Há alguns anos, quando a Lava Jato assolava somente o PT e seus satélites, Gilmar Mendes era um apoiador declarado da operação. Entre outras menções, digamos, interessantes, podemos selecionar algumas bastante vocais a favor da operação:
- O Globo 18/09/2015 – ” O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes afirmou nesta sexta-feira (18) que o PT tinha o “plano perfeito” para se “eternizar” no poder, mas que a Operação Lava Jato, “estragou tudo”“;
- Folha de SP 16/09/2015 – “A vedação das contribuições de empresas privadas asfixia os partidos que não se beneficiaram do esquema criminoso revelado pela Operação Lava Jato“.
Há dezenas de outras citações elogiosas de Mendes nos jornais. É só se dá ao trabalho de procurar. A pesquisa acima só durou mais do que 3 minutos porque o site da Folha não deixa copiar parte de textos e te exige digitar o assunto.
Pois bem, o que leva Gilmar a falar a quantidade de asneiras que tem falado ultimamente? O programa de ontem do Roda Viva é um exemplo dessa bílis que não sabemos de onde vem. Ou melhor, claro que sabemos. Impulsionado pelo seu cão de guarda na mídia, o fiel atazanado Reinaldo Azevedo, o ministro está num claro processo de auto-defesa. Ele sabe que não só a Lava Jato, mas outras instâncias da justiça, sabem que ele tem sido, digamos, menos que republicano, em suas atividades. O tal Instituto será, cedo ou tarde, alvo de investigação mais minuciosa, e ele não terá para onde correr. Se houver apuração isenta e severa, Gilmar vai acabar em cana, e isso para ele, que tem um ego semelhante em tamanho e qualidade ao de Lula, é impensável.
Gilmar começou a mudar quando a Lava Jato começou a chegar perto dos seus amigos, do PSDB. Enquanto era algo que “parecia” feito sob medida para o PT e asseclas, ele aplaudiu de pé. Eu mesmo, que votei em FHC duas vezes, me senti traído pelas revelações mais recentes sobre Aécio & Cia Ltda. Eu apoiei o Plano Real e me sentia representado pela finesse e calibre intelectual de FHC. Meus amigos Petistas dão risada de mim quando lembram que apoiei FHC. Eu não me arrependo, dada a alternativa. Apoiaria de novo, pois vivi sob 1% de inflação ao dia e sei a vitória nacional que é ver a inflação hoje abaixo de 4% ao ano.
Gilmar se expõe de uma forma quase que desesperada. É como se tivesse chegado no “Vai ou racha”, ou “Ligado o F…-se”. Ataca Moro com uma falta de decoro impressionante. Chama as ridículas “revelações” do The Intercept de “notícias” e acha que as provas obtidas da forma mais oblíqua possível devem se transformar em prova legal, ao arrepio da lei de qualquer país dito civilizado.
Ao tomar o caminho da confrontação que agora toma, Gilmar se expõe, expõe ainda mais seus protègès do PSDB entre outros, e expõe o quão próximo parece que o MP e o judiciário mesmo estão de expô-lo em grande estilo, em praça pública, nu e sem o apoio de ninguém, exceto os “suspeitos de hábito”, Levandowski, Toffoli, etc.
Ele está num momento particularmente favorável, em que a grande imprensa, “imprensada” pela sua situação econômica (irreversível) e pelas atitudes belicosas de Bolsonaro, retendo publicidade oficial e retirando fontes preciosas de receita, se torna particularmente suscetível a aventuras antidemocráticas e à narrativa do PT, feita sob medida para libertar o maior corrupto que o mundo democrático já viu.
Nós, que já não informamos majoritariamente pela grande imprensa, temos buscado fontes alternativas de entendimento. Isso acontece com a maior parte da população, e vai aos poucos minando tanto o que resta da credibilidade da imprensa como suas fontes de sustento. A imprensa teria uma sobrevida, talvez, se se posicionasse firmemente a favor do combate à corrupção e ao estado democrático de direito, que deveria ser encabeçado pelo STF, hoje a maior fonte de insegurança jurídica do país, nos dizeres recentes do ex-ministro do STF, Francisco Rezek.
O apequenamento do STF é de tal ordem que os ditos ministros um dia ouvirão, tristes e odiados, as palavras do ministro Marco Aurélio Melo em seu voto contra a anulação da condenação de um ex-gerentinho da Petrobrás, “dono” de US$ 15 milhões em contas no exterior: “A guinada não inspira confiança. Ao contrário, gera o descrédito, sendo a história impiedosa. Passa a transparecer a ideia de um movimento para dar o dito pelo não dito, em termos de responsabilidade penal, com o famoso “jeitinho brasileiro” e, o que é pior, em benefício não dos menos afortunados, mas dos chamados “tubarões da República”.