Medo Social

Este é mais um daqueles meus posts que cumprirá um papel de me lembrar no futuro, de minhas conclusões sobre problemas do presente. E as conclusões estão um tanto longe do fato, tragédia, em si.

Assim como lá perto da minha terra, em Nova Friburgo, RJ, que em 2012 presenciou um “massacre” ambiental que levou a vida de mais de mil pessoas, por conta de chuvas tão avassaladoras que deixaram os meteorologistas de boca aberta, vimos esta semana o Rio Grande do Sul ser assolado por um fenômeno raro, e mais raro ainda deveria ser: uma queda de água sem precedentes, causada por um fenômeno que juntou uma massa úmida da floresta amazônica com um ar frio vindo da Argentina, como acontece todo outono. Como resultado, Porto Alegre ficou embaixo d`água, dezenas de mortos, milhares de desabrigados, gente sem água potável nem comida.

É uma tragédia. Mas para mim, não foi a tragédia de mais longo prazo. O Brasileiro, como sói acontecer, “caiu dentro”, apoiando, ajudando, fazendo doações, fretando aviões, levando água, comida, roupas e tudo o mais que a sociedade pode e deve dar nesses momentos em que nossos irmãos passam necessidade. Lindo de se ver, e independente de governos e autoridades. Mais rápido, voluntário, e certamente custando uma fração do que as “otoridades” conseguem fazer.

Medo

O depois está sendo mais doído e mais difícil de entender, mas posso concluir que deriva de uma parte da população que tem sido alimentada em um sentimento de direitos adquiridos indevido, e de certa forma, em detrimento da população em geral.

  • Grêmio – O clube de futebol abre as portas de seu lindo estádio para abrigar refugiados, apoia com água, comida, recebe as doações, faz o que é seu “dever cívico” (sim) mas com grande senso de dever social. O resultado é que parte, “aquela” parte da população cujo bem estar está acima de qualquer sentimento, invade as lojas do clube, quebra e rouba as vending machines, destrói cadeiras… talvez sejam torcedores do Inter, e achem isso “legal”. Mas é mais do que isso… certamente mais.
  • Saques – De novo, os “oprimidos” saem às ruas, enquanto a população se preocupa em salvar o que pode, para quebrar portas de lojas e mercados, e roubar. Comida? Pode ser também, mas as notícias dão conta de saques mais “seletivos”, de TVs, notebooks, e otras cositas más.
  • Assaltos – Uma organização cristã estava arregimentando gente pra ir apoiar no socorro a Porto Alegre. São homens, em sua maioria, e que fazem um treinamento intenso de sobrevivência, junto com uma jornada bacana pela fé em Cristo. Foram tomados de surpresa quando a liderança anunciou para “ir somente quem tem porte de arma” devido ao nível de bandidos à solta, cometendo crimes contra uma população já fragilizada.

Tá bom pra você? Ou acha sensacionalismo?

Repressão

A palavra acima suscita arrepios em correntes mais “libertárias” e “wokes” da sociedade, aqui e mundo afora. Reprimir, afinal, é o que dizem que a sociedade fez ao longo de séculos, criando um odiado patriarcado, e uma sociedade em que “é bom proibir”. Até que o “É proibido proibir” tomou conta da vida de todos nós.

  • Família – O pilar central da sociedade foi perdendo aos poucos o direito de educar, e dar uma boa palmada no traseiro de um filho rebelde. Claro, os exemplos de espancamentos são usados contra os pais que só querem, por amor aos filhos, faze-los sofrer menos no futuro. O resultado é uma família em que os filhos mandam (e mamam) nos pais. Os pais mandam então os filhos para o ponto seguinte do processo de “repressão” (segundo os wokes) sem um mínimo de respeito pelo outro, de respeito por si mesmos, e disciplina zero.
  • Escola – A escola então recebe um aluno que já tende a desrespeitar tudo e todos. Até um passado recente, a escola tentava tapar a lacuna de famílias desestruturadas e dar um pouco de disciplina e educação (no sentido não acadêmico) – falhar em provas, repetir de ano, ser levado ao “gabinete” do diretor, eram formas de tentar, ao menos, dar um mínimo de senso de convívio social. Não mais. Escolas se tornaram polos progressistas de transformação do que já vinha ruim, acabava por piorar
  • Governo – Todo governo, qualquer governo, que toma uma medida, meia boca que seja, no sentido de dotar a sociedade de meios de controle, é taxada de fascista, e ditatorial. O ex-ministro da justiça Sérgio Moro, em que pese sua burrice política extrema ao comprar briga com o chefe do executivo (convenhamos, não era também nenhum gênio), desfez um trabalho extremamente útil à sociedade, que foi o de acabar com uns tais “diálogos cabulosos” com a marginalidade. Por ego, talvez, colocou a perder o que teria sido seu maior legado: uma sociedade com menos poderes na mão de bandidos.

De novo – posso ser taxado de extrema direita pelas opiniões acima? Estou errado? Pode ser. Sempre estou disposto a admitir, desde que com boas razões. Não creio – neste momento de crise, pelo menos – que eu possa me sentir assim.

Legado

O resultado está diante de nós, na forma de uma sociedade cuja pior parte está armada, e pronta para cometer crimes contra uma maioria que só quer comer, dormir, trabalhar, procriar e fazer uma ou outra festa, quando der. Uma maioria esmagadora de gente que não está disposta a abrir mão de sua tranquilidade em troca de sensações de bem estar pessoal (leia-se, justiça própria).

Joaosinho Trinta dizia com propriedade que

pobre gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual“.

Joãosinho Trinta, carnavalesco

Sabedoria vindo de onde menos se esperava, sob forma de um aforismo que, creio, todos deveriam ler corretamente: pobre gosta de luxo, de estar bem, de ter coisas boas; intelectual adora a miséria – alheia, e luta para ter uma plêiade de miseráveis a quem pastorear.

O resultado é uma sociedade dominada por minorias: de corruptos, de bandidos, de intelectuais pró-miséria, de artistas woke ganhando suas benesses à lá Rouanet, todos, sem exceção, apontando o dedo para o “pequeno burguês”, o “capitalistazinho selvagem” cuja principal preocupação é trabalhar duro e não perder, seja para ladrão, seja para inflação, o que consegue juntar ao longo da vida.

Como sempre, este post é dirigido a mim mesmo, mas compartilho com quem quiser ler. Depois de uma temporada de balanços patrimoniais, me volto a escrever um tantinho. Deprimido de tanto ver erro e mal feito, e esperando nada ansiosamente o momento em que serei “descoberto e cancelado” porque, secretamente ou nem tanto, gostaria mesmo é que todo mundo fosse paupérrimo – exceto a si mesmos.

