Até que ponto chega o mau jornalismo?

https://arte.estadao.com.br/internacional/geral/locais-historicos-ira/

Dei de cara com essa “manchete” do Estadão hoje e fiquei mais do que pasmo. Fiquei boquiaberto com o que está escrito ali pra todo o Brasil (e o mundo) ver. Por conta da eliminação do agora “diplomata” e “querido líder” Soleimani, um sujeito que andou mundo afora criando caos como o imposto aos judeus argentinos há alguns anos, ou à população do Iêmen, ainda hoje, tenho o desprazer de dar de cara com o “jornalismo” feito por um jornal que eu assino, e que julgava relativamente imune às estupidezes maiores. Trump ameaça o patrimônio histórico do Irã. Legal.

Aliás, nem “jornalismo” se trata, propriamente, mas apenas uma chamada enviesada para lindíssimas fotos de patrimônios culturais da humanidade em terras Iranianas.

Ou seja, o Irã desestabiliza toda a região, criando o caldo social que gerou o ISIS, que agora combate, invade (ou coordena) a invasão da embaixada americana no Iraque, infiltra milicias em vários locais, e agora diante da oportunidade não perdida pelos EUA de eliminar dois “coelhos gordos” com uma cajadada só (Soleimani e o líder miliciano no Iraque, Muqtada al-Sadr).

O fato é que, conforma BBC, “O governo Trump ficou surpreso com a magnitude do ataque contra a Embaixada em Bagdá, visto como uma escalada, e acreditou que Soleimani estava por trás disso. Apresentado com uma oportunidade de alvo, o presidente autorizou o ataque (contra o general).” Ficou mesmo, pois foi a culminação de uma série de atentados aqui e acolá, matando americanos (civis e militares). Qualquer nação que tenha algo de orgulho se sentiria justificada em matar as duas figuras de uma vez só. Será que Trump pensou nas consequências? Muito provavelmente não. Isso é ruim? Bom, ruim mesmo foi a atitude covarde de Jimmy Carter, diante da invasão da embaixada americana em Teerã, em 1979; ruim e covarde foi a atitude de Hillary Clinton (e de Obama) em “botar a viola no saco” diante da mortandade de civis e militares no consulado americano em Bengasi, na Líbia, que vitimou um homem cuja morte foi sentida nos EUA, J. Christopher Stevens, carismático diplomata, por conta de um filme considerado “ofensivo ao Islã” (“The innocence of Muslims”, ou a Inocência dos muçulmanos)…

É de se perguntar se a não-retaliação, a inação diante desses atos resolveu algo no sentido de melhorar as relação dos países muçulmanos com o ocidente. Nada adiantou ficar chorando, sentado na calçada. Apenas acabou ali o “deterrence factor“, ou seja, o fator de dissuasão, que os EUA detêm desde meados da 1a. guerra mundial. Até o “advento” do maluco Trump, os terroristas, oficiais ou não, já acreditavam que poderiam fazer atentados aqui, lá e acolá, que sempre haveria um Barack disposto a pagar uns US$ 400 milhões para algum grupo terrorista “dar um tempo”.

É de se perguntar também se o “atentado” contra o Porta dos Fundos, perpetrado por um idiota, ou grupo de idiotas, merece a mesma reação e grau de solenidade dado ao filme “A inocência dos muçulmanos”, que nem de longe é tão ofensivo ao islã quanto o Jesus gay dos cretinos brasileiros é para o cristianismo.

O cúmulo, porém, é o jornalismo de prejulgamento: eu afirmo, eu informo, que “Trump vai colocar patrimônio histórico do Irã sob ameaça”. De onde se retira isso? Com que base? Na 2a. guerra mundial, os aliados, liderados pelos EUA, foram responsáveis por recuperar e devolver aos museus da Europa milhares de obras e objetos de arte roubados pelos nazistas, num ato coletivo (e até poder-se-ia dizer desnecessariamente dispendioso, face às necessidades prementes da reconstrução do pós-guerra) de grande visão cultural, de futuro e de mundo. Qual é a base para afirmar que os EUA de hoje seriam capazes de, deliberadamente, colocar zonas de preservação histórica sob ameaça? Nenhuma base, obviamente, exceto o interesse de desacreditar o Ogro Laranja (o que é fácil, dada sua natureza, digamos, bufona).

Peca a imprensa brasileira por acoitar em suas redações um número enorme de jornalistas cujo amor à notícia é nulo, cujo apego à verdade está subordinado a suas paixões ideológicas, cujo interesse em informar está debaixo da mão política de um grupo que tenta a qualquer custo ganhar esta guerra cultural-ideológica na qual estamos no meio: no Brasil, e em quase todo o ocidente.

