Ram Charam e o Caixa-Rei

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Li e envio aqui o link do artigo recente do famoso Ram Charam sobre a situação economica atual, no mundo, e a necessidade de preservação de Caixa – “Cash is King”. Meu amigo, Dr. Marcos Leandro Pereira, reproduziu e comentou sobre o artigo, e o faço aqui, não só em deferência à sua ilustre opinião, como ao próprio Charam, obviamente. Não faço inteiramente minhas as opiniões de Charam no que tange ao Brasil, especificamente.

Entendo o espírito do artigo, e gostei muito, Marcos. Talvez a única consideração é o cuidado que devemos ter no conceito “cash is king” no Brasil. Vivemos em meio a uma recente e crescente onda de incertezas que na prática nem sabemos onde vai dar. Coisa boa, parece que não será. Assim, “cash may not be the king here; hard assets do”… ou seja, melhor, aqui, talvez seja buscar portos mais seguros. O estranho é que vemos investimentos estrangeiros entrando no país e brasileiros buscando abrigo no exterior. Lula é uma “unanimidade midiática” em quase todo lado que eu vou, com raras e honrosas exceções (alguns estados nos EUA, por exemplo). Ninguém parece se dar conta da raiva e do espírito de gastança pública, do “re-loteamento” do executivo em Brasília, e das insanidades que tomaram conta do esferas do poder federal (fora as ações “fora da casinha” do STF, claro). Assim, hard assets me parecem ser algo, no mínimo, a ser considerado num país como o nosso…

Eu mesmo, in LinkedIn

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Com essas breves palavras acima, creio que introduzi o assunto que ninguém quer falar, aqui, e que “tá dominado” no exterior. A máquina de propaganda, muito possivelmente com nossa grana, perpetrada pelo partido no poder, o “Labors-Nine”, pra quem entende, varreu do mapa toda e qualquer consideração sobre o dono do partido, no que tange a corrupção e tendências não democráticas, além de uma eleição pra lá de suspeita (não me refiro aqui a urnas, necessariamente, mas à militancia de um TSE que, no meu ver, atuou para influenciar a campanha política de forma decisiva).

Loolah no Exterior

Tanto em boa parte dos EUA (e em sua mídia mainstream, com certeza), quanto na Europa, essa “dominada” por uma visão de mundo de esquerda, começando pelos seus principais players na mídia, Loolah (sorry pela escapada covarde na soletrada) é um semi-deus, provavelmente candidato ao Premio Nobel da Paz.

Faz-se uma força hercúlea e desproporcional, que eu não sabia que era possível ser exercida por um “Anão Diplomático” (thanks, Israel) como o Brasil. O homem que ficou preso por mais de 500 dias, julgado e condenado por mais do que uma simples meia-dúzia de juízes de várias instâncias, culpado como o capeta, volta à cena do crime (cena em español, porfa) incensado por quase metade dos votantes do país, e nos braços da imprensa nacional.

A Rússia já disse que vai considerar a “proposta de paz” feita pelo sujeito para a terminar a guerra na Ucrânia, como se proposta viável alguma tivesse sido feita. Isso, obviamente um coup-de-main para elevar o status da Rússia junto a nós e reforçar o caráter de estadista de Loolah, foi noticiado como verdade revelada. Se o Kremlin tivesse pedido a canonização do desfeliz junto ao Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, eu ficaria menos espantado…

Independentemente disso tudo, a dicotomia entre o que o cara fez e é e a visão que o mundo tem dele é de matar de raiva. Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal.

Loolah no Brasil

Aqui o negócio é um tantinho diferente, a despeito da força da mídia em lavar ratazanas. Uma boa parte do eleitorado e dos formadores de opinião, esses (nós) frequentemente tachados de burros e “gado”, sabemos claramente que se trata de uma aberração, o que vivemos hoje.

Não tenho amor algum por Bolsonaro, e o culpo por várias coisas: a)desconsideração e apoio no desprestígio à Lava-Jato; b)briga desnecessária e burra com a imprensa mainstream nacional – que o isolou; c)desconsideração com efeitos da vacinação, o que não ajudou em nada num momento difícil ; d)transito atabalhoado e burro junto ao STF e Congresso – só pra ficar nos exemplos mais gritantes. Bolsonaro foi um cara que correu uma maratona sozinho, e chegou em segundo lugar. Impressionante a performance dele e de seus pimpolhos, sempre rápidos no gatilho pra falar, sem pensar.

Mas tenho que admitir que o cara teve méritos muito maiores, a despeito de tudo isso – méritos esses parcialmente desfeitos pela mesma mídia maistream que ele desprezou: a)controle da inflação e retomada em “V” da economia; b)ausência de casos de corrupção – pelo menos comprovados e vultosos – em seu governo; c)excelente condução da política de infraestrutura, terminando obras inacabadas – uma constante em qualquer governo anterior; d)excelente tratamento dado ao setor mais competitivo do país – o Agro.

Isso tudo, o que tem a ver com o artigo de Charam?

Tá… e daí? Daí que, como eu disse, estamos diante de um caso de esquizofrenia econômica. Claro que podemos ter uma reviravolta para melhor, com a demissão de Haddad, que é uma nulidade em vários segmentos do conhecimento humano, mas principalmente em economia. Claro que podemos ter uma crise de “Lula 1” com mais “paz-e-amor”, quando este se dê conta de que não vai “dominar tudo” por aqui como os pares dele, Cristina, Ortega e Maduro, para ficar somente nos exemplos mais próximos, fizeram em seus países de origem. Claro, por fim, que temos a possibilidade do Congresso ter um pingo de decência e começar a exercer seu poder, independentemente de loteamento de cargos e cooptação.

Mas não creio, sinceramente, que isso vá ocorrer. Creio sim que haverá uma deterioração do cenário econômico por aqui. Diz-se que em Brasília, depois de 2 meses de governo, quase 2/3 dos cargos do segundo escalão ainda estão por ser “distribuídos”. Por que? A se manter o modus operandi usual, esses cargos estão a espera de suas respectivas “éxcélênssias”, que pagarão por eles com o toma-lá-dá-cá costumeiro, sem vergonha ou respeito, e, francamente, sem pensar no amanhã.

Diz-se também (não posso provar, óbvio) que o sistema de “fale com fulano”, e “fulano resolve isso” já está de volta a Brasília. Todos lá estão felizes. Afinal, deu-se ali o retorno do Jedi-mor.

Concluindo…

Assim, só restará ao Brasileiro, se eu estiver certo, os “Hard Assets”, ou seja, “coisas” que são mais difíceis de serem garfadas, como terras, imóveis, e, lá no fim da descida da ladeira, ouro, outros metais preciosos, etc. No fim da ladeira há um poço em que o conceito de “Cash is King” (respeitado em todo mundo, por boas razões) encontrará pouca realidade fática no país, se a moeda se corroer (enquanto o Campos Neto lá estiver, duvido um pouco), se os preços dos ativos em bolsa virarem fumaça, os títulos do governo subirem de nível de risco e, por fim, se a inflação, vilão nota mil de qualquer população, voltar com força.

Aqui, Cash will be the Executioner. Melhor fazer o que muitos estão fazendo, enquanto dá, e ter um pé-de-meia tão seguro quanto possível, a salvo das mãos do governo…

Passado Movediço

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Ontem fomos todos tomados de surpresa por uma decisão do STF que é, para dizer o mínimo, insólita. A imagem abaixo, do Valor, conta a história com relativa exatidão:

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Vou dar as minhas razões particulares, como auditor independente, conselheiro e cidadão, do porquê acho isso tudo tão absurdo.

Insegurança Jurídica

A síntese desse “pagode” é relativamente simples, pelo que pude depreender: você é uma empresa, contribuinte, recebe uma multa, com ou sem razão (tsk, tsk…) e recorre em instância administrativa, e termina na instância judicial. Lá pelas tantas, o STJ, ou qualquer tribunal que seja considerado “definitivo” como corte decisória, te dá ganho de causa, ou seja, considera-se o assunto passado em julgado. Pois bem, com base nisso, a empresa passa a ignorar os efeitos financeiros da mesma – se estava provisionado o valor da contingência, reverte a provisão; se não estava (seja por falta de critério contábil ou por opinião favorável de seus advogados, aceitas por seus auditores independentes), mantém tudo como d`antes, fora dos livros.