Deus nos acuda!

Sobre amigos e envelhecer

Manchete do O Globo nos anos 20 lia: “Anciã de 42 anos encontrada morta em sua casa em Santa Teresa“. Pois é, acabei de cumprir 59 anos e falta unzinho pra eu me tornar oficialmente ancião, pelo menos apto a usar vagas de idoso, demarcadas pela Prefeitura de Curitiba.

Ninguém se iluda. No dia 17 de dezembro do ano que vem, se vivo estiver, entro no site da prefeitura e peço minha carteirinha, coloco no parabrisa do carro e vou frequentar vagas exclusivas nos shoppings da cidade, com muito orgulho.

Há várias razões para isso, mas listo duas que são mais caras para mim.

Amigos

A despeito de talvez não ser o melhor amigo do mundo, tenho grandes amigos; os melhores do mundo. Da minha mãe, meus irmãos, tias e tios, meus filhos, minha esposa, sobrinhos e amigos antigos e novos, sou feliz por não andar sozinho e ter a casa quase sempre cheia. Gosto disso. Não é nem que eu seja lá muito festeiro, mas porque gosto de ter gente em volta – festa ou não. É uma espécie de celebração da vida e do contato. Dizem que envelhecer sem amigos encurta a vida, e se for essa a razão, espero que Deus me dê muitos amigos novos e me mantenha os antigos. Lá na frente, os amigos véios vão morrer, como já morreu meu amado pai, já faz dois anos.

Amigo é coisa realmente pra se guardar. Às vezes a gente perde amigos. Recentemente perdi um, que amo muito, e ainda me indigno com o fato, e pelo fato de não ter tido a menor influência sobre o assunto, nem ter contribuído voluntariamente pra isso. De repente o amigo simplesmente achou que já não valia a pena andar comigo. Pena, muita pena, mas respeito à escolha alheia. Se voltar, encontrará o amigo cá, com muitos defeitos (talvez os mesmos que levaram à separação) mas com os braços abertos.

Normalmente – e diria em raríssimos casos – eu me desfaço de amigos. Eu acho que se amizade fosse um fator derivado de alguma vantagem que se leva por andar junto, teria outro nome. Tem que aturar mesmo, com dificuldades, chateações e bobagens que a existência de qualquer um de nós traz. Todo mundo tem bafo, às vezes, todo mundo mente às vezes, todo mundo tem algum tipo de vício (uns mais visíveis que outros), enfim, todo mundo pensa diferente aqui e acolá. Não se pode descartar alguém por defeitos – exceto, talvez, por traição ou maldade. Mas nem assim a Bíblia usa argumentos contrários à amizade:

Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão. 

Provérbios 17:17

E é isso aí… em todo tempo. Em meio a dificuldades, pensando diferente, crendo diferente.

Tenho certeza que com amigos minha velhice será mais suportável.

A outra razão para eu curtir envelhecer

O Lado de lá do Rio da Vida

Ou a gente envelhece ou morre antes. Essa já seria uma excelente segunda razão pra curtir envelhecer. Morrer antes, como a “anciã de 42 anos” não é uma coisa tão legal assim. Claro que hoje, aos 59 anos, tenho talvez uma saúde melhor do que tinha 10 anos atrás, quando tinha pressão alta, pré-diabetes e 130Kg. Claro que há quase 100 anos atrás, uma pessoa de 42 anos teria condições físicas e mentais talvez piores do que alguém de 70 anos hoje.

Malho 4, 5 vezes por semana, com parcimônia mas persistência, e a única coisa que me incomoda é gostar mais de vinho do que eu deveria… estou tratando do tema… eu e Deus.

Tenho ainda alguns anos de vida profissional pela frente, e anseio pelo dia em que poderei me aposentar do que faço hoje, e continuar a fazer basicamente o que faço hoje para Deus, exclusivamente, num ministério qualquer que Ele me dê. Mas não vou ficar esperando o tempo passar sem fazer nada. Não é do meu estilo. Estou talvez mais preguiçoso do que nunca, mas ainda não acho que eu tenha perdido a vontade de aprender, de ler, de pensar e escrever. Ainda consigo me indignar com o estado das coisas, do mundo, e tentar contribuir de alguma forma.

Mas o que realmente me dá alegria de envelhecer é que a cada dia que passo, estou mais perto de encontrar meu Salvador, aquele que me dá sentido à existência e me faz saber que sou amado, com um amor sem fim. Essa alegria passará o Rio da Vida comigo, quando estiver na hora de ir. De vez em quando me pego pensando no outro lado, em como o Senhor me receberá, as “broncas” que tomarei pelos zilhares de erros cometidos, e pelos acertos que também consigo identificar e me orgulhar por eles.

Essa perspectiva vai tomando forma, e em vez de me assustar, vai me moldando. A expectativa é grande pelo que ainda vou realizar aqui, seja em mais 1, 10 ou 100 anos (!), mas sei que o Outro Lado é muito mais bacana. Ver meu Senhor, rever meus amados, principalmente meu amado Ettore, o Tóia, filho que me dá uma saudade imensa, me acalenta o coração.

Não pensem que este pequeno escrito é triste. NÃO é. É extremamente positivo e alegre. Quero a cada dia, dos que me restam aqui, ser cada vez mais alegre, positivo e contente com o que Deus me dá.

Ontem na igreja (17/12/23) tive a oportunidade de falar à comunidade no momento do ofertório. Me veio à mente uma conversa que tive com o Pastor Marcelo logo antes do culto começar. A colocação do pastor é “como é que tem gente que sempre quer mais riquezas”… eu usei então a famosa frase do J.P. Morgan quando indagado por um repórter sobre “quanto era suficiente“. Ele respondeu, talvez com muita sinceridade: “só um pouquinho mais“. Sincero, porém certamente triste. O pouquinho mais toma nossa mente e nos escraviza. Eu quero o que o mesmo Salomão disse, agora e na velhice:

…não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus. 

Provérbios 30:8-9 

Isso também me libertará as mãos para conseguir me alegrar nos dias que serão certamente os mais desafiadores, fisicamente, mas quase certamente os mais recompensadores para a alma.

Em síntese, amigos, se Deus permitir, serão a minha luz diária para continuar vivendo, até que Ele queira que eu vá.