Pela epistemologia de um grupo, jornalistas hoje enxergam o que querem; por essa visão de mundo, vêem qualquer ação de um lado como sendo má, necessariamente (vice-versa é verdade também, mas em nível – ainda – infinitamente menor e mais difuso). Por essa visão de mundo, congressistas deixam de pensar no país, se é que algum dia nele pensaram, para botar fogo em ideias excelentes – de um e outro lado, diga-se, apenas para não dar “chances eleitorais” ao adversário.

Enfim, “basta a cada dia seu mal”, como Jesus disse no sermão do monte. Vamos lutando a cada dia para tentar fazer retroceder, seja pela palavra, seja pelo humor, a imbecilidade de extremos que pensam em tudo, menos no próximo.

What a Year!

2018 December calendar with crossout marks
www.unsplashed.com

I like the fact that we slice the time in years, months, days and hours, and periodically stop and check what happened. It seems that we then try to look ahead in a more positive way. I always consider myself privileged to be able to apply “checks and balances” and try to make sense of the things.

This year started full of high expectations. A new government that started under the auspices of the war against criminality and corruption, and of a strong economic recovery. The figure of a strong leader, a man without the vices and ideological minuses of his predecessors, permeated the collective thought and maybe made us as a nation forget the hindrances usually placed by politics.

From the criminality point of view, a huge success, with average level of crimes having decreased by some 22%. This achievement is (in my humble opinion) due to certain specific measures taken by Justice Minister Sergio Moro in the first days of his term, such as isolating the drug lords in maximum security penitentiaries and enforcing combat of smaller crimes with the same vigor of the larger ones. Also the deployment of national security forces whenever necessary and in whichever parte of the country necessary, in a timely manner, helped a lot to show to the criminals that Federal Government is serious about curbing crime.

In the fight against corruption, our major defeats, in the beginning inflicted by a still majorly “tainted” congress, mainly the lower chamber, but in the recent months by the Executive itself, with nonsensical measures taken by the president himself without the consent of his Justice Minister. The support of allegedly corrupt Supreme Court justices to the president (and vice versa) raised suspicions of protection for the president`s “son number one”, apparently involved in a scandal of corruption. This has made the president accept some laws passed by Congress that no one would believe he would, in the campaign. Bolsonaro`s image is definitely smeared by this fact alone!

In the economy we had a recalcitrant beginning, with a much better year end. Projections for the GDP in the end of 2018 were of some 2.2% to 3%. The delay in approving the much needed economic measures, such as the reform of the retirement system (creation of minimum age, equaling the government employees to the ones in the public sector, in terms of benefits, etc) created a serious delay in the recovery of the economy. By the mid 2019 no one was certain whether the reform would pass in the Houses or the size of what came from it. A famous economist bet against me that it would not be over R$ 500 Billion, while I bet in a total R$ 1 trillion (over a period of 10 years). At the end, I “won more than lost”, with an economy of R$ 840 Billion, plus the effects of the changes in the pension system of the military and of the States and Counties public servants. After all was said and done, total savings in 10 years can reach R$ 1.5 trillion, an appreciable effort. Mr. Paulo Guedes was the national hero this year. A level head with clear goals, the man endured a lot from politicians. Politicians can be annoying in their ability to pretend to ignore some basic economic principles. This was clearly a plus for Mr. Guedes, with his proverbial ability to lecture his public. This last week a panel of 7 journalists of Globo TV Network had to endure Mr. Guedes` “class” with shut mouths, for the lack of arguments against his excepcional conduction of the economy, despite the landmines planted both by opposition and (mainly, I`d say) government officials in his plans to boost growth. Mr. Guedes was certainly the highest point in a somehow controversial government.

Then, the most visible side (from an international point of view) of Mr. Bolsonaro’s administration: environment. From the (nonsensical) outcry of the international press on the fires on the Amazon to Mr. Bolsonaro’s call of Greta Thunberg as “Pirralha!” (Brat!), the year was one of clear and huge misunderstandings (some journalists were incredulous by the number of “giraffes” killed in the fires in the region!). Mr. Bolsonaro’s administration was demonized as “forest arsonists” and clearly “anti-climate” policies. I would daresay this is not true. It is a fact that this administration does not count with the support of the major NGOs in the Amazon region, and this does not help in the creation of good press abroad for him. It is also a fact that he plans to develop the region, mainly regarding its mining potential. Oh, if mining was as big a problem as is the illegal occupation of areas for wood extractions (illegal) and its transformation in pastures. That is the point, and is happening as always had. It does not significantly depend on the actions of this or that government. The curves of increase and decrease in deforestation and fires in the area are much more subject to the economic growth than anything else. The largest deforestation years were 2001 (under Fernando Henrique Cardoso`s administration) and 2004 (Lula), and the lowest was 2012 (Dilma). There is no apparent link to specific policies applied this or that year, but fact is that from a peak of 29 thousand Km², the deforestation in 2019 was of 9.5 thousand km².

The failure of this government to communicate its achievements is partially due to Mr. Bolsonaro’s rhetoric against the “Bad Press”, à lá Mr. Trump. This, together with specific measures that cut the already decreasing revenues of the traditional media, such as abolishing the need of public companies to publish its Financial Statements in papers of large circulation, and the reduction in government publicity, created a tremendous bad will in the redactions.

