira, e normalmente baseado no histórico da empresa.

Já o que daí excede, deveria ser considerado como “excesso de caixa”, e segregado para fins de avaliação. Os modelos mais sofisticados normalmente “fecham” a equação entre ativo e passivo nesta linha do ativo (vide abaixo o fechamento do passivo/PL).

O excesso de caixa deve existir apenas e tão somente quando todas as necessidades de desembolso forem satisfeitas, dentro de suas regras próprias. Mais adiante trataremos deste aspecto.

2 – Passivos Onerosos

Do lado do passivo, os denominados “onerosos” são aqueles que normalmente estão sujeitos a juros. Aqui devem ser incluídos todos e quaisquer passivos que escapem da regra de pagamento regular das operações da empresa. Assim, um tributo parcelado deve ser encarado como um passivo oneroso, porque sai da regra específica de pagamento do mesmo.

2.1 – Passivos Onerosos Determinados

Chamamos assim os passivos onerosos cuja regra é conhecida a priori e cuja liquidação antecipada não seja possível ou conveniente. Incluem-se nesta categoria passivos como empréstimos de longo prazo ou com entidades oficiais (Finame, Pronampe, etc) ou mesmo os já mencionados parcelamentos tributários, cuja liquidação antecipada não possui qualquer virtude financeira em si.

Esses devem ser projetados dentro de sua regra própria, e com seus ônus (juros, custos) próprios. É importante que o Custo Médio Ponderado de Capital (WACC), em sua variável “capital de terceiros” reflita não uma média de juros de mercado, mas a realidade objetiva dos juros pagos pela entidade, o que, de certa forma, reflete sua realidade de risco percebido.

2.2 – Passivos Onerosos Indeterminados / Sem Regra Específica

Praticamente inexistentes em economias mais sofisticadas, no Brasil resistem práticas de mútuos intercompanhias ou entre empresa e acionistas, sejam eles Pessoas Físicas ou Jurídicas, cujas regras de liquidação (ou mesmo sua própria contratação) não são determinadas e cujas taxas de juros são basicamente indefinidas.

Consideramos aqui, o evento como uma “mistura de bolsos”. No limite, entendemos que o valuation desta classe de passivo deveria ter seu WACC considerado como “capital próprio”, caso uma regra não possa ser identificada.

Esses passivos costumam “mofar” nos balanços, mesmo de empresas com tamanho e governança razoáveis. O avaliador normalmente não é devidamente informado sobre os detalhes desses passivos, que, de qualquer sorte, não devem mesmo possuir qualquer lógica financeira exceto a necessidade de cobrir uma posição de caixa, pelo acionista/quotista.

Em nossa opinião, esses passivos onerosos não determinados devem ser “liquidados”, para fins de projeções, com toda e qualquer sobra de caixa que possa ser retirada, no Ativo, do já mencionado “Excesso de Caixa”.

2.3 – As Linhas de Fechamento das Projeções

Resta, na dinâmica das projeções, calcular duas variáveis:

  • Qual é o Caixa Excedente gerado, após todas as outras variáveis serem projetadas ou;
  • Qual é o Passivo Oneroso criado, pela necessidade de suprir eventuais deficiências de caixa.

São essas duas linhas da projeção que nos permitem verificar:

  • Se o projeto “para de pé”;
  • Se existem possibilidades de ruptura financeira que leve a “Going Concern”, acima das possibilidades de alavancagem a mercado;
  • Se existe excesso de caixa que determine liquidação antecipada de passivos onerosos que a sociedade assim o deseje.

Obviamente, parece sensato que o eventual excesso de caixa seja remunerado de forma conservadora, dentro das possibilidades de mercado dadas pelas variáveis usadas no cálculo da remuneração de ativos aplicados em prazo não tão longo; de igual forma, o passivo oneroso deverá ser gravado à taxa média obtida pela empresa historicamente, o que como já mencionamos, reflete o grau de risco percebido pelo mercado para suas operações, devidamente ajustados, no futuro, pela melhora ou piora nas condições financeiras, que indiquem variação na referida percepção de risco.

Valor Presente Líquido de Ativos de Longuíssimo Prazo

Nossa última consideração, e que deriva de uma jabuticaba bem nossa, refere-se a ativos “inexistentes” ou de realização de longuíssimo prazo e passivos cuja regra de amortização implique em eventuais ajustes de valor presente.

Ativos de Longo Prazo

Normalmente são compostos por ações judiciais cuja resolução se dá em prazos bem compatíveis com a justiça brasileira, que variam de não menos que 3 anos e que podem variar a algumas décadas.

O mesmo vale para algumas já aludidas “jabuticabas” de validade muitas vezes incertas, como os famosos Precatórios, adquiridos com deságio e contabilizados pelo valor de face, cuja perspectiva de realização deveria, no pior dos casos, ser reconhecida como impossível, e ajustada adequadamente, e no melhor dos casos, trazidas a Valor Presente Líquido por uma taxa apropriada, não necessariamente ligada ao WACC, mas, preferencialmente sim.

