É um mundo que dá o direito aos pais de trocarem o sexo dos filhos aos 4 anos de idade e nega aos pais uma boa palmada de amor no bumbum por ter feito algo errado. É um mundo que não permite que um marmanjo de 16 anos seja julgado por ter matado um pai de família, por ser “criança” mas permite que alguém de 12 anos possa começar a tomar hormônios para inibir puberdade.
Pior e mais trágico ainda – neste mundo (que há 30 anos pareceria um episódio de “Twilight Zone”), quem tem menos de 18 anos está proibido de trabalhar, salvo em situações tão específicas que é difícil, quase impossível, conseguir colocação. Pais que são profissionais em certo ofício, como marceneiros, pecuaristas, açougueiros ou outras profissões, estão literalmente impedidos de ensinar aos filhos o seu ofício. O que até 50 anos atrás era basicamente a regra, hoje não existe mais, quase que nem como exceção.
É de uma tristeza abjeta viver neste mundo. A Greta é exaltada por matar aula para supostamente “salvar o planeta” (mesmo sem saber bem o que está fazendo, e falando através de ventríloquos), viaja o mundo cercada de câmeras e exaltação ao seu “trabalho”. O Joãozinho, porém, teve o pai com sérios problemas com o juizado da infância e juventude porque o filho ajuda na lojinha da família depois das aulas.
A inversão dos valores originais, civilizacionais, como o trabalho, honestidade, adiamento de recompensas, honra aos pais, responsabilização pelos próprios atos e coisas do estilo, está tão entranhada na nossa sociedade que já achamos estranho ver uma criança atendendo no balcão da farmácia da família (coisa que na minha família era considerada honra para os pais, que os clientes vissem um filho ou filha tão responsável…).
Onde mais nossa ignorância da realidade da vida vai nos levar? Para onde uma geração fraca e “mimizenta” vai conduzir o mundo? Que estofo moral os nossos jovens terão, quando convocados a repelir o próximo Hitler, o próximo Stalin ou Mao?
São boas perguntas, e que certamente vão me dar muita dor de cabeça, muitos dislikes e muito xingamento. Que comece o jogo…
Aqui jaz Wesley Montechiari Figueira
Viveu com temor a Deus (e à Esposa)
Sofreu e fez sofrer, sabendo e sem saber.
Viveu buscando a paz, até entrou em guerras,
Mas nunca foi capaz de deixar de amar quem erra
Aqui jaz um pecador, redimido pela Graça.
Aqui jaz quem somente aprendeu a rir
Depois da era em que todos choram
E deu de fazer graça, pois que já não era sem hora.
Aqui jaz quem fez do trabalho a sua Sé
Que combateu o bom combate, Acabou a carreira, e guardou a fé.
Um amigo meu, um dos meus melhores e mais antigos amigos é membro da igreja de um famoso pastor, que se tornou ainda mais famoso esta semana por nos “ensinar” que a Bíblia precisa ser “ressignificada” pois ela “apoia a escravidão”, colocando em analogia, lado a lado, momentos descritos no livro de Deuteronômio, uns 2 mil anos antes de Cristo, com os escritos do Apóstolo Paulo, no livro de Filemon, 50 ou 60 anos depois de Cristo. A linha de raciocínio, e peço perdão se entendi errado, era:
Filemon era dono de um escravo fujão, Onésimo. Paulo o recebeu e falou “volte para seu ‘dono’“; Paulo então não tem “moral” para nos ensinar sobre escravidão, diante do fato de que ele, implicitamente, não condenou a “instituição” da escravidão;
Paulo não foi capaz de reconhecer algo que a Bíblia (que parte, onde, qual dos livros?) informa claramente: somos 100% iguais; nenhuma diferença entre um ser humano do outro;
Por via de consequência, não faz sentido que mantenhamos uma visão bíblica, que “aponta para a escravidão como aceitável” mas precisamos dar novo significado à Palavra.