All in all, this has been a great year, but a year that has not been fairly appraised, neither by Bolsonaro`s supporters nor his detractors. It will have to be adequately analyzed by historians, some time in the future, if we still count on fair-minded historians by then.

Portugal…

Foto WMF – Torre de Belém, Lisboa, Nov 2019

Tirei um montão de dias de férias em Portugal, com uma passadinha pela Espanha, só pra “espiá”. Fui muitas e muitas vezes lá, mas já fazia 19 anos que não ia. Algumas coisas chamam atenção no país:

  • A quantidade de turistas multiplicou-se por 100;
  • As autoestradas criadas desde então (só tinha Lisboa-Porto naquele tempo, creio) transformaram o país e nunca estão lotadas – graças ao sistema de “comboios” que ainda funciona, a despeito das queixas dos portugueses;
  • A quantidade de brasileiros é imensa e deixa marcas até no jeito de falar.

Durante a viagem postei no FB uma única vez uma observação sobre algo que ouvi na TV e que me deixou roxo de vergonha – “Cerca de 7% dos brasileiros acreditam que a terra é plana”, dizia o âncora da TV Portuguesa. Ó raios, disse eu… isso é um fenômeno mundial creio, mas de onde foi que os portugueses arrancaram a informação de que cerca de 14 milhões e meio de brasileiros realmente acreditam que a terra é plana? Tudo isso veio na esteira de um congresso de “terraplanismo” no nordeste do Brasil por aqueles dias. Fiquei com vergonha, mas acho que raiva teria sido um sentimento apropriado também, uma vez que não entendo mais nem como se obtêm essas estatísticas (eleições são uma época boa para perder a fé no Ibope…) nem se há interesse em nos enxovalhar, mais do que nós mesmos o fazemos, com nossos Toffolis, nossos Lullas, nossas Dilmas (essa, campeã em nos sacanear ao vivo e via Embratel), entre outros. Na verdade não tem necessidade alguma de que entes externos façam piada sobre nós. Nós damos conta disso sem ajuda.

Mas é legal ver que Portugal ainda está razoavelmente livre de imigração predatória, forçada de fora para dentro, de gente sem qualquer conexão com o lugar. “Bain, ó pá, milhoire os brasilairos, não ié?”, dezem estar dizendo os patrícios, já que, de fato, melhor alguém que tem, além do idioma (quase) igual, a mesma propensão para ficar amuado, auto-exovalhar-se e fazer “auto-piada”…

A nota mais triste talvez tenha sido os cartazes, sobra da última eleição para a Câmara dos Deputados deles, cheios de PCP (Partido Comunista Português), dizendo “Aumento geral de salários, aumento geral de pensões” e outros artificialismos que fazem da esquerda universal um bloco monolítico em suas reivindicações cretinas e prenúncios do caos econômico, uma vez atendidas.

A nota mais legal foi a de um cartaz (também de partido político, creio) dizendo “Se um deputado incomoda muita gente…”… eles também se dão ao direito de concluir que tem deputado demais, fazendo de menos, custando demais e enchendo o saco demais… É bom saber que além das insanidades da esquerda, existem outros fatores universais de chateação.

Viva a Santa Terrinha…

Hedonismo à Brasileira

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Continuando a divagar por escrito na internet… nada disso é para ninguém. É para mim mesmo…

Hedonismo é definido no dicionário como sendo “viver tendo o prazer como bem supremo e estilo de vida“. É difícil não achar que o brasileiro, em geral, e o carioca, em particular, não viva assim.

Tenho amigos que viveram nos EUA algum tempo, como ilegais. Tinham 2, 3 empregos e trabalhavam entre 12 e 18 horas por dia, inclusive sábados e muitos domingos, sem descanso. Trabalham em quase qualquer coisa. Lavavam pratos, manobravam carros, assentavam tijolos na construção civil, e até varriam ruas. Nada era pequeno demais para eles, nem abaixo de suas potencialidades. O que importava era o dólar e mandar de volta o que juntaram, para a família ou para comprar algum bem. Viviam em “repúblicas” que eram verdadeiras “cabeças de porco”, quase miseráveis. Mas viviam nos “States”.

Um desses mesmos amigos, de volta ao Brasil, voltava a ostentar seu diploma de curso superior; já não aceitava trabalhar mais que 8 horas por dia, e no fim da tarde de sexta feira já estava prontinho para ir tomar chope e comer sardinha frita no Largo de Santa Rita com os amigos, e espairecer. Imaginar-se aqui varrendo meio metro de calçada, até mesmo em casa, voltou a ser impensável. Em suma, vida de classe média típica.

Outro saiu daqui e acabou no exército dos EUA, para poder ter acesso à cidadania. Já não tinha nem um resquício de esquerda, mas virou patriota temente e defensor da doutrina de defesa americana. Um verdadeiro ianque.