Agora, por essa decisão, se o tal STJ deu uma decisão favorável e, após isso, o MESMO tribunal passa a decidir de uma forma oposta, o fisco terá o direito de te cobrar a dívida, antes considerada não devida, da mesma forma, a partir do momento em que o tal tribunal deu decisão em contrário.

Efeitos

Eu fico aqui me perguntando como vou proceder com meus clientes. O QUE vou ter que re-re-revisar, para tentar entender que “causos” foram já julgados no passado e considerados como sendo irrelevantes ou afastados do balanço da empresa, eu terei que dizer “sinto muito, provisione de novo porque o STJ reverteu – não a sua – decisão e agora você corre o risco de ver sua grana penhorada pelo fisco…“. Como diria Noel Rosa, “com que roupa / eu vou”. Não sei, e estou aqui matutando quais efeitos adicionais isso pode ter. Alguns deles abaixo, para raiva, medo frustração ou choro dos colegas e amigos.

Fusões e Aquisições

Processos de fusões e aquisições no Brasil já são uma dor de cabeça, justamente porque aqui no Brasil, o conceito de “responsabilidade solidária” atinge seu ápice mundial: se o seu predecessor, na sociedade, cometeu um crime tributário, você, que adquiriu a empresa – sabendo ou não do fato – é responsável pelo mesmo. O CNPJ é responsável. Não quem perpetrou o ato, do ponto de vista decisório. Com isso, os processos denominados de Due Diligence são muito mais complexos do que em qualquer lugar do mundo. Honorários de Due Diligence aqui costumam ser demasiado caros, em relação a (quase) qualquer outro país de mesmo porte.

E agora, o que dizer ao investidor? “Sabe a Due Diligence que eu fiz há 2 anos? Pois é, o “escrow” não é mais suficiente, sabe… e não é porque erramos a mão. É porque ressuscitaram um assunto morto e enterrado. Tanto eu quanto seus advogados concordamos que na época não havia qualquer risco aqui”…

Auditoria Independente

Nem sei por onde começar aqui. Imaginemos o caso mais rumoroso dos últimos tempos: PIS e Cofins na base de cálculo do ICMS, julgado em última instância pelo STF, que, em tese, colocou uma pedra na sepultura e selou a cal e canto. Todo mundo correu para recuperar a grana paga indevidamente ao fisco federal. Ora, cobrar 9,25% sobre, digamos, 12% de ICMS, implica em uma “super tributação” de 1,11% -impacto direto sobre preços e custos, e, necessariamente, sobre a atividade econômica fabril e comercial como um todo.

Empresas de todo o Brasil tiveram o direito de recuperar esses montantes, e nós, auditores independentes, diante de um fato consumado, nada mais temos a fazer senão concordar que já não há efeitos aqui, exceto aqueles contábeis advindos dessa recuperação do gasto tributário passado excessivo.

Suponhamos que amanhã, um “outro STF” decide julgar exatamente o oposto. Se entendi bem, o fisco federal, e seus supercomputadores Cray, vão imediatamente identificar todos os contribuintes que ganharam ações contra a Receita, e cobrar tudo de novo, com juros, multa e correção.

A questão é: o QUE considerar contingência e o que não? Para as demonstrações contábeis de 2022 (dezembro), sob auditoria neste momento, não sei ainda o que teremos que rever a ponto de saber o que terá que ser reconsiderado. Pode ser (ainda nem medi isso) que alguns clientes tenham ganho ações no passado que já tenham sido objeto de julgamento diferente.

Estado de Coisas

Parece coisa de “direitista radical”, “bolsonarista” ou coisa que o valha. Não é. Confesso que não sou lá tendente a teses de esquerda, conquanto concorde com algumas delas, en pasant. Mas o fato é que temos diante de nós uma situação que sequer sabemos onde vai nos levar como economia.

O “Estado de coisas” é de tal ordem movediço que faz a célebre frase atribuída a Pedro Malan – “No Brasil até o passado é incerto” uma verdade absoluta.

Segunda Linha

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Ao longo da minha carreira profissional em Auditoria Independente, já fiz parte de uma firma de auditoria de Primeira Linha (Andersen) e várias firmas e alianças de “Segunda Linha” (Praxity, RSM, Russell Bedford). Indistintamente recebi críticas, de qualquer lado e sob qualquer posição, em qualquer das empresas. Uma porque “despejava um caminhão de estagiário” para fazer o trabalho de auditores, outras porque “não tinham o tamanho e não passavam ‘confiabilidade’ necessárias ao mercado”.

Ouvi isso com muito cuidado e respeito, e, como profissional, com uma doída pontada no fígado, por não expressar o que realmente existe na parte da Contabilidade que se chama Auditoria, e por que os resultados de nosso trabalho às vezes nos fazem dar com os burros n`água junto à opinião pública.

O fato mais clamoroso e mais recente diz respeito às Lojas Americanas (AMER3) e a “maior fraude contábil da história do mundo”, segundo alguns veículos de comunicação.

Mais recentemente, a Dra. Patrícia Punder, indicada como Perita para a AMER3, pelo juízo da Recuperação Judicial, declinou do trabalho pela via de uma argumentação enviesada e francamente (meu julgamento) exangue de conhecimento profissional:

Em entrevista a VEJA, ela apontou a falta de acordo financeiro e, sobretudo, a impossibilidade de trabalhar com uma das quatro maiores empresas contábeis especializadas em auditoria no mundo (Deloitte, EY, KPMG e PwC) como fatores determinantes para a decisão de abandonar o caso. Fora isso, ela também disse que temia por sua integridade física com o desenrolar das investigações contra os acionistas…

https://veja.abril.com.br/economia/o-alerta-da-advogada-que-renunciou-trabalho-como-perita-em-caso-americanas/

A advogada, que não sabemos que nível de conhecimento contábil e de auditoria, especificamente possui (não duvidamos que os tenha), informa que sem uma das quatro maiores firmas de auditoria do mundo não pode investigar os resultados do trabalho de… uma das quatro maiores firmas de auditoria do mundo.

Mais adiante continua da seguinte forma:

Segundo a advogada, a recusa das grandes empresas acende um sinal de alerta no caso. “Isso me preocupa muito, porque eu precisaria ter uma auditoria de primeira linha, pois o caso é muito complexo”, diz ela, afirmando que chegou a contatar auditorias de “segunda linha”, mas que, por questões de confiabilidade, o ideal seria trabalhar com uma das chamadas “Big Four”.

Idem

Dois aspectos fundamentais que eu gostaria de deixar registrado

Primeira ou Segunda Linha

Trata-se de uma demarcação não existente, do ponto de vista técnico, e muito menos no que tange à qualidade do que pode ser feito por uma auditoria “qualquer”, que detenha a técnica necessária. Esta técnica deriva do conhecimento das Normas Brasileiras de Contabilidade de Auditoria Independente de Informação Contábil Histórica (NBC TA) e das Normas Brasileiras de Contabilidade, que, no Brasil, administra (Lei 11.638/2007) o regramento contábil brasileiro, derivado dos IFRS -“International Financial Reporting Standards” (Ou Padrões Internacionais de Relatórios Financeiros).

Quando no Board da RSM, vivemos um embate, na Europa principalmente, contra cláusulas que se chamam “Big Four Only” – são cláusulas em que uma reserva de mercado é criada por agentes do mercado, a fim de que se reconheçam somente as auditorias de Big Four como sendo válidas para chancelar Demonstrações Financeiras/Contábeis.

