Se é voluntário…

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Quotas, ações afirmativas, socialismo… o que esses termos têm em comum? Todos eles partem do princípio de que isso é algo “imposto” por alguém. Tudo isso está fadado ao fracasso, por serem atos artificiais na sociedade. Senão, vejamos:

Quotas

A política de quotas por raça, sexo, orientação sexual, entre outros fatores, substitui a livre competição em processos seletivos, por vagas em uma universidade, colégio, emprego, em alguma medida. O argumento de que é preciso dar acesso “mais fácil” a alguém em virtude de alguma característica qualquer tira a legitimidade dela (a pessoa) estar naquele lugar. Nunca tive essa oportunidade na vida, mas imagino ter lutado com unhas e dentes para galgar uma certa posição só para ver alguém que não tenha se preparado tão bem estar ao meu lado em igualdade de condições. Do ponto de vista técnico, isso pode ser até perigoso, dependendo da atividade exercida. Eu me sentiria tremendamente constrangido de estar num local para o qual não tenho capacidade de estar.

Ações Afirmativas

São quotas que não necessariamente implicam em uma “burla” a um sistema de libre competição, mas que reservam a um grupo qualquer um espaço que deveria ser objeto de competição livre. O exemplo mais claro são as quotas de candidaturas para cargos eletivos para mulheres. Obviamente que não sou contra a maior participação de mulheres no processo eleitoral; aliás, sou muito a favor, dada a melhor qualidade analítica e maior cuidado social das mulheres quando no trato com a res pública. A questão é a mesma das quotas: artificialismo – queremos fomentar algo “de cima para baixo” sem qualquer preocupação com os efeitos colaterais disso. Ora, mulheres são intrinsecamente diferentes dos homens, a começar pelos cromossomos. Somos iguais em direitos e deveres, e assim deve ser, mas eu, como homem, não pude parir filhos, assim como minha amada esposa não pode faze-los. Cada um no seu quadrado, entendendo que diferenças, antes de detestáveis, são necessárias e bemvindas.

Socialismo

A aparência inicial é sempre a mesma: justiça social, distribuição de renda, mais liberdade. Tudo acaba da mesma forma: tirania, pobreza e opressão. Qual é a causa disso? De novo, artificialismo. Tentamos, de cima para baixo, criar as condições para um “paraíso na terra”, forçando as pessoas a fazer o que é contrário aos seus interesses mais próximos, a ir contra sua natureza, necessariamente egoísta (o homem é um ser decaído, conforma a Bíblia, o que se demonstra na prática dia a dia).

Voluntarismo versus Imposição

Sob qualquer aspecto, o ser humano não gosta de ser forçado a nada. Ele só abdica de direitos quando forçado a isso, conscientemente ou não. A sabedoria de um sistema voluntário reside em dar condições para que as pessoas façam algo em seu benefício próprio, algo bem egoísta, mas de livre escolha.

Um exemplo magnífico do uso sábio do voluntarismo a serviço do bem comum está, creiam-me, nas Bolsas de Valores e nos Fundos de Pensão: em ambos os casos, criam-se mecanismos de obtenção de lucro (“maldito lucro”, dirão alguns) que são vistos pelo grande público como indo alimentar um “gordo, porco capitalista”, quando na verdade os maiores beneficiários são os aposentados do mundo todo. Um grupo de pessoas junta seu dinheiro num fundo de pensão (privado ou público) e precisa fazer esse dinheirinho render para bancar a sobrevivência da velhinha de Taubaté ou se São José da Boa Morte; Des Moines ou Los Angeles, Milão ou Verona… não importa.

O Brasil até bem pouco tempo tinha altas taxas de juros que drenavam a poupança para uma única fonte de renda: os títulos públicos. Não é assim no resto do mundo, há muitos anos. Você precisa aplicar dinheiro numa atividade produtiva. Bolsa de Valores é a resposta mais correta e mais democrática. Mas para isso precisa sobrar renda no bolso do trabalhador.

Por outro lado, a imposição de altas taxas de tributação, ao mesmo tempo tornam a vida do cidadão comum mais cara e drena recursos para que um grupo de iluminados tome decisões por nós, de forma imposta. O Brasil escolheu ter ao mesmo tempo alta tributação (impostos) e baixo retorno desta imposição. O resultado é o que vemos: muito dinheiro centralizado na mão de governos, com a consequente tentação de usar o público para fins privados, dentro da lei (mordomias, vinhos premiados e lagostas) ou fora dela (petrolão, mensalão, etc).

Vivemos num país que nunca foi livre de fato.

Liberdade

A base da sociedade democrática e capitalista de hoje em dia está no cristianismo, mais amplamente, num sistema judaico-cristão de pensamento. Jesus desejava ardentemente que os pobres fossem ajudados, que amássemos ao próximo como a nós mesmos, e tudo o mais que está descrito nos Evangelhos. Coisas boas, “contra as quais não há lei”. No entanto, ele nunca quis que virássemos a mesa, e impuséssemos nada a ninguém – “não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito”, disse o Senhor.

Se os seres humanos fossem perfeitos, qualquer sistema de governo seria ótimo, pois na verdade seriam desnecessários. Cada um pensaria mais no outro do que em si, cada um faria ao outro o que quer para si mesmo, cada um consolaria ao outro, sem imposição, por bom coração. Isso não é verdade, ainda, e enquanto não o for, precisamos conviver com a inescapável necessidade de usar sabiamente a liberdade individual para o bem coletivo.

Daí a conclusão de que é necessário “usar o egoísmo e a ganância naturais do ser humano para o melhor resultado possível”. Conforme disse Adam Smith há tanto tempo”

Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor próprio, e nunca falamos das nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter”.

Adam Smith

O liberal progressista dirá que isso é um absurdo, e que temos que “fazer com que as pessoas pensem nos outros”; temos que “forçar as pessoas a serem benevolentes, e boas”. Há pessoas assim, claro, que pensam mais nos outros do que em si mesmas. Essa, contudo, não é a regra. A regra é que as pessoas pensem primeiro em si. Aliás, quanto mais pobres, quanto menos têm para dar, a tendência é pensar mais em si. São raros, infelizmente, os casos como da “viúva pobre” descritos por Jesus, que oferta ao Senhor seus últimos vinténs.

Maslow descreveu essa tendência lindamente em sua Hierarquia das Necessidades. Quanto mais básica e imediata é sua necessidade, mais rapidamente, e a qualquer custo, a pessoa quer resolve-la. Se alguém está se afogando, sem pensar leva consigo ao fundo do rio o amado colega do lado, na intenção de se safar. Se alguém está morto de fome, tentará de tudo para sacia-la (alguns, a qualquer custo). Ora, se isso é verdade, para que haja paz social é preciso que “Apelemos não à humanidade, mas ao amor próprio, e nunca falamos das nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter”. Se eu quero que alguém faça algo sempre, de bom grado, com qualidade, livremente, é preciso que o desejo dela esteja alinhado com o meu.

Por isso o socialismo não funciona: porque as pessoas são colocadas, de forma imposta, em posições que não querem, fazendo coisas que não querem, por um pagamento que julgam injusto. Não funciona porque o ser humano é intrinsecamente pecador e falho. Só isso.

Por isso é que quotas e ações afirmativas não funcionam: porque criam algo artificial, não voluntário, não sustentável, cujo fim é algum tipo de tragédia, mais cedo ou mais tarde.

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