Esta linha de raciocínio, qual seja, da possibilidade de que a Bíblia possa ser “atualizada” e “ressignificada” por conta do que pensamos e fazemos nos dias de hoje é então apresentada de uma forma alternativa. O referido pastor faz então uma “parábola” em que uma moça entra no gabinete dele, tendo sido estuprada, e ele aconselha os pais a ajustar um pagamento pelo que foi feito, e tudo estará bem (não creio que mencionou a parte de casar e ficar casado com a dita cuja). Dentro desse raciocínio, ele “informa” ao casal, pai da moça que está apenas “aplicando o que diz a Palavra”. O texto usado por ele usado foi retirado (não me lembro bem, mas recorrendo à minha Bíblia, achei o seguinte texto), de Deuteronômio:
“Se um homem achar moça virgem, que não está desposada, e a pegar, e se deitar com ela, e forem apanhados, então, o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta siclos de prata; e, uma vez que a humilhou, lhe será por mulher; não poderá mandá-la embora durante a sua vida.”
Deuteronômio 22:28-29
Obviamente que a metáfora usada para dar suporte ao fio do raciocínio carece de um entendimento sobre o fato de que Deus deu as Leis em uma época em que elas não existiam, como parte de um processo civilizatório. De lá pra cá, tanto os cromossomos X e Y continuam iguais, quanto a interpretação, tanto do Velho como do Novo Testamentos continuou igual para a infinita batalha dos sexos (quantos alguns achem que existam).
A Palavra diz que Jesus Cristo veio “na plenitude dos tempos”, ou seja, Ele veio a nós para nos dar uma posição imutável num mundo mutável. Contra certas coisas não havia lei, como disse Paulo, e ainda não há. Contra certas coisas havia lei e reprovação por parte de Deus, e ainda há.
A Bíblia defendeu sempre os papéis dos sexos, e Paulo nos ensinou, quando fala dessa relação, a parte que cara um “carece” mais:
Maridos AMAI vossas mulheres como Cristo amou a igreja;
Mulheres SUJEITAI-VOS a vossos maridos como ao Senhor;
Filhos OBEDECEI a vossos pais, porque isso é justo;
Pais NÃO IRRITEM os seus filhos.
Só se lê a parte referente às mulheres, mas se esquece que na prática o Apóstolo está tocando no problema, na dificuldade de cada um. Eu acho que se sujeitar a um marido é muitas vezes mais fácil do que amar a esposa como Cristo amou sua Igreja (e se entregou por ela). Fácil, nada disso é. Mas se todas as partes cumprirem o que está ali, a vida será toda de bênçãos, e ninguém vai precisar brigar com ninguém, nunca, por razão alguma.
Quando queremos, com belas palavras, fazer alguém acreditar em algo que é do nosso interesse, podemos até dizer a alguém “certamente não morrerás” se comermos de determinada árvore, usando a própria palavra do Senhor contra o ser humano, e sair feliz da vida por ter criado um problema enorme. Distorcer é parte do ministério de alguns. Peço a Deus que não seja o do referido reverendo.
Do Velho ao Novo
Todo o velho testamento, principalmente suas partes iniciais, são uma tentativa civilizatória, num mundo em que a violência era a ordem do dia. Pode-nos parecer ridículo e violento o “Olho por olho; dente por dente” (a chamada Lei de Talião, de onde vem “retaliar”), mas em vista do fato de que, por um olho, se matava toda uma família, reduzir o castigo ao tamanho da ofensa foi, à época, algo revolucionário.
Então o Novo Testamento “ressignifica” o Velho? Jesus Cristo se deu ao trabalho de “ressignificar” a Lei? O que ele mesmo fala sobre isso?
“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.”
Mat_5:17
O Pai, representado no Filho, não veio para acabar com o que Ele mesmo instituíra, mas para mostrar com clareza que toda a Lei e os Profetas se resumem em duas regras de ouro: Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos.
Escravidão é só Pretexto?
Pela ordem apresentada, escravidão é a “pedra” Número 1 no raciocínio; estupro é a Número 2. Daí, um pulo até o homossexualismo (desculpem os olhos e ouvidos mais sensíveis, mas é como defino, ainda – estou apenas usando minha liberdade de expressão, sem querer ofender a ninguém).