O que faz do brasileiro alguém tão diferente fora do seu país em relação ao que é aqui? Por que no exterior aceita viver uma vida de privações, desde que com expectativa de futuro, em relação ao que vive aqui, embora, francamente, eu ache que se trabalhasse aqui o que trabalhava lá fora, economizaria quase o mesmo, considerando os custos de viver aqui e lá. O que faz de nós patriotas em relação ao país que nos adota, e no Brasil acharmos ridículo o Sete de Setembro?

Não tenho uma explicação, e este post só serve para ventilar minha frustração em entender a alma do brasileiro, sob muitos aspectos. É, me parece, um Hedonismo à Brasileira… a capacidade de evitar fazer qualquer coisa, e clamar por direitos, sem ter trabalhado ou defendido nada, muito menos a nação. É algo como o cara que deixa uma esposa que o apoiava, mas que ele desprezava, e passa a idolatrar uma que o despreza. Algo meio masoquista vai na nossa alma e eu me recuso a aceitar isso sem tentar entender. Por que, meu Deus do céu, tratamos nosso país, nossas ruas, praças, avenidas, nossos prédios, nossas calçadas, nossas escolas, como lixo, e quando no país alheio somos capazes de sentimentos até patrióticos pelo que nem é nosso?

Se eu falar de patriotismo serei imediatamente associado a Bolsonaro. Independentemente de eu simplesmente amar meu país. Se eu disser que pago meus tributos com rigor e pontualmente, serei taxado de bobo. Se eu defender a beleza, o potencial e a capacidade do Brasil em ser grande, serei mais um Policarpo Quaresma.

Meu desejo sincero é poder ter a possibilidade de um dia ver um país bacana, em que as pessoas tenham vergonha de furar uma fila, de jogar papel no chão, de reivindicar o que não é seu direito, enfim de aceitar que precisa oferecer mais e reclamar menos.

Major Quaresma, a seu dispor…

Somos incapazes de grandeza – O Brasil vive de narrativas

Em um post anterior eu discorri sobre a incapacidade do Brasil em ter uma falta crônica de Pureza de Intenções (vide Post). Neste, diante das reviravoltas da política, tento entender (na verdade escrevo muito mais para mim do que para qualquer audiência – um dia vou olhar pra trás para tentar entender como é que os acontecimentos deste período tenebroso de nossa história me afetou).

A noção de democracia e ditadura

Alguns têm uma noção meio flácida, frouxa, do que seja democracia e do que seja ditadura. Todo mundo está cansado dos memes que fazem troça da esquerda e seu amor por Cuba, Venezuela e afins, e sua ojeriza ao Chile, Brasil e sua mania de culpar os EUA por tudo.

Outros tem uma noção de que é democracia tomar decisões em nome de todo um povo, e promover “golpes soft”, mudando a constituição pouco a pouco, a fim de permitir infinitas reeleições, ou poder nomear e destituir membros da Suprema Corte, etc.

Os problemas cognitivos com os conceitos de democracia de ditadura existem na esquerda de na direita. Quando o PT vem a público dizer, como disse Lula, que a Venezuela é um mais de grande democracia, está obviamente com uma noção distorcida do que ela seja. Em contrapartida, quando o Filho Zero-sei-lá-o-quê diz que um AI-5 seria algo natural em um processo de “despetização” do país, ou coisa que o valha, também tem uma visão distorcida.

Golpe é golpe, e tem que ser chamado pelo nome. 1964 não foi golpe (minha opinião). 1967 foi claramente um golpe. O pedido de renúncia e posterior efetiva renúncia de Evo Morales claramente não se enquadra na categoria de golpe, nem soft nem hard. Foi simplesmente a saída do poder de um governante ilegítimo, que se perpetuou lá mudando a constituição por via da intimidação do congresso e compra da corte suprema, por conta de uma situação insustentável, gerada por uma massa de gente nas ruas e a mudança de lado de vários agentes do governo, já cansados de toda a baderna.

O Chile

O Chile é diferente? Afinal tem o melhor padrão de vida da América Latina, é democrático, apesar do passado de Pinochet, e tem tido alternância no poder entre a esquerdista Bachellet e o direitista Piñera, por exemplo. O Chile tem um padrão educacional alto, e pareceria imune a levantes de qualquer natureza, que poderiam colocar a ordem e a economia em problemas. Aparentemente existe algo no país que está levando a coisa pro brejo. O que seria? Que narrativa sustenta esse status quo? Qualquer um que se meta a escrever algo com seriedade e honestidade intelectual tem que se fazer esta pergunta. Afinal, “it`s the economy, stupid” tem sido um mantra da direita, desde as estrepolias de Clinton e da estagiária.

