Ressignificados e a Verdade

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Usando Comparações para atingir metas

Um amigo meu, um dos meus melhores e mais antigos amigos é membro da igreja de um famoso pastor, que se tornou ainda mais famoso esta semana por nos “ensinar” que a Bíblia precisa ser “ressignificada” pois ela “apoia a escravidão”, colocando em analogia, lado a lado, momentos descritos no livro de Deuteronômio, uns 2 mil anos antes de Cristo, com os escritos do Apóstolo Paulo, no livro de Filemon, 50 ou 60 anos depois de Cristo. A linha de raciocínio, e peço perdão se entendi errado, era:

  • Filemon era dono de um escravo fujão, Onésimo. Paulo o recebeu e falou “volte para seu ‘dono’“; Paulo então não tem “moral” para nos ensinar sobre escravidão, diante do fato de que ele, implicitamente, não condenou a “instituição” da escravidão;
  • Paulo não foi capaz de reconhecer algo que a Bíblia (que parte, onde, qual dos livros?) informa claramente: somos 100% iguais; nenhuma diferença entre um ser humano do outro;
  • Por via de consequência, não faz sentido que mantenhamos uma visão bíblica, que “aponta para a escravidão como aceitável” mas precisamos dar novo significado à Palavra.

Esta linha de raciocínio, qual seja, da possibilidade de que a Bíblia possa ser “atualizada” e “ressignificada” por conta do que pensamos e fazemos nos dias de hoje é então apresentada de uma forma alternativa. O referido pastor faz então uma “parábola” em que uma moça entra no gabinete dele, tendo sido estuprada, e ele aconselha os pais a ajustar um pagamento pelo que foi feito, e tudo estará bem (não creio que mencionou a parte de casar e ficar casado com a dita cuja). Dentro desse raciocínio, ele “informa” ao casal, pai da moça que está apenas “aplicando o que diz a Palavra”. O texto usado por ele usado foi retirado (não me lembro bem, mas recorrendo à minha Bíblia, achei o seguinte texto), de Deuteronômio:

“Se um homem achar moça virgem, que não está desposada, e a pegar, e se deitar com ela, e forem apanhados, então, o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta siclos de prata; e, uma vez que a humilhou, lhe será por mulher; não poderá mandá-la embora durante a sua vida.”

Deuteronômio 22:28-29

Obviamente que a metáfora usada para dar suporte ao fio do raciocínio carece de um entendimento sobre o fato de que Deus deu as Leis em uma época em que elas não existiam, como parte de um processo civilizatório. De lá pra cá, tanto os cromossomos X e Y continuam iguais, quanto a interpretação, tanto do Velho como do Novo Testamentos continuou igual para a infinita batalha dos sexos (quantos alguns achem que existam).

A Palavra diz que Jesus Cristo veio “na plenitude dos tempos”, ou seja, Ele veio a nós para nos dar uma posição imutável num mundo mutável. Contra certas coisas não havia lei, como disse Paulo, e ainda não há. Contra certas coisas havia lei e reprovação por parte de Deus, e ainda há.

A Bíblia defendeu sempre os papéis dos sexos, e Paulo nos ensinou, quando fala dessa relação, a parte que cara um “carece” mais:

  • Maridos AMAI vossas mulheres como Cristo amou a igreja;
  • Mulheres SUJEITAI-VOS a vossos maridos como ao Senhor;
  • Filhos OBEDECEI a vossos pais, porque isso é justo;
  • Pais NÃO IRRITEM os seus filhos.

Só se lê a parte referente às mulheres, mas se esquece que na prática o Apóstolo está tocando no problema, na dificuldade de cada um. Eu acho que se sujeitar a um marido é muitas vezes mais fácil do que amar a esposa como Cristo amou sua Igreja (e se entregou por ela). Fácil, nada disso é. Mas se todas as partes cumprirem o que está ali, a vida será toda de bênçãos, e ninguém vai precisar brigar com ninguém, nunca, por razão alguma.

Quando queremos, com belas palavras, fazer alguém acreditar em algo que é do nosso interesse, podemos até dizer a alguém “certamente não morrerás” se comermos de determinada árvore, usando a própria palavra do Senhor contra o ser humano, e sair feliz da vida por ter criado um problema enorme. Distorcer é parte do ministério de alguns. Peço a Deus que não seja o do referido reverendo.

Do Velho ao Novo

Todo o velho testamento, principalmente suas partes iniciais, são uma tentativa civilizatória, num mundo em que a violência era a ordem do dia. Pode-nos parecer ridículo e violento o “Olho por olho; dente por dente” (a chamada Lei de Talião, de onde vem “retaliar”), mas em vista do fato de que, por um olho, se matava toda uma família, reduzir o castigo ao tamanho da ofensa foi, à época, algo revolucionário.