Precisamos então, por decorrência “ressignificar” as relações homoafetivas. Observe-se que não se trata de amar quem é homossexual. Não se trata de receber com amor, carinho, sem julgar o ser humano. Não se trata de amar o pecador, mesmo deixando claro o que a Bíblia fala sobre o pecado em si. Trata-se de ressignificar – dar nova interpretação, à homoafetividade.
Mas o que mais me chamou atenção, em todo o sermão, foi a afirmação de que todos somos iguais e devemos permanecer iguais, e que é uma ofensa ao seu irmão que ele seja “subalterno” seu.
Eu confesso que minha primeira impressão ao ouvir isso é a de que eu deveria me sentir muito envergonhado por ser bem sucedido. O meu sucesso, que me levou a montar um negócio, contratar gente, pagar salário, etc, me leva a ser, da forma como dito, um cara que tem “subalternos”, “subordinados”, e a própria natureza dessas palavras, começadas com “sub” (debaixo) já denotam discriminação.
Como não cair de amores por uma palavra aparentemente tão bacana? Que argumentos existem ante isto:
Não somos iguais – não nascemos iguais, desde o ventre de nossa mãe, o que os biólogos evolucionistas (sic!) chamam de “loteria genética” já trabalha a nosso favor… ou desfavor. O fato é que uns já nascem com mais capacidade pulmonar, mais sinapses, mais músculos, mais beleza, e outros sem esses atributos. Isso por si só já seria suficiente para “ressignificarmos” a bondade de Deus. Ora bolas, um Deus que cria as pessoas tão fundamentalmente diferentes é um Deus mau! ou não? Claro que não. Deus nos ama igualmente e sim, somos perfeitamente iguais perante o Senhor, porque “olhando dos céus à terra não viu nenhum justo; nem um sequer”. Somos iguais porque eu, do tamanho que sou, não conseguiria identificar que uma célula sanguínea do meu corpo é maior ou menor que a outra; Somos iguais pelo amor do Senhor, não pela minha relativa qualidade em relação ao meu semelhante.
Sucesso não é pecado – Este é um argumento típico da esquerda mundial, e foi argumento da Igreja Católica por muitos anos. Partindo do pressuposto de que economia é uma equação cuja soma é zero, logo se alguém prospera, alguém está sendo “lesado”. Marx usou isso muito bem, para que inocentes úteis, até hoje, inclusive de nossos púlpitos, pudessem macaquear suas palavras com confiança de quem não entendeu nada da dinâmica da criação do bem estar. Se eu consigo fazer com que um grupo de pessoas se sinta inferiorizado em relação a outro, consegui uma cunha ideal para separar a sociedade em grupos, e vender meu peixe – tire de quem suou e conseguiu, pois acima de tudo, se todos somos iguais, ele não tem direito sequer ao que é seu, mas todos somos “donos de tudo”;
Igualdade de Oportunidades não dá a todos a mesma chance de vencer – Como sociedade devemos prover a todos a chance de vencer. Mas não podemos garantir que todos vencerão. Se fazemos isso, eliminamos a competição (ah, competir não é saudável. É antibíblico, diriam alguns). Competir é parte do processo de se manter em forma – a competição começa conosco mesmo, todos os dias, acordando cedo, trabalhando, fazendo nosso melhor. Eu creio que se você hoje pegasse toda a riqueza mundial e dividisse igualmente por todos os habitantes, em 1 ano a desigualdade seria igual ou maior do que antes. Creio que mesmo que pegássemos somente pessoas do mesmo nível sócio-intelectual e fizéssemos o mesmo, o resultado seria parecido. Em síntese, a linha de chegada não depende da linha de partida.
A quem cabe Ressignificar?
Finalmente, quem tem condições de “ressignificar” o Livro Santo? O que a Palavra de Deus fala sobre isso?
“E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei.” Luc_16:17
“Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” Mat_5:18
“…pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade.” 2Co 4:2
“... a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada.” 1Pe_1:25
“…por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão.” 1Co_15:2
Mas mais importante:
“Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro. E, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que estão escritas neste livro.”
