Indo pro Inferno

Todos, ou quase todos nós, temos amigos queridos. Os amigos queridos têm o condão de encher nosso saco sem o menor problema. E sair ileso disso, e ainda receber abraços, e uma dose extra de amor fraternal.

Esse post aí me foi “proposto” como uma pimenta na minha conhecida declaração de fé em um Deus Único, Criador dos céus e da terra, justo e amoroso.

Eu disse ao dito cujo que o responderia, se ele quisesse, em privado, explicando a situação que está proposta aí. Não dá pra fazer digressão ou exegese nos confins do Zap… Ele não veio a mim, sábio que é, pra não ter seu augusto saco cheio, de volta, por mim. Então me digno a escrever, em muito mais linhas do que ele estaria com vontade de ler (aguenta, cabeção!), mas com o que considero ser uma visão que NÃO vai mitigar suas inquietudes, porque quem crê não precisa de explicação, quem não crê não aceita nenhuma delas. Mas vale a tentativa.

Em tempo, o amigo querido em pauta, há uns tempos, disse que estava lendo a Bíblia. Fico feliz com isso, porque parte dos conceitos que vou tentar ordenar não serão inéditos pra ele.

O problema do Conhecimento de Deus

O tal esquimó aí em cima, vivia lá num canto isolado de Labrador, ou um outro Finisterre qualquer gelado lá de cima. Ele obviamente não conhecia o Deus Único em que cremos, nem em Seu filho, Jesus Cristo, em que creio. Nunca ouviu falar do Credo Apostólico nem da Igreja Única, de Cristo, chamada “a Noiva do Cordeiro”.

O tal esquimó então (paradoxalmente, pra piada ter graça) pergunta se ele conhecesse o “Tal de Deus” e o Pecado, ele iria pro inferno. O “Tal Deus” responde, para surpresa do amigo Inuit, e manda um “sim, se você soubesse e não cresse, iria direitinho pras profundas dos infernos”. O inuit então retruca – “então por que você me contou???”… A piada é muito boa, claro, tanto pelo caráter sem-pé-nem-cabeça da proposição inicial, como seu desfecho inesperado, à lá Abbott e Costello – quem é mais velho lembra –

Abbott – “Não me diga que o Tia Edna morreu”…

Costello – “É… a tia Edna morreu”…

Abbott – “Eu te DISSE pra não me contar!”.

Paráfrase de uma das muitas “Não me diga” dessa dupla de comediantes hilários

O que isso representa

A teologia trata do assunto, sem piada, e de forma bastante coerente e racional, baseada em alguns textos do Velho e Novo Testamento que apontam para um racional derivado da observação:

  • Deus nos criou dotados de certos atributos intrínsecos – imagem e semelhança à Ele
  • Esses atributos nos fazem capazes de observar a natureza, externa e interna (a Natureza e a nossa natureza) de forma a tecer certas conclusões inescapáveis:
    • Ou tudo existe ou nada deveria existir
    • Tudo é tão lindo e perfeito, em todos os detalhes, que a vida sem uma sincronia e perfeição difícil de ser obtida sem muita inteligência é tão “aleatória” como chegando a ser impossível
    • Existe uma “Lei Moral” dentro de nós – alguns podem chamar de Compasso Moral, que nos faz rejeitar imediatamente algumas coisas, em detrimento de outras. Por exemplo, matar é algo desprezível, e isso está entranhado dentro do Ser Humano. Portanto, a vida é sagrada. É um “imperativo moral” que aponta para “Algo”.

Com o Dennis Prager falou certa vez – Deus não nos deu qualquer PROVA de Sua existência, mas deixou o mundo lotado de EVIDÊNCIAS dela. E a razão é simples – tanto a existência quanto a não-existência de Deus, comprovadamente, esmagaria o ser humano: a existência pela impossibilidade clara de se chegar a Ele, e a não-existência pela futilidade que a vida teria, o que poderia fazer com que qualquer adulto preferisse o suicídio a viver debaixo de tal maldição – a de ser “nada”.

Portanto, ressoa no meu coração a imensa sabedoria de um Deus que conhece nossas limitações e nos leva a uma única atitude possível, ante a existência ou inexistência de Deus: FÉ. Seja a existência como a inexistência de Deus, só se acredita mediante a fé. Seja ela no Deus da Bíblia ou no tratado científico que mais nos agrade, é somente pela FÉ que somos “salvos” (o que quer que isso signifique pra você).

A resposta ao Inuit

Em primeiro lugar, em um tempo de politicamente correto, chamar o cara de Esquimó é o máximo da falta de correção: Inuit (primeiros povos) são os “Esquimós”. Esquimó é um termo usado pelos Inuits pra NOS denominar “estranhos”.

O tal inuit, então, chega a, sabe-se lá de onde, perguntar a um Deus – não é difícil entender isso, dados os conceitos que já falamos, de Revelação Natural e Compasso Moral – se ele vai pro “Inferno” se rejeitar Deus e não acreditar no pecado. Deus diz que sim, claro.

Se Deus é justo, e se, como a Bíblia diz, Ele não poder deixar “impune” qualquer pessoa que tenha se separado dEle pelo pecado. Como lá está escrito que “Todos pecaram e destituídos estão da Glória de Deus” (Romanos 3:23), então todo mundo carece de perdão de Deus.

Em outro lado, o Apóstolo Paulo (o mesmo de Romanos, acima) diz que “onde não há Lei, não há transgressão da Lei” (Romanos 4:15). Daí deriva a piada acima. Ora, se eu não sei se algo é errado, como é que eu vou evitar cometer um erro? Eu não posso ser considerado culpado por algo que eu sequer sei que é errado.