Então o Novo Testamento “ressignifica” o Velho? Jesus Cristo se deu ao trabalho de “ressignificar” a Lei? O que ele mesmo fala sobre isso?

“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.”

Mat_5:17 

O Pai, representado no Filho, não veio para acabar com o que Ele mesmo instituíra, mas para mostrar com clareza que toda a Lei e os Profetas se resumem em duas regras de ouro: Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos.

Escravidão é só Pretexto?

Pela ordem apresentada, escravidão é a “pedra” Número 1 no raciocínio; estupro é a Número 2. Daí, um pulo até o homossexualismo (desculpem os olhos e ouvidos mais sensíveis, mas é como defino, ainda – estou apenas usando minha liberdade de expressão, sem querer ofender a ninguém).

Precisamos então, por decorrência “ressignificar” as relações homoafetivas. Observe-se que não se trata de amar quem é homossexual. Não se trata de receber com amor, carinho, sem julgar o ser humano. Não se trata de amar o pecador, mesmo deixando claro o que a Bíblia fala sobre o pecado em si. Trata-se de ressignificar – dar nova interpretação, à homoafetividade.

Mas o que mais me chamou atenção, em todo o sermão, foi a afirmação de que todos somos iguais e devemos permanecer iguais, e que é uma ofensa ao seu irmão que ele seja “subalterno” seu.

Eu confesso que minha primeira impressão ao ouvir isso é a de que eu deveria me sentir muito envergonhado por ser bem sucedido. O meu sucesso, que me levou a montar um negócio, contratar gente, pagar salário, etc, me leva a ser, da forma como dito, um cara que tem “subalternos”, “subordinados”, e a própria natureza dessas palavras, começadas com “sub” (debaixo) já denotam discriminação.

Como não cair de amores por uma palavra aparentemente tão bacana? Que argumentos existem ante isto:

  • Não somos iguais – não nascemos iguais, desde o ventre de nossa mãe, o que os biólogos evolucionistas (sic!) chamam de “loteria genética” já trabalha a nosso favor… ou desfavor. O fato é que uns já nascem com mais capacidade pulmonar, mais sinapses, mais músculos, mais beleza, e outros sem esses atributos. Isso por si só já seria suficiente para “ressignificarmos” a bondade de Deus. Ora bolas, um Deus que cria as pessoas tão fundamentalmente diferentes é um Deus mau! ou não? Claro que não. Deus nos ama igualmente e sim, somos perfeitamente iguais perante o Senhor, porque “olhando dos céus à terra não viu nenhum justo; nem um sequer”. Somos iguais porque eu, do tamanho que sou, não conseguiria identificar que uma célula sanguínea do meu corpo é maior ou menor que a outra; Somos iguais pelo amor do Senhor, não pela minha relativa qualidade em relação ao meu semelhante.
  • Sucesso não é pecado – Este é um argumento típico da esquerda mundial, e foi argumento da Igreja Católica por muitos anos. Partindo do pressuposto de que economia é uma equação cuja soma é zero, logo se alguém prospera, alguém está sendo “lesado”. Marx usou isso muito bem, para que inocentes úteis, até hoje, inclusive de nossos púlpitos, pudessem macaquear suas palavras com confiança de quem não entendeu nada da dinâmica da criação do bem estar. Se eu consigo fazer com que um grupo de pessoas se sinta inferiorizado em relação a outro, consegui uma cunha ideal para separar a sociedade em grupos, e vender meu peixe – tire de quem suou e conseguiu, pois acima de tudo, se todos somos iguais, ele não tem direito sequer ao que é seu, mas todos somos “donos de tudo”;
  • Igualdade de Oportunidades não dá a todos a mesma chance de vencer – Como sociedade devemos prover a todos a chance de vencer. Mas não podemos garantir que todos vencerão. Se fazemos isso, eliminamos a competição (ah, competir não é saudável. É antibíblico, diriam alguns). Competir é parte do processo de se manter em forma – a competição começa conosco mesmo, todos os dias, acordando cedo, trabalhando, fazendo nosso melhor. Eu creio que se você hoje pegasse toda a riqueza mundial e dividisse igualmente por todos os habitantes, em 1 ano a desigualdade seria igual ou maior do que antes. Creio que mesmo que pegássemos somente pessoas do mesmo nível sócio-intelectual e fizéssemos o mesmo, o resultado seria parecido. Em síntese, a linha de chegada não depende da linha de partida.

A quem cabe Ressignificar?

Finalmente, quem tem condições de “ressignificar” o Livro Santo? O que a Palavra de Deus fala sobre isso?