Um caso típico diz respeito a empresas cuja operação as faz acumular tremendos montantes de créditos de PIS, Cofins, IPI ou ICMS, cuja realização depende de autorizações governamentais e/ou negociações que acabarão fatalmente implicando em deságios por vezes grandes.

Esses valores não são passíveis de write-off (ajuste a resultado) puro e simples, mas sim o reconhecimento de que seu VPL é significativamente menor do que o registrado, ainda que algum nível de AVP (Ajuste a Valor Presente) tenha sido feito. Cabe ao avaliador ser criterioso e conservador nestes cálculos.

Passivos de Longo Prazo

Uma das maiores jabuticabas que temos, do ponto de vista contábil, diz respeito aos ultra-longos refinanciamentos de passivos tributários, denominados genericamente como “REFIS”. O primeiro REFIS data do ano de 2000, e um percentual de 1,5% sobre o faturamento era aplicada correção pela Selic, o que não se trata de nada barato, mas nada punitivo, de qualquer forma.

O resultado é que empresas com patrimônio líquido negativo continuavam operando normalmente. No fundo, o percentual de amortização de 1,5% representava um “novo tributo”.

Passivos dessa categoria ainda existem em muitas empresas. O fato é que o custo de oportunidade deste passivo, comparativamente aos juros cobrados, implica em um VPL que pode bem reduzir o montante total da dívida em até 90%, em alguns casos mais extremos.

Clientes nossos do exterior decidiram não adquirir empresas razoavelmente “saudáveis” nas condições do REFIS, porque em seus países de origem, dívidas dessa natureza, com o fisco federal, são consideradas como uma pá de cal no caixão societário. Não aqui, e isso deve ser representado devidamente nas projeções de Balanço.

Conclusões

  1. Projetar balanços é fundamental para dar consistência a valuations.
  2. Cada linha de balanço a ser projetada deve-o ser dentro de sua lógica própria, como uma “lei de formação” que representa o melhor resultado possível daquela variável.
  3. Uma avaliação que desconsidere aspectos de “Going Concern” quando das projeções de balanço deve ser posta sob dúvida, exceto em casos de flagrantes e plausíveis resultados positivos, ou negativos.
  4. Levar em consideração ativos e passivos de mais longo prazo, a fim de determinar os níveis de caixa excedente ou passivos onerosos é fundamental para determinar a variação do capital de giro líquido, peça fundamental na determinação do FCF e, por decorrência, do valor mesmo da entidade avaliada.
  5. Embora não haja um método livre de risco em avaliação, e a máxima de ‘Valuation depends on Assumptions’ (avaliar depende de premissas) ainda seja válida, existem formas de minimizar riscos de erros mais graves na geração de resultados minimamente confiáveis para fins de mercado e stakeholders.

Por fim, a conclusão mais importante é que um avaliador independente deve ser estimulado pelo mercado e pelos reguladores deste, a fim de não ficarmos reféns de gestores que contratam avaliadores baseado em objetivos não sempre ligados à clareza.

Etarismo

É uma expressão nova e, como quase todas as expressões novas, ainda não se consolidou no vernáculo como algo “auto-entendível” (Sic!).

Etarismo é, ou seria, o ato de alienar alguém pura e simplesmente por conta de sua idade cronológica. Alguém com mais de 50 anos estaria fora do mercado de trabalho justamente pela idade, não por qualquer outra razão.

O Brasil já foi um país de jovens, em que alguém com mais de 30 anos já era visto com certa desconfiança (ou quem, com mais de 50 anos, não lembra da musiquinha cantora da jovem guarda Cláudia “Não confie em ninguém com mais de 30 anos”?):

Não confie em ninguém com mais de trinta anos
Não confie em ninguém com mais de trinta cruzeiros
O professor tem mais de trinta conselhos
Mas ele tem mais de trinta, oh mais de trinta
Mais de trinta, oh mais de trinta

Marcos e Paulo Sérgio Valle

A “crítica social” já tramava, de certa forma, contra os “novos velho” de então, os de mais de 30. Hoje, alguém com 30 anos às vezes nem saiu da faculdade e mal e mal conseguiu seu primeiro emprego – não apenas aqui, mas em boa parte do mundo. A adolescência já chega aos 25 anos, e empurrou a maturidade lá pra frente. Melhor medicina e nutrição faz com que os 50/60 sejam os novos 30.

Etarismo no Mercado de Trabalho

Um colega auditor, de Santa Catarina, me disse há uns dois anos, após um simpósio que apresentamos juntos, que se quiséssemos, trabalharíamos até os 90 anos, por pura falta de material humano para fazer o que hoje fazemos, com um mínimo de qualidade.

Não sou tão pessimista (ou otimista, se olhar só pra mim mesmo). Não sei se por graça de Deus ou por ter escolhido minimamente bem, tenho colegas na firma de 20 e poucos anos e que são ao mesmo tempo capazes, comprometidos e com excelente formação. Gente que “criei” desde adolescentes profissionais e que hoje me ultrapassam, em muito, na sua capacidade de execução.

Eu creio que só venci – por enquanto – o etarismo devido ao fato de ter me arriscado, por volta dos 38 anos, e desenvolvido minha própria firma, o que me fez de alguma forma relativamente independente do fator idade no mercado de trabalho.