De novo, nada de soturno aqui, nem estou tentando lançar um véu de tristeza sobre o restante da existência. Ao contrário, uma posição bem mais leve e alegre do que tive até hoje da vida. So help me God…

Um Deus justo

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Seguindo a “saga” começada com as provocação que geraram meu último post – “Indo pro Inferno”, fui cutucado pelo grupo de amigos, que denomino carinhosamente de “chatos-pensadores” para simplificar, com a nova proposição abaixo, e que, embora já menos ateia/agnóstica, ainda goza de um caráter de dúvida quanto ao Deus que sirvo. Como provocação é provocação, e entre amigos provocação deve virar resposta de bom humor e paz, lá vai:

Se Deus é justo, ama seus filhos e acreditamos que fazer o bem nos aproxima de Deus, porque tem tanta gente boa que é azarada ou que passa a vida sofrendo?

Amigo cristão chato

A citação acima se chama “O Problema do Sofrimento” e foi endereçada por filósofos e teólogos ao longo dos séculos. Na verdade, o primeiro livro da Bíblia, Jó (cronologicamente) endereça o assunto. Jó começa a sofrer feito um condenado, mesmo sendo considerado um “homem bom”, temente a Deus, ou seja, um modelo. Daí em diante a coisa degringola. O sujeito perde os filhos, os bens e a saúde. Só não perde a mulher, que no finalzinho das contas ainda lança na cara dele a seguinte pérola:

Então, sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus e morre.

A Mulher de Jó (a megera nem nome tinha) – Jó 2:9

Ora, crer nesse Deus aí é bobagem! Você é sincero com Ele e Ele faz isso contigo? Melhor amaldiçoá-lo. Daí ele te mata e a coisa se resolve.

Mais recentemente, no seu livro “Decepcionado com Deus”, Phillip Yancey aborda a mesma questão, sob a ótica do mesmo Jó, e que é, no fim das contas, uma questão universal: por que raios, um Deus “amoroso”, permite que suas criaturas passem por sofrimento e dor? Phillip Yancey é surpreendentemente franco e honesto ao abordar a questão, e diz, com sinceridade, que é uma dúvida ao mesmo tempo válida e digna de se expressar. Expressar A Deus, e não SOBRE Deus. Em síntese, se vai se queixar, queixe-se a Deus.

Trocando em miúdos, Phillip Yancey afirma que a fé e a confiança em Deus não são incompatíveis com dúvida e decepção. É importante, na visão dele, se aproximar de Deus de forma honesta e sincera. É em Deus que se encontra consolo, não longe dele.

Chatonildo e a Pergunta que não quer calar

Mas isso não aborda a questão central que me foi proposta pelo Chatonildo. Ele quer saber do problema do sofrimento em si. Católico que é, ele sabe que o homem sofre e que Deus não é “o causador” nem “o responsável” por esse sofrimento (espero estar certo!).

O problema é ver gente má, gente “do mal” que nem pega uma gripezinha, e gente que faz o bem a vida inteira, trata os outros com inteireza e honestidade, que é incapaz de matar uma mosca, e que vive de mal a pior.

Isso é tratado em Jó, claramente. Os amigos dele trazem à baila um suposto “ato ruim” que ele teria feito para estar sofrendo. Era uma visão de mundo da época, bem judaica: se você está sofrendo, algo você fez. O que o livro de Jó trata é justamente do fato de que NÃO é assim que a banda toca. Ao fim do seu sofrimento, Jó exclama:

Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos. 

O próprio Jó, depois de sofrer, queixar-se a Deus, e finalmente ouvi-lo – Jó  42:5 

Há que se passar por certas experiências para poder apreciar o versículo acima. “Eu sabia que você existia, eu até te ouvi, mas agora, depois dessa Farra do Boi no meu couro, meus olhos finalmente te VEEM”. E Jó diz, daí que “se arrepende no pó e na cinza. Os judeus se cobriam de pó e cinza, rasgavam as roupas e choravam, para demonstrar arrependimento. Jó se arrependeu, mesmo não tendo feito nada que desagradasse a Deus. Se arrependeu somente por duvidar da majestade e bondade infinitas de Deus.

Eu passei, junto com minha família, por uma determinada situação que, se não foi nem 2% do que Jó passou, foi tão dolorido que até hoje deixou marcas em mim, na minha esposa e filhos. A perda de um filho é uma coisa tremenda, e confesso que não consegui dar uma de Jó, em todos os momentos.

No final dos 11 anos e meio de tormento, Deus deu descanso a meu filho. Nossa vida seguiu, e restou saudade, onde antes havia mágoa com Ele.

Ora bolas, no fundo da pergunta – “por que o cara ruim não sofre”, há uma situação que começou errada: a própria pergunta. Por que me importo com o outro? Por que me comparo com o outro? Por que a vida boa do cara mau me chateia? Serei eu o julgador do alheio? Jesus Cristo disse:

Não julgueis, para que não sejais julgados…

Mateus 7:1 

A pergunta é “judgmental” desde seu início, e eu não deveria sequer fazê-la. Como cristãos, católicos, protestantes ou de qualquer matiz, somos chamados a não julgar, e amar “os vossos inimigos; os que os perseguem” (Lucas 6:35). Portanto, a pergunta não cabe, e não deveria ser feita por cristãos.

Mas vamos endereçá-la de qualquer forma: Quem julga o ímpio e o homem “do mal”? Deus o julga diretamente. Eu até posso confrontar as atitudes de alguém com a Palavra, e ver que o que o cara faz tá fora da regra (“Pode isso, Arnaldo?”). Não pode, mas faz. Quem vai julgar? Eu? Ou o juiz, em campo? Nosso juiz nem precisa de VAR. Tem o tempo em Suas mãos e conta até os cabelos de nossa cabeça.

Tenhamos todos a certeza de que no momento certo, da forma certa, ímpios e “bonzinhos” serão trazidos a juízo por suas obras. Mas também não nos esqueçamos de que, a Seu tempo, Deus mandou Jesus Cristo, Seu filho para morrer pelos meus e pelos seus erros. Nada é mais aliviador, para uma existência miserável, ou boa, do que essa certeza.

