Piscina de Melado

Eu apoio…

Eu tinha um sonho (pesadelo) recorrente: eu tentava nadar para chegar à margem de uma imensa piscina e não conseguia. Minha impressão é a de que a tal piscina não continha água, mas melado ou algo viscoso, que me impedia o progresso. Dava uma imensa agonia sentir o cansaço e a dificuldade de nadar alguns poucos centímetros.

Essa sensação me invade neste país maluco, em que vivemos em meio a um “melado” cultural, um Orwelliano “duplipensar” e uma novilíngua que nos ataca todos os dias. É um embate cultural duro de vencer, e que não tem nada a ver com o atual presidente ou suas coisas de ogro, seus assessores e seus Queirozes. Trata-se de uma guerra cultural mais profunda.

Fatos e Versões

Não é só o nome do programa, mas o conteúdo que mete medo. “Existe um jeito de fazer a história, e existe um jeito de contar a história”, pontifica Betinho na repetitiva e entediante propaganda do canal de TV a cabo. Ora, estamos vivendo isso hoje. Diante de nossos olhos vemos gente “contar” a história do jeito que lhes apetece, em total desrespeito à realidade. É um país cuja elite cultural e acadêmica jogou pela janela toda e qualquer busca pela verdade, e submergiu na sua decisão consciente, creio, de “contar a história”. A frase em si é de um “quase santo” das esquerdas, e denota uma clara disposição moral e intelectual – recontar, re-dizer, desdizer, duplipensar.

Programa após programa de TV, cabo ou aberta, blogs, vlogs, tudo, enfim, que está levando a população a “reinterpretar” o que viu, ouviu e participou recentemente. Os milhões na rua, o ridículo de ter uma presidente que não liga lé com cré, as centenas de provas esfregadas na cara de todos, da culpa irremediável e absoluta de um ex-presidente que escolheu acabar com a biografia em função de um projeto de poder total. Enfim, estamos sendo alvo de algo que talvez só tenha tido paralelo nas campanhas de Goebbels entre 1933 e 1944. É um massacre, e um que não vem dando muito certo, graças a Deus Pai, junto à população, a despeito do poder das forças alinhadas para isso, a academia, a imprensa, as corporações de funcionários públicos, ONGs, etc.

Em tempo, a frase do Betinho, para quem realmente quer analisá-la com cuidado, não significa absolutamente nada fora do contexto Gramsciano.

Independentemente do Presidente

Não estou aqui para defender este ou aquele cara no poder. Não votei nele no primeiro turno. Votei no segundo, por uma convicção – o cara é muito, mas muito mais bem intencionado do que qualquer das alternativas que eu via naquela eleição. Votei conscientemente. Não voto útil, mas realmente acreditando que era uma escolha razoável. Não me arrependo. O que vejo, fora da cortina de fumaça pesada e mal cheirosa que paira no ar, é bom. São boas reformas, são bons números são excelentes intenções. A economia vai se recuperando, e o país vai bombar, se Deus quiser, a despeito deste ou aquele Queiroz, este ou aquele embaixador-filho, este ou aquele arroubo de bobagem dita ao calor dos microfones provocativos.

Eu me pauto pela realidade. Até porque, durante a era Lula, vimos um “craque” (como definiu um querido amigo, ora presidente de uma grande estatal paranaense) nos encher de “meta-fatos”, “meta-verdades”, que funcionaram muito bem aos olhos de uma população vivendo uma prosperidade que no fundo, o próprio “prisidenti” não tinha ideia clara de onde vinha (nem seus ministros da área financeira). O efeito commodities, o efeito pré-sal e as reservas internacionais criaram uma situação na qual só acordamos quando o caixa do governo tinha sido total e inapelavelmente surrupiado, em temerosas transações envolvendo um sem-número de concursos públicos, e na compra da subserviência do congresso e dos meios de comunicação, uma vez que a cátedra já estava domesticada há anos.

Assim, independentemente do presidente, creio que o Brasil precisa ser maior do que os “petty issues” que envolvem uma esquerda cujo poder está nos estertores, mas não vai largar o osso tão fácil

A liberdade à vista

Nos encontramos perto de uma espiral positiva economicamente. Se a máxima “it`s the economy, stupid” continuar valendo, pode ser que a força de criação de factóides ridículos decaia um pouco e nos permita como sociedade, um respiro. Duvido muito, pela capacidade de criação de “realidades paralelas” e pela admirável disciplina da esquerda em cumprir à risca um papel, cada um na sua, mas coordenadamente, para o bem da “causa”.

Vamos, creio firmemente, passar pelo vale da sombra da morte, e emergir do outro lado com o dólar a 3,60, a bolsa a mais de 120 mil pontos, a economia crescendo sólidos 3.5% a 4% ao ano, e a dívida pública em queda relativa ao PIB. Não vai ser fácil, mas a receita, de tão óbvia, parece ridícula – não interfira, não atrapalhe, lassez-faire… e principalmente, laisser-passer – deixe que a caravana passe com seus milhões de membros, ansiosos pelo futuro.

Lava Jato

Por fim, temos a batalha contra a Lava Jato. Essa sim, por envolver gente tão graúda que não temos como nos livrar deles democraticamente, no curto prazo, sem rupturas. Não será fácil mandar um Gilmar Mendes, um Tóffoli, um Alcolumbre, ou um Maia para a obscuridade de onde nunca deveria ter emergido. É muita gente e muitos interesses pesados. Ninguém quer (bom, eu não quero) ruptura institucional, portanto o caminho é o de continuar a pressionar as “otoridades” com fatos inescapáveis e muita pressão popular, para que, quem sabe, eles decidam se mudar pra Portugal, pra tomar conta de seus negócios, ou se aposentar prematuramente, e escrever um livro de memórias, sabse-se lá a preferência de cada um, desde que não permaneçam no poder, e na TV, exercendo seu poder de tentar mudar a realidade e moldá-la a sua imagem e semelhança.

Torço e oro por Deltan, por Moro, por Pozzobom, por Bretas, por Wallisney, em suma pelos poucos e abnegados que colocaram suas cabeças a prêmio por um futuro melhor pra todos nós, e que, aos olhos de boa parcela da população, tudo fizeram de “errado”. Que os magistrados que chamam a Lava Jato de “orcrim” possam engolir suas palavras em público, diante de uma multidão enfurecida (mas pacífica) que clame por sua deportação.

Deus tenha piedade do país. A piscina de melado do meu pesadelo continua lá… que Deus liquefaça essa bagaça…

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