Recentemente, mesmo, trouxemos um profissional da área de tributos internacionais para nossa equipe, um “guri” de 53 anos, cuja atuação está superando nossas estimativas, tanto em qualidade quanto em “pegada”. Isso não é muito novidade, pois nós, Baby Boomers, sabemos que não tínhamos alternativa a não ser cair de boca na enorme de trabalho que nos era direcionada, a fim de pagar as contas e sobreviver.

Confesso, porém, que mesmo eu com 60 anos tenho cá minhas dificuldades em contratar gente já mais pra cá do que pra lá (no meu caso… antes era mais pra lá do que pra cá, mas já dobrei esse cabo da boa esperança, como diria meu saudoso pai). Tenho um medo, originado da minha própria autopercepção, de que tem menos espaço pra excel e word, e mais pra netos e documentários históricos, na minha agenda, hoje do que havia há alguns anos.

Etarismo, Cronologia e Racionalidade Econômica

O fato é que etarismo diz, hoje, menos respeito a capacidade, e mais a uma espécie de autoflagelação, nossa, dos coroas mesmos. Conscientes de nossas limitações, esparramamos pra dentro da nossa esfera profissional os medos que nos acompanham, tanto da idade como dos custos associados à ela. Ora, o plano de saúde custa mais caro, as limitações de viagem são mais visíveis, e o pique para determinadas tarefas certamente não é o mesmo.

Mas eis que entra em cena a realidade das novas gerações: eles já possuem limitações muito parecidas, desde muito cedo. E não falo aqui dos que não acordam do sonho da adolescência e adentram a maturidade. Claro que adiar o casamento, a vinda dos filhos, entre outros fatores que fazem a pessoa madurar “na marra” é uma realidade cada vez mais presente. Se a mulher pode, com saúde, ter filhos depois dos 40 anos, por que comprometer-se com tanta trabalheira antes disso? Por que, homem, deixar a vidinha de solteiro e a casa da mamãe, se é tão confortável, e o sexo hoje é quase uma obrigação, desde muito cedo, e não mais a “prerrogativa” dos casados?

A despeito de tudo isso, é interessante notar que o mercado começa a se dar conta do fato de que a relação custo X benefício está pendendo muito mais para o lado dos coroas do que dos mais jovens. A saúde vai melhor até os 70 anos; a cabeça continua em dia, junto com uma maratona diária de exercícios físicos. Tudo isso torna gente de 50, 60 e até 70 anos muito mais produtiva do que jamais foi. Chovendo no molhado, para entrar no fator cash flow do assunto. Passa a ser muito mais econômico contratar gente já com anos de estrada, formada, experiente, e que já viu “a banda passar” (outra referência datadíssima…). É mais rápido um coroa pegar no breu, como se diz aqui em Curitiba, e entrar em altitude de cruzei rápido. Esses grisalhos demoram menos tempo para entender processos às vezes complexos, e precisam de muito menos supervisão.

O Perigo do Etarismo Reverso

Desde a antiguidade, as pessoas aprendiam umas com as outras, em guildas, ou em casa, com papai e mamãe, a fazer as coisas que a família havia aprendido e aperfeiçoado por gerações. De confecção de tecidos a fabricação de cerveja, passando por marcenaria e uma série de ofícios, o filho aprendia aos pés dos pais.

Com o advento da escola pública, e posteriormente, o ensino profissionalizante, pais marceneiros passaram a ter filhos médicos, e pais médicos passaram a ter filhos historiadores, e por aí vai. Hoje, espera-se até o fim da universidade para começar uma carreira profissional. Poucos são os que trabalham pra valer, mesmo em classes menos favorecidas, muitas vezes.

Com o advento da Inteligência Artificial, da Robótica e outros truques tecnológicos, onde vai parar a nova geração de trabalhadores? Onde vão aprender, se nem sequer o ambiente de trabalho existe como existia, e boa parte do povo está em home office? Como criar uma cultura empresarial, como alimentar um processo de fertilização cruzada de ideias se as pessoas já não interagem?

O temor é que a morte inevitável das gerações mais antigas, aliada ao desenvolvimento tecnológico faça com que tenhamos nas mãos uma geração de pessoas com formação pior do que a necessária para enfrentar o mercado de trabalho. Mais do que isso, uma geração que pode ser sustentada (até quando não se sabe) por programas sociais, que retiram delas a necessidade de labutar para sobreviver. Alguns acham isso o máximo: todos dependentes do pai-governo. Eu acho que isso se assemelha muito à onda de bebês-adultos que temos em nossas casas hoje; gente que está segura de que os pais continuarão a manter seu estilo de vida mesmo na velhice deles. Ledo engano… não é cronologicamente viável.

O mercado de trabalho corre o risco de se desabastecer por conta da alienação das gerações mais jovens; as gerações Z, Millenials, etc, correm o risco de se tornar imprestáveis ao mercado de trabalho, pois têm a “casca fina demais”, se magoam facilmente demais, achar ter mais direitos do que deveremos.