P.S. – Amigo chato, desculpe tê-lo chamado de chato! É amor…

Apátridas

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Seu João, o Apátrida

O avô da minha esposa, Sr. Jon Friesen, era de origem alemã, menonita. Nasceu na Sibéria Central, Rússia, no início do século XX. Com o advento (tragédia) da Revolução Bolchevique, os menonitas, cristãos, tiveram que se mudar de lá, fugidos, atravessando o Rio Amur, da Sibéria para o norte da China. Toda a família foi – pai, mãe, filhos, tios, tias, primos, e tudo o que tinham de possessões terrenas, em cima de carroças com esquis, feitas trenós. Passaram quatro anos (acho) para atravessar toda a China, então um “protetorado do Reino Unido”, até chegar a Shangai, e de lá num barco para Marselha, na França, onde uma sociedade de apoio aos migrantes menonitas os indicou dois destinos possíveis – Brasil ou Canadá. Parte da família escolheu Brasil, parte Canadá. Até hoje existem menonitas de nome Friesen (que é bem comum) em ambos os locais, aparentados.

O Sr. João (o Jon ou Ivan) entrou no Brasil como “Apátrida”, com um documento emitido pela Liga das Nações (creio, também), antecessora da ONU. Tive esse documento nas mãos, e creio que meu sogro, Heinrich Friesen, ainda deve ter em algum lado, ou a Tia Gertrude Friesen Dyck. Foi meu primeiro contato direto com o termo Apátrida – “sem pátria”. Ora, Seu João, a quem conheci bem, nos anos 90, tinha cara de “russo”. Falava um tantinho de russo, além do Alemão (Hoch Deutsch – o “Alto” Alemão, de Goethe e Schiller) e o Plötisch (ou Platt Deutsch, “alemão amassado” (Sic!) ou dialeto dos “alemão russo” como falam ainda hoje aqui perto, na colônia menonita de Witmarsum). Era russo, mas não era russo. O pai nasceu, até onde sei, na Península da Criméia, que já foi Rússia, já foi Ucrânia, já foi Rússia, já foi Ucrânia… e hoje é Rússia, de novo, meio que na marra). Não era Ucraniano. Não era Alemão (Friesen significa originário de Friesland, que tem Ost-Friesland e West-Friesenland, região do norte da Alemanha e Holanda, de onde vem a mistureba que chamam de Plöttisch…).

Seu João nunca se naturalizou brasileiro. Morreu Apátrida, portanto. Bom, eram os tempos dos documentos de papel, dos passaportes falsificáveis (hoje ainda são…) e das encrencas de fronteiras, que ainda existem naquela parte do mundo. Ao que me consta nunca teve problemas aqui. Aqui casou, criou os filhos, possuiu terras, e até se aposentou, e morreu. Está enterrado na Colônia Nova, em Nova Aceguá (antigo distrito de Bagé-RS) e em paz descansa, com o Senhor.

Da Sibéria para a Nicarágua

Ser apátrida por contingências é algo triste, até certo ponto. Depende de uma nação acolhedora, como eram o Brasil e o Canadá de então (e ainda são) para receber e dar uma vida digna a esses imigrantes pobres e sem bandeira.

Ser apátrida por decisão de um Estado Nacional é coisa que dificilmente se vê. Eu vejo histórias de “banimento” feitas por monarcas absolutistas de até o Século XVIII. Depois disso nem sei se o fato voltou a existir. Os absolutismos foram sendo reduzidos e os banimentos se tornaram muito raros. Depois da 2a. guerra mundial, nem sei como anda isso. Não sou expert em política migratória internacional, mas tendo a pensar que quase nada assim acontece. Nações desenvolvidas acabaram com isso.

De repente, surge um sujeito do 3o. mundo, com cara de caudilho analfabeto, e começa a retirar cidadania de seus paisanos. Um bispo aqui, um escritor ali, uma ativista de direitos humanos acolá… e isso parece que não incomodou ninguém, nem no mundo dito civilizado, por um bom tempo. Parece que começa a incomodar agora. Até mesmo no nosso Brasil varonil, de triste governo e tendências autoritárias. Parece que a dose foi demasiada, até mesmo para gente pouco dada à democracia, como os que temos no poder, antes e agora.

Ora, o que significaria ter sua cidadania, seu direito a um país, a uma bandeira, caçados por decisão do chefete de estado de ocasião? O que dizer ao mundo, se você agora se vê sem direito algum, em sua própria terra, da qual detinha um passaporte, cantava o hino e, no fim das contas, amava e ama?

O cidadão perdeu seus direitos, e não sabe para onde vai. Países latinos um tantinho menos ditatoriais, como Chile, Colômbia, México, outros nem tanto, como Argentina e Brasil, e até nações europeias, como Espanha (que, afinal de contas, criou essa confusão toda aqui) ofereceram asilo aos cidadãos (nenhum deles culpado de nada, exceto discordar do ditador). Como esses apátridas se sentirão aqui? Aliviados, como Seu Bernardo, pai do já descrito Seu João Friesen, por ter alguma terra para cultivar e paz para crer em Cristo? Ou frustrados por ter que receber um passaporte que não é o seu, de uma terra que não é a sua, cantar um hino que não é seu e tentar amar uma terra com a qual tem pouca afinidade?

Quem parará o ditador? Qual é o limite que precisa ser rompido, que lei internacional quebrada, que artigo da Convenção de Genebra burlado, para que o mundo se aborreça a ponto de intervir? Será Daniel Ortega melhor que Manuel Noriega, cujo Panamá se viu envolvido no quebra-pau com os EUA? Será que é preciso um Canal do Panamá para que alguém se digne a intervir?

O mundo está deixando de tomar atitudes por razões éticas, cada vez mais. Ah… isso sempre aconteceu, dirão os puristas. Sim, claro. Trata-se, porém, da frequência e natureza das infrações, e da qualidade e força das intervenções. Eu vejo um gráfico apontando uma queda cada vez mais forte tanto na frequência quanto na intensidade das intervenções.

Hutus mataram um milhão de Tutsis, em Ruanda, depuseram seu monarca, e o mundo olhou. As manchetes não tinham um milésimo da indignação que o holocausto até agora gera. Uganda foi inundada de refugiados Tutsis, que devem estar por lá até agora. Apátridas, todos, na prática, senão na documentação.

Eu e você, cristão, conservador ou pelo menos amante da família nuclear, de pai e mãe, corremos o risco de sermos os novos apátridas, em algumas décadas, ou anos? Eu tenho a distinta impressão que sim. E tenho também o distinto medo de que ninguém virá em nosso socorro.

Mulher, mulher…

Photo by Sogro, Aline, circa 1980 – vou apanhar por conta dessa foto…

Não fui nem sou constrangido a escrever sobre mulher. Deus me premiou com minha esposa, amiga e companheira de quase 30 anos. Me premiou também com uma mãe inteligente e guerreira; me premiou com avós, cunhadas, nora (por enquanto a única) e sogra com que me dou muito bem, a quem admiro e amo. Sou cercado de mulheres poderosas, inteligentes, amigas e sobretudo, gente de Deus.

