No Jardim do Eden surgiu a zona cinza, no mesmo momento em que o pecado entrou no mundo. Creia você na narrativa da Bíblia, creia na teoria da evolução ou em qualquer outra teoria, o conceito por trás da narrativa do Gênesis dá conta do momento exato em que a zona cinza surgiu. Deus não parece admitir zona cinza. Pelo menos o conceito de um Deus absoluto, infalível, não admite isso. Ele conhece cor por cor, conceito por conceito, e não criou o universo para abrigar ambiguidades, na minha opinião.
Uma forma garantida de criar confusão neste mundo é um falso cognato, um falso paralelo, uma falsa analogia. A analogia do cone de sombras com o conceito de “verdade e mentira” é uma dessas faltas analogias. Provavelmente a maior das falsas analogias. Essa analogia tão comum diz que há diversos “tons” de verdade e mentira, e provavelmente o meio do cone de sombras abriga um lugar que é ao mesmo tempo verdade e mentira. Isso obviamente é uma mentira inteira.
Como conciliar isso, porém, com o fato de que às vezes nos chegam informações e “verdades” que podem ser “em parte” mentiras? Aí entra a figura que a Bíblia chamou de “Diabo” (que significa literalmente “duas partes” ou “duas mentes”), pois que o tal Ser introduziu na alma humana a incapacidade de enxergar a raiz das coisas, e, muito mais do que isso, de introduzir na alma humana, a capacidade de enxergar mentira nos locais exatos onde ela foi inserida. Quem não crê na figura do “Capeta” tem que arrumar um conceito ou “culpado” para fazer sentido desse fato – as pílulas de mentira dentro da verdade, ou vice-versa.
O mundo moderno, desde a ascensão dos meios de comunicação de massa, começou a lidar com a questão da “curadoria” da informação. Temos ainda que lembrar que a mídia impressa, primeira manifestação dos meios de massa, surgiu em países capitalistas da Europa, e nos EUA e Canadá, ou seja, dentro de uma matriz ocidental. Jornais e outros meios, portanto, surgiram como negócios, e portanto, com uma agenda de lucratividade muito clara e nunca negada por esses. Estamos vivendo um momento em que essa mídia de massa está numa crise que parece não ter fim, e portanto, a lucratividade está em cheque. Isso começou na “era da informação” e se aprofundou com o crescimento explosivo das mídias sociais.
Na mesma toada da explosão das mídias sociais, diminuiu a qualidade da curadoria (verificação, ponderação, análise) sobre a notícia. Mídias sociais não possuem curadoria, em função da sua liberdade e virtual impossibilidade de implementa-la. Essa teria sido a melhor oportunidade dos últimos anos para os veículos de mídia tradicionais reconquistarem alguma relevância.
Os eventos recentes parecem não apenas não ter ajudado, mas atrapalhado no restabelecimento dessa credibilidade. A grande imprensa, seja de um ou outro extremo do viés ideológico dessa situação polarizada que vivemos, acabaram de acabar com a credibilidade de sua “curadoria”. A verdade deixou de ser importante, e a forma, ou a “parte” da verdade a ser transmitida, o tom da transmissão da informação e mesmo o puro e simples desinteresse em informar – de verdade – a verdade, está colocando a derradeira pá-de-cal no pé dos antes monstruosos e poderosos veículos de informação.
O tal “capeta” parece ter tomado conta de todos os lados do espectro da mídia nacional. A verdade, obviamente, foi diluída, e se tornou tão difícil de achar que a população está “caçando” a verdade sem acha-la, radicalizando-se no caminho, dependendo de seus pendores pessoais.
Fica a dica para a mídia em geral – que tal informar, pra variar, limpando as redações de radicais de qualquer lado, focando no fato, apurando coisas, e entregando algo tão puro quanto possível?