Apocalipse 22:18-19
É fácil falar, hoje de escravidão, pois está quase totalmente extinta no mundo civilizado, e só persiste em locais onde o Evangelho, ou sua influência, não entraram. Só se fala do fato de que alguns “reverendos” (igualmente iluminados no desejo de fazer sua visão da bíblia prevalecer) que usavam o Velho Testamento para justificar a escravidão dos negros no sul dos EUA. Acabaram por ajudar a provocar uma guerra.
É uma memória bastante seletiva aquela que não lembra que foi justamente o Senhor, no Seu poder, que convence William Wilberforce a trabalhar com o 1o. ministro Pitt para acabar com o tráfico de escravos no Reino Unido (o líder mundial da época). Foi um ex-traficante de escravos, John Newton, que depois se torna poeta e pastor, a declarar:
Amazing grace! (how sweet the sound) / Maravilhosa Graça! (quão doce o som) That sav’d a wretch like me! / Que salvou um desgraçado como eu! I once was lost, but now am found, / Eu uma vez estava perdido, mas agora estou achado, Was blind, but now I see. / Era cego, mas agora vejo.
John Newton, 1779, “Amazing Grace”
Não tenho dúvidas de que muitos empreenderam tentativas de “ressignificar” a bíblia com boas intenções. O fato é que sempre terminamos em tragédias ao fazer isso. Sejam elas pessoais ou coletivas. Afinal, delas, o inferno está cheio.
Não me assusta, porém, que tenhamos tido uma reação tão rápida e tão precisa sobre o tema tratado pelo referido pastor. Afinal, quem conhece a Palavra sempre vai entender que algo soa mal, e vai reagir a isso. Não se trata aqui de interpretar um ou outro aspecto de forma diferente. A isso estamos acostumados, e não nos assusta. Porém, somos unidos na centralidade daquilo que realmente importa.
Que Deus continue abençoando a Escola Dominical, pois é através dela que muitos de nós consegue enxergar esse tipo de coisa tão claramente.
João de Deus trabalhava de contínuo numa redação de um desses jornais de bairro. Era um bairro bonzinho, classe B, numa São Paulo envergonhada de seus bairros bonzinhos, já que bom mesmo era ser abaixo da média… Mais correto, politicamente, menos visado por meliantes públicos, enfim, distante daquele quase já longínquo 2020, de triste memória, ele se recordava como as coisas começaram a ir mal.
João de Deus pede desculpa ao chefe e vai na esquina tomar um café (redução de custos… nem cafezinho mais tem). Leva a máscara, claro, pois que já tinha calo suficiente atrás das orelhas pra aguentar o dia todo respirando o próprio mau hálito. Lá encontra os de sempre, aqueles flagelados do novo normal, sujeitos broncos, brabos pra caramba com o governo, qualquer governo, mas já sem coragem pra falar o que pensam. Afinal, 4 anos depois da Covid-19, já não era possível sair às ruas sem máscara, sem um frasco de álcool gel em lugar visível e sem a caderneta de vacinação.
Depois da mixórdia da Covid-19, tudo continuara com a polêmica da vacinação obrigatória, que alguns julgavam impossível de ser praticada – afinal, o sujeito se esconde, finge, não toma, e no fim das contas, causa uma tragédia, já que contamina 2, 4, mil, e fica por isso mesmo. Questão de saúde pública… Força bruta justificada!
O ex-presidente, agora execrado por seus “mal-feitos”, substituído por um popular governador, está preso à sua casa no litoral do RJ, desconsolado por ter sido, segundo ele, vítima de um golpe palaciano. Sem entrar no que o ex-presidente fez de bom ou ruim, o fato é que o cara pirou depois de ser basicamente desautorizado a tomar qualquer atitude, pela justiça e depois ser cobrado por tudo o que deu de errado durante a Covid-19. Acabou como o grande culpado de tudo. O governador, e sua vacina importada, haviam vencido tanto a luta com o executivo federal quanto a batalha pela vacinação obrigatória. Não se sabe bem se a vacina funcionou mesmo, ou se foi só o resultado da baixa mortalidade daquele virus… mas ok, tá valendo. Venceu também a caderneta de vacinação virtual, um App no celular, www.vacinaobrigatoria.gov.br, que indica se o portador estava ou não vacinado. Isso lá nos idos de 2021.
