Recentemente em Israel, a convite
de um casal de amigos, ambos reservistas (ele, coronel, ex piloto de
helicóptero, ela major, da intendência) nos levaram a locais maravilhosos,
nessa terra maravilhosa. Em Tel Aviv, perguntamos – quais são os lugares que
devemos evitar na cidade? A resposta foi uma cara de ponto de interrogação: “Por que? Aqui, todos os lugares são seguros.
Vocês até podem morrer com um míssil vindo da faixa de Gaza na cabeça, mas
assaltados, não mesmo!”. O porquê aí ficou por nossa conta – e a resposta,
bastante simples – “aqui todo mundo,
homem e mulher, faz 2 a 4 anos de serviço militar obrigatório. Todos amam isso,
sentem ser seu dever, aprendem muito, sabem lutar artes marciais,
principalmente o tal Krav-Magá, que é muito eficiente, e atiram com quase
qualquer tipo de arma. Quem vai se arriscar a cometer um assalto?” Chances
altíssimas de tomar um tiro. Indagando em outros locais, com exércitos bem
treinados e serviço militar obrigatório, como Suíça e Finlândia, por exemplo, a
reação é sempre a mesma. Todos conhecem armas e sabem usa-las.
Nossa presente discussão sobre
porte e posse de armas, na minha opinião, deriva de um medo patológico de
pistolas e fuzis, pelo desconhecimento total sobre elas. 90% das pessoas que
conheço nunca sequer tocaram numa arma de fogo. Óbvio que esse tipo de pessoa
terá um medo terrível, se tiver sequer que falar no assunto, ou tocar numa
arma.
A questão estaria mais bem colocada
se atacássemos, talvez, a raiz do problema – a falta de conhecimento,
treinamento e familiaridade com a arma de fogo.
A resposta, na minha opinião, está
no serviço militar abrangente, para ambos os sexos (ou quantos queiram que
existam os liberais).
Nós, com uma fronteira enorme, uma
necessidade imensa de defesa delas, e com uma juventude se perdendo, sem
disciplina e sem o mínimo de senso de dever, poderíamos perfeitamente pensar
nisso. Imaginem as vantagens:
- Entre 18 e
20 anos moços e moças vão – quem não vai é exceção médica – para uma unidade
das forças armadas. Lá, aprendem a ser gente, “na marra”;
- Essa faixa
de idade, a mais suscetível a cometimento de delitos, entrada no tráfico,
prostituição, etc., seria passada sob regime severo, com menos chances de
contágio com os maus elementos conhecidos;
- As pessoas
entrariam na faculdade mais tarde, mas provavelmente com a cabeça melhor – acho
que o índice de evasão da faculdade cairia, e a qualidade das escolhas
melhoraria, pelo maior amadurecimento;
- Essa mão de
obra, treinada e educada no serviço ao país, poderia acabar com a porosidade
das nossas fronteiras – ou reduzi-las.
- Essa gente
toda deixaria de ter largas oportunidades de usar e traficar tóxicos, passando
a ser agentes de seu combate, profissional;
- A
quantidade de mão de obra para funções necessárias ao país, como por exemplo as
frentes de combate a incêndios florestais, intervenções (como a do RJ e Ceará),
projetos de infraestrutura, aumentaria. Uma força de trabalho preciosa sairia
da inércia para o bem comum;
- O nível de
comprometimento interpessoal – moç@s e moç&s (Sic) entre si – seria
aumentado pelo maior amadurecimento que o trabalho e a camaradagem da caserna
trazem, melhorando a qualidade tanto das amizades quanto das famílias (well, é
possível, parece…);
- A
capacidade de defesa das mulheres (ou partes mais fracas, de qualquer gênero)
aumentaria muito, o que faria com que se sentissem mais atores na dinâmica
relacional, e menos vítimas dos respectivos companheiro(a)s;
- A saúde
tenderia a ser melhor, devido ao exercício físico, dieta balanceada, menor
acesso a álcool (e drogas, claro), horários rígidos de dormir, levantar, comer,
etc – que certamente economizará uns trocados para o sistema público de saúde;
- O caráter
“civil” das forças armadas seria reforçado, no sentido em que a maioria da
força “estaria militar” e não seria militar, ou seja, o muro de separação entre
civil e militar seria mais baixo, com uma força armada muito mais imersa na
estrutura do país como um todo, ou, como alguém já definiu no título de o
belíssimo livro sobre a 2ª. guerra mundial – “Soldados Cidadãos” de Stephen E.
Ambrose – cidadãos comuns, amantes de sua terra e da liberdade, que “estão
militares” pelo bem comum.
Tenho certeza de que os benefícios
não param por aí, e com certeza economizaríamos muito mais com os problemas evitados
(intervenções, combate ao crime, abortos e gravidez precoce, drogadicção, entre
outras coisas) do que com o equipamento, alojamento, rancho, soldo e outros.
Para que se tenha uma ideia, o
jovem médio israelense sai do exército com 20 a 21 anos, passa um ano gastando
o que acumulou de soldo viajando pelo mundo, de mochila nas costas, conhecendo
e aprendendo, normalmente junto a um ou mais colegas de unidade. Depois é que
vai para a universidade, já mais maduro. Entra no mercado de trabalho aos 26 a 27
anos. Parece tarde. Não é o que o desenvolvimento e pujança de Israel tem
mostrado. Vivemos mais, hoje, temos mais tempo para usar sabiamente. Nos
aposentamos mais tarde. Podemos nos manter em melhor forma, física e mental,
por mais tempo, com maior número de habilidades desenvolvidas, e, como disse no
início, com uma população que sabe se defender.
O Brasil, desde meados dos anos 70,
passou a execrar os militares, e o militarismo, por conta dos “anos de chumbo”.
Não me parece sábio nem economicamente prudente deixar que esse “bias” continue
a nos tirar a possibilidade de ter uma juventude mais bem preparada, saudável e
útil à sociedade.