Envelhecer

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São muitas as frases e as análises sobre o processo de envelhecimento. Pablo Picasso dizia que

Leva muito tempo para nos tornarmos jovens.

Pablo Picasso

E não é que é? A capacidade de rir de mim mesmo inexistia, entre meus 12 e 40 anos. Foi o processo de ver a comédia de minha burrice que me fez rir do que faço. Isso não foi ensinado a mim. Foi fruto dos anos de janela, vendo a banda passar.

Na mesma toada, George Bernard Shaw dizia

A juventude é uma coisa maravilhosa. Pena ter que desperdiçá-la com os jovens!

G. Bernard Shaw

Aqui e acolá vemos gente velha e talvez ressentida deixando claro que a juventude que viu e vivenciou foi desperdiçada, ou não apreciada devidamente, exceto quando a tal banda já passou.

Talvez por conta dessa falta de humor, de se levar demasiado a sério, ou por pura inexperiência, a frase seguinte cabe bem para os dias atuais, e para todos os dias, desde que o grande cisma social foi (artificialmente) criado:

Quem não foi comunista aos 18 anos, não teve juventude; quem é, depois dos 30, não tem juízo

Atribuído a Carlos Lacerda

Hoje, lendo matérias de jornalistas mais experientes, pude ver o amargor deles com os profissionais do jornalismo de hoje, os mais jovens, em seu afã de SER parte da notícia, em vez de CONTAR a história, como ela ocorreu. Um deles conta como o fato de estar de câmera em punho, diante de manifestantes, fez reacender um conflito já pacificado pela polícia.

Outro conta como o apreço a causas “libertárias”, de esquerda, majoritariamente (mas nem só) faz com que a objetividade pule pela janela das redações do país e do exterior.

O pior é a dificuldade de argumentar com jovens devidamente doutrinados. Eles não escutam, não argumentam mais racionalmente, não fatiam os problemas para estudá-los, não usam (não todos, obviamente) de racionalidade em suas análises, normalmente mais rasas do que deveriam, para que se chegue a conclusões minimamente corretas.

Assisti outro dia um comediante num desses “Late Shows” dos EUA falando que passando na rua, ouviu um “buuum” e de repente começou a chover chocolate. Como estava do lado da fábrica da Hershey, ligou os pontos e pensou “explodiu algo na fábrica e o chocolate foi pelos ares, e agora cai sobre nós aqui na rua”. Ao falar isso, viu-se cercado de pessoas dizendo que não, que obviamente a fábrica não explodiria, e que havia outra explicação. Talvez o governo tivesse jogado gotas de chocolate de helicópteros, pra adoçar a vida da triste população…

Ele emenda, dizendo que na cidade que possui o Centro Wuhan de Estudos do Coronavirus ocorreram os primeiros casos de… Coronavirus. Mas não… logicamente a razão NÃO é o tal Centro de Coronavirus. A razão deve ser outra… Um virus desse não vazaria de um laboratório tão seguro! Nunca! Nós devemos procurar explicação em outro lado.

Pois é. A juventude embarca toda numa explicação dessas, quando a relação de causa-efeito parece tão óbvia. Alguém com a veia do pescoço saltada me dizia aos berros que eu estava sendo “terraplanista” por acreditar numa evidente bobagem dessas, criada pelo Trump somente pra culpar o regime Chinês, que nada tinha a ver com isso.

Barbaridade, pensei… e me calei.

Se a juventude já é em si insegura, se se leva a sério demais, se convive com a sombra dos pais e avós, e precisa lutar ainda para assegurar seu lugar ao sol, imaginemos essa mesma juventude sendo propositalmente manobrada e ensinada a NÃO pensar? Sabe aquela qualidade mental que só apreciamos depois de sermos surradas por ela, a habilidade matemática, que mais do que fazer contas, parece que nos dá uma habilidade secundária de medir efeitos… sabe ela? Coloquemos a matemática de lado, pois dá um trabalhão, e passemos a falar como nos nos “sentimos” sobre os números.

Sabe a gramática, aquela que meu pai, professor de Português, lutou a vida toda para enfiar em cabeças jovens? Aquela que é cheia de regras, que odiamos a vida toda? Ela também parece ter um efeito colateral de “freio de arrumação” na nossa lógica e entendimento do que está escrito… algo que só damos valor quando passamos pelo processo disciplinador do aprendizado duro e tenso, das provas e “sabatinas”.

Os jovens, por culpa de muitos adultos, desperdiçavam sua juventude preocupados demais com o amanhã, em ganhar dinheiro, casar, ter filhos… perdiam (ou nem chegavam a ter) bom humor. Hoje, ao contrário, essa carga foi tirada dos ombros dos jovens. Pode-se ser o que quiser. Pode-se trabalhar, ou não… estudar, ou não… pensar, ou não… e não há qualquer consequência sobre isso.

Envelheci um tanto, muito (se Deus quiser) falta ainda por envelhecer. Estou tentando me preparar mentalmente para as restrições impostas pela saúde, mobilidade e perda de agilidade mental da maneira como acho válida, e que vai me dar um pouco de alegria mesmo velho. Pensar, estudar, dar risada, fazer bagunça com os filhos (e às custas deles, muitas vezes!!! Haha!) e quem sabe, em alguns anos, com os netos.

Só não quero ser acusado do que já o fui quando jovem – carranca excessiva, se levar à sério demais, viver pra si mesmo, querer sucesso quase a qualquer custo, ser levado “em roda” por qualquer vento de ideologia, enfim, as tragédias normais que cercam todo adolescente e jovem.

Que venha a velhice, pero en forma de chiste!

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