Importante deixar claro que não há NADA, absolutamente, de minha parte, contra as Big Four – muito pelo contrário – imenso apreço técnico e amizade por vários sócios e profissionais dessas empresas, que realmente são usinas de fabricação de ferramentas de qualidade técnica. Apenas que não são as únicas, e nem sempre estão na vanguarda das inovações. Portanto, não estou aqui tratando de dividir o mercado em “eles” e “nós”. Estamos tratando da inadequada visão – do mercado – de que existe um abismo técnico intransponível entre as firmas e alianças denominadas “Mid-Tiers”, e as grandes firmas. Aliás, o “gap” de faturamento entre elas é cada vez menor em termos percentuais. Cá entre nós, dizer que uma firma de faturamento de USD 8 bilhões é “necessariamente pior” do que uma de (digamos) USD 30 bilhões é o mesmo que dizer que o carro “A” é melhor que o “B” porque a montadora “A” é 10 vezes maior do que a “B”, o que faz menos sentido, por exemplo, quando se tem um carro com um tridente em cima do capô, só pra ficar num exemplo.

Eu não ousaria chamar um advogado de “segunda linha” porque ele não pertence a um mega escritório. Aliás, a profissão de advogado, diferentemente da do auditor, não teve o nível de concentração inacreditável que temos hoje na nossa área. A razão é que os advogados não admitem determinadas práticas chamadas “comerciais” dentro de suas competências, e são zelosos delas, mundo afora. Ao contrário, talvez os maiores juristas do mundo não estejam debaixo de mega firmas, mas sob sua própria luz técnica. Nem por isso dizemos que são de segunda linha.

Caráter Personalíssimo

Um outro fato que talvez passe despercebido do respeitável público é o caráter personalíssimo dos trabalhos, tanto de advogados, como de contadores e auditores. O sócio responsável, e só ele, deveria responder por eventuais problemas e falhas técnicas, devidamente comprovadas. O caso da Andersen, no imbroglio da Enron, é um exemplo clássico dessa máxima. Nancy Temple e David Duncan, sócios da firma, foram apontados como tendo cometido o ato que levou toda uma firma centenária à bancarrota, por perda de sua reputação. A Andersen foi ainda condenada em primeira instância por destruição de provas, o que foi revertido pela Suprema Corte dos EUA anos depois, em 2005. Sob qualquer aspecto, me parece que se trata sempre da relação entre o Sócio Responsável e o Cliente.

É natural que clientes pressionem o auditor independente a ver as coisas sob o seu prisma. E cabe ao auditor independente refutar, quando aplicável, qualquer consideração que não tenha eco na técnica. Quanto a técnica é vaga ou interpretativa, existe latitude para pensar em um lado ou outro do espectro de decisão. Porém, nunca em detrimento da realidade – e, no caso Americanas, em detrimento da verdade a ser dita ao acionista e ao mercado (o próprio Arthur E. Andersen costumava falar seu “mantra” pelas esquinas da firma – “Think clearly, speak clearly” – pense com clareza, fale com clareza).

Pressões

Talvez o que norteie a independência do auditor não seja (creio que não é) o tamanho da organização da qual participa, nem, como alegou a Dra. Patrícia Punder, a existência de tecnologia ou capacidade técnica para tecer julgamento sobre as contas de uma organização do tamanho da AMER3. Com o avanço das técnicas de Big Data, Data Warehousing e Screening de dados, basicamente qualquer auditor, ou grupo de auditores, tem condições de julgar saldos contábeis, independentemente de sua magnitude, dados o TEMPO e o ACESSO adequados. Disso não tenho dúvidas. Tampouco disputo competição técnica com colegas de Big Four. Creio que empresas de auditoria devidamente qualificadas para tal, sejam elas Big Four of Mid-Tier, detenham suficiente conhecimento para liderar – se disposição e incentivo tivessem- equipe de auditoria para cliente de quase qualquer tamanho. A única limitação a ser identificada e leva em conta é a capacidade de atendimento pela quantidade de profissionais disponíveis para tal. Lidero auditorias de alguns clientes com tipos societários como Sociedade por Ações de capital aberto e fechado, sociedades de grande porte, dou as ressalvas necessárias, e não me importo, nem deveria me importar, se um cliente vai me trocar por outro auditor mais bonzinho, por conta de ressalva em parecer de auditoria (conhecido como “parecer sujo”). Faz parte do jogo. Não disputo o fato, mas como Arthur E. Andersen, por volta de 1913 disse “não há dinheiro suficiente na cidade de Chicago pra comprar minha opinião”. Esse é o espírito que deve reinar na profissão.

Particularizando, eu hoje detenho em minha carteira, CNPJs que isoladamente não representam mais do que 5% da receita da minha firma. Se colocarmos grupos econômicos na jogada, talvez uns 7%. É uma exposição alta, talvez, mas nunca a existência sobre os ombros de alguns colegas, na qual um único cliente pode corresponder a 100% da receita comandada por este profissional. Isso sim é poder de pressão de cliente sobre auditor. E isso independente do tamanho da firma. O profissional está mais exposto.

ISQM1 – Recentes Decisões sobre Controle de Qualidade em Auditorias

Não é de hoje que as auditorias lutam com a necessidade de que um responsável técnico esteja sob o olhar atento de outro. Sempre há essa preocupação, justamente pela pressão que alguns clientes exercem sobre o auditor responsável (principalmente quando em problemas!). A recente norma ISQM1, (International Standard on Quality Management 1 (Previously International Standard on Quality Control 1) – Quality Management for Firms that Perform Audits or Reviews of Financial Statements, or Other Assurance or Related Services Engagements: Padrão Internacional de Gestão da Qualidade 1 (anteriormente denominada Padrão Internacional de Controle de Qualidade 1) – Gestão da Qualidade para Firmas que executam auditorias ou revisões de Demonstrações Financeiras, ou serviços relacionados) é o resultado da evolução do processo de controle interno, pelas firmas de auditoria, sobre os resultados exarados para o público.

Implicam na existência de um Sócio Revisor (em alguns lados chamados de Cold Reviewer, ou Revisor Frio), que não participou dos trabalhos, mas detém qualificação técnica e experiência para tal. Difícil dizer se um Revisor extra conseguiria, na maioria dos casos, identificar e trazer à luz casos que se ligam a fraudes, pura e simplesmente, como os casos da Enron, já mencionados, e escândalos ainda maiores, como o da WorldCom, Vivendi, ou mesmo o caso Petrobrás, que sequer foi tratado como escândalo contábil, e que não tiveram repercussões tão duras (o caso da WorldCom sequer tem mais o verbete, sob “Escândalo”).

A Norma NBC PA 400, “Independência para Trabalhos de Auditoria e Revisão”, Seção 410, fala exatamente sobre isso – independência para trabalho de auditoria e revisão. É só ver lá que ficará claro que o regramento existe e é claro suficiente como para permitir que os auditores façam o que é correto para que seu trabalho seja perfeito, tecnicamente.

O fato é que a profissão evolui e tentar evitar que casos como este aconteçam. No entanto, a profissão, como um todo, fica sempre desprotegida em casos de fraude, pura e simples, já que não é função de auditores independentes investigar fraudes, ou dar conta de situações nas quais foram levados a cometer erros não intencionais, por conta de malversação de dados ou fundos.

Falar com Clareza

Ao escolher falar com clareza, o auditor está sujeito a pressões de seus contratantes e dos seus pares, contadores, dentro das organizações. A alternativa, de ter uma auditoria totalmente “estatal”, como alguns apregoam, é ainda pior – vide o número de escândalos que o poder público é submetido, dia a dia, e a dificuldade de apura-los.

A outra alternativa, à francesa, de ter dois auditores independentes atuando simultaneamente, parece não ter surtido muito efeito ao longo dos anos. Vide o caso Vivendi, já mencionado, no qual dois auditores não conseguiram trazer a público os fatos, e falar com clareza.

O que não podemos como profissionais contábeis aceitar são as alusões a “pequenos” e “grandes” auditores, “primeira” e “segunda” linhas, como se fosse o tamanho de uma organização que determinasse sua capacidade de falar a verdade. Entendo que não o é. Ainda, nós auditores podemos e devemos defender as prerrogativas da nossa profissão, contra a predação constante de outros, interessados sempre nos resultados que a falta de clareza ao falar possa gerar de benefícios ao seus clientes – não falar de um passivo não registrado, não falar de uma ação cujo ganho é menos que certo, não falar que tal ou tal ativo está super ou subavaliado, entre outros casos comuns.

