Creio que é a primeira vez na história… desde que a festa foi inventada aqui no Brasil. Posso estar enganado, mas parece que sim. Nem a 1a. ou a 2a. guerra mundiais isso aconteceu, talvez durante a Gripe Espanhola talvez – mas lá atrás não era assim um “festão” com direito a meio dia de quarta-feira de cinzas pra curar a ressaca, etc.
Sou cristão evangélico, daqueles chatos mesmo, que fala de Jesus quando pode e até quando não pode/deixam. Vou sim na “escolinha dominical” (como diria uma amiga minha em tom um tanto desrespeitoso), quando não tem Covid, claro. Dou dízimo (!) veja só… É, sou um “desses”.
Como cristão, portanto, me deixou bastante chateado a imagem de um “Cristo” sendo escorraçado e arrastado por uma figura representando um “Diabão” na avenida, pela escola de samba mais conhecida, a Mangueira. Não posso “admitir” como normalidade um tratamento como esse, num país majoritariamente cristão. Mas quem faz carnaval, quem faz esquerda ideológica neste país não é “povo”. É um grupo muito bem arregimentado e coordenado. Mas se eu amo a liberdade de expressão (e amo), então deixe os caras se divertirem com sua “brincadeira” com o Filho de Deus. Fazer o quê? Não posso trocar essa liberdade pela que seria retirada de mim, por exemplo, de falar desse mesmo Jesus Cristo em termos, digamos, mais afetuosos, embora essa liberdade que tenho esteja-me sendo retirada, pedacinho a pedacinho.
Chegamos ao carnaval seguinte. O de 2021… O carnaval da Covid (o de 2020 era “pré-Covid”). Quero aqui deixar de lado minha natural tendência de espiritualizar o fato passado e suas consequências. Quero somente lançar minhas dúvidas quando ao nexo de causalidade entre as duas coisas e dizer em alto e bom som (sic!) que aaaacho…. teeeeemo… que haja alguma coisa aí a ser interpretada em termos não tão pós-modernos, digamos.
Católico ou Evangélico, ou mesmo alguns espíritas, amigos meus, o fato é que todo mundo com um viés um pouco mais centrado, ou conservador mesmo, se incomodou com o espetáculo de desfazimento da fé alheia.
Quando o tal Bispo Honorilton da Igreja Universal chutou a santa (alguém lembra?) eu fiquei muito brabo. Como evangélico, certamente não advogo Maria como co-redentora ou intercessora, mas entendo que irmãos/amigos católicos o façam, e acho que a Palavra de Deus é clara quando diz que trazer alguém ao conhecimento de Deus não se faz “Por força ou por violência, mas pelo Meu Espírito” (diz o Senhor). Mas era “liberdade de expressão”, diriam alguns. Vá lá, mas não gosto.
O pior é que nem do ponto de vista teológico a tal representação do diabo maltratando e matando Jesus é adequada. A Bíblia diz que Jesus veio para os “seus, e os seus não o receberam”, e que ele foi “entregue nas mãos dos homens para ser morto”. Satanás, o capeta, o vermelhinho (como diria o saudoso Tio Antônio Dantas) é obviamente parte interessada no processo, mas não acho que Jesus foi morto “pelo capeta” mas pelo meu (e o seu) pecado. É uma construção de ponte, no qual somente Ele, Jesus, é “pontífice” – a ponte entre minha separação eterna de Deus e a vida com Deus.
Pois bem, o carnaval foi cancelado, vamos trabalhar (aqui na minha firma, pegaremos no pesado, normalmente) e não sentirei, como nunca senti, nenhuma falta da festa amada por tantos. A tentação, se é que o termo é esse, é dizer “viram só o que aconteceu? Foram zombar de Deus, e de Deus não se zomba… olha no que deu”… Obviamente os pós-modernos e menos crédulos acharão risível, e, olhando superficialmente, parece mesmo. Afinal de contas, o carnaval da Mangueira já estava sendo preparado desde 2019, ou até antes… o enredo já tinha sido elaborado, e as fantasias e o “Jesus” já tinha até sido contratados.
E daí? Deus por acaso – se você crê num sujeito Onipotente, Onipresente e Onisciente – teria algum problema em ver isso lá de antes? E a Covid seria algo dissociado disso, ou criada “só por conta disso”? Bom, aprendi que Deus é o melhor jogador de sinuca do mundo… o maior enxadrista, o maior cientista… Só ele conhece as relações de causa e efeito que podem fazer um fator (no caso, a Covid) ser usada para ensinamento, repreensão e correção de tanta gente, por razões tão diferentes, em tantos lugares. Essa Onisciência e Onipotência (de novo, caso você creia – eu creio) fazem com que ele dê uma tacada, e com ela só, “mate” todas as bolas do jogo. Sem nem olhar pra mesa. Ora, essa capacidade poderia, então, ser relacionada ao que aconteceu? Partindo das premissas de crença acima, sim.
O engraçado é que daqui há algum tempo isso corre o risco de entrar para o folclore religioso, como reação de um Deus vingativo ao sacrilégio contra Seu filho. Na verdade, deveria ser objeto de uma reflexão mais séria sobre algo que só ocorre de quando em vez – a intervenção direta de Deus em algum momento, nesta terra.
Isso tudo parece, aos olhos dos cristãos, convergir para o “fim”. A realidade de uma humanidade que esgarça seu tecido social a golpes de crucifixos metidos onde não devem, e pichação de igrejas fala alto pra nós. Gostaria de ser mais otimista com relação à sociedade atual. Não consigo.
Quanto mais pessimista me torno quanto à sociedade, mais otimista me torno quando a mudar de residência, desta “para melhor” o mais rápido possível!