ESG é o Capeta?

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Quero aqui dar uma visão razoavelmente balanceada sobre o advento do ESG. Difícil mas tentarei.

Pra quem não conhece, ESG significa, em inglês, uma sigla criada pelos barões do Forum de Davos: “Environment, Social, Governance” (Governança Ambiental e Social). São três palavras antes aplicadas separadamente e que foram agrupadas nessa única sigla, e que ganhou “vida própria” em seu significado, como outras no vernáculo pátrio, como “coitado”, “fascismo” ou “negacionismo”, além da onomatopéia “mimimi”, de ampla aplicação.

Em separado, não há como ser contra qualquer uma dessas posições. A questão é que ninguém de sã consciência consegue ser contra o Meio Ambiente, a Sociedade e uma boa governança de suas empresas. A questão complica quando juntamos tudo num mesmo conceito interligado, quando nem sempre o deveria ser.

O link abaixo, da Gazeta do Povo, dá uma excelente ideia, a despeito de um tanto carregada nas cores, sobre o que acontece e até onde o conceito mais radical de ESG permeia a sociedade.

https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-o-mercado-investidor-usa-o-esg-para-impor-ideologia-as-empresas/?ref=link-interno-materia

Gazeta do Povo, 01 de Setembro de 2022

Como “dirigir” a opinião da Elite

Por definição, “elite” deveria significar algo que varia de “abastados” a “formadores de opinião”, passando por uma série de conceitos como bom gosto (sic!), finesse e bom senso. Desta forma, mudar opinião de Elites nao deveria ser algo simples, nem tarefa típica de tanger rebanho. Mas ESG prova que não é suficiente e necessário para pensar independentemente ser da Elite – financeira, cultural ou qualquer outra.

Livre pensar é só pensar

Millôr Fernandes

O próprio Millôr, fina flor da Elite, do Beautiful People carioca dos anos 70 em diante, não se demonstrou elite, quando, por exemplo, execrou, esculachou e excluiu Wilson Simonal da vida artistica, provocando inclusive (direta ou indiretamente) sua morte prematura. Millôr, na prática, não livre-pensou em muitos momentos, a despeito de seu talento imenso.

O mesmo se pode dizer de expoentes culturais como Chico Buarque ou Caetano (cuja música eu adoro). Fazem reiteradamente escolhas que, por ideologia ou qualquer outra razão, nubla o entendimento da realidade, e auxilia sua ideologia a se impor a nós, ainda que “tomando o poder, o que é diferente de ganhar eleições”.

Mas é verdade. Livre pensar, é só pensar mesmo… Pense, arrazoe, sem dar chances à ideologia, e a verdade vem à tona, e você não volta a ser do jeito que era, não por ter um “lado”, mas pelo que faz ou não sentido.

E

Environment. Dificilmente algo tem sido utilizado de forma mais ideologizada do que esse termo. Meio Ambiente se tornou campo de batalha, não por uma floresta de pé, não por sustentabilidade, mas por razões inconfessáveis. No artigo, Elon Musk faz uma alusão verdadeira e risível, se pensarmos bem:

ESG é uma farsa. Tem sido usado como arma por falsos guerreiros da justiça social… (A petrolífera) Exxon está colocada entre as dez melhores do mundo em meio ambiente, social e governança (ESG) pela S&P 500, enquanto a Tesla não faz parte da lista!… Estou cada vez mais convencido de que o ESG corporativo é o diabo encarnado

https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-o-mercado-investidor-usa-o-esg-para-impor-ideologia-as-empresas/?ref=link-interno-materia

De fato, colocar no maior índice de bolsa do mundo a Exxon e não a Tesla parece no mínimo estranho. O fato é que tanto aqui, como nos EUA como em qualquer lugar do mundo, vemos uma pressão sobre visões menos à esquerda do espectro ideológico como sendo passíveis de “vendetta”. É o que Musk está demonstrando de forma clara. Ninguém reclama, ninguém se opõe.