Lidar com pressão tem que fazer parte do treinamento do sócio responsável por uma auditoria. Existência de ressalvas também pode e deve ser parte da vida de companhias – inclusive de capital aberto, a fim de que o público possa julgar até que ponto detêm informações suficientes para tomada de decisões.

À Dra. Patrícia, apenas desejo que ela segregue os fatos em seu julgamento, e não submeta sua opinião ao público sem uma reflexão mais profunda. Sobre o medo pela própria vida e dos familiares, é algo pessoal e intransferível. Desejo a ela e a todos os profissionais nesta situação, muitas bênçãos e proteção.

Capitalismo pode ser Selvagem. O noticiário, pior… muito pior.

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O fato é que de quando em quando um escândalo financeiro vem à tona. E quase sempre tem um auditor chamado de corresponsável. Não que seja, ou nem sempre, mas minha profissão é ingrata, às vezes.

Os casos recentes de IRB e Lojas Americanas trouxeram de volta à memória casos anteriores, como ENRON, Vivendi, ou mais recentemente os escândalos envolvendo “pirâmides” como a do Madoff. Em todos eles, uma união entre interesses dos diretores, ou “C-Levels” como o Condado da Faria Lima os chama, e seus supostos guardiões: auditores, conselheiros de administração, conselheiros fiscais e auditores independentes.

Fico à vontade (na verdade, à vontade dentro da maior saia justa) para falar do assunto, pois tanto me sento em conselhos de administração, fiscais, como sou auditor independente em uma série de empresas. Convivo com a necessidade de emitir uma opinião sobre demonstrações financeiras, em empresas que muitas vezes tem problemas de avaliação de patrimônio e preciso dar uma “ressalva” (o termo técnico para dizer que algo não está como devia ser, no Balanço de uma empresa).

Convivo também, como conselheiro, com a necessidade de ser rigoroso e ao mesmo tempo simpático com as necessidades e dificuldades das empresas às quais sirvo. E só sirvo se for rigoroso. Se não o for, terei sido só um “cone” no ataque da seleção, como chamavam o pobre Fred, indevidamente… E cone não sou. Por isso é fácil comprar encrenca pra cima da minha carcaça. A depender do interesse de quem você audita, ou aconselha, a vida pode ser mais ou menos formosa.

Por isso, situações como as das Lojas Americanas me falam ao coração e me transmitem uma certa simpatia pelos seus auditores, lançados na fogueira da imprensa, inclusive por “crimes” que nem tipificados como tal o são, como o suposto crime de “fraude contábil”. Só falta chamar de terrorismo, como parece ser moda. Não quero, obviamente, compactuar com erros de quem quer que seja, colega ou não. Quero apenas dar às coisas as dimensões que têm, se e quando tiverem. A imprensa só tem certezas. A imprensa já fez sua análise contábil, já colocou seus experts em Normas e Procedimentos de Auditoria pra estudar o caso (com que dados, não sabemos) e já crucificaram tanto o auditor independente quanto os administradores.

Já nós, a classe contábil, só temos dúvidas. Eu, por enquanto, sou um poço de dúvidas. A menos que tenha havido, de fato uma enorme fraude, com “Fê” maiúsculo, não consigo (por enquanto) enxergar R$ 20 bilhões como faltando no balanço da empresa. Consigo, talvez, enxergar um valor de juros advindos de quebra de Covenants (que são os requisitos mínimos que os bancos exigem para que um empréstimo tenha uma determinada taxa de juros). Nada, por enquanto, me leva a crer que alguém tenha contabilizado juros “ao contrário” nas Demonstrações de Resultado. Me pareceria ignóbil demais, difícil de explicar e claramente impossível de esconder do auditor – exceto por conivência. Não acredito. Prefiro não acreditar, claro.

O que me “dana” a alma nesse caso todo é como tudo foi feito, e como tudo poderia ter sido conduzido totalmente diferente, e não foi. Não culpo ninguém, obviamente, mas um troço desse tamanho, hoje já chamado de “maior escândalo do país” e maior mesmo do que a nojenta ENRON, poderia ter sido objeto de maior reflexão, e contato entre as partes interessadas. Algumas vezes vi “Concordatas Brancas”, como se falava antigamente, em que uma empresa se via num problema e chamava as partes interessadas mais “agredidas” ou com maior potencial de perda no processo e discutia-se uma solução que não passasse por uma tremenda lavação de roupa suja nas páginas dos jornais. Aqui parece que o objetivo foi justamente o contrário: de jogar tudo no ventilador, da forma mais virulenta possível, e esperar a pior resposta possível da sociedade.

Temos que lembrar, ainda, que existe a possibilidade de que o procedimento ora denominado de “fraudulento” ou “criminoso” pela imprensa e por algumas vozes influentes, seja algo de uso muito mais comum, o que poderia levar o mercado, e a CVM, seu regulador, a um de dois caminhos: a)todo mundo de mão na parede, e revista corporal e algemas ou; b)se é “de mercado”, obviamente temos que criar uma forma de contenção, a fim de que não tenhamos na mão uma crise sistêmica com condão de matar todo um segmento, deixando o povo sem roupa barata, eletrodomésticos em 12 X sem juros, e por aí vai. Sem esquecer do impacto em toda a cadeia de fornecedores.

É um juízo de valor que não quero fazer. Mais do que essa situação toda, o “timing” me parece tremendamente (in)feliz – logo depois da troca de governo, e com o advogado do presi…dente como defensor. Tudo isso dá margem a um filme pra Hitchcock nenhum botar defeito.

Francamente espero que a técnica tenha sido aplicada, e que tudo acabe sendo um problema menor, para bem do mercado, das empresas e do seu auditor independente. Não creio que será, mas desejar não custa.

Desejo, porém, ardentemente, que as redações acabem com o amadorismo da peste que as ronda, e cerquem-se de gente que checa dados, e não detenha uma agenda abertamente anticapitalista, de “ser por ser” e que se dane a sobrevivência do outro.

Espiral Descontrolada

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É uma obra de ficção, portanto não adianta procurar similares ou reflexos de vida real. Depois da “obra”, vamos tentar estudar uns fatos:

“Seeker”


“Carros elétricos acabam se tornando MagLevs, que podem ser carregados e impelidos usando supercondutores magnéticos de baixo custo nos carros e nas ruas. Nessa taxa, os novos tipos de carros vão deixar obsoletos os Teslas, SpaceX e qualquer outra montadora de automóveis, sem exceção, dentro de uma década. A ordem mundial, pelo menos no que tange a tecnologias, foi relativamente estável por milênios. Mas nos tempos modernos, indústrias nascem e morrem à uma taxa furiosa. Mesmo tecnologias que pareciam interligadas no tecido social foram relegadas à lata de lixo da história num piscar de olhos. Em 1996, Eastman Kodak era uma força motriz com 140 mil empregados e um valor de mercado de USD 28 bilhões. Mesmo com tudo isso, meros 16 anos depois a companhia dava entrada com pedido de falência. Um Tiranossauro-Rex que falhou em imaginar o poder disruptivo que a revolução da fotografia digital criaria.

Em contraste com a Kodak, enquanto esta estava dando seus últimos suspiros, um pequeno grupo de empreendedores fundava o Instagram, um serviço de compartilhamento de fotografias que rapidamente atraiu algo como 800 milhões de usuários. Apenas 18 meses depois de sua fundação, no mesmo ano da falência da Kodak, esses poucos fundadores do Instagram haviam vendido sua empresa por USD 1 bilhão.”

“Seeker” (tradução minha), de Douglas E. Richards.

Os fatos acima são reais, a despeito do contexto de ficção desse cara aí, que é best seller. A questão a abordar é o quanto isso é verdade e os efeitos disso no mundo. Onde vamos parar? Ou melhor, vamos parar? Ou vamos continuar acelerando? Indefinidamente? Onde isso vai nos levar?

Empresas Grandes, Empresas de Vida Curta

O que o autor acima conclui é que estamos vivendo em um mundo de mudanças tão drásticas e rápidas que daqui a pouco não teremos mais condição de nos manter sãos.

Eu concordo, em parte. Acho que a despeito disso estar acontecendo, e que haja de fato uma mortalidade alta nas empresas, um fato é mais importante e talvez nos leve na direção exatamente oposta: o tamanho cada vez mais paquidérmico das empresas, e suas características de oligo-monopólio.