Nações envelhecidas como Japão e parte da Europa já se ressente desses efeitos. Tudo isso sem contar que a base etária maior no topo do que embaixo está causando devastação das políticas de seguridade social mundo afora; gente que já contribuiu quer se aposentar; os estados gastaram boa parte do que foi arrecadado com a própria máquina; sobrou quase nada dessa pirâmide financeira para aposentar as novas gerações. O resultado é ainda mais desencanto com carreiras e profissões. Isso pode ter um efeito, digamos, salutar, de tornar a vida mais difícil, deixando o povo mais esperto quanto à necessidade de sobreviver.

São ciclos, sabemos, mas que nunca se repetem da mesma forma. O advento da IA e da robótica pode modificar sensivelmente o mercado de trabalho que conhecemos hoje.

Apostar igualmente em coroas e garotos pode ser a melhor pedida, nesses momentos de mudanças radicais.

Brazilianization

Acabando de chegar pra trabalhar, dou de cara com esse artigo que chama de “abrasileiramento” o fenômeno de empobrecimento (físico, moral, judicial) em países do primeiro mundo, que acabam por se tornar bem mais parecido conosco.

https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/brazilianization-como-o-brasil-deu-origem-a-um-termo-pejorativo-no-exterior/?utm_source=salesforce&utm_medium=emkt&utm_campaign=newsletter-bom-dia&utm_content=bom-dia

Empobrecimento

O primeiro aspecto do termo diz respeito ao empobrecimento gerado em locais como Canadá, Reino Unido e a Califórnia, para ficar em poucos exemplos, nos quais a população de classe média começa a minguar, dando lugar a uma quantidade grande de muito ricos e uma legião de pobres.

Não dá pra dizer que a existência pura e simples de ricos seja ruim em si, exceto que a inexistência de uma substancial classe média, típica dos países ricos, é, sim, um marcador importante de pobreza sistêmica, cuja tendência, se não revertida, faz um país realmente empobrecer.

Mas isso, na minha opinião, é resultado, não causa.

Favelização

“O abrasileiramento do Canadá já começou. Favelas e censura para todos”

Cosmin Dzsurdzsa

Acho que o autor da frase acima não se limita à menção de favelas mesmo, físicas. Obviamente que sabemos que mais de 10% da população brasileira vive em favelas ou bairros análogos. O Rio de Janeiro é o símbolo maior dessa situação. No meu tempo de jovem, locais como Vila Cruzeiro, eram bairros de classe média-baixa, mas não eram favelas. Tinham ruas razoavelmente retas e abertas, coleta de lixo e “fumacê” (mata-mosquitos). Hoje, locais onde ficava a fábrica de lingeries Poesi, por exemplo, estão dentro do complexo do Alemão.

Não para na favela física, creio, mas vai até a favela educacional:

“O presente dos Estados Unidos do Brasil se parece com o Brasil do passado, e o futuro dos Estados Unidos se parece com o presente do Brasil”, Green afirma, depois de mencionar que a Califórnia tem fronteiras porosas, ruas esburacadas, escolas comandadas por “analfabetos fanáticos”, prisões superlotadas, uma taxa de homicídios em alta e um governo corrupto.

“O presente dos Estados Unidos do Brasil se parece com o Brasil do passado, e o futuro dos Estados Unidos se parece com o presente do Brasil”, Green afirma, depois de mencionar que a Califórnia tem fronteiras porosas, ruas esburacadas, escolas comandadas por “analfabetos fanáticos”, prisões superlotadas, uma taxa de homicídios em alta e um governo corrupto.

Dominic Green, citado na reportagem da GP, acima mencionada.

Atenção à frase “analfabetos fanáticos”. É aí que está o grosso da destruição. Entregamos nosso sistema educacional a analfabetos na prática, mas com muito potencial destrutivo. Isso ocorre há décadas, e hoje colhemos os resultados. O que o artigo reforça é que o Brasil parece ter “exportado” essa tecnologia de destruição social a países do primeiro mundo. O estarrecedor é que esses países desenvolvidos tenham “comprado” as ideias e as colocado em prática.

Judiciário

Um judiciário como o brasileiro, caro, ineficiente e em boa parte, corrompido, não pode gerar efeitos educacionais (positivos) numa sociedade, qualquer que seja. O autor compara a situação vivida por países desenvolvidos com o que temos aqui: leniência com o crime organizado, e com relação às “elites” políticas da nação. Falta quase total de justiça para a população em geral. Um traficante mata um guri de 18 anos que pisou no seu pé (provavelmente sem querer). Não há qualquer pudor em matar, já que as consequências inexistem.

Além de caro, lento. O avô da minha esposa bem que tentou esperar para ver reparada a desapropriação de suas terras, num ilha no Rio Paraná, perto de Guaíra, para formação do lago de Itaipu, que acabou nem inundado nada. A ilha está lá, intacta, o avô da esposa morreu aos 94 anos de idade, sem que o judiciário se pronunciasse, em mais de 30 anos de processo indenizatório aberto. Lentidão na justiça e injustiça pura e simples, são a mesma coisa, creio.

Mais do que isso, a deterioração da qualidade acompanha um aumento violento de custos com o judiciário. Férias de 60 dias ou mais, por ano, auxílio isso, auxílio aquilo, verba disso, verba daquilo, fazem os togados verdadeiros rajás brasileiros. É de longe o judiciário mais caro do mundo.

