Liberdade é liberdade financeira

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Photo by Kristina V on Unsplash

Há anos, quando eu tinha uns 17 anos, meu tio Roberto, irmão da minha mãe, e o sogro dele, Frank, me deram uma carona, de carro, de minha cidade natal, Cordeiro, para o Rio de Janeiro, onde eu recomeçaria a estudar e começaria a trabalhar de balconista na farmário Biscaya, do meu outro tio, Aluízio.

No meio do caminho, paramos para comer um pastel num local chamado Cachoeiras de Macacu, e lá ouvi um conselho que não esqueci nunca, e que, na minha opinião, deveria ser a mola mestra da vida profissional, financeira e pessoal de qualquer pessoa – e, penso eu, de países também – “Sobrinho, liberdade é liberdade financeira. Só existe essa liberdade e todas as outras estão subordinadas a esta”.

Eu estava naquele período da vida em que o adolescente briga com os pais por qualquer coisa, e isso irritava tanto a mim (que não sabia se queria cursar a faculdade de física que havia passado, para UFRJ) e meus pais (que francamente deviam estar felicíssimos de se livrar de uma mala sem alça resmungão).

Uma vez que comecei a ganhar meu meio salário mínimo por mês e morar num quarto alugado no conjunto residencial do IAPI da Penha, no Rio, comecei a dar mais valor ao que vinha às minhas mãos. Apesar de não ter me tornado um mão-de-vaca, na prática eu conseguia já vislumbrar a verdade do que me tinha sido dito – só tendo liberdade financeira podemos saborear as outras liberdades. Obviamente que estamos falando de uma sociedade livre e na qual podemos ter propriedade privada. Senão, não funciona…

O tempo passa, o tempo voa… já não há mais poupança Bamerindus, mas a vida, apesar de tantos problemas, e até mesmo uma tragédia familiar de grandes proporções, a vida continua boa. Aliás, com Deus, a vida é sempre boa, acho eu. Uma coisa não mudou – cada vez menos as pessoa se preocupam, de fato, com a liberdade econômica. Um amigo meu chama isso de “F#!ck you Money” – aquele dinheiro que dá a você o direito de mandar alguém para aquele lugar sem o medo patológico de consequências sobre sua vida cotidiana.

Tudo isso pra falar do ranking de liberdade econômica da Heritage Foundation, cuja edição de 2020 coloca o Brasil um pouquinho melhor que em 2019, mas ainda assim um pais “majoritariamente não livre”. A razão principal disso é nosso déficit público crescente. Até 2008 a coisa vinha bem, com o preço das commodities lá em cima, pré-sal, etc. Aí o país decide se tornar “o trapezista que acha que sabe voar”, e esquece que tem que pegar no próximo trapézio, senão se esborracha, pois que na vida não há rede de proteção…

Chegamos a 2016 numa situação lastimável nas contas públicas, e com um Estado de tal maneira inchada, que governo algum pode fazer nada, dado que o orçamento está 95% carimbado… chegamos no fundo do poço da falta de liberdade financeira, e tal como euzinho, com 17 anos, o país deu um basta em determinadas coisas (ligadas ao ciclismo, creio…) e começou, timidamente, a sair do fundo do poço.

Aí vem essa coisa de Covid. Isso é tipo praga do século, e não há como resolver isso sem medidas emergenciais. Apenas que, num país onde a liberdade financeira é pequena, e as reservas financeiras parcas, a solução custará mais caro.

A China, de onde o tal virus veio, e que diz tê-lo controlado, com sua economia mais livre do que a nossa, a despeito da liberdade de opinião e pensamento “zero”, tenderá a sair disso melhor do que nós, teoricamente ocidentais.

Submersos num lodaçal burocrático, ficamos à mercê de uma corja de político que está sempre em busca do próximo mandato, em busca da próxima eleição e de seu próximo cargo. Alguns dias atrás o presidente havia editado uma Medida Provisória com a possibilidade de redução de carga de trabalho e salários proporcional, para os tempos bicudos de Covid. A gritaria foi geral, e (como quase tudo o que se fala hoje) quase derruba o tal presidente.

Ontem, a Medida Provisória 936 faz exatamente isso. Ainda estou estudando os efeitos, mas parece que podemos reduzir até 70% dos salários e carga horária do pessoal, com compromisso de não demissão, com o Governo complementando parte das perdas de cada empregado.

E a tal liberdade econômica? Bom, o país vai endividar ainda mais as próximas gerações, em algo parecido com 5% do PIB, só este ano, mas se Deus quiser, sairemos dessa menos ensanguentados do que poderíamos estar. A raiz do problema está justamente na quase impossibilidade de tomar qualquer medida, dentro de uma empresa, sem que alguém, algum “avatar” nos diga que podemos.