Sem a tal caderneta atualizada o sujeito já não pode ir a lado algum. Está trancafiado e tem que pedir a parentes e amigos pra comprar comida e pagar suas contas, já que não pode sequer pedir nada por telefone ou internet. Está segregado enquanto não se conformar ao novo normal.
Um sujeito política e religiosamente apático, a despeito do nome, João de Deus, encostado no balcão do bar, toma seu cafezinho e discute com o Mário (que Mário – êta piada velha de sempre…) dono do local:
“Escuta, você já foi se vacinar esse ano?”, pergunta o Mário…
“Não ainda, mas vou logo porque tenho que fazer compra de mês com a patroa. Sabe como é que é… se não for logo, a inflação come o valor todo, e nem com PIX eu consigo transferir grana a tempo pra pagar o arroz-com-feijão. Tá cada vez mais difícil”, responde João de Deus.
Ao que Mário responde – “Aqueles meus amigos católicos da Opus Dei, e meus primos batistas decidiram não se vacinar. Agora não tem mais como nem entrar num supermercado. Continuam enchendo meu saco pra tentar comprar as coisas pra eles. Paguei uma conta de luz ontem pro Zé Ernesto e agora quero ver como é que vou fazer pra receber, já que o cara nem emprego mais tem. Foi demitido depois que o pessoal do telemarketing que ele trabalhava há anos descobriu que ele não tinha caderneta, e ainda por cima vivia dizendo ‘graças a Deus’ pra cima e pra baixo”…
“Pois é. O Corona desse ano, aliás, parece que tá pior que o de 2022. O do ano pasado nem foi tão ruim, porque com o novo desinfetante à base de suco de creolina deu super certo. Tudo cientificamente testado e aprovado”, completa João de Deus.
“Os meus parentes vivem dizendo que existe perseguição contra cristão… não vejo nada disso. Só que limitar o número de pessoas nos templos a 15% da capacidade é questão de saúde pública. Estamos há 4 anos no novo normal, e cada ano, parece perseguição, uma nova cepa de Covid aparece… quando não é da China é da Coréia, ou do Vietnã… Quando não é Covid é ameaça de Ebola… Virou uma festa isso aí… Falar nos meus primos crentes, você acha que essa tal de cristofobia existe?”
“Existe nada, Mário. Essa gente quer ser melhor do que os outros. Ficam falando – ‘ah… mas em avião todo mundo fica espremido’… ‘ah… mas em cinema pode até 75%, em supermercado pode 80%…’… mas dá pra entender, né? Temos que comer, e nos divertir um pouco, senão ficamos doidos. Pior ainda é ficar falando pra todo mundo o que crê. Uns chatos… parecem esses carolas que batem de porta em porta…”, diz João de Deus.
“Eu te digo que já nem sem bem… às vezes tenho saudades da missa… da cantoria… era bonito… Fui nuns cultos dos batistas, também gostei muito… animadinho… O caso é que ficam criando caso porque queimaram mais uma igreja, desta vez no meio de uma praçona grande, na Cidade do México, eu acho… Tinha uns 500 anos a igrejona… Achei triste, mas fazer o quê”…
Ao que retruca João de Deus – “olha, acho isso ruim. Afinal é patrimônio histórico, né? Tem que preservar sim… pode até tirar da igreja e dar pro governo tocar, mas era importante manter lá pra lembrar como é que era antes. O que eu sei é que pelo menos nas Mesquitas ninguém tocou em nenhuma até agora. Pelo menos por alguma religião ainda tem respeito… Tá vendo? Não é que o povo tenha cisma com religião. É que os crentes, os católicos, são tudo meio chatos mesmo… ficam querendo dizer pra gente o que é certo e o que é errado.”
“Mudando de saco pra mala, você acha que as aulas presenciais voltam ainda em 2024?”, pergunta Mário.