Caminhão sem Freio

Ao mesmo tempo em que alguns advogam pelo tempo de qualidade e de família, equilíbrio entre negócios e lazer, e outros, mais ainda, querer “resetar” o planeta pela via da mudança completa da forma de se conduzir a vida, outros criam em cima de criações de outras criações nessa espiral tresloucada.

Não dá para nos acostumarmos com uma tecnologia; outra vem e nos deixa obsoletos. Tenhamos nós 8 ou 80 anos de idade. Eu me sinto obsoleto dentro de minha própria profissão, apesar de ter ajudado a criar algumas tendências, ao longo dos anos. Não há como conter isso, como não há como conter um motor cujo cabo de acelerador travou, e o cabo do freio partiu. É aumentar o giro até que exploda. E vai explodir, é claro.

Essa constatação de “caminhão sem freio ladeira abaixo” por um lado cega os “adrenaline junkies” e deixa os medrosos mais apavorados do que o normal. Não fui, nunca, um viciado em adrenalina, mas tampouco me conto com os medrosos. Me conto, isso sim, no “centrão“, por assim dizer. Mesmo eu estou apalermado com a velocidade do nascimento e morte de empresas, e onde isso vai nos levar.

Dinâmica de um Mercado com uns poucos Donos

Cada vez que volto aos EUA eu fico mais apalermado com a “Corporate America” e como tudo foi dominado por um pequeno número de empresas com imenso poder financeiro e capacidade de estar em todo o país de forma “ubíqua”.

CVS e Walgreens são (quase) as únicas farmácias; WalMart, Publix e mais 4 ou 5 mega operações dominam todo o mercado de varejo em supermercados; Home Depot e Lowe`s dominam quase todo mercado de materiais de construção e itens para o lar; Exxon, BP e mais 4 ou 5 bandeiras dominam toda a distribuição de combustíveis; McDonald`s, Burger King, Taco Bell e mais uma meia dúzia de redes dominam a refeição fora de casa… Não existem mais os famosos “moms-and-pops”, ou seja, os negócios de família, fora de grandes redes, que, via de regra, trazem o colorido especial e o “diferente” ao mercado.

Além de tudo isso acima, nem convém citar o oligopólio das empresas de software (Apple, Google, Microsoft) e todo o segmento tecnológico.

A pergunta não é ser contra o capitalismo, como esse bando de ideias soltas parece conduzir. Trata-se exatamente do contrário – a morte do capitalismo pela mão dos maiores atores do próprio capitalismo. Isso não é capitalismo como deveria ser entendido, ou seja, o famoso capitalismo liberal, defendido por luminares como Ludwig Von Mises.

População Alta, Capitalismo Concentrado

Fica claro que não é possível alimentar, vestir, educar e mover uma população de 8 bilhões de pessoas com “moms-and-pops” somente. As mega estruturas são necessárias. No entanto, o “CADE” dos EUA, há muitos anos, tratou de cortar em pedaços empresas de petróleo e comunicações justamente para evitar que o monopólio acabasse por criar uma escravidão comercial e de consumo, e por consequência, um governo paralelo, dos “Robbing Barons” (Barões Ladrões), que quase dominaram toda a nação.

O mesmo aconteceu com o sindicalismo nos EUA, e até no entretenimento, com Hollywood praticamente dominando a cena cultural e impondo padrões, muitas vezes rechaçados por boa parte da população.

Essa população tão alta precisa ser mantida viva e satisfeita. Isso é compreensível. Mas estamos numa encruzilhada: vamos continuar a manter os mercados centralizados ou vamos botar nossas regras anti-monopólio para funcionar? Vamos assistir passivamente a democracia ser erodida pelo controle financeiro esmagador dos mono/oligopólios, ou vamos tentar, ao menos, fazer com que haja mais competitividade.

O último, e talvez mais absurdo exemplo, esteja no jornalismo. Com o advento das mídias sociais, críamos que teríamos poder de palavra limitado somente pela quantidade de pessoas dispostas a nos ouvir. Ledo engano. Estamos sendo massivamente dominados por “centros de pensamento” dentro de empresas de comunicação.

O mundo precisa achar uma forma de não deixar que uns poucos capitalistas acabem com o próprio capitalismo “raiz”.

Há Conclusões?

Nem sei mais. Espremidos entre uma guerra cultural e ideológica de um lado, e por um capitalismo que cada dia se parece mais com uma ditadura, temo que quando eu chegar a alguma conclusão, o mal já estará feito para mim e para todo mundo que gosta de comprar um cachorro quente qualquer, num Bar do Seu Zé qualquer, e depois tomar um café passado na hora…

Recessão com Pleno Emprego

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Estou há 1 mes nos EUA, a trabalho. Trouxe a esposa para que ela tenha uma “american way of life experience”. Está sendo muito bom, com as ressalvas de sempre, que qualquer brasileiro reclama (comida muito calórica e doce, preços nas alturas, falta de gente na rua, etc). Estando num estado “rural” (Carolina do Sul), e convivendo com os amigos/irmãos locais, no estilo de vida deles, estamos literalmente imersos na cultura, com nossa casa e carro, e as idas e vindas do mercado, típicas. É uma vida pacata, até chata, pela falta de vizinhança, agito social etc. Mas tem sido uma 2a. lua de mel bacana, com tempo pra refletir, orar, pensar na vida e planejar o que fazer, depois que um tal fruto do mar assumiu o nosso governo…

Auxílios

Ao longo da pandemia, o governo americano jogou bilhões na economia, sob forma de ajuda (indiscriminada) ao residente – cidadão ou não, desde que legal. Amigos meus brasileiros, moradores da Flórida, e com suas empresas e empregos, receberam cheques gordos (no conceito brasileiro). Teve gente que teve a pachorra de tentar devolver o tal cheque, sem sucesso. Eram U$ 1.400 por cabeça, ou US$ 2.800 por casal, mais US$ 500 por filho menor de 19 anos. Portanto, uma família com 2 filhos encaixava US$ 3,8 mil por mês, ou algo como R$ 14 mil por mês.

Incrivelmente, isso continua a existir até hoje, em muitos casos, a despeito de um processo de “phase out” (redução) até um teto de benefícios recebidos de US$ 160 mil (para um casal).

Empregos

A economia aqui está indo mal, sob Biden. Isso nem é novidade e francamente não entendo como um povo todo decide achar bacana trocar emprego e renda por programas sociais. Parte da sociedade aplaude isso – como no Brasil, e acha o máximo.

Hoje há uma (quase) recessão técnica, mas não há UM posto de gasolina, UMA loja, um caminhão que não tenha anúncio de “We are hiring” (estamos contratando). Do McDonald`s da esquina à gigante dos transportes J. B. Hunt, todo mundo está atrás de mão de obra. E não consegue.

Por que? Volte ao primeiro tópico. O povo está preferindo ficar em casa do que ir trabalhar, já que o governo continua a abastecer a dispensa e “bring the bacon home” (algo como “colocar o pão na mesa”). Daí o fato de que nossos filhos e amigos estarem conseguindo bons empregos aqui nos EUA, mesmo trabalhando remotamente, substituindo mão de obra local, que não deseja o incômodo, nem em home office.

Ética de Trabalho

O orgulho de todo pai (de bem) aqui neste país reside(ia) em deixar ao seu filho uma boa formação profissional e uma ética de trabalho sadia. O pai médio americano não mede sacrifícios para poupar para dar a seu filho a melhor universidade possível. O jovem é levado a trabalhar, mesmo antes de 16 anos, às vezes, para poder ter o “seu dinheirinho” e ter orgulho de produzir, poupar e gastar do que é “seu”.

Não é possível medir a erosão que esses 3 anos (2 de Covid e pelo menos 1 de arrasto) vai gerar na visão de mundo do americano médio. Isso, somado à invasão de estrangeiros ilegais dos últimos anos (5 milhões, de acordo com o próprio DHS). Nem quero imaginar. Aliás, posso mais do que imaginar – ver com esses olhos que a terra há de comer – se o exemplo de anos de renda mínima gerou no brasileiro. Claro que não podemos nos isentar de apoiar o necessitado. Não se trata disso. Trata-se de entender que qualquer desses planos deve ter início e fim.

