Algumas discussões, só no Brasil…

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Todos já nos demos conta de que nossa classe política vive num mundo à parte, e que nos governar, fazer o que é preciso para que o país vá para frente, é o penúltimo de seus objetivos (o último sendo falar a verdade).

Algumas discussões são tão doidas que parecem só ter lugar de ser neste país. Aqui há um divórcio total entre quem nos governa e nós, e entre a razão e as “razões”. Listo algumas delas abaixo para que nós, juntos nos demos conta do grau de loucura que nos atinge:

Voto Auditável

Há uma discussão que se pretende séria, sobre se temos ou não o direito de ter votos que possam ser recontados. Recentemente o grupo Hipócritas fez um sketch com uma suposta eleição para síndico em que o o filho do atual síndico cria um programinha que conta os votos, mas não permite que ninguém verifique nada. Seria de dar risada se não fosse tão trágico. Estamos discutindo ISSO. Nossos políticos e (pior) nosso STF está levantando argumentos a FAVOR de não termos voto auditável. Afinal “sempre foi assim e dá certo”. Ora, COMO saber se deu certo mesmo? Não podemos saber. E por isso seria um aprimoramento básico, que existe até (vejam vocês) na Venezuela, como já mencionei em outro artigo.

Fim do Foro Privilegiado

Somos talvez o único país do mundo em que qualquer Zé Ruela eleito se acha no direito de ser julgado por um tribunal especial. Estamos à mercê de um Zé – Renan Calheiros, réu em diversos processos (dependendo de quem conta, entre 7 e 30), que está dando cartas numa CPI absurda, junto com outro réu em diversos processos, o Zé de Aziz.

Chamo de Zé não por demérito aos grandes Zés desse país – Zé Vasconcellos, Zé da Velha, Zé Maurício (o padre), entre outros… Mas aos Zés verdadeiros, as nulidades como Zé de Abreu, e sua enorme boca, ou os tantos Zés que habitam nosso parlamento, incólumes.

O Foro privilegiado é um TEMA de discussão aqui! Esse é o espanto!

Privilégios do Funcionalismo Público

Sou filho de funcionários públicos e irmão de dois deles também. Não estou aqui a culpar funcionários públicos por nossas mazelas todas e sei perfeitamente reconhecer que há excelentes profissionais no serviço público.

Trata-se, porém, de sabermos que temos pendurados nos nossos ombros MILHARES de funcionários, que, bons ou ruins, NÃO PODEM estar lá, porque o peso deles mata nosso orçamento, mata nossa capacidade de investimento, mata, enfim, nossa liberdade de crescimento.

Férias de 60 dias

Aqui, o engraçado não é o fato de que alguns tem 60 dias de férias, quando todo mundo tem 30 (mais do que na maior parte dos países civilizados). O que dá vontade de chutar o balde é que tem defensor dos tais privilégios acham que a PRODUTIVIDADE dos juízes e promotores VAI CAIR se os caras trabalharem igual a todo mundo. Ou seja, os caras ficam 17% do tempo em casa (fora sábados, domingos e feriados) e 8.33% de tempo a mais de trabalho vai… atrapalhar… a produtividade… é ou não é coisa de país louco?

Sistema Partidário e Representativo

Aqui estou falando dos tantos dispositivos criados ao longo dos anos e que torna nosso sistema de escolha burro e caótico, favorecendo meia dúzia de líderes de partidos e não à sociedade.

Não elegi alguns deputados – nem NINGUÉM elegeu, mas um Tiririca da vida “puxou” votos para dez nulidades que ninguém conhece nem confia, mas que estão próximos ao poder partidário.

Não votamos em alguém próximo de nós ou representativos da região em que estamos. Votamos num deputado lá do interior, e sem qualquer vínculo com meu local. Desde sempre o sistema inglês (e em parte americano) faz com que as disputas locais sejam acirradas, com gente conhecedora dos contendores. Esse tipo de voto distrital direto, na veia, faz com que deputados displicentes com seu eleitorado percam suas cadeiras, como foi vítima até o grande Winston Churchill, no pós guerra.

Deputado próximo tem que prestar contas, e precisa conviver e conhecer o eleitorado, e não sumir e aparecer a cada eleição. Aqui, isso ainda é motivo de discussão, para espanto do mundo todo.

Finalizando…

Até 1994 vivíamos achando que inflação de 3, 4 dígitos era algo com que teríamos que conviver o resto dos nossos dias. O Plano Real pôs fim relativo àquela loucura econômica e pôs freio nos orçamentos do governo, dando realismo econômico ao país.

Até 2019 vivíamos com juros tão absurdos que devemos mais a eles do que ao próprio desenfreado déficit, a razão de termos hoje quase 100% do PIB em dívida para as próximas gerações.

O Banco Central brasileiro, desde 2019, parece ter se tocado de que é possível conviver com juros quase (ou abaixo) na linha da inflação, ou seja, juros reais próximos de zero. O mundo inteiro faz isso, porque diferentemente de 25, 30 anos atrás, existe hoje um excesso de capital no mundo. Isso levou diversos bancos centrais a tomar proveito e colocar “pedágios” para guardar dinheiro da população, sob forma de juros negativos. Só nós permanecíamos em berço esplêndido.

Qual é a lição possível? Qualquer coisa que não presta, que não serve, e é mantida artificialmente, ou ainda que é ou se torna um mal à sociedade, tende a ser extirpada da vida pública, cedo ou tarde. Ocorreu isso diversas vezes no mundo todo, seja pela via da tecnologia ou do esgotamento da paciência pública com o “espinho na carne”. Somente sociedades ditatoriais conseguem manter por décadas atitudes que são frontalmente ruins ao povo ou que, no fim das contas, são coisas más ou, desnecessárias.

Nosso parlamento se tornou desnecessário, como está, pois que somente pensa em si e advoga contra o bom senso. Nosso STF, na atual composição, se tornou nocivo ao povo e afronta a Constituição diariamente. Nosso sistema de votação elege quem não elegemos, e não nos deixa saber se de fato elegemos alguém.

A síntese disso é que qualquer um, esquerda ou direita, funcionário público ou não, em sendo minimamente bem intencionado e honesto consigo mesmo, sabe há um monte de coisas que deveríamos nos livrar, sem prejuízo à democracia, ou mesmo em favor dela. Quebremos o pau sobre a forma como é melhor tornar a sociedade melhor e mais feliz, mas deixemos de lado os absurdos com os quais temos que conviver diariamente.

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