Regras claras de empregabilidade foram estabelecidas há anos, na verdade, há 2 mil anos. Coisas hoje consideradas inovadoras, como o conceito do “Líder servidor” são mais antigas do que se imagina. Pensando nisso, e pensando na minha própria empresa, enxerguei na Palavra de Deus, ao longo dos anos, algumas características que fazem de um profissional uma joia preciosa, que é valorizada pelos superiores e que acaba por se tornar indispensável a qualquer organização.
I – Trabalhe como se o negócio fosse seu
“E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira fazei-lhes vós também.”
Lucas 6:31
Convivo muito com CEOs de vários tipos de empresas. Todos, volta e e meia, reclamam da falta que fazem profissionais com “espírito de dono” em suas empresas. Por espírito de dono entendem o funcionário que trata o negócio como se fosse sua própria casa, sua própria empresa; que faz as coisas com prazer e que tenha alegria no que faz.
O texto de Lucas, acima, é uma palavra direta de Jesus Cristo a nós e é a famosa “regra de ouro”, existente desde tempos imemoriais, e ela mesma uma das mais antigas ações civilizatórias da humanidade- aja com os outros da forma como você gostaria que fizessem a você.
Está trabalhando? Trabalhe como você gostaria que trabalhassem para você. Quer que alguém lhe roube? Não? Então não defraude, não roube ninguém. Gostaria que alguém mentisse para você? Não né? Então não minta.
Esse tipo de atitude eu coloquei na cabeça dessas regras da empregabilidade, pois é o fundamento e a base filosófica do “bom viver”.
II – Vá além do que te pediram
“Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.”
Lucas 17:10
Jesus Cristo, de novo, dá o tom: “fez tudo o que lhe mandaram? Legal… fique triste então porque você foi quase um inútil, pois que fez somente o que lhe mandaram.
O que isso significa? Primeiro, na origem da ordem está uma necessidade do empregador, que você terá que suprir. Ora, ao longo do tempo decorrido para fazer aquilo, é quase impossível que alguém em seu juízo perfeito não observe que há mais a ser feito. Mesmo que não tenha dado tempo de fazer mais do que pedido, até o prazo final da tarefa, seja proativo; leve as coisas que você viu e ouviu para a chefia e alerte sobre cosias que poderiam ser feitas de forma melhor, mais rápida, mais barata, mais bem feita… é isso, que é parte do tal “espírito de dono” que vão lhe fazer indispensável a quem paga o seu salário.
III – Quer liderar? Sirva!
“Porém o maior dentre vós será servo de todos”
Mateus 23:11
Você já cresceu na organização; você agora lidera um grupo de pessoas ou de atividades. Muito bem. Quer liderar, de fato? Sirva! Tem até livro, best-seller mesmo, para falar o que Jesus disse há dois mil anos.
Parabéns ao autor do livro, e espero que tenha dado o crédito aonde é devido. Se não, bom, pelo menos a ideia é de inspiração divina.
Quer liderar? Seja parte do processo de ajudar, de ensinar, de dar explicações, de apoiar. Esteja disposto a arregaçar mangas, sujar as mãos e amassar barro.
IV – Faça sem resmungar – faça por amor – a si próprio e a Deus
“Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.”
Filipenses 2:3
Se a gente reconhece Deus como o doador de tudo, da vida e da capacidade de trabalhar, não vai restar muito espaço para a vanglória. Tem vários tipos de vanglória, e o pior tipo é aquele que se esconde sob o manto de uma humildade fingida. Com o tempo as coisas sempre se esclarecem, e o profissional humilde por legitimidade aparece como uma lâmpada numa noite escura.
Na passagem o Apóstolo Paulo nos ensina a fazer tudo por humildade, e nada por briga ou na busca do holofote. Os americanos têm um acrônimo bacana – WYSIWYG (What you see is what you get) – o que você vê é o que você vai levar – algo, ou alguém, sem máscara, sem agendas ocultas, sem humilhar os outros e sem viver na retórica da auto promoção.
Bom, tem gente que se sente humilhada por qualquer coisa. Vivemos num mundinho dos “flocos de neve”. Gente que não pode ser chamada atenção, não pode ouvir uma crítica, não pode receber nada senão elogios e “medalhas de participação”. Bom, esses, o mercado de trabalho tem uma forma boa de tratar – o desemprego.