Nas minhas aulas de domingo, na Escola Dominical, da Igreja Batista Essência, me saí com uma alegoria que exemplifica bem esse conceito:

Cinto de segurança

Houve um tempo em que não era “pecado” (lei) o uso do cinto de segurança. Isso era assim por várias razões. Houve tempo em que nem cinto havia. Portanto, como antecipar o uso de algo que ainda não tinha sido inventado?

Depois da invenção do cinto abdominal, sua limitação de uso e a incerteza sobre se ajudava ou não em caso de acidentes, fez com que seu uso demorasse a ser tornado obrigatório. Isso ocorreu até que a Volvo criou o Cinto de 3 Pontas, e cedeu, gratuitamente, a novidade para todo o mercado, diante do impacto positivo e do aumento fantástico de segurança para os motoristas.

Passou a ser Lei, e hoje eu sou multado se ando de carro sem o apetrecho. Minha aplicação diz respeito justamente a isso – a Lei era considerada boa, por Paulo, e por Jesus (que diz que a veio cumprir, e não revogar). Portanto, a existência de uma Lei que me obrigue a usar cinto é algo fundamentalmente bom.

Mas o melhor de tudo não é a Lei – é o Cinto de Segurança em si. Eu esqueço do incômodo de usá-lo principalmente no calor, quando ele me protege de dar de cara no parabrisa do meu carro, ou de sair voando através da janela, em caso de colisão. ÉSSA é a beleza da Lei. A Lei foi dada porque fundamentalmente é algo que faz bem ao ser humano.

Trata-se de uma coisa que ajuda, e, se entendida, não traz chateação. O Rei Davi diz mais de uma vez nos Salmos que “A Lei do Senhor é perfeita”, “Ó quanto eu amo a Tua Lei”, e por aí vai. Davi entendeu a utilidade da Lei, mais do que o “fardo” que alguns querem fazer parecer.

O Inuit fez a pergunta errada, pra começar a conversa. Não se trata do “pecado”, mas do erro de se afastar de uma “regra” que preserva e melhora a vida. O Inuit deveria ter refletido sobre o quanto a Lei Natural, a Revelação Natural, é útil. Ainda que admitisse a existência ou um conceito diferente de Deus, a revelação natural existe e subsiste como conceito por si só.

Se Tia Edna morreu ou não, o fato independe de terem ou não me contado.

O Deus do Inuit

Não tenho a menor ideia – no momento que escrevo – de que tipo de deidade acreditam os Inuits*. Vou procurar ver depois. Mas independentemente disso, a piada mira no cristianismo, de forma bastante direta. De qualquer forma, a Palavra diz que “ninguém pode se dar por escusado”

A charada, pelo menos do ponto de vista Cristão, “morre” com a afirmação d de Efésios 4:9-10 (citação abaixo), de que Jesus Cristo, desceu para ao “Hades” (morada das almas dos mortos) para “pregar às almas”. O Hades é um conceito grego que não equivale a inferno. Segundo a Bendita Wikipedia, “Hades é a transliteração comum para o português da palavra grega haídes, usada em várias traduções da Bíblia. Talvez signifique “o lugar não visto” ou “o lugar invisível”.

Jesus teria ido a este “lugar invisível” para “pregar às almas”. Quando foi isso? Não importa. Se cremos que Jesus é Deus, e eu creio, estou plenamente confortável em crer que o local não é físico nem cronológico. É todo e qualquer momento em que o ser humano será visitado, “sim ou sim”, pelo Filho de Deus, que lhe falará diretamente ao coração e indicará o caminho ao Pai. Assim, ninguém, biblicamente, pode se dar por escusado.

Em tempo, as citações que chegam a esta conclusão estão contidas abaixo:

Porque por isto foi pregado o evangelho também aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito.

(1 Pedro 4:6)

 Ora, isto – Ele subiu – que é, senão que também, antes, tinha descido às partes mais baixas da terra?  Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. 

Efésios 4:9-10

Quer-se dizer que Jesus não desceu a canto algum que não já estivesse ido, seja no Sábado de Aleluia seja em qualquer outro dia, antes, durante ou depois da Sua Vinda. Isso importa menos do que o tema aqui proposto – ninguém poderá ser dado com escusado diante de Deus no dia do famoso “Julgamento”. Todos, grandes e pequenos, de todas as épocas, tribos, povos e raças, irão se encontrar face a face com Deus. Nisso eu creio, por isso anseio e espero.

Ao meu amado amigo (que não menciono porque não me procurou pra estudar – diz ele que tá em Harvard, of all places, fazendo uma pós graduação. Tendo a crer… hehe) digo que espero que ele aceite a resposta dada, de coração, às suas inquietudes. Lembro, porém, o que ouvi de Joelmir Betting, de saudosa memória e católico praticante:

“A quem não crê, nenhuma explicação é suficiente; a quem crê, qualquer explicação é desnecessária”

Atribuído a Joelmir Betting – já que ouvi dele.

* Li depois na Wikipedia que os Inuits não acreditam em um Deus, mas em um monte de espíritos e deidades, bons e ruins. Ou seja, são “animistas” como boa parte das culturas nômades. Na minha opinião, esta é uma razão pela qual a maioria aderiu ao cristianismo de bom grado. É uma explicação mais razoável para o mundo. O mesmo aconteceu com os povos indígenas mais ao sul, mas esses já tinham em si o conceito de um Deus criador. Mas isso é outro capítulo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *