Luzes da Ribalta

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Photo by Matt Chesin on Unsplash

Político não escolhe essa ‘profissão’ à toa. Ninguém chega a um cargo eletivo sem ter na personalidade um misto de animador de auditório e advogado; de artista de novela e orador. É uma profissão para poucos, no mundo, e no Brasil, para menos ainda, pois invariavelmente uma dose de cara de pau e disposição para o ‘vale-tudo’ é necessária. Tivemos grandes oradores em nossa história, desde Ruy Barbosa até FHC, passando por gente muito craque nesse mister, como o ex-presidente, reconhecidamente um dos melhores comunicadores que tivemos, em que pesem nossas opiniões sobre ele e seu caráter, ou falta dele.

Por que é assim? Por que uma pessoa estaria permanentemente em busca de ser notícia, de ter algo para falar, uma opinião ‘certeira’, uma frase de efeito… Ora, desde os tempos da Ágora grega, é preciso conquistar para o seu lado uma grande quantidade de pessoas disposta a depositar confiança em alguém através do voto. As formas de buscar essa popularidade que garante votos muda e evolui com o tempo. Subir num caixote de feira com uma corneta na mão já foi suficiente. Depois vieram os palanques com carros de som. Depois, a mídia televisiva. Agora, como nos ensinou a eleição passada, é a mídia digital que “manda”, associada com outras formas.

O que não muda é o desejo insaciável dos políticos por um holofote. É de pasmar… a expressão “papagaio de pirata” foi cunhada em homenagem a quem não resiste à tentação de aparecer na frente das câmeras, mesmo a custa de passar um ridículo ou outro.

A situação atual é o resultado dessa holofotefilia… De um lado, a esquerda se junta a governadores para fazer o oposto do que o governo federal faz. Qualquer oposto. Não importa. Se Bolsonaro pregasse lockdown horizontal, eles iriam na direção contrária. Se Bolsonaro achasse um absurdo administrar Hidroxicloroquina, eles achariam o máximo e defenderiam com ardor juvenil.

Mandetta, bom técnico e (parece) melhor político, pode não ter tido a intenção inicial, mas certamente está escudado numa posição de “força” e está super à vontade em frente aos holofotes diários, que o colocarão certamente como figura nacional, e com isso, destinado a vôos políticos mais altos. É a grande chance, há que se agarrar a ela. “Nada pessoal”, presidente, ele pode ter dito… e vida que segue. Até acabar a pandemia e o cara se tornar menos indispensável, talkey?

Pois bem, de outro lado Bolsonaro não parece a dividir o “reino” dele com ninguém, não acha prudente deixar o subordinado raposa-política aparecer. Ficou brabo, deve ter dado murro na mesa… Afinal, Guedes e Moro são outra coisa. Tudo, menos políticos. Creio que só depois de se convencer que Moro não tinha mesmo qualquer ambição política, mas, claro, quer um cargo no STF, foi que o presidente se tocou e parou de encher o saco dele.

Bolsonaro precisa pensar: a melhor forma de se utilizar dessa situação é fazer justamente o contrário: dar corda e levar parte dos louros. Afinal, a despeito das cretinices da imprensa, dizendo que Bolsonaro é “menor que seu governo”, isso obviamente é uma idiotice – Bolsonaro é do tamanho do governo que criou. Nem mais, nem menos. Cortou aqui e acolá qualquer político engajado em seu governo que quis colocar a popularidade acima da função, como foi o caso de Bebbiano, entre outros. Outros, demitiu por despeito ou intriga mesmo. Mas daí a dizer que o governo é ruim… vão algumas léguas.

A Holofotefilia não vai acabar nunca. É da natureza do animal da política. O que é importante é deixar claro que há uma linha traçada no chão pelo presidente – ou o cargo ou a popularidade. Os dois, ele não admite. O governo é dele, para bem ou mal, e os incomodados terão que se mudar. Não antes de criar muito caso e ao sair, se tornarem detratores do mandatário. Coisas da vida brasileira…

Liberdade é liberdade financeira

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Photo by Kristina V on Unsplash

Há anos, quando eu tinha uns 17 anos, meu tio Roberto, irmão da minha mãe, e o sogro dele, Frank, me deram uma carona, de carro, de minha cidade natal, Cordeiro, para o Rio de Janeiro, onde eu recomeçaria a estudar e começaria a trabalhar de balconista na farmário Biscaya, do meu outro tio, Aluízio.

No meio do caminho, paramos para comer um pastel num local chamado Cachoeiras de Macacu, e lá ouvi um conselho que não esqueci nunca, e que, na minha opinião, deveria ser a mola mestra da vida profissional, financeira e pessoal de qualquer pessoa – e, penso eu, de países também – “Sobrinho, liberdade é liberdade financeira. Só existe essa liberdade e todas as outras estão subordinadas a esta”.