Quanto à qualidade da legislação criminal, a falta de punição a quem mais precisa dela dá ao cidadão comum o senso de que não tem jeito, e não vale a pena lutar por justiça. Ao marginal, dá a plena segurança de que “tá tudo dominado” e que existe uma nova ordem em cidades como o Rio e São Paulo, uma ordem na qual o poder público não detém mais o monopólio da violência, e que, mesmo quando tem, prefere não exercer, trocando o encarceramento por medidas tão brandas que estimulam o crime.

Educação

Já toquei no aspecto educacional, mas aqui há mais a ser dito: não se trata de entender diferente a educação. Trata-se, pura e simplesmente, na negação dela à população, travestida de preocupação com a mesma. Matemática, Português, Biologia, Física, Química, História e Geografia são substituídas por “matérias” que ensinam a questionar a ciência, a torná-la tão relativa quanto possível, independentemente do fato de que não que qualquer pessoa com 2 neurônios não devesse discutir com uma equação.

Aqui, é importante frisar que a base da prosperidade de qualquer país é a qualidade de seu povo, do ponto de vista de saber fazer coisas, de criar outras coisas melhores, e de usar coisas com habilidade. Perdemos, dia a dia, e continuaremos a perder essas qualidades, na medida em que nossa educação serve mais para desestabilizar a geração de riqueza da nação do que criá-la.

De anão diplomático a exemplo de anti-desenvolvimento, vamos bem, nessa jornada rumo ao quarto mundo.

Green Brakes

My foreign colleagues in our practice (accounting, audit) frequently hit me with questions arisen from what they read in their media on the fact that Brazil does not follow a good Environmental Governance. Allegation as to how much we devastate on the Amazon, how we have such a poor administration of our environment frequently get under my skin, due to the lack of proper information and the ultimate bad faith of a league of media outlets that are either totally mistaken or willfully wishing to spread misinformation, at someone else`s expenses, and for someone else’s profit.

Environmental Code

Being born in a rural area in Rio de Janeiro State and directly linked to a family of original agricultures and dairy producers, I know for a fact that fulfilling the Brazilian Environmental Code (BEC for short) is a challenge. In the South/Southeast areas of Brazil, a minimum of 20% of the total area of a farm must be kept untouched; riversides are to be kept untouched for a minimum of 10 meters up to 100 meters in each side, depending on the width of the river. Knowing Brazil, and knowing the amount of rivers and creeks we have, you may imagine how much of native forest must be kept.

In the “Legal Amazon Area”, that corresponds to 59% of the total area of Brazil`s more than 8 million Km². It means that legally, at least 55.4% will never, ever be touched. In fact, as of today, Brazil keeps 64.7% of its original vegetation, as it was in April 22, 1500. This does not include the reforesting, an increasing and thriving activity, vital for the pulp and paper chain.

Energy

Here, a conundrum: despite of the fact Brazil has over 90% of its energy sourced from renewables.

In fact, renewables represents about 92% of Brazil’s energy generation in 2024. Hydropower remains the dominant source, contributing around 50% of the electricity supply, while wind and solar energy have also seen significant growth ()1

The primary renewable energy sources in Brazil’s matrix include:

  • Hydropower: Approximately 50% of electricity generation.
  • Wind Energy: Around 15% of electricity generation.
  • Solar Energy: About 10% of electricity generation.
  • Biomass: Contributing to the remaining share.

BTW, nuclear is not included in the quote from ChatGPT. It represents 2.2%. ChatGPT is right in not classifying nuclear as “renewable”. That does not mean it isn`t “clean”, in my opinion.

The Environmental Control Bureaus

Brazil has a myriad of environmental bureaus and bureaucracies. Each, with few exceptions, occupied by radical environmentalists with close to zero cares on the development of the country and the wellbeing of our population. We have 5 agencies of direct/indirect environmental control, at federal level, 27 such organisms at state level and, assuming we have over 5.5 thousand counties, at least half of them with environmental secretariats.

All in all, a constellation of environmentalists, each willing to outdo and clickbait the other and show more “concern” on the environment.

Nothing against environmental control, of course. This is important and Brazil is doing its fair share on it. Just that it has shown relevant side effects that must be understood.

Side Effects

Once again, asking my patient reader to keep in mind that I am all for a good environmental stewardship, I just want to point out some absurd effects of it over the Brazilian society as a whole and how, even with all the burden carried by us, it seems that some countries are not satisfied with the results.

For we know that the whole creation groaneth and travaileth in pain together until now. 

Romans 8:22 (KJV)

My Bible tells me, more than once, that the human sin has put a tremendous strain on the environment, as above quoted from the Apostle Paul. Unnecessary to elaborate the fact that all mankind should be extremely environmentally concerned, without being idiots, of course.

That said, one side effect of the radical environmentalism, probably the most critical, is on infrastructure and mobility. From Curitiba, where I live, to the nearest beach, it is about 100Km, or 60 Mi. It takes from 1h 40min to reach there, but it often takes 3, 4 hours. The reason is that environmental agencies stop virtually all efforts to give better access to the beautiful shore. Good stewardship of infrastructure should be conducive to a larger appreciation of the environment; a stronger attachment to the beauties of the Atlantic Forest close to us.