Mas confesso que não sou apaixonado por esse Dia da Mulher. Não que eu ache que não há valor em exaltar, empoderar e apoiar a mulher. Nada disso. Como conservador, amante da família e de Deus, não poderia deixar de colocar a mulher no patamar que Cristo as colocou.

Num tempo em que a mulher era uma escrava melhorada, um pouco emancipada, no mundo todo, Jesus tratou a mulher como igual, e, em muitos casos, como tendo alguma primazia sobre homens. Foram mulheres que o avistaram primeiro quando Ele ressuscitou. Foram mulheres que o acompanharam durante todo o ministério terreno. Foram mulheres, em sua maioria, que estavam com Ele, corajosamente, quando ele pendia de uma cruz.

Jesus não se esquivou de conversar com uma mulher, samaritana, e isso ficou registrado para a posteridade como um dos atos mais importantes de Seu ministério. Deus não fez, nunca acepção entre homens e mulheres. A Bíblia tão somente relatou o que era a cultura da época. Mesmo assim, os judeus tiveram sempre uma postura mais avançada quanto à mulher do que qualquer povo da época. Creio que somente foram alcançados nesse avanço depois do início do Século XX.

A razão para eu não gostar do Dia da Mulher é simples: ele não deveria existir. Como aliás, não deveria existir dia do orgulho gay, dia dos homens, dia da consciência negra, e daí em diante. Se existe um dia da mulher é porque há necessidade de reforço em relação às mulheres, seus direitos e suas responsabilidades. E isso, claramente, é função de uma sociedade menos que perfeita.

Como conservador, consigo enxergar a estatura moral, cultural e de capacidade da mulher, e consigo ver, também claramente, que a mulher tem um papel diferente – não menor, melhor ou pior – do que o do homem. Apenas isso. Diferente.

Eu rogo a Deus que rapidamente deixemos de ter necessidade de ter dia disso, dia daquilo ou daquele, e tenhamos apenas dias normais, de fraternidade e liberdade (igualdade, nunca há nem nunca haverá, e francamente, não vejo isso como ruim ou necessário).

À minha mulher preferida, Aline, esposa e amiga, à minha mãe, Ruth, amiga que logo completará 80 anos, à minha sogra, Olga, mãe também, à minha norinha, Mariana, à minha “bisoma” Elly, e às minhas cunhadas, primas, tias e queridas amigas todas, meu cordial desejo de que nunca tenham que passar por situações em que se sintam menores, inferiores ou forçadas a nada, exceto se pelo Espírito de Deus.

A vocês todas, meu desejo de Paz, Amor e Alegria!

Brazil’s Bicentennial

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I was born in Brazil. I am proud of it. I was born some months after an alleged military Coup d’État was completed, with the support of the higher and lower chambers of the Congress, as of April 1st 1964. I was called “a son of the dictatorship” many times. Well, I had no heart, I heard several times, as the adage goes – “he who was not leftist when young…”. I hope I developed a brain from my young years to now…

I was educated here in Brazil. I heard, thousands of times, my teachers telling us of the shortcomings, pitfalls and errors of my country. I was led to believe we, as a nation, were a failure, an abomination, and more recently, a terrible place to be a minority, be it black, gay, or have the “wrong” religion.

Teachers Said…

According to our teachers, our discovery, in 1500, was a fraud. I was taught that the Portuguese people came here to usurp, despoil and kill. Only. The fact that according to the sensus of the XVII and XVIII showed a Brazil with a GDP per capita similar to that of the USA. That clearly means that Brazil was not “destitute” as we were made believe. In fact, Brazil was, at the time, twice the size of the “Metropole”, Portugal.

We we also taught that our independence, bloodless as it was, was another fraud. We were being turned independent just to remain under the boot of tyrants – England being the main beneficiary of this torpidity. No one in Brazil had a say about it. We were irrelevant. 100% useless big farm. Our 2 rulers (Don Pedro I and II) were sold to us as frauds, tyrants and very bad to the population. They were pro-slavery, bad, bad elements. Don Peter II deserved to lose his throne, we were taught.

Our Republic was another farce. Despite of the fact that the old, former Emperor deserved nothing but the worst. The Republic was proclaimed and was born as a sort of dictatorship. All was decided by a group or pro-slavery landowners, sycophants, all, and also very very bad people.

Our participation in World War II? A failure, irrelevant (despite the thousands dead in Italy) our teachers told us. A fascist dictator was in charge of support the “free-world”. What a lie!

Our way of life was never endangered during the Cold War. That was all a smoke screen to the public opinion. Our Congress did not consider the presidency vacant, when João Goulart, a leftist president, left the country without the authorization of the Congress, which was forbidden by the Constitution. No. We were lured into believing we were under threat of a Coup D’État from leftist individuals. The Brazilian Communist Party never had in its tenets the definition of “Internationalism” and having one single, supreme party in power. No. We were led to believe we were being saved by the military. Guerrillas just wanted us to be free from Imperialism. And, again, before you ask, no – they did not want to substitute one form of imperialism for another one.

More modernly, we were fooled into believing the military did not leave power by their own free will, once the menaces of communism revolution were reduced, due to the impending doom of the Soviet Union. Nope… absolutely not. The “milicos” left, we were taught, because the military were “expelled” of the power by the enlightened academics and politicians. That was 1985 and I was 21 by then, and working as super-junior (and bad) auditor. I was living by myself by then and still in college. Again, I never had a heart, and therefore I did not understand that I was a slave of a dictatorship. Well, I voted every 2 years, I was never impeded to go here or there, leave the country, buy and sell, and even curse the military, the press, God, or whatever the ethanol in the blood stream required from me.

We then were taught we had the best Constitution of the whole world. By 1988 we were entering the concert of the civilized nations, at a long last. And no… we were not being played by two left wing parties, in what was called the “Theatre of Scissors”… nope. All was well. We were being enlightened.

We had the best of all times during the Lula`s presidency. And before anyone asks, no… definitely he did not rob us big time. The USD 6 Bn sent back to the treasury and to Petrobrás was a figment of our imagination. And no… a mid-tier manager did not put back into Petrobras an amount of USD 96 Million. He was threatened by bad people (public attorneys and federal judges) to relinquish their own, sweated money to the Company as to avoid prison. Bad system we have. Lula did not surf the best economic period of all times. No… commodities were not at historic highs when he was in power. He was not responsible for putting into his own chair a bad, stupid president. No. The woman was a maverick and was unfairly impeached because of “minor faults”.

