Hedonismo, Dor e Liberdade

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Sem mais preâmbulos, e indo direto ao que quero dizer…

Hedonismo

A Wikipédia traz a definição clássica de Hedonismo como sendo “aumentar o prazer e diminuir a dor”, que deriva da escola filosófica clássica iniciada por Aristipo de Cirene. Esse sujeito achava que não havia nada mais nobre do que ter prazer, e evitar a dor. Criou todo um conceito filosófico para justificar sua teoria. Deve ter sido imensamente popular… Bom, hoje seria.

Dor

Sobre a dor, é um fato da vida, e decorre de algo que nos chateia, nos incomoda, nos faz mal, ao corpo ou à alma. É algo que o ser humano foi criado para evitar. É algo que ninguém deseja para si próprio, em sã consciência.

Liberdade

Liberdade é um conceito extremamente complexo, e que ultimamente tem sido vendido como “não prestar contas a ninguém”, “não ter limites aparentes”, ou ainda “capacidade de tomar as próprias decisões”, ou mais objetivamente (creio), independência, autonomia e autodeterminação (como a mesma Wikipédia conceitua).

E daí? Onde quero chegar?

Não sou filósofo nem psicólogo. Lido com finanças e números a vida toda. No entanto, vejo uma relação umbilical entre Liberdade, Hedonismo e Dor. Se eu sou livre, mas pratico hedonismo, ou seja, só penso nos meus próprios prazeres, chegará o momento em que física e mentalmente estarei impedido de exercer liberdade. Seja por falta de condicionamento mínimo para caminhar num parque, ou sentar quieto, meditar, orar ou simplesmente prestar atenção em algo, perderei a liberdade pela via dos efeitos do hedonismo.

Por outro lado, se eu pratico exercício, a disciplina do alimento, do estudo, da concentração, eu necessariamente estou “me negando a mim mesmo” algo, em algum momento. Isso gera dor, seja física seja mental. A dor de cabeça do jejum tem a mesma natureza fundamental da dor muscular do exercício ou a dor de alma das horas passadas em meditação. Elas diminuem meu prazer, claramente. Eu, pelo menos, tenho zero prazer em caminhar ou correr, levantar peso ou mesmo orar – é uma disciplina que precisa ser exercitada, que gera dor antes de gerar prazer.

Se eu gero dor física ou mental/espiritual, perco algo de minha liberdade. Ou seja, no momento da dor me privo da liberdade, por exemplo, do descanso, ou do relax de uma boa comédia na TV.

Paradoxo da Liberdade

A liberdade, portanto, parece ser, e é, um grande paradoxo. Desde as definições sobre o “preço da liberdade” (eterna vigilância) até o conceito bíblico, a maravilhosa passagem em que Jesus nos informa que “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8:36), vemos uma liberdade que antes de ser um “estado”, é uma “ação” – estar livre, pois que perdê-la parece bem mais fácil do que conquistá-la.

Eu, por exemplo, perdi minha liberdade quando passei dos 120Kg. Não apenas isso, quase perdi meu fígado e minha vida para a esteatose (e depois, se deixasse minha vida “livre”, cirrose). Tive que acabar com minha liberdade de comer o que bem entendia e beber vinho mais liberalmente, e me submeter a um tratamento radical – uma cirurgia que me cortou 90% do estômago, e que até agora me tira a vontade de sequer tocar em comida (uma paixão).

Perdi minha liberdade “sendo livre”. Que paradoxo. Perdi a liberdade justamente por fazer tudo o que queria fazer com minha barriga, sem pensar em mais nada. Quão livre eu realmente era? Esqueci a parte da “eterna vigilância”. Vigiar não é nada bom, e tira o prazer. Vigias de bancos, de presídios, ou de acampamentos militares sabem da importância de uma boa vigilância para manter a liberdade – e o quão chato é o processo… a vontade de cair no sono e atender os desejos da “carne” podem ser o estopim da perda total da liberdade, e até da vida, em muitos casos.

Portanto, ser livre implica em boa medida em matar o hedonismo.

Vida Moderna

O homem moderno foi levado ao hedonismo extremo por uma vida boa, conquistada pra nós nas trincheiras das grandes guerras, e pelos nosso políticos e estadistas menos populares, que nos exigiram sangue, suor, lágrimas, que nos instaram, a cada brasileiro, a “cumprir o seu dever” como o Brasil esperava. A dor de uns comprou a liberdade e o hedonismo de todos, ou quase todos.

Onde isso nos está levando? Pensando numa camada ainda mais alta na Escala de Necessidades de Maslow, criamos um nível superior, que poderíamos chamar de “Hedonismo Crônico”. É um estado em que temos o “direito” ao hedonismo, sem prestar contas a ninguém. A vida moderna nos chama ao direito, e nos quer afastar do dever.

A Equação da Vida Moderna

Vida Moderna = Hedonismo.

Direito = Prazer; Dever = Dor.

Eu mesmo

Pragmatismo

O resultado desse hedonismo crônico será fatalmente a perda da liberdade. E a perda da liberdade virá pela falta de um mínimo de pragmatismo. Por razões que só uma sociedade majoritariamente hedonista pode compreender, já há algumas décadas temos trocado o necessário pelo desejado, o correto pelo que nos faz sentir bem, o difícil e certo pelo errado e fácil.

Tem sido assim, por exemplo, com a teimosia da ideologia de gênero, que nos quer fazer esquecer o sexo biológico como não importante, a despeito da inescapável impressão digital biológica, do XX e XY no nosso corpo.

Tem sido assim também com relação às ideias de que temos direito a algo pelo qual não trabalhamos e não conquistamos; direitos que “nos são devidos” mas que alguém terá que pagar por eles. Tem sido assim com relação ao “capitalismo malvadão” e sua geração de riqueza e o consumo/confisco dessa riqueza por governantes que nunca descontaram uma duplicata ou pagaram uma folha de salários na vida.

Tem sido assim, mais recentemente, com física e matemática, cujos rígidos padrões lógicos não são “aceitos” por alguns, que adorariam que 2 + 2 fosse igual a 22… Tem um vídeo excelente sobre isso… procurem no YouTube.

Enfim, tem sido assim todas as vezes que a realidade impõe à sociedade algo duro de engolir. Qual avestruz, muitos escondem a cabeça na terra na vã tentativa de que o problema desapareça, independentemente do fato de que 2 + 2 = 4, independentemente de como me sinto com relação a isso.

Nossa sociedade perdeu a capacidade de ser pragmática. Foi o realismo, o pragmatismo, segundo Viktor Frankl, que permitiu a muitos prisioneiros de campos de concentração sobreviverem às terríveis condições impostas pelos nazistas. Os otimistas morreram logo; os pessimistas, logo depois. Acho que os hedonistas morreram antes de qualquer grupo desses.

A vida não coaduna com o hedonismo puro e simples. A liberdade não lhe paga homenagem.

Decerto, em mais 20 anos esse artigo mal escrito poderá fazer sentido para alguém que, depois de cismar com igualdade de sexos, ou sua inexistência, ou políticas sociais infinitas, tenha perdido a liberdade ou encontre-se na mais miserável existência.

Acordar antes do problema é melhor do que depois, ou não acordar mais.

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