  • E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei.” Luc_16:17 
  •  “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” Mat_5:18
  • …pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade.” 2Co 4:2 
  • “... a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada.” 1Pe_1:25
  •  “…por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão.” 1Co_15:2

Mas mais importante:

“Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro. E, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que estão escritas neste livro.”

Apocalipse 22:18‭-‬19

É fácil falar, hoje de escravidão, pois está quase totalmente extinta no mundo civilizado, e só persiste em locais onde o Evangelho, ou sua influência, não entraram. Só se fala do fato de que alguns “reverendos” (igualmente iluminados no desejo de fazer sua visão da bíblia prevalecer) que usavam o Velho Testamento para justificar a escravidão dos negros no sul dos EUA. Acabaram por ajudar a provocar uma guerra.

É uma memória bastante seletiva aquela que não lembra que foi justamente o Senhor, no Seu poder, que convence William Wilberforce a trabalhar com o 1o. ministro Pitt para acabar com o tráfico de escravos no Reino Unido (o líder mundial da época). Foi um ex-traficante de escravos, John Newton, que depois se torna poeta e pastor, a declarar:

Amazing grace! (how sweet the sound) / Maravilhosa Graça! (quão doce o som)
   That sav’d a wretch like me! / Que salvou um desgraçado como eu!
I once was lost, but now am found, / Eu uma vez estava perdido, mas agora estou achado,
   Was blind, but now I see. / Era cego, mas agora vejo.

John Newton, 1779, “Amazing Grace”

Não tenho dúvidas de que muitos empreenderam tentativas de “ressignificar” a bíblia com boas intenções. O fato é que sempre terminamos em tragédias ao fazer isso. Sejam elas pessoais ou coletivas. Afinal, delas, o inferno está cheio.

Não me assusta, porém, que tenhamos tido uma reação tão rápida e tão precisa sobre o tema tratado pelo referido pastor. Afinal, quem conhece a Palavra sempre vai entender que algo soa mal, e vai reagir a isso. Não se trata aqui de interpretar um ou outro aspecto de forma diferente. A isso estamos acostumados, e não nos assusta. Porém, somos unidos na centralidade daquilo que realmente importa.

Que Deus continue abençoando a Escola Dominical, pois é através dela que muitos de nós consegue enxergar esse tipo de coisa tão claramente.

4 comentários em “Ressignificados e a Verdade”

  1. By the way: Estou cancelando minha assinatura na “Gazeta do Povo” agora. Motivo?
    Recebi uma mensagem de lá me convidando para participar de um “CURSO ONLINE” : https://especiais.gazetadopovo.com.br/cursos/paulo-cruz-religiao-politica/.
    Vejam do que se trata o tal cursinho “Religião e Política, uma relação perigosa”.
    Tive a paciência de abrir todos os “sábios escritos” do tal professor para tentar “decifrar” o propósito da proposta em difusão. Ao final, encontrei uma interessante postagem de um que explica seu arrependimento por ter votado em Bolsonaro, um tal raso, ou melhor, Razzo…

    1. Olá Seu Beto. Não acho que seja legal. Se você ler o teor do curso vai ver que é bem centrado e inteligente… A GP é o melhor jornal que tem por aí, junto com a Revista Oeste…

      1. Somente hoje pude voltar e ver o seu comentário último sobre o tal curso.
        Não discuto e nem discuti o teor do curso em si…
        O que me deixou decepcionado foi a parcialidade transparente do tal Razzo.
        Possivelmente devo ter errado ao arremessar o meu descontentamento contra a GP e não ter atentado para o fato de que o “raso” não seja necessariamente um dos membros da sua equipe, mas simplesmente um ser qualquer que expressou a sua opinião a respeito do atual PR.
        Claro que eu não deveria ter deixado transparecer qualquer forma de apoio incondicional ao senhor Bolsonaro, já que algumas das suas falas são sim questionáveis e muito.
        O que não consigo é deixar passar a minha frustração pelas constantes atitudes de inúmeros antipatizantes com “o homem que ocupa o cargo”, e que pouco pensam na Pátria.
        Ouvindo e lendo a mídia desde a campanha eleitoral até os últimos momentos, verifica-se que querem nos fazer esquecer o verdadeiro país que esse atual coitado recebeu para governar.
        MAS aceito sim a sua crítica sincera.

        1. Em que pese sua sempre sábia ponderação, peço que dê uma chance ao Jornal. Conheço a estrutura deles. São (os donos) da Opus Dei, e como tal eu os respeito (senão pelo catolicismo em si) pela disposição de lutar contra uma horda de bárbaros marxistas que nos invade dia a dia, colocando em risco o melhor modo de vida que o ser humano encontrou, até o momento… e troca-lo por “Kaos”…

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