One other example: the highway from São Paulo to the south of Brazil, the Regis Bittencourt highway, had a 30 Km portion in single lane, despite the quality of the rest of the road. The reason, environmental permits to duplicate that portion due to the existence of some families of “Mico Leão da Cara Preta” (Leontopithecus caissara) monkeys. A battle ensued and it took over 20 years to complete the duplication of the highway. Now the travel from Curitiba to São Paulo takes at least 1 hour less than 5 years ago. Nobody thought about the long line of trucks and cars expelling CO2 in the atmosphere for some many years. Something totally evitable.

Rivers and bays denied bridges and highways, due to “environmental impacts” (despite the reports telling the opposite, sometimes). Everybody in Brazil have experienced trips partially interrupted by long lines of cars/trucks waiting to be ferried over a bay or a river in ferryboats.

Whole communities in the northern Brazil have electricity for no more than 8 hours per day, diesel-based. The reason? A transmission line that links the north to the rest of the energy grid is deemed “harmful” to the environment. Let the diesel be used, let peoples’ quality of life be miserable, provided some unknown bureaucrat have its way (or the way some ONG directs them to apply).

Agendas

As usual in Brazil, a hidden agenda permeates the environmental decisions. Rationality, not a national sport among politicians by any means, becomes enraged platitudeness speeches of raging and red faced politicians, with prominent blue veins in the neck, from the tribune of the chambers of the legislative, uncapable of seeing the bad light that they unnecessarily bring to Brazil in the world.

This beautiful country will some day wake up and start doing the rational and right thing: to adequately plan and develop an infrastructure that will enable progress, boost eco-tourism and facilitate mobility, all at once, making our lives not only better, but more enjoyable.

I wish all my friends and relatives, those who follow me in the social media and here, a blessed Christmas and a very happy New Year, 2025!

  1. Source Brazilian Government, through ChatGPT ↩︎

Inflação e Déficit Público

Agorinha mesmo publiquei isso aí, no meu timeline do LinkedIn:

Uma das belezas do capitalismo está justamente na miríade de opinião que “puxam-pra-lá-e-pra-cá”, até que um consenso, digamos, estatístico, se impõe como médias das forças do mercado, e sua “mão invisível”. Esses dias, por exemplo, Luis Nassif, com a argumentação desenvolvimentista típica, diz que Bacen deveria diminuir os juros, não aumentá-lo, o que geraria crescimento, tributos, e, portanto, mais infraestrutura, etc. De outro lado, o sócio da Kapitalo, Bruno Cordeiro (https://lnkd.in/dRf967H4) diz que o Bacen deveria ir na direção oposta.

O fato é que há um único fator desconsiderado por quem é naturalmente desenvolvimentista: que a inflação está intimamente ligada ao déficit público, e que, no longo prazo, “aleija” a nação. É muito difícil que essas duas “bolhas” conversem, mas o fato é que o governo não consegue obter apoio do mercado para sua política do “gaste agora, pague se e quando puder”… É Sarney, é Dilma II de volta. Oremos!

Argentina

É fácil compreender este fato. É só ir aqui do lado, na Argentina, e ver como a corrosão social gerada pela inflação fez, ao longo dos anos, enormes estragos no país. Uma sucessão de governos grandes e perdulários, aliado a políticas fiscais de República de Bananas (o que aliás, a Argentina tradicionalmente não foi) fez com que a inflação se tornasse venezuelana, o crescimento português e a qualidade de vida do povo, sudanesa. Independentemente do alto grau de desenvolvimento humano e educação desse lindo país, o fato é que políticas estatais de tratamento do povo como um bando de crianças, que não podem fazer suas próprias escolhas, mas ser alimentados pela mão amiga do estado, deu no que deu.

Milei, exageradamente libertário na economia, deu um choque que Macri se recusou a fazer, anos atrás. Está causando recessão e perda de renda da população, mas está reduzindo a inflação e o peso do governo sobre a economia enormemente. Já se fala em abolir “jaboticabas portenhas” como controle de câmbio e tributação sobre exportações (!). No final das contas, vai ser a redenção da população, que, neste momento, não consegue ver os benefícios de longo prazo de se trocar um prato de comida pela capacidade futura de plantar, colher e comer por conta própria.

Brasil

Aqui, ao contrário, é “Dilma e Sarney” redivivos. É o governão com o balde de lavagem na mão e o povo atrás, e ainda agradecendo. Chico Buarque, no seu antológico livro Fazenda Modelo, mirou no que viu e acertou no que não viu. Com 40 e tantos anos de atraso, nos vemos, finalmente, na real Fazenda do Chico.

Ainda nem começamos a ver os resultados da intervenção indevida – muitas vezes, maldosa – na economia. Campos Neto ainda está lá. Haddad ainda tenta fechar as contas no zero, mesmo que aumentando impostos. Recessão à vista. O setor pecuário entre aos “campeões nacionais” de Lula, que ditam preço no mercado. Setor agrícola à míngua, com uma China fraca e uma dependência dela cada vez mais acentuada.

