A primeira menção do termo Guerrilla (Pequena Guerra) aconteceu quando os espanhóis, por volta de 1808, começaram a atacar o exército invasor de Napoleão, durante as chamadas “Guerras Napoleônicas”, enquanto nosso então soberano, Dom João VI, andava comendo coxinhas de frango nas ruas do Rio de Janeiro, acompanhado da mal-educada Carlota Joaquina, outro tipo de guerrilheira espanhola, exportada para a corte portuguesa de então.
Guerrilha passou a ser um termo militar usado para definir pequenos grupos de ataque, ou na definição abaixo:
“Trata-se de levar um adversário, por muito mais forte que seja, a admitir condições frequentemente muito duras, não empregando contra ele senão meios extremamente limitados“
Beaufré, André, in Introdução à Estratégia
Guerrilha contra Nós
Ontem (28/12/2021) escrevi um meio desabafo a que denominei “Rolo Compressor”, ao qual estaríamos sendo submetidos. Uma minoria, com poderes quase que ditatoriais, e que nós, uma maioria conservadora e de vida pacata, não conseguíamos suplantar.
Hoje me ocorreu que não é bem um rolo compressor, mas uma guerrilha, talvez. A observação cautelosa da história dos últimos 150, 200 anos, dá conta de que há uma guerrilha em ação, na qual, de fato, um adversário muito mais forte acaba sendo dominado pela via de ações com meios extremamente limitados, mas efetivos.
Terrorismo
Neste sentido, terrorismo acaba sendo uma espécie de guerra de guerrilhas, pelo uso de força sub-reptícia contra combatentes, e não combatentes, ou seja, contra populações desarmadas, por meios extremamente violentos, cujo objetivo é deixar o adversário de boca aberta, sem reação, baratinado com a capacidade para o mal, empregado contra ele.
O 11 de Setembro, de fato, foi um grande sucesso “militar”, guerrilheiro, se considerarmos o efeito e o custo absurdo em vigilância e segurança. Com o custo a todos nós imposto por essa ação única e ousada, poderíamos ter transformado todo o oriente médio, Irã e Afeganistão, em países de primeiríssimo mundo, com ruas calçadas de prata e calçadas de marfim.
A Guerrilha entre Nós
A guerrilha tradicional, de forma geral, e o terrorismo em particular, têm um defeito de origem: seu potencial de aplicação continuada. Não dá para empregar ataque atrás de ataque impunemente. Depois do 11 de setembro houve o Metrô de Madrid e mais outros episódios de maior ou menor impacto, mas o grande terremoto e comoção gerados pelas Torres Gêmeas não seria repetido com igual eficácia.
Há, porém, a guerrilha no estilo Rolo Compressor, que continua firme e forte, e que nos mantém a todos reféns de várias correntes de pensamento, desde a esquerda internacional, que preconiza a “Pátria Grande” latino-americana, até a dominação cultural de organizações como ONU, OMC e grandes corporações. Esse tipo de guerrilha pode ser usada continuamente, e tem sido usada assim, contra tudo e contra todos os que se opõem ao seus objetivos.
No caso do terror internacional, o objetivo declarado, a Jihad, é uma iniciativa de uns tantos covardes radicalizados, que são incapazes de conquistar corações e mentes pela apologia e discussão ampla, irrestrita, de ideias e ideais. São covardes porque não possuindo meios de convencimento, jogam bombas; inexistindo razão para dar-lhes amparo, recorrem aos aviões pilotados por radicais. Quanto ao terrorismo, sabemos o que ele quer, e de forma mais ou menos precisa, quem são.
No caso da guerrilha intelectual marxista, o “inimigo” é difuso, mas mais capacitado a conquistar incautos pela pregação de suas doutrinas, ainda que igualmente incapazes de debater de forma ampla, aberta, irrestrita, e sem berrar ou recorrer a mentiras. Vemos uma erosão da vida ocidental que ocorre entre os 16 e os 30 e poucos anos, pela adesão a um modo de vida descompromissado com a realidade do emprego e dos boletos para pagar. Após os 30 e poucos, o sujeito começa a acordar para o fato de que não há solidez em qualquer argumento que dê a um estado-deus a primazia sobre a vida de populações inteiras.
De Paulo Francis a Thomas Sowell, de José Guilherme Merchior a Carlos Lacerda, exemplos abundam de gente que, por pensar, simplesmente, deixaram os “tenets” de esquerda, e acabaram virando grandes anti-esquerdistas. Este fato, aliás, da visceralidade com que antigos esquerdistas se voltam contra postulados de esquerda, diz muito sobre o que viram, e como acabaram por entender o que antes acreditavam, e do que se livraram.
Perguntado, Paulo Francis não hesitou em dizer a razão pela qual tinha se desiludido e deixado a esquerda: “Eu cresci“. Amadurecimento gera uma espécie de conservadorismo que nada mais é do que deixar de lado as coisas de menino, nos dizeres do Apóstolo Paulo:
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.
1a. Epístola de Paulo aos Coríntios 13:11
Há um muro no final da vida de cada um de nós. Quando somos jovens, o muro está tão longe, aparentemente, que não o vemos, e portanto, não nos importamos. A vida, claramente, é infinita. É a beleza da experimentação, da descoberta, das realizações e da ousadia. Não é ruim em si, mas não sei se deve ser estimulado – hormônios já fazem isso bastante bem. Na medida em que envelhecemos, acabamos vendo o muro cada dia mais próximo, e nos damos conta de que mais cedo ou mais tarde vamos dar de cara nele. E começamos a pensar na “Vida após o Muro”. Nos tornamos mais reflexivos e mais cautelosos. Isso também não é ruim em si, mas também não precisa ser estimulado, pois que a falta de hormônios, ou sua substituição por outros, já cumpre o papel.