We are here today, under a fascist president. One that has been massacred by the press in a day-by-day basis, worldwide. And a thousand times no. The man is a “negationist” and “the very worst president ever” of Brazil. No. inflation is out of control, at 6% in 2022 (check this figure against USA and Europe). The country is not growing 2.6% this year. No no and no – we are to vote for Saint Lula, if we want to regain our independence.

What I see…

All in all, Brazil is a 522 years-old failure. Those are the “facts” as we were taught by our enlightened teachers and precise and technical press. Facts? What about facts? Who needs facts when we have a mission to fulfill, comrade?

Well, I live in the best and most beautiful country of the whole world – I am a negationist, after all. I live in a place of kind and warm people. I live in a place that has been undermined and robbed by our politicians, with just a few respites along our history. I live in the “cherry over the cake” country, desired by all powers to be. I live in a country that has increasingly embraced good western values, such as Christianity and free market. I live in a place that can be so much more!

I live in a place where 80% of its energy is renewable and still has 1/3 of its territory preserved as it was in 1500. We have the least polluting car fleet of the world, using a mix of ethanol and gasoline which is much better to the environment than the alternatives.

I am proud of this country. I am sick of people telling us how bad we are. I am tired of seeing our own “elite” going abroad to dissacrate the truth and tell everyone that “the Amazon is burning” when it is not true.

Yes, we can do better. Yes, we can go greener. Yes, we can discriminate less. Yes, we can simplify taxation, limit the invasiveness of the State, improve our judiciary system, control criminality better. Yes, we can make this a better place, but man… I do not want to permanently live in another country. Though I very much love the USA, Italy and other countries in which I am very well received, I love my dear country.

Long live, Brazil! May the next 200 years be better, easier, and more just. God bless Brazil!

Confortavelmente Entorpecido

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Confortáveis

Em 1979, Roger Waters e David Gilmour “poetizaram” uma tendência que estava já em sua adolescência, e que se tornou um problema de saúde pública hoje.

“Não há dor, você está recuando
Um navio distante, fumaça no horizonte
Você está apenas vindo em ondas
Seus lábios se movem, mas não consigo ouvir o que você está dizendo
Quando eu era criança
Eu saquei um vislumbre fugaz,
De rabo de olho
Eu me virei para olhar, mas ele já tinha passado…
Eu não consigo detalhar o que isso significa, agora
A criança está crescida…
O sonho se foi
Eu me tornei confortavelmente entorpecido”

Pink Floyd, in The Wall, 1979

A juventude, em 1979, encarava um problema: negava-se a encarar a vida, talvez pela primeira vez (de forma coletiva). Antes era mais difícil, porque quem assim o fizesse morreria de fome, frio ou ostracismo social. A vida tinha sido tornada fácil pelas gerações que antecederam os “Baby Boomers” (BBs, nascidos entre 1950 e 1970). Eram tempos nos quais pagar as contas ficava mais a cargo do Estado do que do cidadão, mesmo nos EUA, mais pragmáticos, e muito mais na Europa, com seu estadão grandão e paizão.

A geração dos BBs foi-se revelando, mesmo, uma geração de bebês. No Brasil essa tendência demorou mais a chegar, pois aqui custamos mais a poder depender do estado, e as famílias ainda eram mais próximas e exigentes. Não é mais assim, hoje em dia, e nos aproximamos muito aos padrões de primeiro mundo, pelo menos para uma classe média e alta urbanas.

Confortavelmente entorpecidos fomos vivendo, álcool, narcóticos, pornografia e outras coisas nos distanciando da realidade. Liberdade, como dizia a propaganda de jeans, “é uma calça velha azul e desbotada”. Ou seja, liberdade é usar o que quiser, falar o que quiser, fazer o que quiser, se quiser, fumar, cheirar e beber o que quiser. É proibido proibir, foi nosso mote – o da minha geração, que basicamente começou isso, por aqui. Confortavelmente entorpecidos continuam nossos contemporâneos, e as gerações que nos sucederam, como Gerações X, Y, Millenials, etc.

Vivemos confortavelmente por tempo demais.

Entorpecidos

O entorpecimento parece já não ser tão confortável, mas seguimos negando fatos que são esfregados na nossa cara. Nem numa cracolândia, comendo lixo na rua, parece que o cidadão consegue enxergar que está pouco confortável, e muito entorpecido. Quanto mais desconfortável, mais entorpecido precisa estar para seguir adiante. Se é que se pode chamar esse estado de “ir adiante”.

Estamos entorpecidos por não termos disciplina. Estamos entorpecidos por termos perdido a liberdade para a preguiça, o conforto e a irresponsabilidade com o futuro, e a falta de perspectivas.

Esse entorpecimento é fruto da indisciplina reinante, e tem alguns frutos bem visíveis.

Escrita e Leitura

Não escrevemos mais. Estamos perdendo a capacidade de nos comunicar por escrito. Por consequência, a falta de disciplina para tal nos faz perder também a capacidade de nos comunicarmos oralmente. Quem não consegue colocar em palavras um mínimo de sentenças organizadas, não vai conseguir falar adequadamente. Vejo que mesmo os analfabetos ou semi analfabetos do meu tempo de criança sabiam se expressar melhor do que muitos alfabetizados de hoje. Talvez porque fossem analfabetos por falta de oportunidade, mas não por desinteresse. O que lhes faltava em letras, talvez lhes sobrasse em reflexão.

Metade, ou mais, de quem chegar a começar a ler este texto provavelmente vai largar – até entendo que meu estilo é chato, mas espero que não o conteúdo. A verdade é que ler se torna cada vez mais difícil a quem prefere ver. Tik-Toks e outros Reels são prova eloquente dessa preguiça em decifrar caracteres. Quanto menos eu ler, menos eu sigo uma linha de raciocínio, e menos, consequentemente, terei disciplina para formar padrões e ideias. Adoraria estar exagerando. Temo que não esteja.

Estética e Música

Desde a pele se tornando um pergaminho multicolorido até os piercings e mutilações cutâneas, fomos sendo paulatinamente tornados cegos à beleza da pele humana. Passamos a achar lindos os apetrechos colocados sobre nós em exageros, que muitas vezes chegam ao implante de chifres.

Na música, repetições indolentes das baladas sertanejas, repetitivas e previsíveis, ao pancadão cujo ritmo serve às rodas de semi-zumbis de periferia, deixamos de lado a harmonia. Trocamos a beleza pela feiura, em uma estética pobre que as massas adoram.