A coisa toda começou parecida ao Brasil de 2013 e seus “20 centavos” nas passagens de ônibus. Lá foram 30 pesos, ou aproximadamente 16 centavos aos câmbios atuais. Nada muito diferente, exceto que a renda per capita lá é o dobro da nossa. O ponto fundamental lá, como quase aconteceu aqui, é o quebra-quebra provocado. Lá como aqui black blocs “se infiltraram” (lá parece que o movimento tem muito mais vândalos) e quebraram vidraças, tocaram fogo em estações de metrô, infernizaram a vida do cidadão comum. E o que mexeu tanto com o Chile?

A BBC, em uma longa reportagem ( https://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-50115798 ) dá algumas pistas, sem muitas evidências senão a palavra de alguns ativistas, contra e a favor, mas identifica alguns aspectos que merecem destaque:

  • A eventual desigualdade entre pobres e ricos existente no Chile;
  • A falta de sensibilidade do governo de Piñera sobre aspectos sociais, chamando os manifestantes de “preguiçosos” e não conseguindo compreender o assunto (“Incomprensibles”) ou irrazoáveis;
  • A reação da polícia (violenta, segundo informam) frente aos protestos;
  • A expectativa de melhora da economia mais alta do que ocorreu (o primeiro governo de Piñera foi muito bem sucedido neste aspecto, já o segundo nem tanto);
  • O papel preponderante dos estudantes na geração de toda a convulsão social.

Em princípio apenas dois aspectos podem realmente ser levados a sério como fundamentos para os protestos, em meu entender – a expectativa de uma melhora maior do que a ocorrida, de um lado, e principalmente a postura belicosa dos estudantes. Não é só no Brasil que as universidades são uma espécie de cadinho de pensamentos de esquerda, sempre prontos a ouvir mestres e líderes e sair às ruas. Possuem o tempo e a energia para ir a público berrar suas reivindicações.

Michelle Bachelet, que não é boba nem nada, e grupos de esquerda, inconformados (lá como aqui) de terem sido baixados do poder, tratam de capitalizar sobre o fato. Não é nada diferente do que tentará a esquerda brasileira, cedo ou tarde. Temo que veremos uma corrida presidencial em 2022 cercada de “protestos” e quebra-quebra. Deus não permita!

Ah, e o Brasil? Vivemos de narrativas como as da Bolívia, na qual Evo foi “deposto”, e do Chile, com suas violentas manifestações (“pacíficas”). Aqui estamos às voltas com narrativas sobre a “inocência” de Lula, Dirceu e Cia; vivemos sob a tentativa de reescrever a história. Nada disso mudará a realidade, mas a realidade, bem, esta pouco importa. Historiadores, os que escreverão sobre isso daqui há alguns anos, serão quase todos parciais de qualquer jeito, e a objetividade, o rigor científico, este ficará de fora da análise, e teremos mais alguns anos de metanarrativas a descontruir, como hoje temos que explicar aos estudantes que a URSS foi um experimento falido que matou 68 milhões de pessoas, que a China matou outras 100 milhões, de fome; temos que explicar o que foi o Holomodor, o que foram os campos da morte no Cambodja… por aí vai…

Este artigo escrevi para mim mesmo, e compartilho com quem quiser ler e gostar de “textão” (hoje, qualquer coisa que passa de 5 linhas é textão…). O meu tradicional pedido de perdão pelas falhas de estilho e escrita…

O efeito Boeing sobre a Embraer

Parece brincadeira que há tão pouco tempo festejávamos, alguns, a aquisição da parte de aviação civil da Embraer pela Boeing, gigante de um mercado ultra consolidado de aeronaves, num mundo dominado por gigantes. A Boeing é a empresa com o 8o. maior peso no índice Dow Jones Industrial nos EUA, com um valor de mercado de mais de US$ 200 bilhões. Um colosso.

Ocorre que recentemente tenho lido interpretações diversas da crise na companhia, desde as falhas descobertas no Boeing 737 MAX, cujos desastres em algumas companhias aéreas fez com que a própria Boeing, além da agência americana de aviação civil, a FAA, tirassem de circulação mais de mil aeronaves do tipo em todo mundo.

Um articulista é absolutamente contundente ao declarar que, se a Boeing não for salva pelo governo americano, vai à falência – veja no Estadão em https://www.seudinheiro.com/apertem-os-cintos-a-boeing-esta-falindo/?xpromo=XD-ME-ES-MTSD-BEST-X-NAT-LK1-X-X&utm_source=ES&utm_medium=NAT&utm_campaign=XD-ME-ES-MTSD-BEST-X-NAT-LK1-X-X .

Ele dá conta de que existem 500 aeronaves em mãos de linhas aéreas, parados, e mais de 1.5 mil “entopem” os pátios da Empresa. Imaginem o prejuízo, fora a imagem…

Outros não são tão contundentes assim, e se limitam a dizer que provavelmente em 03 de Dezembro as aeronaves deverão ser liberadas para voar, quando os pilotos das companhias aéreas forem treinados no uso de um sistema automático de controle de voo, chamado MCAS, o que “salvaria” a empresa de danos maiores. Ocorre que aparentemente a empresa “ocultou” que tal sistema existisse, o que causou pelo menos dois acidentes graves, em curto espaço de tempo.