O Brasil tem sido, de certa forma, vítima do “E” de ESG, na figura de seu presidente, um boca-dura turrão que é associado a tudo o que não presta, em termos Ambientais, o que não necessariamente (e raramente) é verdade.

S

Social… Desde que Zé Sarney declarava “tudo pelo Social”, e fazia um governo que está certamente entre os piores em 522 anos de história, eu fico com um pé atrás em cada “Social” que leio. Justiça Social, então, nem se fale. Eu tenho bastante dificuldade em admitir que alguém receba um benefício qualquer em virtude de sua raça (sic!) cor, religião, orientação sexual, ou qualquer outro aspecto da vida que não o mérito, e só o mérito.

Inclusão Social deve, por óbvio, ser um objetivo da sociedade. Apenas que a inclusão se dá pelo levantar da condição humana, e não pelo rebaixamento de padrões. Sobre isso muitos já escreveram, e melhor.

G

Governança. Esse é o Elo. Falamos, então de “Governança Ambiental e Social”. É disso que se trata o termo ESG, bem entendido. Estabeleça-se, dizem os caciques, padrões de governança tais que cheguem ao ponto da preocupação social e ambiental.

Parece bacana, e pode ser. Não sou contra ESG como conceito, per se. Sou contra o uso que está-se dando a isso. Pelo artigo citado, a Bolsa brasileira, local em que perdedores e vencedores são julgados diária e impiedosamente por milhares de cabeças, sem qualquer consideração por preferências pessoais ou de quaisquer outras naturezas, decidiu aliar-se ao conceito. Em síntese, ESG vai afetar o pregão? Vou comprar ou vender algo por conta de aplicação de conceitos ESG? Vou aceitar que meus dividendos sejam reduzidos – se é que haverá este efeito – em virtude de aplicação de conceitos daí saídos? Não sei, mas francamente, me aproximando da aposentadoria, não me vejo sendo bonzinho com quem não necessariamente concordo ou com pautas que não necessariamente patrocino.

Governança Social tem sido objeto, inclusive, de seminários de auditores e contadores, como é meu caso, e será tema do próximo Simpósio Paranaense de Auditoria, de cuja comissão sou parte. Me orgulho de poder trazer o tema, mas sei que em muitas situações estarei num campo não 100% alinhado com a palestrante.

Resultados

Torço e oro por uma sociedade que trate pra lá de bem o Meio Ambiente. No entanto, reconheço que enquanto não tenhamos dominado a técnica de fazer bife com ar (será possível, creio, num futuro não tão distante), teremos que conviver com pum de milhares de vacas.

Torço e oro por uma sociedade que seja socialmente justa, e que não discrimine por nenhuma característica – física ou de qualquer outra natureza. No entanto reconheço que as pessoas são, intrinsecamente diferentes, e preferiria não ser atendido num pronto socorro por um médico intensivista “quotista”, não porque ele seja branco, preto, gay, hétero, muçulmano, cristão, azul de bolinhas brancas ou sei lá mais o que. Quero um médico que tenha capacidade de exercer medicina. Só isso. Objetivamente.

Finalmente, torço e oro por uma sociedade que consiga dar governança aos dois aspectos anteriores. Uma sociedade que consiga deixar transparentes as ações sociais e ambientas das empresas. No entanto, não estou disposto nem a discriminar nem a alijar do mercado empresas que porventura não queiram se meter nesta seara. Ora, que o mercado julgue até que ponto a empresa, por não deter e aplicar conceitos ESG, entrega um produto ou serviço de qualidade, digno do meu e do seu dinheiro.

Concluindo – ESG não é o capeta encarnado, como crê Elon Musk – necessariamente. No entanto, do jeito que a coisa vai, e como está sendo conduzido pelos ativistas de sempre, aqueles com agenda preta oculta no bolso do paletó, pode se tornar. Pode. Ao ponto de se tornar o embrião de uma Gestapo ESG, para nossa tristeza.

Livre pensar, continua sendo só pensar.


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