Os EUA vivem uma situação bizarra de recessão com “pleno emprego” (se é que se pode chamar assim). Ninguém em sã consciência pode admitir este fato. Panis et Circensis mata civilizações e impérios. Matará esse também, e é isso que a esquerda internacional quer (minha interpretação – Xandão, ainda tenho direito a ela?).

Cenas dos próximos capítulos poderão não ocorrer, por falta de atores.

Ver é diferente de falar Sobre

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Eu estava presente em alguns episódios mais emblemáticos da América Latina. Eu estava presente no “Caracazo” de 1989, quando centenas de pessoas perderam a vida por conta de medidas do governo de Jaime Lusinschi, que resultaram no aumento da gasolina (em tempo, a gasolina lá custava menos de 10% do que custava no Brasil na mesma época).

O episódio abriu espaço para Hugo Chavez, que anos depois legou tristeza, perda de liberdade e destruição da economia venezuelana. Legou ainda o companheiro Maduro, de ainda mais tristes feitos, e uma população que já está, em boa parte, no Brasil, Colombia e EUA, apenas para citar alguns destinos favoritos.

Trocou-se o preço da gasolina pela falta de tudo, inclusive de liberdade.

Eu estava também em Manágua, na Nicarágua, quando era presidente Daniel Ortega, em seu primeiro ensaio de poder, do qual foi apeado à força em 2002, para retornar em 2007, pelo voto, e nunca mais sair. A destruição do terremoto de 1973, e outros menores, nunca havia permitido a Manágua se reconstruir totalmente. No entanto, a FSNL – Frente Sandinista de Libertação Nacional, fez a proeza de acabar não só com as regiões afetadas pelo terremoto, mas com todo o país, que até hoje sofre com todo tipo de privação, inclusive da liberdade.

Lá hoje, padres e pastores são presos indiscriminadamente, igrejas são fechadas e imprensa é censurada, como na Venezuela.

Eu estive na Argentina durante a hiperinflação de 1988, do “corralito”, do Menem (na época chamavam-no de Mendez, porque diziam que até o nome Menem dava azar…). Trocaram gente ruim por gente pior e socialistas disfarçados de peronistas. O resultado custou mais a acontecer, pois que a Argentina tinha melhores instituições (ainda tem, mas sendo corroídas a olhos vistos). Eis que hoje estão com 100% de inflação anualizada, tremenda desordem social e econômica, e um povo acostumado a receber benesses do governo, e achando tudo isso o máximo.

O corolário de tudo isso é um avanço não só da esquerda (eu acho que alguns ideais de esquerda são bem bons, pelo menos em teoria), mas de um tipo pervasivo de ditadura, que suprime não só o direito de opinião mas o direito de comer e se vestir. Que o digam os milhares de graduados em universidades, de Cuba e Venezuela, trabalhando no Brasil como motoristas de Uber, chapeiros em hamburguerias, entre outros trabalhos de alto nível de exigência intelectual.

Nossas Instituições

Assim como a antiga propaganda, que dizia que ‘nossos japoneses são melhores que os japoneses dos outros’, nossa democracia é melhor e mais sólida do que a dos infelizes vizinhos, carcomidos pelo problema do socialismo.

Lula deu a letra, há muitos anos, de que a implementação do socialismo aqui levaria mais tempo, porque o brasileiro era diferente do restante do mundo. E é verdade. Somos mais indolentes e menos propensos a briga, menos dispostos ao confronto. Mas o tempo está passando, e o proverbial sapo no balde está sendo cozido aos poucos.

Estamos prestes a levar uma surra coletiva, nacional, nas urnas (Deus nos livre!). E se essa surra se materializar, estaremos indo de vento em popa para uma situação de perda de referenciais técnicos e morais, que nos levarão, creio, ao desastre economico-social.

Escrevo, como já mencionei em um post no FB, para que daqui há alguns anos o próprio Face me lembre do que escrevi e eu possa re-postar com toda a tristeza que creio que ocorrerá, dizendo “eu te disse, eu te disse”…

Não peço voto em Bolsonaro. Não sou fã dele, embora consiga enxergar claramente o bom governo que está fazendo – apesar dele mesmo. Fico triste pelos meus amigos e parentes que fazem campanha aberta por um sujeito que, se tivesse sido mantida a Lei, estaria em cana, e não tomando cana, num palanque. Nem posso dizer “eles não sabem o que fazem”. Sabem, e resolvem demonizar um sujeito que nem de longe é tão ruim.

Mas isso é só minha opinião. Consigo continuar amando meus amigos e parentes que pensam diferente de mim. Só temo que terei que dizer “eu te disse… eu te disse” em alguns meses ou anos.

Deus nos livre desse destino!

ESG é o Capeta?

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Quero aqui dar uma visão razoavelmente balanceada sobre o advento do ESG. Difícil mas tentarei.

Pra quem não conhece, ESG significa, em inglês, uma sigla criada pelos barões do Forum de Davos: “Environment, Social, Governance” (Governança Ambiental e Social). São três palavras antes aplicadas separadamente e que foram agrupadas nessa única sigla, e que ganhou “vida própria” em seu significado, como outras no vernáculo pátrio, como “coitado”, “fascismo” ou “negacionismo”, além da onomatopéia “mimimi”, de ampla aplicação.

Em separado, não há como ser contra qualquer uma dessas posições. A questão é que ninguém de sã consciência consegue ser contra o Meio Ambiente, a Sociedade e uma boa governança de suas empresas. A questão complica quando juntamos tudo num mesmo conceito interligado, quando nem sempre o deveria ser.

O link abaixo, da Gazeta do Povo, dá uma excelente ideia, a despeito de um tanto carregada nas cores, sobre o que acontece e até onde o conceito mais radical de ESG permeia a sociedade.

https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-o-mercado-investidor-usa-o-esg-para-impor-ideologia-as-empresas/?ref=link-interno-materia

Gazeta do Povo, 01 de Setembro de 2022

Como “dirigir” a opinião da Elite

Por definição, “elite” deveria significar algo que varia de “abastados” a “formadores de opinião”, passando por uma série de conceitos como bom gosto (sic!), finesse e bom senso. Desta forma, mudar opinião de Elites nao deveria ser algo simples, nem tarefa típica de tanger rebanho. Mas ESG prova que não é suficiente e necessário para pensar independentemente ser da Elite – financeira, cultural ou qualquer outra.

Livre pensar é só pensar

Millôr Fernandes

O próprio Millôr, fina flor da Elite, do Beautiful People carioca dos anos 70 em diante, não se demonstrou elite, quando, por exemplo, execrou, esculachou e excluiu Wilson Simonal da vida artistica, provocando inclusive (direta ou indiretamente) sua morte prematura. Millôr, na prática, não livre-pensou em muitos momentos, a despeito de seu talento imenso.

O mesmo se pode dizer de expoentes culturais como Chico Buarque ou Caetano (cuja música eu adoro). Fazem reiteradamente escolhas que, por ideologia ou qualquer outra razão, nubla o entendimento da realidade, e auxilia sua ideologia a se impor a nós, ainda que “tomando o poder, o que é diferente de ganhar eleições”.

Mas é verdade. Livre pensar, é só pensar mesmo… Pense, arrazoe, sem dar chances à ideologia, e a verdade vem à tona, e você não volta a ser do jeito que era, não por ter um “lado”, mas pelo que faz ou não sentido.

E

Environment. Dificilmente algo tem sido utilizado de forma mais ideologizada do que esse termo. Meio Ambiente se tornou campo de batalha, não por uma floresta de pé, não por sustentabilidade, mas por razões inconfessáveis. No artigo, Elon Musk faz uma alusão verdadeira e risível, se pensarmos bem:

ESG é uma farsa. Tem sido usado como arma por falsos guerreiros da justiça social… (A petrolífera) Exxon está colocada entre as dez melhores do mundo em meio ambiente, social e governança (ESG) pela S&P 500, enquanto a Tesla não faz parte da lista!… Estou cada vez mais convencido de que o ESG corporativo é o diabo encarnado

https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-o-mercado-investidor-usa-o-esg-para-impor-ideologia-as-empresas/?ref=link-interno-materia

De fato, colocar no maior índice de bolsa do mundo a Exxon e não a Tesla parece no mínimo estranho. O fato é que tanto aqui, como nos EUA como em qualquer lugar do mundo, vemos uma pressão sobre visões menos à esquerda do espectro ideológico como sendo passíveis de “vendetta”. É o que Musk está demonstrando de forma clara. Ninguém reclama, ninguém se opõe.

