Circula um vídeo do ator Pedro Cardoso, que interpreta(va) Agostinho Carrara na TV, no qual ele derrama sua sabedoria sobre todos nós, respondendo perguntas feitas por internautas sobre os mais diversos temas.
Agostinho, ou melhor, Pedro, nos brinda com o melhor do padrão Globo de pensamento. Tive que comentar porque parece inteligentíssimo. O cara é articulado, e tal como Agostinho da TV, convence quem não entende o que é “blague” e o que é raciocínio, no duro, pra valer.
Duas coisas me chamaram atenção, e comento as duas em separado pois pode interessar a quem queira entender porque falar certas coisas é fácil, e desmenti-las dá um trabalhão…
Portugal é um destino Socialista
Uma das perguntas feitas a Agostinho (digo Agostinho pois certamente parece ter sido ele que respondeu, mas creio que poderia ter sido o Pedro, com os mesmos efeitos) era por que ele não ia pra Cuba, em vez de ter escolhido Portugal.
Com muita ginga e malandragem típicas do Agostinho, o cidadão responde que “se não sabíamos, Portugal era governado por um primeiro ministro socialista”. E para por aí, obviamente sem elaborar, pois que se elaborar, lascou o cano. Explicar com muitas palavras é coisa que complica, em alguns temas – principalmente naqueles em que há necessidade de rigor técnico e veracidade.
Portugal… Cuba… Cuba… Portugal… hummm, sei não. Qual dos dois é o destino que poderíamos considerar compatível com o que pensa o Pedro (o Agostinho creio que gosta mesmo é de Miami)? Se o objetivo é ser coerente com o que pensa o Pedro, ou pelo menos o que verbaliza, Cuba, ou ainda, China ou Coréia do Norte, seriam destinos mais alinhados ideologicamente.
Afinal, Portugal “está” sob um primeiro ministro socialista, eleito democraticamente, e cujo mandato pode ter um fim a qualquer momento, caso uma moção de desconfiança o retire do cargo prematuramente. Ainda, Portugal já esteve sob vários governos com tons de ideologia diferente, e certamente predomina uma certa social-democracia, embora se vejam nas ruas (a última vez que vi ao vivo e a cores foi entre 15 e 30 de Novembro de 2019, antes dessa peste toda) bandeiras com foices e martelos por todo lado.
Nada disso, porém, tirou (ainda) a liberdade dos portugueses de votar e serem votados, propor mudanças na legislação, eleger de acordo com a representatividade de cada região, demitir seus políticos, ter propriedade privada, fazer negócios intera e externamente, comprar e vender como bem entenderem, e qualquer outra atividade que configure uma nação fundamentalmente democrática. Tal não pode ser visto em Cuba, China, Coréia do Norte e outros paraísos frequentemente descritos como o céu na terra pelos ideólogos, o Shangri-la, o objetivo a ser atingido.
Pedro foi para Portugal. Pedro poderia ter ido para Cuba. Não existe forma de convencer Pedro a ir para Cuba, exceto de férias, na praia, talvez. Pedro é “Cardoso”, o que lhe deve ter legado um passaporte da Comunidade Europeia, um ente significativamente democrático, ainda que com viés social-democrata.
Pedro não ganhou dinheiro com Agostinho – só a Globo
A segunda grande colocação que ouvi (confesso que depois disso tive que sair pra não vomitar) foi a resposta à colocação de um internauta sobre o fato dele ter ficado rico com o Agostinho, e posar de socialista.
A resposta, pérola de hipocrisia e desintendimento sobre a natureza do capitalismo foi mais ou menos assim: “eu não ganhei dinheiro; ganhei um salário; quem ganhou dinheiro foi a Globo. É essa a natureza do capitalismo – o capital é que ganha dinheiro”, ou coisa que o valha.
É odiosa a posição dele. Provavelmente não deve ter recebido o jabá dele como “salário”. Como quase todo vivente bem instruído por contadores e advogados, o sujeito deve ter aberto sua Pejotinha (empresa de prestação de serviços), sabe-se lá, a Pedro Cardoso Produções Artísticas Ltda., e se aproveitado dela para faturar pagando algo em torno de 16% de tributos totais, e usando o resultado líquido como distribuição de lucro (não tributada) para receber os proveitos na sua Pessoa Física.
Duvido que o referido socialista tenha deixado na mão da Globo o valor integral do que recebeu, à razão de 27,5% de IR mais 11% de INSS… duvi-de-o-dó.
Bom, às colocações dele:
Salário não é lucro e portanto não deixa ninguém rico
É isso que se pode inferir da resposta – Ora, mesmo na hipótese de que Pedro tenha sido subtraído em mais de 40% sobre seus vencimentos, de IR e INSS, convenhamos que um salário de, sabe-se lá, R$ 1 milhão ou R$ 500 mil por mês está acima do rendimento de quase qualquer brasileiro. Trata-se, porém, de um sujeito que se equipara, em termos de renda, aos maiores empresários do país. Não. Ele não detém o capital (pois não aplicou nenhum na produção do programa nem correu qualquer risco, não contratou gente, contra-regras, não comprou câmeras, nem nada).
Pedro, portanto, se coloca na mesma posição de qualquer trabalhador, empregado com carteira assinada, se sorte tiver. Considera-se um mero peão num joguete que é controlado pela malvada corporação à qual pertence, e que é o vilão de um jogo do qual ele seja, talvez, um dos grandes beneficiários. Não dá pra ser mais hipócrita.
A Globo é o Capital, e como tal, não deve ser boa
Bom, isso ele não disse, mas certamente, ao fazer a colocação do item anterior, certamente é a única coisa que se pode presumir. Capital é ruim. Ponto final. Capital é o vilão e não há discussão – se discutir é fascista, genocida e sei lá mais o que.
Qualquer conservador sabe que capitalismo, no duro, NÃO se faz com monopólios. A Globo já foi quase monopolista, hoje está entrando na vala comum das outras TVs, em termos de audiência. Em termos de qualidade é superior tecnicamente, e inferior moral e em termos de sua objetividade. Há anos sofremos um massacre da Globo. Eu mesmo tive que ser “desmamado” da Globo, como um toxicômano. Que falta fazia o JN… Por que? Por ter assistido desde os tempos do Reporter Esso, Cid Moreira e Eron Domingues à bordo. Outros tempos, herdados por esses que aí estão.
A Globo, sob comando da geração atual, se perdeu em seus padrões morais, e, pior, tenta insistentemente nos influenciar a crer no que os irmãos Marinho parecem ser os temas a serem levantados: promiscuidade sexual, adultério, louvor ao “espertalhão”, desestruturação da família, homossexualismo e outros tópicos que não lembram em nada a Santa Missa em seu Lar, dos tempos idos.
Concluindo, Pedro/Agostinho lançam mão dos argumentos manjados e batidos de qualquer esquerdista. É fácil, diz-se em poucas palavras, e para combatê-los leva-se tempo e é necessário pensar e refletir. Isso não é o forte dessa nossa geração, “shallow now” (and ever).
Vamos pedir a Deus que Pedro finalmente tope passar um tempinho em Pyongyang… Lhe fará bem ver o quanto há de distância entre lá, e Lisboa. Vá com Deus, Pedrinho…