“Sei não. Ainda é perigo, né? Cada ano um troço diferente… melhor manter todo mundo em casa, estudando no computador… E no final a molecada gosta, porque eles passam todo ano. Ninguém repete. É bom pra auto-estima deles…”
Se despedem com uma cotovelada, porque ninguém é bobo de se expor… Vai que pegam a Covid-23…
Nota do Autor – Obviamente o texto acima é uma hipérbole e nunca… nunquinha mesmo que o governo teria a capacidade de criar uma Covid-19 atrás da outra… Mas já um outro tipo de calamidade… sei não… E dá-lhe queimar igrejas mundo afora…
Sou filho de um professor de Português e de uma professora de matemática. Nasci e cresci em um ambiente acadêmico, portanto, tendo sido apresentado às letras e números desde muito cedo (minha mãe diz que eu falei muito cedo e que li muito antes de entrar no jardim de infância… coisas de mãe coruja…). Pra mim, avaliar a possibilidade de não saber ler ou contar é algo muito difícil. Só consigo avaliar isso através de pessoas que não sabiam, até certo tempo, e aprenderam – tiveram portanto, tempo de vida que lhes permitiu avaliar a falta que letras e números fazem…
Hoje, dia do professor, somos uma nação que resolveu fazer do ensino uma piada de mau gosto, e do professor um instrumento de luta ideológica. Deixamos de lado o significado das coisas e o exercício mental, a disciplina de aprender algo (aprender custa e cansa) para enfiarmos na cabeça de nossas crianças somente coisas que convêm a um segmento político ou outro, interessados numa massa de manobra para fins específicos de mantê-los nesse poder.
Estamos cansados de ver posts de professores apanhando de alunos, de execração de Paulo Freire, de alunos quebrando salas de aula… tudo isso satura e acaba por nos dessensibilizar para a realidade mais triste. O aprendizado mesmo.
Professores
Agradeço a Deus os professores que tive, e os pais que além de pais, foram mestres. Agradeço pela sinceridade com que ensinavam, e o interesse total em que aprendêssemos. Agradeço, em suma, pela paciência infinita com que ensinavam a todos, retirando desníveis ao longo do ano letivo, fazendo-nos chegar a um bom porto, ao final dele, com todos sabendo o mínimo necessário para “passar de ano” por méritos próprios, e “repetindo” os que não tiveram tal mérito, sem ofende-los, diminui-los, mas fazendo-os reconhecer que falharam.
Agradeço a Deus por ter me dado um mínimo de capacidade de aprender a aprender, a a me ensinar coisas que doutra forma me levariam a continuar a errar nos mesmos lugares ainda hoje. Arrogância devidamente domesticada, interesse pela leitura maximizado, interesse por coisas novas sempre alto, interesse por detalhes cada vez maior, sigo tentando ser melhor, para meu Deus e para meu próximo, lembrando lá de trás, de Tia Ângela, Tia Madalena, Tia Guilhermina, Tia Solange (in memorian), e tantas outras “tias e tios” (as “profe” daqui de Curitiba) que me ensinaram a pensar.
Aos pais-professores, Ivanir e Ruth, cujo amor ao ensino os levou aos estertores, lutando dia e noite por uma educação melhor e mais universal, sem meias verdades, sem aprovações automáticas, sem “medalhas de participação”, cultivando a disciplina e o mérito, sem varrer a incompetência para baixo do tapete oficial, nem se curvarem ante modismos que pouco a pouco acabaram se tornando a educação que vemos hoje – ou a falta dela.
Tias professoras, Dalva, Marly, Chirley, Neide, gente que dedicou toda uma vida a pegar na mãozinha de crianças de 4, 5, 6 anos, ensinando as primeiras letras com uma paciência de Jó.
Creio que ver profissionais, médicos, professores, advogados, engenheiros, contadores, fazendo a diferença no mundo deve ser boa recompensa por tanto amor ao ofício.
Não custa, porém, lembrar que o sacerdócio de professor precisa ser recolocado no pedestal que merece, longe do alcance dos políticos e dos “dominadores do idioma”.