Qualquer que seja o destino da Boeing, está ficando claro para a FAA, que aparentemente houve erros que não foram devidamente reportados, e não solucionados, o que teria gerado modificações “inadequadas” de projeto – um mexe daqui, estica dali, bota um silver tape acolá… e que aparentemente teria burlado o mecanismo de controles internos e governança corporativa da empresa a ponto de gerar uma situação tão explosiva que pode implodir a Companhia.

Bom, e a Embraer? Como brasileiros, não somos, no papel, exemplo para ninguém, principalmente em áreas que exigem controles de grosso calibre e que demandam decisões do tipo “cortar na carne”. O silver tape, o jeitinho, parece muito mais com a Embraer do que com a Boeing. Mas o fato é que hoje temos que lidar com um problema gordíssimo – é possível que a Embraer acabe saindo chamuscada do processo? Afinal, como noticiava a Folha, “O acordo com Embraer pode ajudar Boeing a superar crise pós-737” ( https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/05/acordo-com-embraer-pode-ajudar-boeing-a-superar-crise-pos-737.shtml).

O fato é que a coisa pode andar pra trás, creio, caso não haja salvação para a Boeing em termos adequados, ou ainda que acionistas insistam em que companhia “livre lastro” no processo de eventual Chapter 11.

Quanto ao aspecto que mais me chama atenção, profissionalmente, uma vez mais fica clara a máxima que aprendi na Arthur Andersen, nos anos 80, e que acabou valendo para a própria centenária e defunta firma de auditoria – “Contra o conluio, não há controle interno que dê jeito”. Em havendo a motivação suficiente, o apertão no calo correto, no nível hierárquico correto, o controle interno e a governança corporativa vão para o espaço em questão de dias. O bom do capitalismo é que realmente uma falência ruidosa costuma colocar as coisas nos devidos lugares, isto quando agentes reguladores não aproveitam o ensejo e criam mais uma tonelada de regulamentações que tornam a vida empresarial ainda mais custosa, numa espiral aparentemente sem fim.

A Embraer? Bom, tinham até 2020 para concluir uma transação. Estou começando a duvidar que ela saia.

Um novo AI-5???

O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, não é nenhuma criança. Deveria ter cérebro suficiente para não falar de corda em casa de enforcado. Afinal, não tem nem 2 gerações ainda que estávamos às voltas com a ditadura militar. Eis que, do nada, Eduardo diz candidamente a Leda Nagle que caso haja radicalização da esquerda, um novo AI-5, ou instrumento equivalente, “como um plebiscito como foi na Itália”, ou seja, “alguma resposta terá que ser dada”.

Isto tudo é reação a um processo de desgaste a que o presidente está sendo submetido, e que é brutal. A impressão que se tem, olhando de fora, é que o Brasil está sem governo. Minha impressão, “no duro”, não é esta. Ao contrário, a despeito da má vontade geral, e das rebatidas impensadas do presidente às provocações (claras) da mídia, entendo que o governo, em termos práticos, está indo super bem. O Ibovespa é o melhor termômetro para mostrar isso.

Mas tudo isso posto, e repudiando veementemente qualquer tentativa não democrática de solução de conflitos, entendo que sim, estamos vivendo, não só no Brasil, como no restante da América Latina, um processo sistemático de enfraquecimento das instituições e tomada do poder de forma subrepticia e intensa. A Venezuela é o final (ou quase) do processo; Bolívia demonstra o uso, como no Brasil, de instrumentos de controle financeiro adequado, razoáveis, como forma de justificar a tomada do poder por qualquer meio, inclusive pela fraude em eleições. A Argentina… bem, lá, como já se disse bem, colocaram para solucionar o problema os mesmos que o criaram. Aliás, é sempre assim – um gasta, gasta, outro é obrigado a arrumar a casa e tomar medidas impopulares mas necessárias, e aí volta o gastador fazendo bobagem e politicalha, de novo. Ciclo típico de país subdesenvolvido e que não conta com gente patriótica o suficiente para pensar no coletivo.

Estamos vivendo um momento em que a esquerda do continente partiu para o vale-tudo. No Brasil isso se expressa muito bem na atuação do STF. Não entendo como é que alguém que não presta contas a ninguém, e não é demissível, precisa se submeter a interesses menores do que os da estrita Lei. Só tem uma explicação, rabo preso e a chance de ter o nome enxovalhado por escândalos de corrupção. Parece ser o caso de alguns lá, que topam ignorar a realidade de um país inteiro, o clamor de uma nação cansada de corrupção, com o único objetivo de blindar político e tirar vagabundo, ladrão, da cadeia.