O Brasil tem sido, de certa forma, vítima do “E” de ESG, na figura de seu presidente, um boca-dura turrão que é associado a tudo o que não presta, em termos Ambientais, o que não necessariamente (e raramente) é verdade.

S

Social… Desde que Zé Sarney declarava “tudo pelo Social”, e fazia um governo que está certamente entre os piores em 522 anos de história, eu fico com um pé atrás em cada “Social” que leio. Justiça Social, então, nem se fale. Eu tenho bastante dificuldade em admitir que alguém receba um benefício qualquer em virtude de sua raça (sic!) cor, religião, orientação sexual, ou qualquer outro aspecto da vida que não o mérito, e só o mérito.

Inclusão Social deve, por óbvio, ser um objetivo da sociedade. Apenas que a inclusão se dá pelo levantar da condição humana, e não pelo rebaixamento de padrões. Sobre isso muitos já escreveram, e melhor.

G

Governança. Esse é o Elo. Falamos, então de “Governança Ambiental e Social”. É disso que se trata o termo ESG, bem entendido. Estabeleça-se, dizem os caciques, padrões de governança tais que cheguem ao ponto da preocupação social e ambiental.

Parece bacana, e pode ser. Não sou contra ESG como conceito, per se. Sou contra o uso que está-se dando a isso. Pelo artigo citado, a Bolsa brasileira, local em que perdedores e vencedores são julgados diária e impiedosamente por milhares de cabeças, sem qualquer consideração por preferências pessoais ou de quaisquer outras naturezas, decidiu aliar-se ao conceito. Em síntese, ESG vai afetar o pregão? Vou comprar ou vender algo por conta de aplicação de conceitos ESG? Vou aceitar que meus dividendos sejam reduzidos – se é que haverá este efeito – em virtude de aplicação de conceitos daí saídos? Não sei, mas francamente, me aproximando da aposentadoria, não me vejo sendo bonzinho com quem não necessariamente concordo ou com pautas que não necessariamente patrocino.

Governança Social tem sido objeto, inclusive, de seminários de auditores e contadores, como é meu caso, e será tema do próximo Simpósio Paranaense de Auditoria, de cuja comissão sou parte. Me orgulho de poder trazer o tema, mas sei que em muitas situações estarei num campo não 100% alinhado com a palestrante.

Resultados

Torço e oro por uma sociedade que trate pra lá de bem o Meio Ambiente. No entanto, reconheço que enquanto não tenhamos dominado a técnica de fazer bife com ar (será possível, creio, num futuro não tão distante), teremos que conviver com pum de milhares de vacas.

Torço e oro por uma sociedade que seja socialmente justa, e que não discrimine por nenhuma característica – física ou de qualquer outra natureza. No entanto reconheço que as pessoas são, intrinsecamente diferentes, e preferiria não ser atendido num pronto socorro por um médico intensivista “quotista”, não porque ele seja branco, preto, gay, hétero, muçulmano, cristão, azul de bolinhas brancas ou sei lá mais o que. Quero um médico que tenha capacidade de exercer medicina. Só isso. Objetivamente.

Finalmente, torço e oro por uma sociedade que consiga dar governança aos dois aspectos anteriores. Uma sociedade que consiga deixar transparentes as ações sociais e ambientas das empresas. No entanto, não estou disposto nem a discriminar nem a alijar do mercado empresas que porventura não queiram se meter nesta seara. Ora, que o mercado julgue até que ponto a empresa, por não deter e aplicar conceitos ESG, entrega um produto ou serviço de qualidade, digno do meu e do seu dinheiro.

Concluindo – ESG não é o capeta encarnado, como crê Elon Musk – necessariamente. No entanto, do jeito que a coisa vai, e como está sendo conduzido pelos ativistas de sempre, aqueles com agenda preta oculta no bolso do paletó, pode se tornar. Pode. Ao ponto de se tornar o embrião de uma Gestapo ESG, para nossa tristeza.

Livre pensar, continua sendo só pensar.


A Lei por Pretexto

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“Pode, acaso, associar-se contigo o trono da iniquidade, o qual forja o mal, tendo uma lei por pretexto? Ajuntam-se contra a vida do justo e condenam o sangue inocente. “

Salmo 94:20-21

Culminando uma série de malversações e sequestros da Lei, assistimos impotentes, como nação, no dia de ontem, a “cancelamentos oficiais” de executivos e donos de empresas que representam, sabe-se lá, alguns milhares de empregos diretos no país, sob pretexto de defesa da democracia. Na noite do mesmo dia, Luciano Hang, da Havan, vai às TVs para explicar a bobagem e a atrofia mental que leva um julgador a, açodada e bovinamente, aceitar uma “denúncia” de corporações sob a alegação de “apologia ao golpe”.

Num grupo de WhatsApp alguns do grupo vociferaram sua indignação com o status quo jurídico (do qual foram vítimas logo em seguida, como que confirmando a assertividade da opinião) dizendo que “preferiam um golpe a ver Lula de volta no poder”. Se a razão para cancelamento é essa, podem me prender e sequestrar minhas contas correntes também. Obviamente que não estou fazendo apologia a golpe coisa nenhuma. Apenas estou arrazoando quanto ao fato de que, se é para sofrer um golpe, antes seja esse baseado em intervenção militar do que numa “tomada de poder, o que é diferente de vencer eleições”, como postulou o terrorista-mor.

Ora, eu, de fato, temo mais os efeitos de longo prazo de um golpe “bolivariano” aqui no Brasil do que um suposto “golpe” militar, cujos efeitos já sofremos, e que acabou voluntariamente, por decisão dos golpistas em devolver o poder aos civis. Pela experiência mundial, não existe devolução do poder voluntária a “civis” no contexto de um golpe palaciano de esquerda.

O salmista, há 3 mil anos, ensinava que a Lei pode ser usada como pretexto para a opressão. Jesus Cristo comprou tremenda briga contra o status-quo farisaico, ao dizer que esses agiam mais ou menos assim:

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!”

Mateus 23:23

A síntese do que estamos vivendo nem chega a poder ser denominada de farisaismo. Pode-se arguir que, na pior das hipóteses, os fariseus tentavam impor a outros aquilo que de fato criam ser algo nobre, a Lei. O caso aqui no Brasil é mais farisaico do que qualquer fariseu poderia ter elaborado: trata-se de usar a Lei como pretexto para implantar aqui uma ditadura “do proletariado”, uma entidade que sequer existe mais, na cultura do serviço, da tecnologia e do pleno acesso à informação. Esse é o martelo, que já não existe (se é que um dia existiu). Já a foice, essa está mais quebrada ainda, pois que o percentual de brasileiros vivendo no campo diminui, e a produtividade agrícola só aumenta, em virtude da ciência e da tecnologia.

Assim, sem bandeiras que deem suporte nem à foice nem ao martelo, a ânsia por escravizar parte para dividir o povo de outra forma, como já sobejamente sabido: ricos contra pobres, heteros contra homos, mulheres contra homens, pais contra filhos, ateus contra religiosos, e por aí vai. A tática da divisão para a conquista segue firme no imaginário de quem se vê como “libertador” do que sequer há de que se libertar.

A Lei virou pretexto para nos cancelar, nos prender, e para deturpar a própria lei, e, ao fim, acabar com sua própria aplicação.

Que ao fim e ao cabo se cumpra a parte seguinte do Salmo:

Mas o SENHOR é o meu baluarte e o meu Deus, o rochedo em que me abrigo. Sobre eles faz recair a sua iniquidade e pela malícia deles próprios os destruirá; o SENHOR, nosso Deus, os exterminará. 