“Mas é chato, é sem objetivo, é ‘nonsense’”. Tem essa visão? Discuta, converse com franqueza, procure passar sua visão – essa proatividade também abençoa a empresa, se dita com o coração e com mansidão. No entanto, lembre que muitas vezes não temos ideia do propósito maior de algo, e nos metemos a criticar.
Não é assim em nossa relação com Deus? Creia-me, já passei pedaços da vida com Deus em que a última coisa que eu queria é que Ele estivesse certo. Lutei para ter razão. Não tinha ideia do plano maior (e ainda não tenho nem me conformo muito) mas posso dizer “seja feita a Tua vontade”).
Se sua postura é humilde, de verdade, e você já seguiu os passos I e II, este é um passo largo no caminho da empregabilidade constante.
IV – Tem um talento? Multiplique-o!
“E, tendo ele partido, o que recebera cinco talentos negociou com eles e granjeou outros cinco talentos”.
Mateus 25:16
Tem gente que tem talento natural; tem gente que é rápido de raciocínio e brilhante para ter ideias; tem gente que tem uma capacidade ímpar de trabalhar em projetos difíceis e que requerem muito jogo de cintura. Outros são resilientes e não desistem fácil de tarefas tediosas ou repetitivas.
Independentemente das suas características, qualquer um manterá sua empregabilidade se “granjear outros talentos”. Colegas meus, que foram meus assistentes, tiveram a capacidade de lutar contra suas próprias limitações e aumentar seus talentos. Gente muito tímida se torna grande vendedor; gente muito dispersiva se torna excelente em tarefas detalhadas e cansativas. Tudo pelo granjear de novos talentos. Se Jesus deu a dica, e aqui os talentos podem ser vistos como somente dinheiro, ou como “talentos” mesmo (no sentido moderno do termo), creio que devemos perseguir esse objetivo.
Ninguém é imutável; ninguém é totalmente incapaz de aprender algo novo; ninguém é incapaz de reaprender algo. Faça o melhor. Isso o fará empregável.
V – Seja verdadeiro!
“O que diz a verdade manifesta a justiça, mas a testemunha falsa engana.”
Provérbios 12:17
Alguns de meus piores erros de contratação e seleção se deram em pessoas muito habilidosas no falar e polidas ao extremo. Gente bacana, encantadora, muitas vezes culta e de aparente bom senso.
Isso é bom, e desejável. O erro, nas minhas experiências, se deu pela falta de um atributo imprescindível à empregabilidade – a verdade, a capacidade de dizer sempre a verdade. Não “doa a quem doer”, nem espalhando brasa (como aliás, é algo que me incomoda, pessoalmente, há anos), mas com mansidão e domínio próprio.
Eu vou perguntar a Deus, e está anotado no meu caderninho de perguntas irrespondíveis, por que quase sempre o mais gentil é o mais inverídico, e por que o mais polido costuma esconder mais suas intenções. A verdade sempre nos libertará – mesmo que não nos pareça assim em algum dado momento.
Integridade é fundamental!
VI – Faça as coisas para que durem!
“Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha.”
Mateus 7:24
Vivemos no mundo do descartável. Esta semana tivemos que trocar a bomba de água de nossa casa, depois de tão somente 4 anos. Ela tinha conserto. Estou seguro disso. Mas o conserto não vale a pena para quem conserta, e portanto eles se negam sequer a olhar para ver se dá para fazer algo. É a era do já era.
Até os relacionamentos estão nesta mesma toada. O conhecimento então, obsolesce com uma velocidade estonteante. Os valores não existem, e a sociedade não se dá conta de que perdeu todos os referenciais. Certo é errado, o errado passou a certo.
Quando fazemos um trabalho, façamos com o objetivo de que esse dure. Digo isso por duas razões: a)se você não mirar em fazer o que dura, fará algo menos bom do que poderia fazer. Com certeza – mirar baixo significa errar o alvo; b)se você fizer algo que dura, alguém pode até substituir o que você fez por algo alegadamente melhor. Mas o que você fez não explodirá, ou dará resultados ruins, ou emitirá erros, na cara de ninguém.
Em síntese, fazer a coisa para que dure, num mundo descartável, é, em si só, um ato revolucionário e, acho eu, libertador.
VII – Procure ser sábio; Planeje!
