Em seu programa de ontem na GloboNews, o excelente Ariel Palacios nos apresentou uma Argentina pré-eleições que ele, argentino, de esposa brasileira, conhecedor dos dois lados da fronteira entre los hermanos, sabe como ninguém mostrar. O espanhol porteño sem sotaque dá uma boa facilitada nas entrevistas, com os porteños se abrindo mais a um deles do que a um de nós (pela necessidade de mostrar a superioridade que eles têm, ou desejam ter, sobre nós).
O programa define com precisão o Peronismo, ou seja, um “movimento” sem cor ideológica clara, pendente para a ideologia do chefe ou mandante de plantão. Pendeu para o pragmatismo de mercado de Menem, anos atrás; pendeu depois para o estilo esquerdista “Cámpora”, à lá Dilma, destruidor, burro e cego, que acabou com o país, tendo, após isso, impedido que Macri o reabilitasse, ainda que parcialmente, através de uma onda de oposição aos mais elementares projetos de mudança, estilo Paulo Guedes. Macri fez o que pode, reduziu a taxa de aproximação do abismo, mas não conseguiu o intento de crescer – até porque, do lado de cá havia, durante a maior parte do mandato, gente que lhe fazia oposição não velada, ou simplesmente não tinha força política para ajudar em nada.
Passei parte da juventude “morando” (melhor, indo e voltando com frequencia grande) em Buenos Aires. Aprendi a conhecer um povo bastante culto e elegante. Sou fã dos argentinos e como todo brasileiro, escondo isso debaixo de um tapete verde-amarelo. Mas o fato é que cultura e elegância não são suficientes, quando se trata de uma herança Peronista tão forte que faz com que o país sofra de uma espécie de disforia intelectual – sabem (ou devem saber) que o que Macri fez é o que se deveria ter feito, quando conseguiu.
O Partido Justicialista (peronista) seria uma mescla de MDB com PT, tendo em Perón seu Lula, e no MDB seu apego total e absoluto ao poder, não importa quem tenha que cooptar para manter-se lá. Imaginemos um partido que tem a firmeza ideológica do MDB com uma figura central que é quase um “deus”, em Perón. Está dado o caldo de cultura para um atraso que não vai ser curado sem muita dor.
Talvez a maior diferença entre a Argentina e o Brasil é que nunca los hermanos chegaram a ter um caos econômico das proporções que enfrentamos, pelo longo tempo que enfrentamos. A frase do dia, do candidato à presidencia peronista, Fernandez, ex-assecla de Nestor Kirchner, de que o Peronismo “conserta os problemas causados pelos outros” é de um nível de demagogia brutal, comparável somente às piores diarreias verbais de Lula ou Gleisi Hoffmann.
É difícil entender como um povo tão culto, com índices de escolaridade semelhantes aos do primeiro mundo, não consiga se dar conta de há quanto tempo estão sendo governados por seus próprios “ícones mortos”, substituídos a cada eleição pelos piores elementos que o país pode produzir.
A gestão de Cristina Kirchner em tudo se assemelhou, à exceção do impeachment, que nos livrou do “menu completo” de repressão, aparelhamento e destruição do estado. Eles não tiveram, também, uma lava jato pra chamar de sua, e os donos do poder puderam matar, suprimir e ficar impunes. Bom, neste aspecto ainda nos falta prender os assassinos de Celso Daniel e Toninho do PT, e da “entourage”, que poderia abrir o bico. Isso não conseguimos ainda, mas uma hora dessas a PF esbarra com algum documento que nos permitirá, como sociedade, abrir uma “Comissão da Verdade Verdadeira” e mandar alguns (que ainda não estejam presos) pra cadeia.
Estamos, queiramos ou não, atrelados à Argentina, pela parceria e proximidade, pelas antigas relações comerciais. Não imagino como Bolsonaro vá conseguir se relacionar com Cristina, que será a “presidenta” de fato (pelo menos lá o “a” final está correto, gramaticalmente). Esse cara, ogro como é, vai nos dar alguns motivos de risadas, quando se defrontar como o que podemos só esperar de Cristina – atitudes Dilmescas à toro e à direito, atrasando o país dela, e arrastando parte do nosso junto. Deus nos livre!