Salmo 94:22 e 23

Amém pra isso!

Sinecuras

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Sinecura significa “Sem Cuidado” (do latim – sine, “sem” e cura, “cuidado”), de acordo com a Wikipédia. O nome era dado a um emprego ou função que era só uma desculpa pro sujeito “mamar” em alguma teta. Estatal ou não, sem trabalhar – ou seja, receba, sem qualquer cuidado, pois você não tem responsabilidade alguma. Só recebe.

O Brasil não inventou a sinecura. Na Inglaterra dos séculos XVI ao XIX, as sinecuras eram formas de reconhecimento dos reis aos seus súditos fieis, por conta de algo que tivessem feito (merecida ou imaginariamente). A Roma antiga, onde o termo se originou, não foi nem de longe a inventora da prática, embora tenha tornado o termo famoso. E lá as sinecuras eram, pelo menos, entendidas pelo que realmente eram – benesses com o dinheiro alheio.

A famosa Companhia das Índias Orientais, ou “John Company”, na gíria da época, era uma empresa privada com características e poder muito parecidos ao de alguns países. A John Company foi mais rica e mais poderosa do que a maioria dos reinos europeus da época, e também distribuía suas sinecuras.

A prática, portanto, não nasceu em terras e reinos católicos, embora tenham se tornado uma forma de arte, quando os países protestantes da Europa, e os EUA, já tinham praticamente banido a prática, em fins do Séc XIX. Claro que banir é um termo forte, já que em pleno Séc. XX vimos a repetição disso tanto na Inglaterra, Holanda, EUA e outros locais.

O costume chegou ao Brasil com as caravelas de Cabral. Pero Vaz de Caminha aproveita a famosa cartinha a El Rey para solicitar uma sinecurinha pra um cunhado, se não me falha a memória… e daí viemos: de sinecura em sinecura.

A modernidade da Sinecura

O Estado moderno e sua impessoalidade tende a coibir as sinecuras, sob a alegação de que cada trabalho merece sua paga, e não pode existir paga sem trabalho que o justifique. Isso, longe de significar o fim da prática, implicou em sua sofisticação.

Hitler, na Alemanha Nazista, formou um time de “Sinecuristas” de alto coturno, composto de empresas como Basf, Bayer, Heinkel, etc, que ajudaram no esforço de guerra alemão em troca de uma sinecura chamada monopólio. Aliás, essa é, na minha opinião, a única diferença entre um estado comunista e um estado fascista- a existência desses monopólios ou oligopólios, no fascismo, contra um estado todo-provedor e empreendedor, no comunismo “raiz”.

Lula, e seu partido, fizeram algo semelhante, muito mais recentemente, com a política dos “campeões nacionais”, que elegeu empresas para serem vitoriosas no mercado, como JBS, Odebrecht, etc. A troca parece funcionar bem, já que a JBS, por exemplo, acabou se tornando mesmo um campeão nacional, e mundial até, com seu gigantesco faturamento e sua competência na produção de proteína animal.

Nada disso, porém, parece ajudar o país. Em troca de qualquer sinecura, de um empreguinho estilo “rachadinha” num gabinete de vereador no interior até o recebimento de zilhões em empréstimos do BNDES a juros baixos e à custa de deixar outro zilhão de empreendedores sem financiamento (1), o mercado se desalinha e acaba empobrecendo como um todo. Mas esse não foi nem o pior exemplo de sinecura recente. Pior do que financiar um empreendedor nacional é financiar um estado (no mais das vezes totalitário ou quase) com esse mesmo dinheiro da população, sob a certeza de que o pagamento não viria – e na época, não importava se viria ou não.

A Negociata – a Sinecura Nossa de Cada Dia

Assim como a cerveja da 6a. feira, com aquele torresminho, e um pagode, o desejo pela sinecura do dia-a-dia está enraizada aqui, e precisa ser extirpada a golpes de facão.

“Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados”.

Barão de Itararé

Apparício Torelly, o Barão de Itararé citado acima, era um humorista e escritor do início do século, famoso por seu humor ácido e tiradas geniais. entre outras, disse pérolas que se confirmam a cada dia, piada ou não: “O homem que se vende recebe sempre mais do que vale.” ou a célebre “O tambor faz muito barulho mas é vazio por dentro.” entre outras dezenas de frases geniais.

A negociata é a sinecura com meia contrapartida: não é totalmente “sine” (sem), e dá algo de “cura” (cuidado), mas normalmente dá mais lucro. É o outro lado da alma brasileira – se não dá pra receber sem fazer absolutamente nada, “vende-se” algo por um preço um tantinho maior, pagando algo pra cada agente do processo, e até se entrega algo, a depender do grau de vigilância da sociedade. Os hospitais de campanha da Covid 19 me cheiram muito a essa classe de sine-quase-cura: contrato na crise, sem licitação, pago milhões, não uso, descomissiono assim que posso, todo mundo fica com a impressão de que algo foi feito, e nada.

Durante a tragédia em Nova Friburgo e região, em 2011, se não me falha a memória, prefeitos receberam do Governo Federal milhões para aliviar o sofrimento das vítimas. Os prefeitos (mais de um) são acusados de embolsar a grana toda – uns R$ 300 milhões e não fazer nada. Se embolsaram, não sei. O que sei é que qualquer chuvinha maior no centro da cidade provocava alagamentos, por conta do assoreamento das manilhas de águas pluviais.

Eu com isso…

A tendência, como o saudoso Barão já falava, é a de que nós nos importemos somente quando não somos nós o objeto de tão grande benesse. Se estou no meio, às favas a moral. Vimos corruptos, há alguns anos, agradecendo a DEUS (Aiaiai!) pela propina recebida, que era “desejo divino”. Como cristão evangélico, minha vontade é a de que a teologia da “queda da Graça” fosse verdadeira, e esses aí fossem do céu direto pro inferno. Não posso arguir isso…

O fato é que requer grandeza moral para não aceitar nem propor sinecuras ou negociatas. O ser humano em geral, e o brasileiro em particular, são mestres em arrumar desculpas e explicações para seus malfeitos. Ora é “porque todo mundo faz mesmo”, ora é “porque preciso”, ou ainda porque “é por uma boa causa”.

Grandeza moral se aprende no berço, com pais igualmente morais, ou mesmo que imorais, que reconheçam isso e incutam nos filhos o desejo de que eles não sejam iguais aos próprios pais. Levar (ainda que arrastados) para a igreja e escola ajuda muito. Segregar de amizades ruins era a marca do pai de antigamente; não é mais. Grandeza moral, porém, é algo que nem sempre os filhos aprendem. Para isso, infelizmente, as consequências sociais deveriam ser duras e imediatas. Não o são: hoje a leniência com o “pobre do menino de 16 anos que matou 4” tem sido a marca de uma sociedade que no fundo ama a sinecura, o mal-feito, a negociata e deseja que as punições não ocorram. Algo diabólico.

Estamos longe de extirpar o mal e as sinecuras permanecem nos mesmos gabinetes legislativos, nas mesmas varas cíveis e criminais, nas mesmas escolas e universidades, no bar da esquina, na fila do ônibus, na repartição pública, e por aí vai.

Educação? Leis duras? Fortalecimento da família? Igrejas e Templos? Tudo isso junto ajuda. Temos uma luz no fim do túnel? Não sei – acho que não pois “o mundo jaz no maligno”. Tenho esperança? Poucas. Vamos resolver o problema? Não creio. Pessimista? Muito.

Eu creio em Deus, porém, e sei que Ele é quem detém o controle da humanidade, a quem dá livre-arbítrio, mas que também teu o Seu. Esperemos pelo melhor, desconfiando, mas esperemos.

(1) A injustiça desta prática é menos aparente, pois parece que o governo simplesmente tem o dinheiro e empresta a quem quer – como devedor líquido e pagador de juros, o dinheiro que vai para o BNDES e que acabou alimentando os campeões nacionais acabou sendo financiado a juros de mercado, em títulos da dívida, a custo significativamente maior. Sou contra a existência de bancos estatais de qualquer natureza, inclusive de fomento, mas entendo o xodó que o mercado tenha por eles, em um país de juros altos e crédito difícil.