Uma vala comum foi encontrada durante as obras de expansão do aeroporto de Odessa, na Ucrânia. Oito mil pessoas pelo menos foram enterradas lá. Os trabalhos continuam, e podem ser mais do que essa quantidade, por si já absurda. Não se trata do Holomodor, a grande fome, provocada por Stálin, e que resultou na morte de milhões de ucranianos. Foi um abate sistemático de pessoas pela polícia secreta da então União Soviética.
“Uma boa bala, uma boa cova”, falou Miguel Iasi, deputado federal pelo PC do B há algum tempo, parafraseando Bertold Bretch:
“Nós sabemos que você é nosso inimigo, mas considerando que você, como afirma, é uma boa pessoa, nós estamos dispostos a oferecer o seguinte: um bom paredão, onde vamos colocá-lo na frente de uma boa espingarda, com uma boa bala e vamos oferecer, depois de uma boa pá, uma boa cova. Com a direita e o conservadorismo, nenhum diálogo, luta”
Bertold Brecht, poema “Perguntas a um homem bom“
De novo, lá vamos nós, observando nossos arqueólogos da modernidade escavando, uma hora aqui, outra acolá, 10 mil ossadas, 3 mil ossadas… Ao todo já foram mais de 100 milhões de ossadas encontradas nos subsolos da utopia comunista.
Também há ossadas, claro, em outros regimes não comunistas, mas igualmente de força, como as 30 mil do regime militar argentino, 10 mil do chileno, e por aí vai, inclusive nossas quase 500, em 21 anos de nossa “ditablanda” (como dizem os hermanos latinos).
Tudo contra ossadas, se elas não estão perfeitamente identificadas em cemitérios e não tiveram sua morte comprovada e, se possível, de causas naturais. Tudo contra valas comuns de qualquer origem, sejam elas brasileiras, chinesas, russas ou do Khmer Vermelho.
O problema aqui é estarmos todos nós, brasileiros, flertando com mais um campo de ossos, ali na esquina, gerado por mais uma ditadura, seja de esquerda, de direita ou do judiciário. Neste meio tempo, o Sete de Setembro passa a ser, para alguns, motivo de medo, e não de júbilo.
Um Holomodor brasileiro, perpetrado há anos, nos deixa com uma sensação coletiva de que nada do que fomos ou somos valeu ou vale a pena. Tudo nesses 521 anos foi ruim, tudo patético, tudo substituível por algo “melhor”, segundo alguns, mesmo que para isso algumas novas valas comuns tenham que ser abertas.
Que tais valas comuns não venham a ser abertas pelo povo partidário do regime que foi soterrado, de certa forma, por ter aberto as tais valas alhures.
By the way: – A contagem que você recorda bate com a narrada no livro “O Lado Negro do Comunismo”?