Dei uma parada nas minhas discussões com amigos, e mesmo em troca de ideias mais simples. O motivo é meu cansaço intelectual, sem fim. Tem razão essa minha fadiga. É muito difícil se embrenhar num matagal só para convencer um índio qualquer de que “quod abunda non noscere” (o que abunda, não prejudica). Convencer as pessoas de que há que se separar os problemas em suas partes constituintes para depois examiná-los, um a um, dá um cansaço incrível…
Não desisti de tentar, mas estou parado no meu canto. Alguns, acostumados à minha combatividade e gosto pela esgrima verbal devem estar achando que eu estou sem argumentos ou ideias para defender meu conservadorismo e liberalismo econômico. Não. Tenho muitos, mas dá uma preguiça imensa, nos dizeres de G.K. Chesterton, “demonstrar que o céu não é vermelho” para quem o tem ao alcance dos olhos, num dia de sol. Dá preguiça, mas não se pode deixar esmorecer.
Aliás, uma das minhas dúvidas cruéis é de onde vem a resiliência e a energia que um exército de pessoas dos mais variados matizes e cultura põem na tarefa de defender posições inglórias, indefensáveis ou mesmo insanas. Complicado, e pretendo descobrir um dia. Deve ser uma patologia. Ou uma agenda escondida que não sei de onde vem.
O caso mais recente vem da questão das urnas. Meu Pai Celeste, que terrível é ver gente que tem origem em auditoria, como eu, achando que é “caro e desnecessário” ter uma porcaria de uma urna de acrílico e uma impressora, pro sujeito verificar se o voto dela foi o que realmente ela digitou na urna. Gasta-se Bilhões com fundão eleitoral e se recusa a tomar essa atitude simples e que seria, no final, conciliadora. Que cansaço…
A cegueira em admitir que ciência é algo que não se “determina” ou se confina a determinado “lado” da academia é algo também muito complicado e cansativo. Outro dia, o presidente do Conselho Federal de Medicina admitiu em uma live que a classe estava dividida ao meio, entre aqueles que creem e os que não creem no tal de tratamento precoce. Ora please… Será que somos tão obtusos assim a ponto de não compreendermos que a ciência progride na liberdade de experimentar, testar e concluir, e que “Vacas Sagradas” não podem existir em sua marcha? “Ciência!” berram alguns… “Terraplanismo” derramam-se outros… Vou falar uma bobagem enorme mas que acho que funciona, no que toca à liberdade de investigação – deixe os terraplanistas acharem o que quiserem! É direito deles acreditar na Taprobana e cair da cachoeira do fim do mundo. Não sou eu quem vai pegar na mão deles, coloca-los num avião e dar uma volta no globo…
Da mesma forma não serei eu quem vai obrigar alguém a se imunizar contra coisa alguma. Eu me imunizei, porque acredito em vacinas e sei que fazem muito mais bem do que mal, a despeito dos eventuais efeitos colaterais. O cara que não quer se imunizar, que pense como quiser. Não serei eu a infligir seu direito de pensar como quiser. Não serei eu a mudar sua cosmovisão.
Me encanta uma palavra da Bíblia sobre a ação de Deus no mundo:
“Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor”
Zacarias 4:6
Essa visão nos demonstra que ninguém tem o direito de forçar ninguém a pensar igual a si. O profeta Zacarias fala no contexto das suas profecias, e deixa entrever não apenas a impossibilidade, mas a inutilidade de mudar os outros, exceto que eles sejam convencidos pelo Espírito (aqui, você que não é cristão coloque o que for no lugar de Espírito, seja “a própria vontade” ou “bom senso”). Falta-me a capacidade, às vezes, de calar diante de certas posições.
Ora, isso quer dizer então que não devemos ser “apologetas” de nossas crenças? Não. Devemos esgrimar nossas ideias, mas sabendo que no fundo, não se convence ninguém. Só o Espírito o faz.
Serei eu a enfiar ideias goela abaixo nos outros? Eu não. Tenho preguiça.
Vi de longe esta sua “canoa descendo o rio” e, por estar sendo criticado e contestado por “pregar”pelas minhas visões e experiências de vida, estou nadando de braçadas para embarcar na sua canoinha singela e prática…