
Não sou (mais) assíduo frequentador de mídias sociais, como já fui. Facebook e Instagram pra mim já não são “literatura do dia a dia”. Apenas o LinkedIn permanece, por ser mais técnico e profissional, e, portanto, mais ao meu gosto, para o dia-a-dia. Mídias sociais passaram a ser algo mais de brincadeira do que forma de me comunicar. Apenas envio o link dessas minhas mal-traçadas linhas, para deleite (ou irritação) de meia dúzia de amigos queridos.
Hoje, porém, fui olhar o FB. Apareceu um link de uma publicação do Osvaldo Eustáquio. Deu um like… pensei duas vezes… deslikei…
Apareceu um link de ‘Friends of Israel Global Movement’. Amo Israel, lugar que adoro visitar, por razões de estética e raízes (judaico-cristãs). Ia dar um like. Nem me dei ao trabalho de likar e deslikar…
De vez em quando bate um desespero por me expressar por algo que entala a garganta, como essas reportagens que dão conta de que o USAID foi desmantelado por “fascistas” que não tem empatia pelo próximo. Comento, e sinceramente começo a me perguntar se devia ou não.
Medo
Sim, tá batendo medo. E não creio nem por um momento que a eleição de Trump e as atividades de Musk frente ao DOGE (Departamento pra cortar gastos públicos nos EUA) vão nos salvar da onda de cerceamento de liberdade de expressão. O medo é que, à medida em que meus posts alcançam mais gente, fico mais exposto à fúria de alguém que resolva me cancelar, expondo minhas visões, minha família, minha vida pessoal e profissional.
Cá entre nós, do ponto de vista, digamos, mais alinhado com nosso Executivo de hoje, eu realmente “mereço”. Afinal sou (quase) branco, conservador, vou à Igreja mais do que 99% da população, dou até aula em Escola Bíblica Dominical e não gosto de fugir de debates. Sou, portanto, alvo fácil para ser chamado de fascista, nazista e terraplanista. Slogan em mim pega fácil.
Então bate o medo, e com ele a pergunta: Por que? Por que estou com medo? Será que meu medo tem a mesma fundamentação daquele medo que a esquerda radical dos anos 60 e 70 tinha dos militares? Será que tenho o mesmo tipo de medo que, digamos, Dilma, Genoíno ou Dirceu tinham? Que Lula devia ter, durante suas greves no ABC?
O Medo de Hoje
Não podemos duvidar que aquele povo do MRI, VAR-Palmares et tal tinham do regime militar. Era real, e tinha fundamento. Estavam “lutando” por aquilo que criam correto (e ainda creem). Dirceu ainda pensa igualzinho do que há 50 anos – que o correto é um governo grande, dono de tudo, e que o cidadão não tem capacidade de se governar e que, portanto, precisa da tutela do Estado. Mas não do Estado militarizado de então: um estado grande, provedor, coletivista e “paizão”. Criam, e talvez ainda creiam, numa utopia socialista.
Dou a eles o direito de pensar como queiram. Creio que o medo deles era fundado. Apenas creio que os métodos que usavam eram, digamos, um tanto radicais, como fazem prova os sequestros de embaixadores, “expropriações” (leia-se assaltos à mão armada), entre outras atitudes.
Em tempo, talvez o ato de maior vilania perpetrado por mim tenha sido surrupiar os deliciosos pastéis que minha Nonna, Gentilina Montechiari, fritava no dia de ano novo na minha cidade, Cordeiro. Não posso portanto me comparar com os “heróis” da resistência ao regime militar. Portanto, meu medo deveria ser menor, pois apenas cometo “crimes de opinião”.
O medo de hoje, eu creio, está plenamente justificado. Alguém me disse outro dia que era moda o povo que votava na ARENA (partido dos milicos antes da redemocratização) não se sentia mal porque concordava com o regime; dessa forma, a gente tinha passaporte, ia e vinha, falava (quase) tudo o que queria, comprava, vendia, e até prosperava; tinha direito a propriedade e não era incomodado em (quase) nada. Ora, era uma ditadura, sim; branda, boboca, mas ditadura. Explicava-se pelo contexto da Guerra Fria, mas era ditadura.