Mas a guerrilha segue e existe, e certamente não é liderada por menores (em idade cronológica). Se não o é, então quem a lidera? São gente mais próxima do tal Muro do que seus liderados. Deveriam, portanto, ter deixado a sabedoria e seus hormônios, ou a falta deles, falar em seus corações. Deveriam ter-se dado à reflexão e parado de encher o saco de todas as novas gerações.
Então quem são esses guerrilheiros, a dita “Esquerda”? Como cristão, tendo a acreditar que, sabedores ou não, seguem uma cartilha ditava pelo capeta, o capiroto, o coisa-ruim, de destruição de todos os valores implantados com sangue, suor, erros e lágrimas, ao longo de 20 séculos de cristianismo, com auxílio luxuoso do judaísmo (chamar de auxílio é reducionismo, claro). Boa parte sim, cônscios de que são “não-inocentes úteis” nas mãos do inimigo, mas boa parte tão somente não tendo amadurecido a ponto de enxergar que os ideais, à primeira vista tão nobres, de repartição de renda, igualdade, e planejamento central, não funcionam, e nunca funcionarão.
Graças a Deus, como dizia Paulo Francis,
A melhor propaganda anti-comunista é deixar um comunista falar.
Paulo Francis
Deixe-o falar, não o impeça. Ouça até ele parar com a ladainha pré-ordenada, e daí comece a fazer perguntas simples sobre alguns aspectos e peça detalhes sobre como tal e tal coisa funcionarão. O sujeito acabará te convencendo, sem querer, de como o que ele defende não tem base na realidade e como nunca funcionou, e nunca funcionará.
Mas isso não impedirá o rolo compressor de seguir compactando e amassando nossa existência, nem a guerrilha lutando pelas mentes e corações dos nossos jovens.
Estratégia
A estratégia de qualquer guerrilha se resume em poucas ações: escolha de um local em forma de gargalo, surpresa, velocidade, violência e retirada rápida. Foi assim com os espanhóis cortando as linhas de suprimento dos exércitos de Napoleão, e que enfraqueceu estômagos e pernas dos soldados, permitindo o então Visconde de Wellington derrotá-los dentro de Portugal. Foi assim no 11 de setembro, quando uns 10 caras deixaram de joelhos a nação mais poderosa da terra.
É assim hoje, e o local em forma de gargalo são as nossas escolas e universidades, é a nossa mídia, é a nossa cultura. Nas instituições de ensino, guerrilheiros bem treinados atacam de forma pontual os “exércitos” de toda a nação, um pelotão/turma por vez; na mídia, meio dúzia de guerrilheiros bem falantes, dispostos a defender um ideal, atacam de uma posição de vantagem tática (uma câmera e um microfone) milhões de incautos ao mesmo tempo; na cultura, umas poucas centenas de guerrilheiros talentosos e charmosos atacam toda uma população com frases de efeito, palavras bonitas douradas por fora com desejos elevados. E está feita a mágica da guerrilha intelectual moderna. Poucos dominam o cenário mundial, enquanto muitíssimos assistem impotentes, ou tão ocupados em pagar as contas que não têm como fazer nada.
Por fim, não nos esqueçamos de um fator que um ser humano bem formado não costuma lançar mão: a mentira, o engano, a meia-verdade, a violência. Se você é guerrilheiro, não pode ter pudor de atacar a dona do mercadinho, a senhorinha que vende flores no térreo da Torre, ou o pai de família que saiu pra trabalhar e pegou um voo fatídico. Você tem que encarar essas mortes como “danos colaterais”, para um bem maior, e seguir em frente. Minta, engane, falseie estatísticas, escolha com carinho seus entrevistados para falar o que você quer, coloque pílulas de mentira em livros didáticos. Reescreva a história para contar o que você quer; enfim, lance mão de qualquer argumento, mas principalmente, não deixe o outro falar. Sufoque-o com um palavrório sem fim. Tenha um bom fôlego de modo que não deixe o outro argumentar. E se o outro conseguir te pedir detalhes do que você pensa, insista que o tempo acabou e que você precisa chamar os comerciais, ou que a aula está no fim.
Nossa Guerrilha
Temos uma guerrilha para chamar de nossa? Sim, e ela tem milhares de anos: a família. É nela que diariamente os guerrilheiros-pais metem na cabeça dos filhos, dia após dia, coisas “subversivas” como falar a verdade, usar a lógica, não gastar mais do que ganha, respeitar os mais velhos, e por aí vai.
Temos outra tática boa – igrejas. Nelas são completados os ensinos de virtude e frutos do espírito – amor, paz, benignidade, bondade, mansidão, domínio próprio, e coisas contra as quais não havia lei – hoje estão criando.
Uma outra tática, o envelhecimento natural, parece estar ocorrendo sempre, e sobre ela não temos nada a melhorar ou mudar, exceto polir a existência de forma a tornar os anos adicionais de cada cidadão nos mais produtivos de sua vida, e não achar que a vida acabou porque a aposentadoria chegou.
O muro continua lá, o além-muro existe e pode ser uma bênção. Enquanto não batermos no muro, poderemos ajudar outros a pelo menos enxergá-lo. Será nossa maior guerrilha. Sempre.