Não creio, e já escrevi isso, que a ditadura brasileira tenha começado em 1964. Ali ocorreu o que em boa parte se mostra igualzinho agora: uma maioria subjugada por uma minoria que faz de tudo para alcançar e manter o poder a qualquer custo, gritando a plenos pulmões e exigindo medidas de força. A verdadeira ditadura começa em 1967, com a eliminação de Castello Branco e a tomada do poder pela ala radical dos militares, dentro da doutrina de segurança de tempos escuros da Guerra Fria. Não temos mais a TFP nem as ligas das senhoras, para ir às ruas por nós. Hoje temos as redes sociais e alguns movimentos interessantes, com visão de modernidade e longo prazo. Mas o resultado vai ser, pavorosamente, o mesmo: alguém VAI fazer algo, NÃO vai ser bonito de se ver, e aí o bichinho do poder se instala e lá vamos nós de novo para mais 21 anos de poder quase absoluto.

Vamos para mais um embate? Ou será que é a hora dos políticos pararem de brincar com fogo, sentarem-se com calma e descobrirem uma forma de não radicalizar em suas posturas corporativistas a ponto de chegar à ruptura? Vamos jogar todas as fichas do país na soltura de um miserável, rato, que a todos nos envergonha, ou vamos deixar claro que há limites e que eles estão descritos em uma prisão válida, correta, em segunda instância? Até que ponto o povo vai aturar gentalha (sim, gentalha, pequena, intelectualmente nanica) como alguns ministros do STF, esfregando seu poder na nossa cara?

Não reclamem se um ato radical vier a acontecer, para desespero das “Greisis”, dos “Dirceus” e “Lullas” da vida. Mas que o Eduardo deveria ter ficado calado, ahhh, deveria…

Todo mundo está vendo / The world is Watching

https://www.bloomberg.com/opinion/articles/2019-10-21/brazil-supreme-court-is-caving-to-lula-or-is-it

Manchete da Bloomberg é taxativa – “Suprema Corte do Brasil está fora de Controle”. A publicação fala de “ministros-celebridade” e “sobrecarregada”, uma corte que não sabe emitir opiniões duráveis.

A verdade insiste em se mostrar ao mundo. Nós insistimos em não tomar providências, como país. Vergonha sobre nós.

Bloomberg Headline is adamant – “Brazilian Supreme Court is out of control”. Publications speaks of “celebrity” justices and “overtaxed” court that cannot issue a durable ruling.

Truth insists in showing itself to the world. We insist in not to take due measures, as a country. Shame on us.

Diferenças Radicais – a Prisão em 2a Instância

De um lado vemos um deputado exclamando – “Não é justo, como país, vermos quase 200 mil pessoas deixando as prisões” (Dep. Alex Manente (Cidadania), autor da PEC da prisão de condenados em segunda instância, conforme www.antagonista.com.br) .

De outro, Gleisi Hoffmann –

De que lado nos posicionamos? Vale lembrar que de 1988 até 2006, sempre houve prisões em 2a. instância no país. Um fazendeiro que havia matado alguém (um desses “donos do mundo” do norte ou nordeste, creio) entrou com um recurso questionando a legalidade. Pronto. levou ao STF coisa clara, lascou o cano… Vai dar ruim, e deu: transformaram uma situação que de tão pacificada e tão socialmente aceita nem era tratada em um ponto de confusão.

E ora se aproveitam os advogados para criar uma celêuma que vai em benefício de seus honorários e contra toda uma nação. Gleisi não está nem aí para a dignidade das vítimas de 168 mil possíveis criminosos (duvido que 1% o seja, o que sempre é passível de reparação). Gleisi quer ver seu criador solto, seu deus pessoal, em detrimento de toda a nação.

Observem: Gleisi fala isso COM ORGULHO! Sim! Ela está feliz porque soltarão 168 mil condenados em 2a. ou até 3a. instância. O povão que se dane (como o PT fez por tantos anos). Nós, que andamos na rua, trabalhamos de sol a sol, pagamos imposto, vivemos sob ameaça constante de uma burocracia inerme nos matar por omissão, nós que nos lasquemos. Ela, a Amante, a Coxa, consegue abstrair tudo isso em prol de um único ordinário condenado em 3a. instância.

Santo Deus! Que poder tem este condenado sobre 11 juízes do STF, sobre o Legislativo e sobre grande parte da imprensa? O que creem que ganhamos ao longo dos governos de suas “excelênças”?

Ninguém se iluda – a OECD não está fazendo “doce” com relação ao Brasil. A OECD quer ver com os próprios olhos se a firmeza com o combate à corrupção é pra valer ou se os 11 “autoridades” do STF e as centenas do Legislativo vão lançar o Brasil num caos social.

Deus nos acuda!

