Eu me lembro bem, no final dos anos 70, de dois fatos que até hoje me fazem dar risada… Um, era “Cris e Simone” (A maravilhosa Regina Duarte e o meio-canastrão Francisco Cuoco), da novela Selva de Pedra, da Globo, e sua “música tema”, Rock`n`Roll Lullaby”, cantada por B.J. Thomas. Fantástica canção, que até hoje me traz uma lembrança nostálgica. Só que errada… A música foi usada como tema romântico entre os dois personagens, que dão piruetas narrativas, se separam e voltam a se encontrar no final, sob o som da tal “Lullaby”. Ocorre que a canção não tem nada, absolutamente, de romântica. Depois de mais velho, ouvindo a música já em inglês, com “ouvidos de ouvir”, ficou claro que é uma música de um guri, cuja mãe, de 16 anos, o teve na condição de “mama-child”, e ela canta o tal Lullaby (Canção de Ninar), para o filho dizendo que “tudo vai ficar bem”… Patacoada da Globo, ou confiança na incapacidade do público de perceber.
O outro fato se trata de outra música, Ben, de Michael Jackson, foi usada na novela Uma Rosa com Amor, numa trama que nem me lembro bem, mas que envolvia um relacionamento romântico vivido pela fantástica Marília Pera. Ocorre que, de novo, Ben é uma música sobre um cachorro, amiguinho do então adolescente Michael… hehe… De novo, informação parcial…
E é isso aí. Informação parcial nos leva a lindas conclusões, que “falam ao nosso coração”, e nos transmitem certo conforto… e estão erradas, na maior parte das vezes.
Estamos vivendo hoje sob a égide de conclusões parciais. Os dois (claros) lados do espectro político brasileiro estão sendo levados a tomar partido com base em informações parciais. Paradoxalmente, isso vale mais para as classes mais informadas do que para as menos cultas/ligadas. Ora, por que? Normalmente o mais culto vai mais fundo, apura mais, raciocina mais, para concluir. Então por que estamos, nós que nos julgamos “melhorezinhos” do que o vulgo ignaro (Deus nos perdoe), tão ou mais mal informados do que o resto?
O que eu acho que são as possíveis causas:
- Precipitação – Estamos, todos, “jumping to conclusions” alegremente… Eu mesmo já me peguei uma série de vezes “concluindo com absoluta convicção” coisas que depois tive que ter a humildade de reconhecer erradas, total ou parcialmente.
- Academicismo Inconclusivo, ou “Ciência” inconclusiva – Estamos nos valendo de pesquisas que estão sendo feitas de forma precipitada, por uma academia doida pra dar “respostas” à sociedade, sem os devidos grupos de controle, sem os devidos cuidados de amostragem, etc.
- Incapacidade de olhar a opinião do outro lado -É realmente muito difícil, e eu confesso às vezes impossível, ouvir o outro lado. Só quero ouvir (falo por mim) o que “bate” com minha forma de pensar, e isso me leva à necessidade de uma luta diária para olhar os argumentos contrários antes de concluir. Ouvir Haddad falar sobre COVID-19 é duríssimo, mas necessário.
- Manipulação pura e simples – Talvez o mais grave seja que existe uma necessidade das fontes de informação em,propositadamente, vender um peixe. A imprensa, de um e outro lado, tende a vender o seu peixe, e não noticiar. Não vemos mais imparcialidade. No sábado próximo das 13h, voltando de uma reunião (Curitiba pode…) coloquei a BandNews pra tocar e ouvi, aterrorizado, Kennedy Alencar falar uma bobagem do tamanho da emissora: “Chavez e Maduro armaram a população, e veja no que isso deu”. Fiquei perplexo porque todo mundo sabe que Chavez e Maduro desarmaram a população da Venezuela, e depois armaram os chamados “coletivos” (originada da palavra Soviete), que são os “Camisas Pardas” do regime bolivariano. Kennedy não queria informar. Ele queria somente dizer que as palavras de Bolsonaro na tal reunião ministerial, de que a população armada não é vítima de um governo opressor, faziam eco com a questão da Venezuela, confirmando o objetivo (inconfesso) de qualquer ditadura – “desarmo você para o seu próprio bem”. A resposta a isso é a segunda emenda à Constituição americana. E pra não dizer que estou sendo parcial a favor de Bolsonaro, um fato que também é claramente distorcido pela mídia mais à destra, é a colocação de que Bolsonaro não freou o combate à corrupção. Ele freou sim, ou pelo menos não fomentou, como seria coerente com seu discurso de campanha. Quais as razões? Queiróz, etc? Não creio. Acho que Bolsonaro estava sim, refém de um ministro altamente popular e que em alguma medida nunca acreditamos que entraria para a política, mas acabo de ver, pelo teor do Fantástico de ontem, 24 de Maio, que parece sim inclinado a pelo menos influenciar o mundo político, senão ser candidato ele mesmo.
A soma de todos os fatos acima nos leva a uma conclusão – estamos ferrados na mão dos “formadores de opinião” atuais, que não querem NADA além de turvar as águas, não reconhecendo coisas óbvias, de um lado, dando ênfase a coisas secundárias, de outro, mas sob qualquer aspecto, mantenho o cidadão instruído à mercê de um mar de informações contraditórias, muitas delas simplesmente falsas (como esquecer o famoso relatório do Imperial College, de Londres, sobre a COVID-19?).
Vamos anotando todas as coisas no nosso coração e as conferindo, como fez Maria, mãe de Jesus, sobre a divindade do próprio filho… colete dados… conclua depois…