Língua e Significado
Aldous Huxley já falava que “O progresso científico e técnico depende do hábito empírico do raciocínio, que não pode sobreviver numa sociedade estritamente regimentada.“. A ideia de educação, como me foi passada, estava fundamentada na “capacidade de aprender”. Minha escola pública, hoje tão depredada e desprezada, me ensinou a “aprender a aprender”. Quando fui para a universidade, eu já sabia que estava virtualmente sozinho nessa guerra interna da “Ordo ab Chao”. Era minha responsabilidade – que eu havia a duras penas aprendido de meus primeiros mestres – a aprender. E por ter aprendido a aprender, me tornava cada vez menos dependente de alguém que me dissesse o que era certo e errado. Isso me tornou, à uma, arrogante, e à outra, independente (na cabeça). Arrogante porque aprendi a discernir coisas mais cedo do que a maioria, e por isso mesmo, imaturo suficiente para não saber quando calar, quando esperar para responder, ouvir mais. É uma característica difícil de domar e que habita alguns espíritos mais espertos do que sábios. Independente porque não ligava tanto para o que pensavam de mim, o que reforçava, por outro lado, a ideia de que era arrogante. Em síntese, um caos sobre o qual colocar ordem foi muito difícil.
A língua, porém, foi o trampolim para essa capacidade de aprender a aprender. Foi por ler e entender o que lia que eu ia conseguindo interpretar o que estava diante de mim, dando tempo para ruminar o que entendia, e a formar conceitos a partir daí. Minha grande forma de entender o mundo sempre foi a palavra escrita, a despeito dos meus pendores matemáticos. Números sempre fui capaz de manipular com alguma destreza, mas eram símbolos que não falavam ao meu coração. Música (escrita) também nunca entrou no meu coração como no da minha esposa, Aline, por exemplo – sei onde é o fá, o sol, o mi, sei o que é um sustenido, um bemol, sei o que é um compasso, uma clave, uma pausa, mas nada disso “fala no meu coração” como a própria música. Pura preguiça de aprender essas duas línguas como deveria – matemática e música.
Língua sempre foi a palavra. E percebo que o domínio sobre a palavra escrita é liberdade. E aí é que mora o perigo da sociedade atual
Letra Cursiva e Domínio do Conceito
Ouvi de um amigo querido, executivo da área de educação, que achava que ensinar a criança a escrever à mão havia se tornado desnecessário. Dar um teclado e ensinar a digitar era suficiente.
Num mundo sob perpétua ameaça de crise de energia, confiar exclusivamente na capacidade de teclar, sem máquinas totalmente mecânicas, manuais, me parece burrice, retruquei.
O fato é que confiamos tanto na tecnologia da informação que esquecemos que todo o conhecimento está sendo confinado em “conventos digitais” os quais podem-nos ser fechados para sempre pela simples falta de corrente elétrica ou manutenção; ferrugem e infiltrações correm o risco de acabar com a civilização mais cedo do que uma guerra atômica.
Enquanto a eutanásia cultural coletiva não vem, assistimos diante de nós, impassivos, à destruição do significado.
Destruição do Significado
Já que não consigo matar de fome, mato empanturrando… Num tempo em que a quantidade de conhecimento acumulada cresce exponencialmente, nossa capacidade de participar desse banquete intelectual de forma controlada e civilizada decai a olhos vistos. Já não conseguimos saber os limites do que é correto, e estamos diante de uma campanha para nos soterrar de informações, úteis e inúteis, e todas, por fim, inúteis, por não sabermos mais a distinção entre elas.
Some-se a isso o fato de que as palavras estão tendo dois destinos: a perda do significado original e a criação de interpretações ofensivas por parte de qualquer um que se sinta ferido por algo que, creio, muitas vezes não sabe sequer interpretar.
Um grande amigo me dizia que chamou um colega de trabalho de “Apedêuta”, ao que o amigo lhe agradeceu muito o “elogio”. Fantástico! Da mesma forma, ao chamar o amigo de “Negão” (o que o cara é, porque enorme, com 1,90m e pele chocolate escuro) soa ofensivo a alguns (no caso, não ao destinatário do carinhoso apelido). Eu posso agradecer por ser incapaz de aprender algo, e ficar extremamente irritado porque alguém chamou um amigo negro de “negão”.