Sentimos mais a inflação (teoricamente baixa) do Brasil do que los hermanos sentem a Argentina, como um economista argentino recentemente disse.

Vamos de vento em popa – sabemos para onde.

O Continuar do Mal

A Primeira República Francesa foi proclamada no dia 21 de setembro de 1792, através da Convenção Nacional, como processo da Revolução Francesa. Ela se organiza entre grandes grupos burgueses, tendo como uma das figuras de destaque, Robespierre. Ela marcou o fim da monarquia constitucional e o início do republicanismo como modelo político, que no próximo século passaria a vigorar em grande parte das nações. Durante sua existência, a Primeira República sofreu com intensas disputas pelo poder, que afetou em muito a vida dos franceses. 

Além da queda da hegemonia monárquica e da Convenção Nacional, o período pode ser compreendido também através do Terror, da criação do Diretório e do Consulado. Em 1799, Napoleão Bonaparte lidera o golpe conhecido como 18 de Brumário, que posteriormente acaba transformando a República no Primeiro Império Francês, no ano de 1804.”

Copiado de Verbete da Wikipédia

O Continuar do Mal *

Imagino, apenas imagino, ao citar como sendo o começo do mal, devido ao fato de ter a revolução ocorrido para sanar uma situação muito própria do período feudal, apesar de terem sido os impérios uma forma necessária temporal para unir desunidos espalhados pelos países europeus até então e, em especial, na França.

Quando ouvimos nos bancos escolares ainda crianças sobre a histórica Revolução Francesa, passamos rapidamente a admirar tais feitos e realizações, sendo que no Colégio Pedro II onde cursei o Ginasial, aprender a letra e a melodia do hino revolucionário francês nos levava ao êxtase.

Contudo, confesso que mesmo àquela época eu ficava intrigado com o fenômeno Robespierre, as guilhotinas que ceifavam cabeças de contrários à rodo e não só, como hoje se sabe, de reis, rainhas e suas gerações, e até mesmo, crianças.

As leis do Comitê e as políticas levaram a revolução para níveis sem precedentes, que introduziu o calendário revolucionário civil em 1793, fechou igrejas em torno de Paris como parte de um movimento de descristianização, julgou e executou Maria Antonieta, e instituiu a Lei dos suspeitos, entre outras. Sob a liderança de Robespierre, os membros das várias facções e grupos revolucionários foram executados, incluindo os Hébertistas e os Dantonistas, muitos dos quais eram amigos de Robespierre.”

Copiado de Verbete da Wikipédia

O que se viu a partir de Napoleão foi um Estado/Nação extremamente aguerrida, um exército diferenciado e valoroso que, rapidamente, passou a agredir seus vizinhos e dominá-los pela força bruta dos terríveis canhões franceses. Napoleão surgiu para o mundo como o General/Imperador capaz de estender o braço francês até bem próximo a Moscou, só não completando tal feito em razão do desprezo ao rigor do inverno russo e da resiliência dos seus opositores.

Pode-se enganar a alguns por muito tempo, contudo, nem a todos para sempre.

A História contada e requentada sempre foi e será perigosa para os pouco atentos. Existe aqueles que estão a solto e intocados, a margem da crítica paga, por interesses nem sempre verdadeiramente democráticos.

Enfim, “há perigo na esquina” como já foi dito por um bom compositor.

Kristallnachts da Vida

Meus 2 gramas de contribuição **

Diante de um mundo embasbacado pelo conhecimento “enciclopédico” preconizado por Voltaire, e cujo conceito tomamos partido nas citações acima, diante de um mundo que poucos anos depois estava sob o impacto do ultra terror, os expurgos e milhares de mortes, que anos depois viria a dar base “moral” (Sic!) para expurgos de Stalin, Mao, Pol Pot entre tantos outros, nos perguntamos quando é que começaremos a achar absurda a morte pela morte, as prisões sem julgamento, as suspensões “temporárias” do estado de direito, nas palavras de ministros do STF, ou seja, uma Noite dos Cristais à brasileira, tida em 8 de Janeiro de 2023. Essa Kristallnacht que até hoje justifica tanta barbaridade contra velhos, mulheres e jovens de vida pacata, cujo único defeito foi acreditar que viriam em socorro do país, num momento de agudização de uma ditadura tentada e não conseguida, há uns poucos anos, pela “falta de aparelhamento adequado das cortes”, como disse candidamente determinada eminência parda da esquerda.

Ou seja, existe justificativa para determinadas atrocidades (“uma boa bala, uma boa cova”, como disse um notório professor universitário, ao se referir ao “burguês”)? Não, não existe. Defender-se é uma coisa que legitima a violência. Defender-se não é assassinato. O mandamento, em Êxodo 20, em seu hebraico original não é “Não matarás”, mas, mais especificamente, “Não assassinarás”. Assassinar é a tal “boa bala”, “boa cova”.

Tanto aqui como em qualquer lugar do mundo, o devido processo legal e a igualdade perante a Lei são pressupostos de civilização. Ano passado, e ao longo deste ano, temos assistido a morte do processo civilizatório no Brasil. Que isso não prospere! Deus nos livre!