Por que? Porque não requer disciplina alguma para absorver. Requer altura. O som de péssima qualidade, tocado no maior volume possível, talvez seja uma outra prova da necessidade de me isolar (acusticamente) do mundo ao redor.

Fones de ouvido, usados por horas à fio, fazem o papel de um biombo, ocultando nossos sentidos do mundo ao redor. Um belo quarto, pago pelos pais, com internet de alta velocidade e, de preferência, com ar condicionado e TV 4K, completam o serviço, nos tirando do mundo e não nos livrando de mal algum.

O que virá?

Costumávamos dizer que qualquer material tem sua resistência posta à prova, até o ponto de rompimento. Como tudo no mundo parece ser pendular, espero que o pêndulo, que me parece estar totalmente à esquerda (sem conotação política) poderá voltar a virar-se à direita (idem). Assim, é possível que o esgotamento de um modelo de indisciplina e a vida nesse “metaverso” terrível acabe por acabar, nem que seja pelo esgotamento de ter quem pague por isso tudo. Acabando o financiador, talvez acabe a indisciplina, pela via da escassez, do desamparo.

Não acho que isso vai acontecer, contudo. Entendo que o mundo, de fato “jaz no maligno” como a Bíblia diz. Essa entropia (desorganização) do universo, que é crescente, me dá um medo patológico de que cheguemos ao ponto de não-retorno, onde as pessoas estarão tão Comfortably Numb, que nem a morte será mal vinda. Será a consumação de um processo de deterioração que fará com que nossa civilização imploda, como faz o câncer no organismo, indo até matar o hospedeiro.

Eu escapo? Talvez. Acho que sim, porque de fato, estou numa bicicleta sem rodinhas. Se eu parar, eu caio. Portanto, o melhor que a sociedade poderia fazer pelo ser humano seja retirar dele toda e qualquer rede de amparo social (triste dizer isso…) que não derive da extrema necessidade e que não seja continuada, mas pontual. Deixar o ser humano voltar a ser responsável pelos seus pratos de comida, talvez faça com que levemos mais à sério o ato de sobreviver.

Comfortably Numb, mas às minhas custas…

Salmos da Modernidade – Salmo 14

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Já dizia o Salmo original – “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus.” O tempo passa, o tempo voa… ninguém consegue explicar onde fica a linha divisória entre a matéria inanimada e a vida… mas todo mundo continua, como o insensato, dizendo que “não há Deus”. com Letra Maiúscula.

Acho até que por isso mesmo essa gente faz tudo o que é errado. Ora, se não tem Deus, não tem razão pra ter medo de qualquer coisa. E se não existe razão pra ser bom, sejamos maus…

Esse Deus que os insensatos dizem que não existe fica só de olho, fixamente voltado para nós, pra ver se tem alguém que, com coração bom, O busque.

Mas todo mundo, ou quase todos, continuam andando insensatamente, lotados de corrupção, interna e externa, e não tem ninguém que queira fazer o que Deus aprova – ora, se Ele não existe? Então por que? 

Será que a gente não entenderá nunca que quem nos lidera na verdade se serve de nós, como uma refeição gulosa e saborosa, sem ligar pro que Deus diz ao governante?
Vai chegar o dia que esses aí morrerão de medo, porque Deus toma conta e se preocupa com quem é justo!
Vocês, gente má, acham ridícula a opinião e as necessidades dos pobres, mas o Senhor é que toma conta dos humildes. 
Quem nos dera que Deus já tivesse mandado a gente má pro inferno! Mas tenhamos certeza – quando Deus decidir agir, ele vai fazer com que nosso futuro mude pra muito melhor, e todos daremos boas e felizes risadas! 

Salmos da Modernidade – Salmo 13

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Maestro, aos costumes… Um salminho de Davi…

Eu pareço um zé-ninguém mesmo… nem Deus liga pra mim… se Ele fosse capaz de esquecer de algo, eu diria que se esqueceu mesmo foi de mim! Não liga pra mim, Divindade?
Como sempre tem gente querendo meu mal. Tem gente que me odeia, e às vezes eu nem sei bem por que… Até quando você, Deus, vai deixar que esse povo me odeie? Eu fico num bode, num calundu, numa tristeza de dar (des)gosto…
Como diria meu filho Ettore, o famoso Tóia – “Ola pla minha cala”, Deus! Deixa eu enxergar o futuro, porque não vejo um palmo adiante do nariz! Eu não quero morrer agora, sem realizar nada; 
Depois eu morro, e aí os meus inimigos vão dizer que ganharam de mim. Vão ficar todos prosas, se achando, e eu terei perdido essa “peleia”. 
Mas tudo bem, como sempre. Eu confio que o Senhor vai fazer o melhor, não importa quanta assombração me apareça. Eu confio em Deus e ponto final. 
Eu reclamo, reclamo, brigo com Deus e fico brabo, mas no final das contas, Senhor, eu só tenho mesmo é que agradecer!

Sinecuras

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Sinecura significa “Sem Cuidado” (do latim – sine, “sem” e cura, “cuidado”), de acordo com a Wikipédia. O nome era dado a um emprego ou função que era só uma desculpa pro sujeito “mamar” em alguma teta. Estatal ou não, sem trabalhar – ou seja, receba, sem qualquer cuidado, pois você não tem responsabilidade alguma. Só recebe.

O Brasil não inventou a sinecura. Na Inglaterra dos séculos XVI ao XIX, as sinecuras eram formas de reconhecimento dos reis aos seus súditos fieis, por conta de algo que tivessem feito (merecida ou imaginariamente). A Roma antiga, onde o termo se originou, não foi nem de longe a inventora da prática, embora tenha tornado o termo famoso. E lá as sinecuras eram, pelo menos, entendidas pelo que realmente eram – benesses com o dinheiro alheio.

A famosa Companhia das Índias Orientais, ou “John Company”, na gíria da época, era uma empresa privada com características e poder muito parecidos ao de alguns países. A John Company foi mais rica e mais poderosa do que a maioria dos reinos europeus da época, e também distribuía suas sinecuras.

A prática, portanto, não nasceu em terras e reinos católicos, embora tenham se tornado uma forma de arte, quando os países protestantes da Europa, e os EUA, já tinham praticamente banido a prática, em fins do Séc XIX. Claro que banir é um termo forte, já que em pleno Séc. XX vimos a repetição disso tanto na Inglaterra, Holanda, EUA e outros locais.