A natureza do medo de hoje vem da certeza que temos de que não teremos quase ninguém para nos apoiar quando formos enredados em algum inquérito secreto, sem o devido processo legal, e metido num Gulag qualquer no Planalto Central ou outro lugar. Meu medo particular advém da certeza de que não estamos em guerra fria, como antes, mas em algo muito pior e mais insidioso. Algo que transcende o mero direito de ir e vir; algo que cassa passaporte, expropria conta corrente, coopta o legislativo e mantém o judiciário em um poder que não deveria ter.
O Medo de Amanhã
De novo, não me iludo que os Trumps ou Musks da vida vão, em longo prazo, me ajudar a perder o medo e falar – errado, certo, de boa, xingando – o que der na telha. Não podemos mais. Nem deputado e senador pode.
Me refiro ao medo que terei amanhã. Será que perderei meu patrimônio, juntado ao longo de décadas de trabalho árduo e honesto? Será que perderei a liberdade de ir à igreja? Será que perderei a liberdade simples de contar uma piada – ainda que de mau gosto? Será que não terei mais o direito de falar algo que alguém não goste, e eu possa ser cassado/sancionado/cancelado por isso?
Eu não tenho mais o direito de dizer que não gosto de algo ou alguém; não tenho o direito de dizer que creio que aborto é assassinato, que creio que o cristianismo é a única religião verdadeira (sem tirar de ninguém o direito de achar o mesmo da sua), de achar que ser conservador é manter um mínimo de ordem e decência, aprendendo com o passado as lições duramente ensinadas, e hoje esquecidas?
Terei que achar bonito um homem vestido de mulher, se declarando mulher? Terei que achar que existem dezenas de gêneros, e que um ser humano pode se identificar com um cachorro? Vejam bem, não estou querendo com isso retirar o direito de ninguém se vestir de querido pônei e relinchar. Faça-o à vontade, desde que não exija meu apoio. Posso perfeitamente não gostar de alguém por suas posições na vida, por mais esquisitas que sejam, e não querê-la morta ou cancelada. Live and let live…
O Medo do futuro repousa na “suposta” piada de Millôr Fernandes sobre o homossexualismo, nos anos 80:
“Antigamente o homossexualismo era proibido no Brasil. Depois, passou a ser tolerado. Hoje é aceito como coisa normal… Eu vou-me embora, antes que se torne obrigatório.”
Millôr Fernandes
Suposta, porque hoje, infelizmente, verdadeira. Já não preciso sequer proibir ou tolerar. Hoje é necessário ter como obrigatório o apoio a pautas como aborto, troca de gêneros, etc.
Não odeio homossexuais. Nada disso. Na verdade tenho amigaços que amo de paixão e que não são “cis”. Nada disso me impede de ver o fenômeno da homossexualidade à luz de princípios que guardo e que creio sagrados.
Não odeio quem abortou, aliás, me penalizo e tenho tristeza profunda pelas circunstâncias que levam alguém a achar normal matar uma vida completa, antes de nascer. Mas não preciso achar bacana que a Planned Parenthood (BEMFAM, por aqui) vendam a ideia como parte de uma política de saúde pública.
O Medo de Sempre
No fundo, a inspiração ao medo, venha de onde vier, é sempre sobre como obter controle sobre o outro, como exercer poder. Desde a Inquisição e seus Autos-de Fé até as Caças às Bruxas, e as decapitações de “infiéis” em praça pública por gente de turbante e mau humor, o objetivo sempre é controlar o outro.
O medo é que a pessoa pense por si só, e tente exercer seu direito de pensar. O já citado Millôr costumava escrever no Pasquim que:
“Livre pensar é só pensar”
Millôr Fernandes
Sim, o próprio ato de raciocinar tende a levar a pessoa, independentemente de seu grau de instrução, a refletir sobre algo. E independentemente das conclusões chegadas, é melhor do que a alternativa.
O medo do futuro, pra mim, passa pelo enredo do filme dos anos 90 chamado “Idiocracy” em que um cara que en 2006 era considerado meio burro é congelado e acorda em 2515. Lá, se dá conta de que, mesmo com um QI de 90, se tornara o homem mais esperto do mundo. Ele não melhorou nada. O mundo é que ficou mais idiota. A ponto do “presidente dos EUA” criar uma fome no país porque achou que molhar o milho com água era um desrespeito com a planta, e que essa deveria ser regada com Gatorade…
Tem muito político regando milho com Gatorade hoje, e tem milhares aplaudindo o feito.