P.S. – entre a confecção deste texto e o dia de sua publicação vimos o atentado à bala contra Donald Trump num comício nos EUA. Embasbacado, fiquei (**) a meditar sobre qual seria a reação da mídia sobre o assunto. Um próximo artigo dará minha contribuição ao debate.

Parceria Arriscada:

*   Roberto Montechiari ** Wesley Montechiari

Às favas o Mercado

Reportagem de hoje do Infomoney:(https://www.infomoney.com.br/colunistas/lucas-collazo/lula-voce-nao-liga-para-os-banqueiros-vamos-ver-ate-onde-voce-aguenta-diz-sr-mercado/) dá conta de que a paciência do Mercado com Lula está se deteriorando rapidamente. Lula afirma (creio no que ele falou) que “não tenho que prestar contas a nenhum ricaço deste país”. Mas, segundo a reportagem, em seguida se reune com a equipe econômica e sai de lá dizendo que “equilíbrio das contas públicas é fundamental” ou coisa que o valha.

No mau e velho estilo Lula, ele erra trementamente o foco ao dizer que não presta conta a “ricaço”. Isso é música pros ouvidos de sua claque, mas não é a verdade. O fato é que por “ricaço”, leia-se, em sua maioria, uma miríade de pequenos e médios investidores, que escolheram o mercado de capital e financeiro para tentar manter suas economias de vidas inteiras à salvo de inflação e com poder de compra para uma velhice razoável (já que viver de INSS não é exatamente uma alternativa boa hoje, e no futuro, nem sabemos se será uma alternativa).

Às Favas?

O fato é que há, em minha opinião, uma grande chance de que o executivo atual, com suas manchas mal lavadas, não tenha a força de resistir às correntes que querem mandar, sim, o “mercado” às favas, e gerir o país fora da normalidade econômica – pouca ou muita – que temos hoje.

Há o caminho de Nicarágua e Venezuela, países com baixa ou nenhuma diversificação econômica e mercados financeiros que mesmo antes dos eventos ditatoriais já não eram relevantes. Esse caminho valeu-se, em ambos os casos, do rompimento da normalidade institucional. Mandou às favas, de forma direta, o mercado, assumindo o papel que aos mais radicais da esquerda, competiria ao estado (nem a poderosa China pensa assim, mas eles sim).

Há o caminho da Argentina, que, com economia mais diversificada e padrão de vida médio mais alto (renda per capital superior à nossa), uma dificuldade maior de impor uma ditadura “bolivariana”. A Argentina deu mostras, por duas vezes, na transição de Kirchner para Macri, e agora, de Fernandes para Milei, de que a despeito das diferenças de approach econômico, não houve total ruptura institucional, principalmente no judiciário, relativamente independente, e uma imprensa menos dócil.

O Brasil tem aspectos que beiram à dupla nada dinâmica – Venezuela / Nicarágua, principalmente quanto ao aparelhamento do judiciário e controle da mídia; possui, porém características argentinas, de uma economia ainda mais diversa, e com intercâmbios mundiais mais importantes (principalmente no Agribusiness, que Lula teima em demonizar, com apoio e aplausos de França, e até partes dos EUA e Canadá).

Quanto à qualidade do executivo, a despeito de seus muitos, e não reconhecidos, defeitos, montou uma equipe de ministros “meno male”. Até o momento isenta de grandes ortodoxias, e com o Banco Central, por enquanto, nas mãos competentes de Campos Neto, não deu tempo, nem teve condições políticas, de zoar a coisa toda. Está tentando, na minha opinião, mas a linha entre dar ouvidos ao “mercado” e aos radicais domésticos é tênue e, uma vez rompida, de difícil retorno à sanidade.

Os Limites: Temporal e Econômico

Até o momento, Lula ainda consegue reconhecer o limite, e, de certa forma, manter-se aquém da tragédia. A possível ascenção de Garópolo ao Bacen pode sinalizar outro “meno male” importante, mas até aqui ainda temos uma incógnita. Em evento recente no BTG, um palestrante diz que conhece Garópolo e que ele é um adepto do equilíbrio financeiro e realismo de juros e câmbio. Se terá valor ou espaço para manter sanidade no Bacen é outra conversa, mas é melhor do que Mercadante ou Mantega. Ideal seria manter o Campos Neto lá, mas isso, Lula interesse suficiente em fazer. Não conseguirá reconhecer a necessidade.

As palavras de Lula fazem cada vez menos sentido, tomadas no geral. Estão, na minha opinião, sendo cada vez mais ditas a públicos cativos, e nem podemos cravar que sabemos o que realmente informam ou não. Não esperaríamos Lula dizer que sim, respeita e valoriza a palavra de “ricaços”, ainda que saiba que eles dão parte dos empregos e do capital de investimento do país. Não seria tolo suficiente de excluir uma fatia importante do seu eleitorado, ao se declarar franco favorável ao Agro. Não seria corajoso o suficiente para deixar de fora da Petrobrás figuras que detém o “caminho das pedras” daquela mina de ouro.

A encruzilhada se aproxima, sob o apelido de Janeiro de 2025. Vejamos se manteremos um mínimo de racionalidade econômica.