O costume chegou ao Brasil com as caravelas de Cabral. Pero Vaz de Caminha aproveita a famosa cartinha a El Rey para solicitar uma sinecurinha pra um cunhado, se não me falha a memória… e daí viemos: de sinecura em sinecura.

A modernidade da Sinecura

O Estado moderno e sua impessoalidade tende a coibir as sinecuras, sob a alegação de que cada trabalho merece sua paga, e não pode existir paga sem trabalho que o justifique. Isso, longe de significar o fim da prática, implicou em sua sofisticação.

Hitler, na Alemanha Nazista, formou um time de “Sinecuristas” de alto coturno, composto de empresas como Basf, Bayer, Heinkel, etc, que ajudaram no esforço de guerra alemão em troca de uma sinecura chamada monopólio. Aliás, essa é, na minha opinião, a única diferença entre um estado comunista e um estado fascista- a existência desses monopólios ou oligopólios, no fascismo, contra um estado todo-provedor e empreendedor, no comunismo “raiz”.

Lula, e seu partido, fizeram algo semelhante, muito mais recentemente, com a política dos “campeões nacionais”, que elegeu empresas para serem vitoriosas no mercado, como JBS, Odebrecht, etc. A troca parece funcionar bem, já que a JBS, por exemplo, acabou se tornando mesmo um campeão nacional, e mundial até, com seu gigantesco faturamento e sua competência na produção de proteína animal.

Nada disso, porém, parece ajudar o país. Em troca de qualquer sinecura, de um empreguinho estilo “rachadinha” num gabinete de vereador no interior até o recebimento de zilhões em empréstimos do BNDES a juros baixos e à custa de deixar outro zilhão de empreendedores sem financiamento (1), o mercado se desalinha e acaba empobrecendo como um todo. Mas esse não foi nem o pior exemplo de sinecura recente. Pior do que financiar um empreendedor nacional é financiar um estado (no mais das vezes totalitário ou quase) com esse mesmo dinheiro da população, sob a certeza de que o pagamento não viria – e na época, não importava se viria ou não.

A Negociata – a Sinecura Nossa de Cada Dia

Assim como a cerveja da 6a. feira, com aquele torresminho, e um pagode, o desejo pela sinecura do dia-a-dia está enraizada aqui, e precisa ser extirpada a golpes de facão.

“Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados”.

Barão de Itararé

Apparício Torelly, o Barão de Itararé citado acima, era um humorista e escritor do início do século, famoso por seu humor ácido e tiradas geniais. entre outras, disse pérolas que se confirmam a cada dia, piada ou não: “O homem que se vende recebe sempre mais do que vale.” ou a célebre “O tambor faz muito barulho mas é vazio por dentro.” entre outras dezenas de frases geniais.

A negociata é a sinecura com meia contrapartida: não é totalmente “sine” (sem), e dá algo de “cura” (cuidado), mas normalmente dá mais lucro. É o outro lado da alma brasileira – se não dá pra receber sem fazer absolutamente nada, “vende-se” algo por um preço um tantinho maior, pagando algo pra cada agente do processo, e até se entrega algo, a depender do grau de vigilância da sociedade. Os hospitais de campanha da Covid 19 me cheiram muito a essa classe de sine-quase-cura: contrato na crise, sem licitação, pago milhões, não uso, descomissiono assim que posso, todo mundo fica com a impressão de que algo foi feito, e nada.

Durante a tragédia em Nova Friburgo e região, em 2011, se não me falha a memória, prefeitos receberam do Governo Federal milhões para aliviar o sofrimento das vítimas. Os prefeitos (mais de um) são acusados de embolsar a grana toda – uns R$ 300 milhões e não fazer nada. Se embolsaram, não sei. O que sei é que qualquer chuvinha maior no centro da cidade provocava alagamentos, por conta do assoreamento das manilhas de águas pluviais.

Eu com isso…

A tendência, como o saudoso Barão já falava, é a de que nós nos importemos somente quando não somos nós o objeto de tão grande benesse. Se estou no meio, às favas a moral. Vimos corruptos, há alguns anos, agradecendo a DEUS (Aiaiai!) pela propina recebida, que era “desejo divino”. Como cristão evangélico, minha vontade é a de que a teologia da “queda da Graça” fosse verdadeira, e esses aí fossem do céu direto pro inferno. Não posso arguir isso…

O fato é que requer grandeza moral para não aceitar nem propor sinecuras ou negociatas. O ser humano em geral, e o brasileiro em particular, são mestres em arrumar desculpas e explicações para seus malfeitos. Ora é “porque todo mundo faz mesmo”, ora é “porque preciso”, ou ainda porque “é por uma boa causa”.

Grandeza moral se aprende no berço, com pais igualmente morais, ou mesmo que imorais, que reconheçam isso e incutam nos filhos o desejo de que eles não sejam iguais aos próprios pais. Levar (ainda que arrastados) para a igreja e escola ajuda muito. Segregar de amizades ruins era a marca do pai de antigamente; não é mais. Grandeza moral, porém, é algo que nem sempre os filhos aprendem. Para isso, infelizmente, as consequências sociais deveriam ser duras e imediatas. Não o são: hoje a leniência com o “pobre do menino de 16 anos que matou 4” tem sido a marca de uma sociedade que no fundo ama a sinecura, o mal-feito, a negociata e deseja que as punições não ocorram. Algo diabólico.

Estamos longe de extirpar o mal e as sinecuras permanecem nos mesmos gabinetes legislativos, nas mesmas varas cíveis e criminais, nas mesmas escolas e universidades, no bar da esquina, na fila do ônibus, na repartição pública, e por aí vai.

Educação? Leis duras? Fortalecimento da família? Igrejas e Templos? Tudo isso junto ajuda. Temos uma luz no fim do túnel? Não sei – acho que não pois “o mundo jaz no maligno”. Tenho esperança? Poucas. Vamos resolver o problema? Não creio. Pessimista? Muito.

Eu creio em Deus, porém, e sei que Ele é quem detém o controle da humanidade, a quem dá livre-arbítrio, mas que também teu o Seu. Esperemos pelo melhor, desconfiando, mas esperemos.

(1) A injustiça desta prática é menos aparente, pois parece que o governo simplesmente tem o dinheiro e empresta a quem quer – como devedor líquido e pagador de juros, o dinheiro que vai para o BNDES e que acabou alimentando os campeões nacionais acabou sendo financiado a juros de mercado, em títulos da dívida, a custo significativamente maior. Sou contra a existência de bancos estatais de qualquer natureza, inclusive de fomento, mas entendo o xodó que o mercado tenha por eles, em um país de juros altos e crédito difícil.