Está todo mundo pasmo com o aumento do número de pedidos de seguro desemprego nos EUA. E por que o desemprego sobe tão forte e tão rápido lá? Porque demitir não custa, como aqui e na Europa. As empresas conseguem se manter vivas, minimamente. Os liberais-progressistas dirão “anátema”! Claro, é sempre mais fácil pensar no ser individual do que no coletivo. É mais doído e mais fácil empatizar com o Sr. João, que perdeu o emprego e tem 4 filhos, do que entender que, contrário-senso, a economia americana também será a primeira a se recuperar, e voltar a gerar empregos. Justamente pela facilidade e liberdade financeira.

Pra terminar, uma reflexão: se tivéssemos hoje mais liberdade econômica nacional, máquina pública menos inchada, menos arrasto aerodinâmico de salários altos e toneladas de aposentados públicos, estaríamos certamente livres para tomar decisões ainda mais generosas no sentido de preservar a vida e o emprego dos cidadãos, e a vida e continuidade das empresas. É certamente mais fácil tomar decisões quando se tem liberdade… financeira também…

Criptomoedas e seus fantasmas

O advento do Blockchain e de Criptografias considerada invioláveis possibilitou a possibilidade de emissão de “ativos” que hoje conhecemos popularmente como cripto moedas. Essa começaram lá pelos anos 2009 (BitCoin) e hoje surge uma nova a cada poucos meses. O BitCoin é um caso emblemático, e que fica mais curioso ainda pela quantidade de interesse que despertou e pelo aumento de valor – claro, é um “ativo”, e o nome “moeda” é apenas uma analogia, pela liquidez e manutenção do valor. Poderia se chamar “Cripto-Ouro” na boa e manter o mesmo significado.

Na minha opinião o crescimento do valor do BitCoin tem três marcos importantes: a)as novas regras de transparência para paraísos fiscais (2009, com a França, e depois com a UE, expandindo até as regras hoje existentes, que envolvem até a reticente Suíça),; b)a ascensão da grande corrupção internacional, na Rússia, Venezuela, e no Brasil, como “vice-líder” mundial, com seus petrolões, mensalões, etc; c)o narcotráfico, pressionado pelo rebaixamento dos “muros” dos paraísos fiscais, aqui mencionados.
A subida foi grande, as quedas têm sido vertiginosas, mas estranhamente nada ligado à segurança dos protocolos de criptografia ou à tecnologia BlockChain mesma.

Mas a razão do escrito aqui é outra: tenho a ligeira impressão de que o “piso” de preço das principais cripto moedas vai aumentar, de pouco a pouco, mas sempre gerando um nível basal cada vez mais alto. E a razão pode parecer cômica e prosaica, e peço a quem ler para me ajudar a clarear as ideias, caso eu esteja vendo fantasmas:

  • Cada vez que um traficante morre, corre o risco de levar consigo a senha ou chave de acesso a um caminhão de BitCoins em alguma conta, em lugar incerto e não sabido…
  • Cada guri que é pego com a mão na massa, sequestrando dados na web em troca de BitCoin, corre o risco de perder o acesso ao dinheiro “fabricado”…
  • Cada político corrupto enviado pra cadeia, ou traído pelos comparsas corre o risco de deixar a grana do partido pra lá, em detrimento dos agora inimigos…
  • Cada novo rico chinês fuzilado pelo partido por alguma razão qualquer vai deixar entesourada uma grana preta…

E por aí vai… Dia desses li em algum blog tecnológico uma situação em que alguém recebeu uma senha de sua conta em BitCoin e perdeu, ou esqueceu de onde pôs, bem ao estilo de um episódio antigo do The Big Bang Theory… hilário se não fosse trágico (para o perdedor). Mas o fato é que sem a senha, não há sequer a quem recorrer. Voltamos aos tempos em que o sujeito ganhava um saco de moedas de ouro, enterrava em alguma árvore e se esquecesse, já era – com a diferença de que no caso atual nem a chance de alguém achar e usar existe.

Pois bem… Imaginando que haverá uma quantidade crescente de cripto moedas “perdidas”, e que essas tenham um valor médio, base, de digamos US$ 2,000, mesmo que o mundo acabe e que a confiança de todos nas cripto moedas evapore, a cotação se manterá no mínimo dentro da média ponderada entre o total “perdido” e o total das criptos em circulação, com ou sem algum valor. Ou seja, o tempo se encarregará em que haja uma quantidade crescente e grande de “tesouros de pirata” perdidos em ilhas digitais escondidas e inalcançáveis.

Por Wesley Montechiari Figueira