“Quem é como o sábio? E quem sabe a interpretação das coisas? A sabedoria do homem faz brilhar o seu rosto…”
– Eclesiastes 8:1
Costuma-se dizer que os orientais planejam muito, para que gastem menos tempo executando. Nós brasileiros, por outro lado, somos considerados os adeptos, por excelência, da “moda vamos s`embora”, plagiando o grande Wilson Simonal… “vamo simbora”… Não sabe para onde ir? Vamos simbora! Não sabe se tem gasolina no tanque? Simbora! Não sabe se a viga aguenta o peso da laje? Simbora e não conte para a prefeitura!
Pois fazendo assim estamos sempre a um passo do fracasso e do desastre. Há, claro, um charme especial em fazer férias sem grande planejamento, em passar um sábado sem agenda, sem lenço nem documento. Legal, e isso só interessa a você mesmo. Quando se trata de nossa vida profissional, não se planejar é um risco que não devemos correr.
Na Bíblia, Salomão nos chama a ter sabedoria. Esta passagem diz que se vê no rosto brilhante do sábio sua característica marcante. Por que brilharia o nosso rosto? Não sei, mas tenho algumas ideias – entendo que brilha de orgulho por ter trabalhado e pensado com afinco numa ideia, conceito ou problema; brilha por se saber útil aos demais; brilha por ser fundamento para pessoas que dependam de si, para apoia-las na caminhada do dia-a-dia; brilha, enfim, porque interpreta as coisas, lê as situações, medita e então acha um caminho. Brilha porque é de sua natureza dar luz a situações escuras.
Faça isso e será difícil te demitir ou rescindir seu contrato.
VIII – Nunca Desanime!
“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados;”
2 Coríntios 4:8
Vivemos, como cristãos, num mundo que nos odeia cada dia mais. Estamos vivendo momentos em que se levanta contra nós e contra nosso modo de viver uma onda de ataques que sequer sabemos os fundamentos. Aborto se tornou escolha, nomes perderam seu significado, e até a ciência é colocada sob xeque, por uma sociedade cada vez menos afeita à correção.
De nosso lado, somos chamados de extremistas e radicais por crermos num Deus Criador – teoria tão boa quanto qualquer uma daquelas patrocinadas pela dita “ciência”. Ou seja, somos atribulados em tudo. Mas não devemos ser angustiados ou desanimados.
A empregabilidade está diretamente ligada à resiliência, esta palavra trazida da ciência dos materiais, e que designa uma pessoa que “enverga e não quebra”, que “flete mas não despedaça”. Tenha bom ânimo, mesmo diante de um chefe chato, de uma situação complexa, de uma tarefa enfadonha. Isso agrada a Deus, e aos empregadores.
IX – Sirva a UM Senhor
Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque ou há de aborrecer a um e amar ao outro ou se há de chegar a um e desprezar ao outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.
Lucas 16:13
Por fim, não se pode mesmo servir a dois senhores. A etimologia da palavra “diabo” está justamente centrada nisto – “duas abas”, “dois lados”. O diabo é aquele que vem dividir, roubar, matar e destruir. É tanto um ser como um conceito poderoso.
Por isso, a unidade em sua mente faz de você alguém menos afeito aos “diabinhos” do mundo. E eles são muitos e poderosos. Nem todos vêm do “diabo-mor”, mas muitos advêm de nossas características. Temos a tendência a colocar a culpa no “inimigo” (me recuso a colocar o nome dele em maiúscula), mas entendo que na maior parte das vezes “ele” nada tem a ver com nossos erros.
Está empregado? Trabalhe para o seu empregador – trabalhe, na verdade, para o Seu Empregador (o Senhor), porque no final das contas, se você se pretende um cristão, não há outro para quem trabalhemos.
Todos esses conselhos aí funcionam, independentemente de você ser cristão ou não. Funcionam porque, como a Lei da Gravidade, quer você creia nela ou não, continuará a despencar de um prédio à razão de 9,8 m/s² inapelavelmente. As Leis de Deus são “leis” não porque são algo obrigatório. São leis porque, como a Lei da Gravidade, acabam tendo efeitos iguais. Deus não seria justiça, além de amor, claro, se não tivesse feito princípios aplicáveis a todos. Por isso é possível ver pessoas que não ligam, ou não creem em Deus que frutificam nas suas vidas, pela simples aplicação dos princípios/leis da Palavra.
* Este é um capítulo do meu livro, ainda não lançado, sobre finanças e a Bíblia, a ser denominado “Finanças, uma abordagem cristã”.