Eu estava naquele período da vida em que o adolescente briga com os pais por qualquer coisa, e isso irritava tanto a mim (que não sabia se queria cursar a faculdade de física que havia passado, para UFRJ) e meus pais (que francamente deviam estar felicíssimos de se livrar de uma mala sem alça resmungão).

Uma vez que comecei a ganhar meu meio salário mínimo por mês e morar num quarto alugado no conjunto residencial do IAPI da Penha, no Rio, comecei a dar mais valor ao que vinha às minhas mãos. Apesar de não ter me tornado um mão-de-vaca, na prática eu conseguia já vislumbrar a verdade do que me tinha sido dito – só tendo liberdade financeira podemos saborear as outras liberdades. Obviamente que estamos falando de uma sociedade livre e na qual podemos ter propriedade privada. Senão, não funciona…

O tempo passa, o tempo voa… já não há mais poupança Bamerindus, mas a vida, apesar de tantos problemas, e até mesmo uma tragédia familiar de grandes proporções, a vida continua boa. Aliás, com Deus, a vida é sempre boa, acho eu. Uma coisa não mudou – cada vez menos as pessoa se preocupam, de fato, com a liberdade econômica. Um amigo meu chama isso de “F#!ck you Money” – aquele dinheiro que dá a você o direito de mandar alguém para aquele lugar sem o medo patológico de consequências sobre sua vida cotidiana.

Tudo isso pra falar do ranking de liberdade econômica da Heritage Foundation, cuja edição de 2020 coloca o Brasil um pouquinho melhor que em 2019, mas ainda assim um pais “majoritariamente não livre”. A razão principal disso é nosso déficit público crescente. Até 2008 a coisa vinha bem, com o preço das commodities lá em cima, pré-sal, etc. Aí o país decide se tornar “o trapezista que acha que sabe voar”, e esquece que tem que pegar no próximo trapézio, senão se esborracha, pois que na vida não há rede de proteção…

Chegamos a 2016 numa situação lastimável nas contas públicas, e com um Estado de tal maneira inchada, que governo algum pode fazer nada, dado que o orçamento está 95% carimbado… chegamos no fundo do poço da falta de liberdade financeira, e tal como euzinho, com 17 anos, o país deu um basta em determinadas coisas (ligadas ao ciclismo, creio…) e começou, timidamente, a sair do fundo do poço.

Aí vem essa coisa de Covid. Isso é tipo praga do século, e não há como resolver isso sem medidas emergenciais. Apenas que, num país onde a liberdade financeira é pequena, e as reservas financeiras parcas, a solução custará mais caro.

A China, de onde o tal virus veio, e que diz tê-lo controlado, com sua economia mais livre do que a nossa, a despeito da liberdade de opinião e pensamento “zero”, tenderá a sair disso melhor do que nós, teoricamente ocidentais.

Submersos num lodaçal burocrático, ficamos à mercê de uma corja de político que está sempre em busca do próximo mandato, em busca da próxima eleição e de seu próximo cargo. Alguns dias atrás o presidente havia editado uma Medida Provisória com a possibilidade de redução de carga de trabalho e salários proporcional, para os tempos bicudos de Covid. A gritaria foi geral, e (como quase tudo o que se fala hoje) quase derruba o tal presidente.

Ontem, a Medida Provisória 936 faz exatamente isso. Ainda estou estudando os efeitos, mas parece que podemos reduzir até 70% dos salários e carga horária do pessoal, com compromisso de não demissão, com o Governo complementando parte das perdas de cada empregado.

E a tal liberdade econômica? Bom, o país vai endividar ainda mais as próximas gerações, em algo parecido com 5% do PIB, só este ano, mas se Deus quiser, sairemos dessa menos ensanguentados do que poderíamos estar. A raiz do problema está justamente na quase impossibilidade de tomar qualquer medida, dentro de uma empresa, sem que alguém, algum “avatar” nos diga que podemos.

Está todo mundo pasmo com o aumento do número de pedidos de seguro desemprego nos EUA. E por que o desemprego sobe tão forte e tão rápido lá? Porque demitir não custa, como aqui e na Europa. As empresas conseguem se manter vivas, minimamente. Os liberais-progressistas dirão “anátema”! Claro, é sempre mais fácil pensar no ser individual do que no coletivo. É mais doído e mais fácil empatizar com o Sr. João, que perdeu o emprego e tem 4 filhos, do que entender que, contrário-senso, a economia americana também será a primeira a se recuperar, e voltar a gerar empregos. Justamente pela facilidade e liberdade financeira.

Pra terminar, uma reflexão: se tivéssemos hoje mais liberdade econômica nacional, máquina pública menos inchada, menos arrasto aerodinâmico de salários altos e toneladas de aposentados públicos, estaríamos certamente livres para tomar decisões ainda mais generosas no sentido de preservar a vida e o emprego dos cidadãos, e a vida e continuidade das empresas. É certamente mais fácil tomar decisões quando se tem liberdade… financeira também…