A candidata a juíza da Suprema Corte americana, Amy Coney Barrett, católica, 7 filhos, carreira brilhante, teve que se desculpar por ter usado a expressão “Opção Sexual” para se referir à homossexuais. Deputados de oposição ao governo que a nomeia disseram que a expressão é “homofóbica” e que ela deveria pedir desculpas à comunidade LGBTQ (!). Em dias de patrulha linguística, a liberdade de dizer que entende que existem opções sexuais é um pecado mortal. Ora, pensar se torna um pecado mortal em uma sociedade como a nossa.
A língua é o veículo de escravização mais efetivo que existe hoje, na minha opinião. Na verdade, uma linguagem patrulhada e tornada objeto de apenas alguns tipos de manifestação, tornam a sociedade muito menos capaz de pensar e ter independência. No fundo, se você controla a linguagem, controla a sociedade – como alguém já disse em algum canto, que não me lembro.
Que sigamos pensando, bem ou mal… afinal, como dizia Millôr Fernandes no Pasquim, “Livre pensar é só pensar“…
Lá no início de minha vida profissional, aos 18, 19 anos, em 1983, alguns amigos vieram em meu socorro, no meio da minha cesta básica de dúvidas juvenis. Meus tios, irmãos de minha mãe, Aluízio e Roberto Montechiari, junto com o Frank, amigo e pai da tia-emprestada, Elaine, me fizeram o favor de me falar algumas verdades, que eu, como moleque, ainda meio achando que possuía um direito divino de viver bem às custas dos pais.
Como todo quase pós-adolescente, eu vivia um mar de interrogações, poucas certezas, e uma briga interna com Deus pela posse de minhas convicções (eu, ou Deus as teria?). No emaranhado de emoções daquele que, pela natureza da relação, não escuta nem pai nem mãe, vieram os tios ao socorro. Por que o conselho dos tios faria alguma diferença, onde o conselho de pai e mãe foram ignorados solenemente?
Ora, daquela sensação de pasmo, de espanto, ante um par de sujeitos bem sucedidos, um comerciante, bem de vida, cheio de relacionamentos importantes, o outro oficial da força aérea, “herói” de qualquer sobrinho que sabe que o tio pilotava caças e aviões militares. Ambos fizeram a diferença, não porque eram o que eram, mas porque “o que eram” me permitiu parar e refletir sobre o que falavam, com seriedade.
Hoje, encerra-se um capítulo importante na minha história, com a morte do meu amado Tio Aluízio, que não só me influenciou, mas deu emprego, deu palavras (duras, sábias, boas). Não vou poder estar com meus primos e tia (Carlos Eduardo, Carla Andréa e Neide). Tem Covid-19, sabe, essa “nuisance” na vida de todos nós que barateia o conceito de morte, e faz com que se fale tanto em contagem de corpos que se perca a noção da singularidade, da particularidade da morte privada, da morte íntima, da morte sofrida porque próxima do nosso coração.
“Preciosa é à vista do Senhor a morte dos Seus santos”
Salmo 116:15
Fica, de lá pra cá, um desejo imenso de talvez ter sido mais prestativo, mais presente, embora morando a muitas centenas de Km de distância. Fica saudade, mas não fica dor, porque eu espero encontrar com esse tio amado na Glória do Senhor, que nos salvou a ambos, em momentos diferentes da vida, e que nos redimiu por igual, independentemente de quão carola um tenha sido, ou quão blasé o outro fosse, em determinados momentos da vida. O fato, inescapável e indelével, é que o selo do Espírito Santo da Promessa foi impresso em ambos os nossos corações, e nos fez amigos, irmãos em Cristo.
Tem realmente amizades que vêm disfarçadas de parentesco, da mesma forma que tem amizades que são mais fortes que laços de sangue. Nesse caso, o laço de sangue falava, e fala altíssimo, mas a amizade, o amor, sobrepujou a tudo isso.
Vai com Paz e em Paz, porque sei que o Senhor te guarda nos braços.