Falta-nos Pureza de Intenções

Fora da Salvação, sou cristão por uma razão fundamental: a pureza de intenções. O cristianismo sempre foi, por ordem e mandamento fundamental de Jesus Cristo, puro, “Santo”, nos termos do Apóstolo Pedro (I Pe 1: 15 e 16) – “Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.” Ou seja, Pedro nos chama a ser o “santo”, ou seja, separado por Deus, para coisas boas. Essa ordem, esse imperativo, mudou o mundo de então. Em lugar do cinismo, a clareza; em lugar do ódio, o amor; em lugar de fazer coisas por obrigação, fazê-las por amor (a Deus e ao outro).

O discurso de Jesus, de “dar a outra face”, e de “caminhar uma segunda milha” não foi uma fala de acomodação ou de conformidade. Sabedor da dificuldade humada de responder com mansidão, Jesus instou toda a sociedade a inverter o jogo diário – em vez de reagir como seria esperado, “olho por olho”, O Deus feito homem nos manda fazer exatamente o contrário. Orar pelos que nos perseguem; abençoar os que nos amaldiçoam; ajudar quem nos quer mal, e por aí vai. Um contrassenso total.

O resultado, sempre que aplicado, é o mesmo: Pax Vobiscum – Paz Profunda.

Sociedades dão mais certo ou mais errado dependendo do nível de cinismo nela existente, e o interesse manifesto de fazer o bem ao outro, de falar a verdade e de compreender que é “dando que se recebe”, nas palavras do magnífico Francisco de Assis.

Nossa sociedade não é assim, assim como não o são sociedades milenares, como a chinesa e a indiana. Vivemos maravilhados com a antiguidade e “sabedoria” de sociedades que, no fundo, cultivam e reverenciam atitudes menores, interesseiras e auto-justificadas. Vivemos desprezando sociedades que foram fundadas sobre pilares da tentativa sincera de fazer direito, de ser corretos e visar o bem comum, pela preservação do bem privado – cada um visando dar integridade e apoio ao outro, ao que é do outro, respeitando a santidade do espaço do outro, cuidando para que o outro seja beneficiado.

O fundamento da palavra de Jesus é frequentemente interpretado como fraqueza – os romanos desprezavam o cristianismo, e somente o adotaram quando o modificaram de tal forma que se tornou irreconhecível, “pragmático” (no pior sentido possível), e cartorial; quando a sociedade passou de “ser igreja” a “ir à igreja”, um cartório de “benefícios” vendidos em troca de subserviência, obediência sem discussão ou mesmo dinheiro. Esse fundamento permanece e permanecerá pelos séculos – e aqui cabe uma observação: não se trata de interpretar o cristianismo como fé (que é o modo correto de fazê-lo). Mesmo um ateu convicto pode viver sob a égide da filosofia cristã sem macular qualquer das suas (des)crenças. Uma amiga um dia disse, com muita propriedade: “mesmo que eu chegasse ao fim da minha vida e descobrisse que tudo tinha sido uma grande mentira, ainda assim teria valido a pena viver como cristã”.

Sábias e poderosas palavras, embora eu tenha aquela certeza do “crente” de que o cristianismo é tudo, menos mentira. A filosofia fundada na sabedoria não-humana do Deus feito homem é de tal ordem que é capaz de mudar o mundo para (muito) melhor – na verdade, são leis, tais e quais a Lei da Gravidade ou a 1a. Lei de Newton.

O Brasil é uma dessas sociedades que já nasceu cínica, e tem no cinismo sua epistemologia – vê o mundo como se alguém sempre estivesse querendo tirar vantagem dela, mentir para ela, e como consequência, reage fazendo o mesmo. Não dá ao outro a chance de ser bom, honesto ou amigo. Em política, sempre vivemos do “quanto pior melhor” (quando não estou no poder), e do “a culpa é dos outros” (quando estou). Somos impedidos de ver alguém fazendo algo e simplesmente nos maravilhar e agradecer. Temos que enxergar o lado pior, o copo meio vazio, e vermos sempre um problema novo para cada solução apresentada.

Entra governo, sai governo, ninguém é capaz de olhar o outro, colocar o interesse coletivo acima do seu próprio. Retêm interesses manifestamente mesquinhos e paroquiais. A Lava Jato é talvez a última manifestação, ou último suspiro (Deus nos livre) dessa cosmovisão cristã – a luta por fazer o bem. Somos incapazes de enxergar o bem, somos incapazes de julgar fatos com retidão e honestidade intelectual, quando o que nos desinteressa não nos privilegia. O “doa a quem doer” só vale, no país, quando a dor é no adversário. Se doer em mim, minha opinião muda, sem rostos corados, sem vergonha de se desdizer.

A solução está em todos e em cada um de nós. De novo, retornando às palavras de Jesus, e que devem ser olhadas tanto do ponto de vista da fé como da filosofia: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mc 9: 38-42). Voltar a ser criança, enxergar o mundo com a pureza da criança, ser perder a capacidade de arrazoar, torna a nós impossível “entrar no Reino dos Céus” (e aqui, entenda o cristão tanto o Reino aqui, como o de lá, ou o ateu, como “um mundo melhor”).

Que nada desalente o nosso Povo de querer ser melhor.